Desventura Divina: A Jornada de Ouro escrita por Lady Meow


Capítulo 22
Quando eu conheci e disse adeus a minha meia irmã gêmea


Notas iniciais do capítulo

Olá, tem alguém ai?

Cá estou eu, Lady Meow, para postar o tradicional capitulo anual de JdO como presente de natal para vocês e desta vez, trazendo o derradeiro e especial ultimo capitulo da fanfic! Ele já estava pronto a meses, mas esperei esse momento para publica-lo. Durante todos esses anos (e olha que foram muitos! Desde 2013 estamos aqui), mesmo com todos os hiatus, bloqueios e problemas que eu tive para escrever/postar, ter produzido essa historia marcou demais minha vida, me orgulho de ter criado todo esse universo e ter melhorado a escrita cada vez mais. Foi realmente uma experiencia maravilhosa produzir minha propria versão das maravilhosas obras do Riordan.
Antes de deixar vocês caírem de cabeça na leitura, gostaria de fazer agradecimentos especiais, principalmente ao Taifu-no-me por me acompanhar na produção dessa historia, me ajudar com meus hiatus intermináveis e ouvir todas as ideias malucas que eu tive para essa fanfic, e a todos os leitores que permaneceram até aqui, sério, essa historia não seria nada sem vocês. Muito obrigada, de verdade.
Enfim, chega de discurso no jutsu: aproveitem a leitura e nos vemos nas notas finais (por favor, não esqueça de passar nelas! É importante)





(Capitulo ainda não-revisado, podendo assim conter erros)



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LEO.

O Acampamento estava em caos.

Não, não era nenhum monstro ou fim do mundo, nem agora deusa malvada matando um monte de crianças e adolescentes. Era um caos bom, do tipo quando algo muito bom acontece e todos ficam eufóricos.

O motivo da animação? Elas haviam voltado.

Quando eu havia acordado hoje de manhã, com alguém batendo na porta do Bunker 9 eu já imaginava que havia acontecido o pior.

Ontem, quando Thomas Lewis havia iniciado aquele ritual maluco, eu achava que não daria certo.

Espera, o super legal e alto astral Leo Valdez sendo pessimista? Pois é, a situação estava tensa e sem nenhuma possibilidade boa por trás.

Estavam quase todos os mais próximos no Bunker, incluindo eu, Tom, Greg Takashi, a adorável Callie, pequena Sasha, Elleanor Mcluckyhill, o namorado dorminhoco dela, Oliver, Joy Deutsch, sem contar um Nico di Angelo inconsciente em cima de uma das mesas.

Mas foi por volta das quatro da manha que a coisa começou a sair do controle: eu não entendi muito bem, porém Tom estava tentando fazer Nico acordar usando encantamento e feitiços para trazer sua alma de volta ao corpo, como estava nos planos, mas por algum motivo ele estava relutando para voltar ou algo estava prendendo ele ali.

Tom e Oliver levaram Nico desacordado para a enfermaria por acharem que algo estava dando errado, então todo o resto do pessoal resolveu ir para suas camas e rezar para que nada de ruim acontecessem, me deixando sozinho e muito preocupado.

Sem sono, fiquei horas e horas pedido para todos os deuses possíveis para que algo bom acontecesse, rezando para que Nico acordasse junto com Valentine e Ronnie.

Eu havia conhecido Valentine enquanto era um fantasma por culpa de Gaia, mas foi o bastante para me sentir muito próximo da garota que havia perdido a memoria. E havia Ronnie, ela era minha meia irmã, tínhamos uma ligação por icor.

Eu realmente não queria que elas tivessem um fim ruim.

E ainda tinha Nico, que havia se arriscado naquele ritual maluco para traze-las.

Oh deuses, eram tantas preocupações que acabei dormindo de exaustão de tanto pensar.

Quando ouvi as batidas na porta por volta das 11 da manha, eu me encontrava deitado desconfortavelmente na minha poltrona. Meu coração foi a mil quando corri para abrir a porta e acelerou ainda mais quando Greg abriu a boca para falar.

— Deu certo. — disse ele, eufórico. Tinha a impressão que ele havia corrido o acampamento inteiro para espalhar a noticia. — Quíron quer que você vá a Casa Grande. Eles estão lá.

Depois que ele saiu para espalhar para mais pessoas, eu me arrumei e fui correndo rumo à Casa Grande.

