Ronnie

Levantei em um pulo quando acordei. Eu estava em um quarto com paredes e teto feitos de madeira, não havia nenhum outro móvel além das duas camas, Valentine estava em uma delas. Nossas mochilas estavam arrumadas no chão. Desta vez eu estava com o pijama que eu usaria para passar a noite durante o dia de apresentações no Miss Caroline. Fiquei enjoada só de pensar naquela escola novamente.

Ontem eu estava muito cansada (quando eu digo “muito cansada”, quero na verdade dizer: quase morrendo) para fazer perguntas como: “que lugar é esse?”, “por que você nos trouxe aqui?”. E quando meu me refiro a “você” nessas perguntas é aquele fantasma emo bonito-barra- assustador, mais conhecido como Nico di Angelo.

– Jura mesmo que são 4 horas da tarde? – Levantou-se Valentine aos bocejos. Assenti. É, tínhamos dormido por bastante tempo.

Abri a única porta. Havia um caminho de pedra que levava a varanda de outra casa, na verdade um sobrado pintado de branco. A cabana estava no meio de uma espécie de jardim cheio de arvores e plantas no fundo do quintal da propriedade.

– Vejo que já acordaram meninas! – Disse um senhor. Ele tinha cabelos um pouco grisalhos e a aparência perfeita para um professor, se não fosse da cintura para baixo um corcel branco. É ele tinha pernas de cavalo.

– Você é mesmo um centauro? – Perguntei ao me lembrar de que ele era um centauro, tudo isso graças às horas que passei assistindo e lendo As Crônicas de Nárnia, Harry Potter e filmes de mitologia. Valeu mesmo pessoal.

– Sim querida, sou um centauro. Meu nome é Quíron e vocês são Veronica Vega e Valentine Laurent, exatamente como Nico disse.

Nico havia falando com ele?

– Estão se sentido melhor? – Perguntou ele, nós assentimos. – Mas que ótimo, pois vocês chegaram ontem em uma situação nada boa depois de receber aquela profecia. Até mesmo seu psicológico foi afetado. Eu sei, não é nada fácil receber a verdade em balde de água fria varias vezes no mesmo dia. – Quíron suspirou – E acredito que isso não seja nem o começo.

Fiquei assustada com a ultima frase. O centauro nos guiou pelo caminho de pedras de mármore branco até chegarmos à varanda que era cheia de balcões, armários e tinha uma única mesa de jardim com mais 4 cadeiras.

– Sentem-se ali enquanto pego os biscoitos.

Quando me sentei à mesa foi que percebi algo que eu não tinha notado: outro homem estava sentado do outro lado da mesa. Ele tinha aparência de um querubim: cabelos pretos encaracolados e bochechas meio gordinhas. Usava uma camiseta estampa de leopardo e bermuda esportiva roxa. Era meio impossível não nota-lo, principalmente por causa da “aura” (ou seriam as roupas?) poderosa que ele transmitia.

– Estou me sentido insignificante, não fui apresentado! A onde estão os modos e a consideração a mim? Onde? Onde? Quer dizer que não sou mais importante só porque fui castigado a ficar cuidando daquele acampamento idiota e que agora que ele se foi, tenho que ficar nesse lugar entediante? - Disse ele

– Sr.D, não acha melhor deixar o drama para depois? – Quíron revirou os olhos - Está bom, meninas esse é o Sr.D, ou como vocês conhecem: Dionísio! – Então colocou

Meu queixo caiu. Encontrar um deus grego não estava na minha lista de coisas que eu queria fazer ou ver hoje.

– Melhor assim. Mas eu acharia melhor se você usasse um tom mais animado quando vai falar o meu nome e... – Sr.D estalou os dedos e uma pequena vinha que enrolava uma latinha prata surgiu (literalmente) do meio da mesa. Ele pegou a latinha de Diet Coke e despejou um pouco de refrigerante dentro do bule de chá na mesma hora em que o centauro colocou uma tigela de biscoitos sobre a mesa. Iriamos tomar chá de Diet Coke com o deus do vinho e um centauro. Nível de anormalidade: ∞

– Quero que vocês contem sobro tudo: a profecia, o ocorrido na biblioteca... tudo. – Disse.

Eu sempre tinha uma pulga atrás da orelha quando se trata de pessoas, ou confiar em pessoas. Eu não confiava em Valentine e nem eles. Mas eu não tinha escolha tinha?

Contei toda a historia para eles e de vez em quando (muito raramente) Valentine completava com algumas partes que eu havia esquecido. Eles escutavam tudo atentamente (pelo menos Quíron). Terminei contando a parte da profecia e então tomei um grande gole de xicara de Diet Coke. Já estava sem folego.

– O que vocês acham que ela diz? Principalmente a parte final? – Valentine perguntou pela primeira vez. Ela não era muito de falar.

Depois de alguns minutos pensando, Quíron finalmente disse: - Creio que Nico já tenha lhes dito sobre o acampamento, o acordo com Gaia, a traição da mesma e a historia das duas semideusas?

– Sim, ele disse um pouco sobre isso...

– Mas muito pouco – Completei.

– Nós achávamos que a historia da jornada fosse apenas um antigo mito vindo de uma situação parecida que aconteceu há muito tempo, mas agora com a profecia e vocês aqui, a Jornada de Ouro é mesmo real. – Um brilho esperançoso surgiu no olhar do centauro.