As cortinas e portas fechadas, provavelmente para afastar os olhares dos campistas curiosos que não paravam de falar sobre isso por todo o Acampamento Meio-Sangue.

Quíron abriu a porta antes mesmo que eu batesse, num sinal claro que era para entrar logo.

Já no hall de entrada, era possível ouvir uma grande conversa acontecendo, com duas vozes diferentes no meio. Lá dentro, Elleanor e Nico estavam no sofá — que inclusive tinha uma atadura branca em volta da testa —, Oliver dormia em pé em um canto como um típico filho de Hipnos de guarda e Callie espiava o que acontecia do lado de fora por uma fresta na cortina.

— Cadê elas? — perguntei, Elle apontou silenciosamente para duas poltronas no meio da sala, próximo à lareira acesa. Era possível ver a silhueta de duas sombras ali.

— Leo? — uma delas inclinou a cabeça pro lado, para conseguir me enxergar. — É você!

Mesmo ainda um pouco pálida e com um daqueles colares cervicais no pescoço, Valentine parecia completamente diferente de quando estava em coma. Seu corpo irradiava vitalidade apesar de tudo.

Ela quase me sufocou num abraço apertado que me fez lembrar de quando eu era um fantasma preso no Mundo Inferior com os outros e ela estava ainda no começo da Jornada de Ouro que quase havia acabado com a sua vida.

— É bom te ver de novo. — eu disse retribuindo o abraço na gigante de cabelos negros. Eu nem mesmo acreditava que era real depois de ouvir tantas e tantas vezes que seria impossível vê-la acordada novamente.

— Valentine, não se esforce tanto. — aconselhou Nico, com um tom protetor.

— Deixa ela, Nico. Para alguém que acordou de um coma de 6 meses, elas terem voltado tão bem é impressionante até para um semideus. — disse Quíron com certo orgulho na voz. Provavelmente, o mesmo havia dado uma serie de broncas e advertências antes nele por Nico ter trazido elas de volta quebrando uma série de regras e sem autorização do centauro.

— Bem? Eu não consigo mexer minhas pernas! — reclamou alguém, a outra voz diferente. Na outra poltrona, Ronnie Vega, estava sentada impacientemente. Para quem só havia a visto deitada e cercada por tubos e fios, era um tanto estranho ver ela falando.

— Ronnie, para de reclamar, os médicos disseram que você vai voltar a andar logo. — disse Callie, tentando acalma-la.

— Eu não lembro de ter perguntado nada para você — Ronnie respondeu com raiva. Callie suspirou e engoliu em seco, visivelmente magoada pelo comportamento agressivo da irmã.

Que por acaso era minha irmã também.

— E essa é a nossa esquentada Veronica Vega. — apresentou Quíron, ela deu um aceno para mim. — Além de ter voltado com movimento parcial das pernas, ela ainda não aceitou bem à volta.

— Ronnie não é assim, ela só esta estranhando a nossa volta, assim como eu. — Valentine defendeu a amiga. — A gente já havia se preparado psicologicamente para morrer naquele dia, nós não esperávamos voltar nem nada.

— Exato, Nico... Por que você fez isso? Por que você simplesmente não deixou eles desligarem os aparelhos? Não deveria ter trazido a gente de volta. — disse Ronnie, pela primeira vez ela não soava irritada.

— Ela tem razão. — completou Valentine.

Nico iria falar, mas eu resolvi tomar partido naquela vez.

— Na verdade, não foi só ideia dele. Foi um plano executado e planejado por muitas pessoas, inclusive eu e Callie, Nico só executou a ultima parte.

— Fizemos isso porque acreditamos que vocês mereciam uma segunda chance, já que ainda estavam vivas, e também em agradecimento por terem salvado esse lugar e todo mundo. — continuou Elle.

— E também por que queríamos fazer o contrário do que os deuses fizeram com vocês durante todas suas vidas: eles só lembraram-se da existência de vocês quando precisaram. Nosso desejo era mostrar que tem pessoas aqui que se importam verdadeiramente com vocês, que se orgulham e que se espelham no heroísmo de vocês. — terminou Oliver, numa das raras vezes que vi falar tanto sem bocejar seguidas vezes.

— Exatamente. — disse Nico.

— Mesmo não tento sido nossa vontade no começo, eu e Ronnie agradecemos por vocês se arriscarem tanto pela gente, de verdade. — Tine foi para trás da poltrona da amiga e abraçou os ombros da mesma.

— Bom, o que esta feito esta feito. — Quíron bateu os cascos da sua parte cavalo. —  O que nos resta fazer é recuperar as forças e comemorar, afinal, as salvadoras do Acampamento  Meio-Sangue estão de volta! — todos sorriram de felicidade. — Elleanor, Oliver e Calliope, já que são os mais velhos nessa sala, podem me ajudar a organizar uma festa de...

— “Retorno da quase morte”? — sugeri um nome, Tine e Ronnie riram.

— Isso! — o professor de heróis se dirigiu a uma das portas da Casa Grande. — Uma festa de “Retorno da quase morte” de Veronica e Valentine hoje à noite?

— A proposito, Valentine, quer conhecer o chalé do papai? — Perguntou Nico, a sua irmã assentiu com a cabeça. — Podemos ir pelas sombras, assim ninguém vê você antes da hora.

O casal de filhos de Tique e Hipnos seguiu o centauro animadamente e as duas crias de Hades desapareceram nas sombras invocadas por Nico (que provavelmente ira contra todas as recomendações médicas), deixando apenas Callie, Ronnie e eu.

— Vou ajudar Quíron. — disse a legado. — Tenta afastar o mau humor da nossa irmãzinha mais nova, ok? — Callie bagunçou o meu cabelo e o dela antes de seguir pela mesma porta.

Era estranho ouvir ela se referindo a Ronnie como “nossa irmãzinha mais nova”, eu demoraria a me acostumar com a ideia de que dividíamos uma meia irmã.

Sobrando apenas nós dois na sala, começamos um jogo silencioso de olhar um ao outro da cabeça aos pés, percebendo que éramos bem parecidos.

Ronnie não deveria ter mais de 1,60, tinha pele negra e seu cabelo era um pouco curto, além de ter um corpo forte. Suas mãos e braços eram cobertos por cicatrizes entreabertas e seu rosto era marcado por sardas escuras.

— Cabelo castanho ondulado, pele mais escura, baixa estatura... Que coincidência. — disse ela por fim, numa língua diferente. Era um tipo de espanhol com pronuncia diferente.

— Pois é, maninha. — respondi com o pouco espanhol que sabia.

— Fala espanhol também? Qual é, isso é algum padrão para filhos de Hefesto ou somos gêmeos?

— Acho que somos meio irmãos gêmeos. — eu disse rindo, ela também riu.

— Bem, sou Ronnie Vega. Você já sabe. Controlo metais e tal.  — ela deu ombros.

— Leo Valdez. E controlo fogo e tal. — apertei sua mão.

Algo estava me dizendo que iriamos nos tornar grandes amigos... Quer dizer, irmãos.

Mais tarde, enquanto eu me arrumava para a festa de anuncio do retorno de Ronnie e Valentine, eu acabei tendo um encontro inesperado com os deuses.

Um besouro robótico havia entrado pela janela e parado na minha frente no chão, me observando com os olhos mecânicos. Como bom filho de Hefesto e mecânico eu era, sabia que aquele havia sido feito pelo meu pai e havia sido mandado do Olimpo.

De repente, o bichinho começou a zumbir e do seu compartimento nas asas saiu uma grande explosão luminosa de pixels e cores cegantes que me puxou para dentro “dela” como se estivesse sido puxado para dentro da televisão.

Confesso, não há nada mais vergonhoso do que você estar no seu quarto fazendo caras e bocas enquanto se arruma no espelho e no segundo seguinte você simplesmente é teleportado via holograma diante de uma dúzia de seres todos poderosos com 3 metros de altura.

Eu estava no meio do salão do Olimpo por via daquela Realidade Virtual — que não precisava de óculos — mágica e bizarra. Valentine, Nico e Ronnie também estavam lá ao meu lado (e arrumados para a festa).

Não me lembrava de ter ido alguma vez ao Olimpo, mas mesmo que já tivesse ido, era impossível não ressaltar o quão majestoso aquele lugar: toda sua arquitetura em mármore branco era incrivelmente linda, além de cada centímetro quadrado ali irradiar poder.

Teria descrito mais o lugar se Zeus não tivesse pigarrado para chamar nossa atenção. E quando eu digo “pigarrar”, me refiro a o barulho de um trovão estrondoso.