– Como é esse tal mito e situação que aconteceu há muito tempo? Se soubermos como, talvez possa nos ajudar a descobrir mais sobre a jornada! – Eu disse.

– Bem pensado Monica Valdez! – Disse Sr.D

– É Veronica Vega. Ou melhor: Ronnie.

– Tanto faz!

– Sr.D, precisamos do livro. – pediu Quíron.

– Que livro?

– Que livro não. Quero “Aquele Livro”, entende?

– Então aqui está – Sr.D estalou os dedos novamente. Dessa vez, uma vinha maior brotou do chão trazendo consigo um livro velho, com capa de couro marrom e letras adoradas apagadas no titulo. Assim que ele colocou em cima da mesa, pude lê-lo mesmo estando em grego antigo: HISTORIAS DESCONHECIDAS E SECRETAS DA MITOLOGIA GREGA. Foi então que eu entendi o porquê do livro estar fechado com um cadeado.

Enquanto eles folheavam rapidamente as paginas, tinha pequenos vislumbres do que tinha dentro deles: as imagens se mexiam como no jornal de Harry Potter, o Profeta Diário [n/a: Potterheads aqui? Always], mas elas mostravam coisas tão terríveis que nem passavam perto das que eu tinha nos meus pesadelos: Guerras estrondosas, monstros demoníacos, pessoas morrendo, dor, sofrimento, gritos... Dei graças quando eles finalmente acharam a pagina do capitulo que contava a historia da Jornada de Ouro, que não era muito diferente do resto do livro.

– O mito conta que na Grécia Antiga, havia uma ilha e uma cidade, Despair ou Desespero era seu nome. O dia-a-dia na mesma era algo terrível: guerras, mortes, batalhas, injustiça, desespero, matança de inocentes, doenças... Tudo isso acontecia graças a vontade do imperador. Cansados do choro e das preces pedindo para por um fim a aquele sofrimento, boa parte dos deuses concordaram em destruir Desespero e todos os seus habitantes, apenas deixando o imperador tirano para que sofresse na solidão. Depois de um tempo, os deuses voltaram atrás ao perceber quantas pessoas inocentes morreram e proporão ao imperador: se ele cumprisse a Jornada de Ouro, uma corrida cheia de perigos e medos, com uma longa travessia pela frente, mas para cumpri-la por completo, o imperador teria que morrer e seu sacrifico traria de volta a cidade que agora se chamaria Paraiso, com toda aquela banalidade transformada em bondade. E seu nome deixaria de significar o de um herói – Quíron fez uma pausa – Mais uma vez, o imperador pois se a prova que seu egoísmo superava tudo e rejeitou a proposta dos deuses que amaldiçoaram sua alma e a trancaram nas profundezas do tártaro. Ninguém nunca mais ouviu falar sobre Desespero e sua historia.

Que historia.

– Quer dizer que o sentido da Jornada de Ouro continua a ter o mesmo sentido? Então a profecia está mesmo certa: para restaurar o acampamento e seus heróis, duas semideusas terão que cumprir a jornada e por fim irão se sacrificar. Se formos mesmo elas, nós teremos que morrer no fim – Disse Valentine, que não parecia se incomodar com a ideia de morrer.

– Infelizmente você está certa, Sra. Laurent. – Concluiu Quíron. Sr.D não parecia muito interessado na conversa. – Não quero força-las a tomarem essa decisão. Alias, eu era quem treinava os campistas e Sr.D era o diretor do acampamento. Foi realmente uma época muito boa...

– Não temos escolha ou temos? – Era impressão minha ou Valentine de repente se interessou na conversa quando ela passou a tratar sobre morte? Talvez fosse só impressão, eu acho. – 2 vidas apenas para salvar 200 ou 110 em troca? Não vamos perder nada, até porque nós duas estamos condenadas. Não vamos viver muito tempo. Eu sinto isso. Ronnie está sobre a maldição da sua, ou seja, uma hora os inventos dela a matarão. Já quanto a mim, eu já devia ter morrido faz tempo. – Fez uma pausa – Eu aceito cumprir a Jornada de Ouro.

Fiquei tão atormentada que nem perguntei de onde ela havia tirado aquilo.

Como assim? Mamãe sempre me disse que a tal “maldição da família Vega” havia sido quebrada. Isso não era verdade ou era? Argh! Eu já estava começando a ficar irritada: meu cabelo estava soltando fumaça e as cores das postas iam mudando de preto para castanho escuro para claro e logo logo iriam ficar vermelho vivo. Isso acontecia quando eu estava nervosa. Não queria que ninguém visse isso, então me acalmei e comecei a pensar melhor: Eu não tinha mais ninguém da minha família, estava sozinha. As pessoas da escola com aquela biblioteca me queriam morta e ainda tinha essa tal de maldição. Realmente eu não tinha nada a perder. Completava a jornada, morria, salvava mais de 100 vidas e me tornaria uma heroína. Era melhor que nada.

E eu não tinha nada de interessante. Para fazer nessa ultima semana.

– Eu estou com ela. Aceito cumprir a Jornada de Ouro e me sacrificar para trazer de volta o Acampamento Meio-Sangue.

– Perfeito – Quiron disse alegre. – Mas primeiro, a jornada é cheia de perigos, isso inclui monstros e desafios perigosos. Vocês precisam de armas. – Ele se levantou e saiu em direção à porta da casa – Hora de visitar o que restou do arsenal do acampamento!