— Então finalmente conhecemos vocês, Veronica Vega e Valentine Laurent. — disse Zeus, nos forçando a encara-lo junto com todos os outros deuses, inclusive meu pai. Eles mantinham as mesmas aparências desde a ultima vez que havia os visto. — E também revemos Leo Valdez, da Profecia dos 7, o garoto que voltou a vida. — ele deu uma boa olhada em mim com aqueles assustadores olhos azuis escuros. — E Nico di Angelo, que alias... Qual o seu problema garoto? Por que você esta sempre metido nesse tipo de coisa?

O tom do rei dos deuses não era nem um pouco amistoso para um cumprimento, era cheio de sarcasmo e certa dose de fúria, como se ele não estivesse nem um pouco afim de fazer aquilo e tivesse acordado num dia péssimo.

— Zeus... — chiou Poseidon, advertindo o irmão. — Eles são crianças ainda.

Os dois começaram a se encarar.

— Crianças que salvaram nossos filhos, inclusive. Precisamos agradecer esse feito. — Cortou Atena, tomando as rédeas da situação de uma maneira sensata. — Valentine e Veronica, certo? Vocês fizeram muito bem ao conseguirem completar a Jornada de Ouro e foram valentes ao se sacrificar. Ao trazer os semideuses de volta, vocês são só os salvaram, mas como salvaram ao Olimpo também, pois sem nossos filhos, estávamos vulneráveis a qualquer grande ameaça que poderia surgir.

 — Nós realmente agradecemos por isso. — Zeus respirou fundo como se estivesse perto de explodir. — Mas o problema é... Vocês terem sido trazidas de volta... Ou melhor, VOCE TER SIDO TRAZIDA DE VOLTA! 

Até mesmo os deuses se assustaram com o tom de Zeus e a forma que ele apontou o dedo para Ronnie, como se fosse incinera-la naquele momento.

— Sua mãe... Aquela mortal desgraçada... Ela traiu o Olimpo e quase nos destruiu com a sua ambição! — ele gritou como um trovão. — Nós não tínhamos certeza que ela tinha tido uma filha, mas agora olhando para você... É impossível não reconhecer a pele e os mesmo olhos espertos de raposa que as duas tem! Seu pai provavelmente deve ter te escondido de nós. — o deus dos céus apontou acusatoriamente para Hefesto, que se encolheu no trono.

Nós quatro estávamos totalmente petrificados de susto, sendo que Ronnie mal respirava de tão tensa. Suas mãos apertavam tão fortemente o tecido da saia que ela usava que parecia que o pano iria sangrar. Nenhum de nós entendia nada.

 — Foi uma coincidência infeliz você ser uma das garotas da Jornada de Ouro quando você não deveria nem ter nascido, garota. — ele continuou. — E agora você esta de volta, graças ao filho de Hades e sua péssima mania de trazer pessoas de volta a vida mesmo isso sendo extremamente proibido.

— Senhor Zeus, me desculpe, mas eu não quebrei nenhuma regra. Elas não chegaram a morrer, trouxe elas de volta antes que vocês mandassem eles desligarem os aparelhos. — respondeu Nico, cauteloso. Aquilo só pareceu aumentar o clima tenso.

Parecia que tinha uma bomba nuclear bem ali no meio e todos estavam acorrentados em volta dela.

Estava totalmente confuso. O que a mãe da Ronnie tinha feito para deixar Zeus tão irritado e rancoroso? Do jeito que o deus falava, ela deveria ter sido próxima deles... Mas como?

— Acalme-se Zeus. — implorou Hera tentando acalmar o marido, enquanto raios e relâmpagos acompanhavam uma tempestade forte do lado de fora. Provavelmente ela causaria alguns estragos no mundo mortal.

— Como posso me acalmar? Essa garota é um perigo para o Olimpo... Se ela resolver seguir os passos infelizes da mãe...

Eu tinha medo de saber o que aquela mulher deveria ter feito, pois a ideia de poder acontecer de novo era tensa o suficiente para fazer até mesmo o todo poderoso Zeus surtar.

Era possível ouvir a respiração acelerada de Nico e Valentine ao meu lado, meu corpo inteiro tremia com a tensão que estava no ar.

Foi então que todo mundo ficou em silencio.

Ronnie estava com a mão levantada como se estive pedindo para falar na sala de aula. Por não conseguir mexer as pernas temporariamente, ela estava sentada no chão, o que a deixava ainda menor em comparação aos deuses sentados em seus tronos.

Ela esfregou o rosto no braço e em seguida apontou o dedo pra Zeus.

— COMO EU POSSO SEGUIR OS PASSOS DA MINHA MÃE QUANDO EU NEM MESMO SEI DO QUE VOCE ESTA FALANDO! — ela gritou, mais alto até que os trovoes do lado de fora. — EU NÃO VEJO MINHA MÃE DESDE QUE EU ERA PEQUENA, ELA MORREU TENTANDO PROTEGER ELE. — Ronnie apontou para Nico, que deu um passo para trás. — SE NÃO FOSSE PELA JORNADA, EU NEM SABERIA QUE ERA FILHA DE UM DEUS GREGO.

— EU VOU TRANSFORMAR VOCE EM PÓ GAROTA!

— Você quer, mas sabe que não pode. — ela sorriu vitoriosamente. — Foi como Atena disse, não é? Se eu não tivesse salvado o Acampamento junto com Valentine, vocês poderiam ter sido destruídos por alguma super ameaça divina. Deve existir algum tipo de Justiça Divina e bem, se você tentar fazer algo comigo, será injusto depois de tudo o que fiz para salvar tudo.

Por mais que Zeus estivesse fumegando de raiva, ele ainda era um deus que dava muito valor a justiça e tudo mais, o que fazia Ronnie estar certa quanto tudo aquilo.

Céus, a esperteza daquela menina era de outro mundo. Enquanto nós três mal conseguíamos pensar pelo pânico, ela havia criado um argumento de defesa convincente.

Os deuses começaram a conversar entre si sem que conseguíssemos ouvir, provavelmente tentavam encontrar uma solução para aquilo.

Quando a conversação acabou, Atena retornou a falar.

— Por mais que meu pai deteste concordar, você esta certa Veronica. — Ronnie sorriu cheia de si. — Porém o que sua mãe fez é algo tão terrível que preferimos nem mesmo falar, então, não queremos que você chegue a seguir ela. — o sorriso dela desapareceu.

— Então, pensando em duas saídas, duas escolhas para você escolher que iram manter você nos trilhos e longe de qualquer problema que sua mãe causou. Até mesmo seu pai, Hefesto, concordou com elas. — Artemis completou, em sua forma quase infantil de garota de 12 anos, porem com voz e autoridade de deusa. — Uma delas é você virar uma das minhas caçadoras: Além de permitir que eu cuide de você de perto, em troca terá a juventude eterna, terá para sempre 16 anos e se manterá afastas dos perigosos que os homens oferecem. — ela continuou. — A segunda opção é você se juntar as Amazonas, você não precisaram manter nenhum voto de castidade e poderá se tornar uma ótima guerreira, por mais que não gostamos muito da ideia, é uma escolha que poderá fazer. Se escolher essa, eu mesma me certificarei de levar você até a sede delas em Seattle.

Valentine colocou a mão na boca, em choque. Eu prendi minha respiração.

Eu mal havia conhecido minha “meia irmã gêmea” e agora teria que me despedir? Fiquei imaginando como Callie reagiria ao saber o que iria acontecer independentemente da escolha que Ronnie fizesse.

Tinha volta de gritar e protestar pelos deuses estarem sendo tão injustos com ela, mas sabia que só poderia piorar as coisas. Sentia-me impotente de novo.

Depois de um tempo, Ronnie havia tomado sua decisão.

— Eu não tenho muita escolha, não é? — ela deu uma risada fina, quase como se doesse. — Tanto faz. Olha, me juntar as Caçadoras poderia ser legal, saber, ser jovem para sempre e tal... Mas, eu quase morri virgem uma vez, prometi a mim mesma que isso não aconteceria de novo. 

Nem precisei olhar para Nico e Valentine para saber que os dois estavam tão vermelhos quanto eu. Quer dizer, até Ártemis estava visivelmente desconcentrada com a revelação da minha irmã.

A única que parecia se divertir com aquilo era Afrodite, que sorria divertidamente e olhava para Ronnie como se visse nela um futuro excepcional.

— Bem, acho que terminamos essa reunião por aqui. — disse Ártemis ao voltar ao trono. — Irei te buscar quando a lua estiver no ponto mais alto. Então, dispensados.

Ela bateu as mãos e quando pisquei, estava de volta ao meu quarto, com um besouro destruído aos meus pés.

Terminei de me arrumar, porém não conseguia parar de pensar no que havia acontecido. Agora a festa havia se tornado a “Festa de Despedida de Ronnie”.

Eu realmente gostaria de ter tido oportunidade de poder ser um irmão legal como havia planejado ser, mas agora o plano foi por água a baixo. Talvez essa seja a ultima vez que eu a veria, pois depois dessa noite, Ronnie seria uma guerreira do tipo que odiava homens.

Sentia que ela nunca mais seria a mesma.

 

 

Eu e Nico estávamos sentado no chão, tomando refrigerante e assistindo Valentine, Callie, Greg, Sasha, Joy, Tom, Elle e Oliver — que carregava Ronnie nos ombros —  correrem um atrás do outro colina a baixo.

— Como ela esta? — perguntei a ele sobre Valentine.

— Tine? Arrasada. Elas têm uma espécie de conexão muito forte, se tornaram melhores amigas durante a Jornada. Ninguém as conhecem tão bem quanto elas mesmas. — ele surpirou. — Nem mesmo eu.

Depois de muito silencio, resolvi fazer uma pergunta de algo que estava me deixando curiosos a muito tempo.

— Nico... Você sabe qual era o passado da Valentine? Quero dizer, antes da jornada e dela perder... você sabe, a memoria e tal. O que houve com ela quando a mãe dela morreu.

— Tudo que sei são coisas que meu pai contou e que perguntei para as pessoas que viviam ao redor dela. Na verdade, eu nem sabia que tinha outra irmã até virar um fantasma depois do ataque de Gaia... — ele colocou a mão no queixo, pensativo. — A mãe dela se suicidou tomando remédios quando Valentine tinha 3 anos, ela acreditava que se morresse poderia receber atenção total do meu pai o tempo todo e sua filha também, mas não conseguiu dar os comprimidos para menina antes de morrer.

“Então Tine foi mandada para um orfanato e passou uns bons anos lá, mas houve uma tragédia quando seus poderes se manifestaram: um dia, um garoto valentão do orfanato começou a importuna-la, por ser estranha e tudo mais, e quando ele partiu para cima dela, Valentine usou as sombras para desviar do ataque, o que fez o garoto simplesmente travessar uma janela que estava aberta atrás dela e cai do 3 andar.

A névoa fez os mortais verem que Valentine havia empurrado o garoto da janela de proposito e isso levou minha irmã a vários tribunais que concluíram que ela era uma criança perigosa e que poderia oferecer risco a sociedade por ter matado um coleguinha de orfanato apenas com sete anos de idade. Do resto da infância até a adolescência ela foi mantida numa espécie de prisão secreta para jovens infratores e perigosos, meu pai constantemente mandava as Fúrias se disfarçarem de guardas para saber como ela estava.

Foi então que ela recebeu o convite para frequentar um colégio interno e foi enviada para lá por bom comportamento, mas no final o lugar era uma armadilha para capturar semideuses onde ela conheceu Ronnie e eu apareci pela primeira vez para ela ainda como fantasma. E esse foi o começo da Jornada de Ouro”

A forma que Nico falava parecia nostálgica, como se aquilo fosse lembrança de muitos e muitos tempos atrás. 

O passado de Valentine era uma historia triste e injusta, não me parecia algo bom de ser lembrado. E por mais que parecia errado pensar aquilo, acreditava que ela ter caído no Rio Lete e perdido a memoria havia sido uma dadiva do destino boa para jamais recordar tamanho sofrimento.

Tanto ela quanto Ronnie não pareciam ter fugido dos dramas trágicos que envolvem a vida dos semideuses, mas além de terem passado por tudo isso, elas ainda foram usadas e iriam ser descartadas pelos deuses que nunca ligaram para a existência das duas até aquela profecia fosse lançada.

Era no mínimo cruel.

— A lua esta bonita hoje. — comentou ele por fim, afastando a sensação ruim que aquela historia havia deixado.

Nico realmente estava certo, a lua estava linda: Cheia como um disco, brilhante e alta.

Alta.

Um calafrio percorreu meu corpo. Eu sabia o que aquilo significava.

— Parece que a carona da senhorita Vega chegou. — disse Quíron, aparecendo atrás de nós e apontando para a entrada do Acampamento Meio-Sangue, onde Ártemis estava à espera com sua carruagem prata puxada por corças.

De alguma forma, ele sabia o que houve no Olimpo mais cedo.

O pessoal que estava brincando se juntou a nós quando percebeu também a presença da deusa. Quíron entregou uma mochila para Ronnie e lhe desejou boa sorte, pedindo para que Oliver e Elle a levassem até Ártemis.

Peguei uma cadeira para que ela sentasse e pudesse se despedir de cada um.

Elle bagunçou o cabelo dela, dizendo que Oliver e ela estavam muito felizes por Ronnie ter ajudado eles a voltarem para casa.

— Mesmo você sendo chata, teimosa e muito irritante, você ainda é uma pessoa legal. — despediu-se Nico para ela. Era até um pouco esquisito perceber que ele estava um pouco triste. — E desculpa pelo que aconteceu com a sua mãe, de verdade. Mande lembranças pra Hylla por mim.

— Tudo bem. — ela respondeu, abaixando a cabeça visivelmente triste com a lembrança. Minha irmã estendeu os braços e ele baixou para abraça-la. Apesar de tudo, os dois pareciam ter uma espécie de amizade estranha. — Ah? Mandarei.

— Minha vez. — eu disse. Não aguentei e lhe dei um abraço muito forte quando Nico se afastou, do tipo quase sufocante. — Eu realmente gostaria de poder conviver com você um pouco mais. Se cuide e, por favor, prometa que vai odiar todos os homens menos eu?

Ela riu do meu drama excessivo e disse: “Eu prometo que odiarei todos os homens menos meu meio irmão super maneiro”, o que me fez rir em meio as lágrimas que saiam sem permissão. Era uma garota incrível.

A próxima era Callie.

Eu estava receoso quanto a essa despedida, afinal, Ronnie aparentava de alguma forma desgostar dela e tentava ignora-la de diversas formas. Me sentiria mal em ver a expressão triste de Callie ao ser menosprezada novamente.

— Ronnie, eu sei que temos uma historia complicada. Dividimos a mesma mãe, porém somos pessoas diferentes e meu erro quando era pequena foi não acreditar nisso. Me desculpe. — Callie se abaixou e pegou as mãos relutantes dela. — Crescemos afastadas, ignorando a existência uma da outra e nos odiando profundamente, mas agora crescemos. Não temos mais a influencia da Tia Rosa e da mamãe sobre nós, então, eu não vou desistir de você. E darei um jeito de te encontrar depois independentemente de onde esteja. Juro pela nossa família.

Eu achei que Ronnie fosse virar o rosto, soltar as mãos dela e mandar Callie calar a boca, mas ela apenas deu um sorriso. Tímido e pequeno? Sim, porém para sua meia irmã aquilo era um bom sinal e tanto, pois ela suspirou aliviada em seguida. “Não se meta em nenhuma outra jornada suicida novamente”, disse a mais velha após lhe dar um beijo na testa de despedida.

O adeus de Greg foi escandaloso e cheio de lagrimas, o que era de se esperar do melhor amigo filho de Momo. Joy, Tom e Sasha também tiveram suas vezes.

Até que chegou a mais tensa da noite.

Enquanto todos estavam dizendo seus respectivos “tchaus”, Valentine havia se isolado num canto mais afastado. Uma ou outra hora eu podia vê-la secar as lagrimas discretamente.

Quando ela se aproximou e se abaixou, todos ficaram quietos e atentos. Ronnie pegou uma mecha do cabelo de Valentine, enquanto a mesma colocava a mão em volta do ombro da amiga.

As duas ficaram se olhando por um tempo, como se pudessem conversar sem trocar nenhuma palavra.

— Bem, como eu posso conseguir dizer adeus para minha melhor amiga? — disse Valentine por fim, explodindo em choro. Ronnie a abraçou com força e enterrou o rosto no seu ombro. Todo mundo então começou a aplaudir as duas.

Elas haviam se sacrificado e voltado à vida juntas depois de passar por muitas coisas, era uma amizade e tanto.

E agora as duas seriam brutalmente afastadas e correriam o risco de nunca mais se verem novamente, era tão triste.

Confesso que algumas lagrimas teimosas deslizavam meu rosto depois daquela cenas, elas ficaram ainda mais intensas quando Oliver colocou Ronnie nas suas costas e junto com Ellen foi levar até a carona que a levaria pro Reino das Amazonas.

— Eu prometo que não vou esquecer vocês. — gritou ela por fim, quando já estava longe.

Quando a carruagem da deusa desapareceu na floresta deixando um rastro prateado como a cauda de uma estrela cadente. Então, Ronnie havia finalmente ido.

Sentia-me arrasado, mesmo sabendo que ela estava bem e tudo mais, Ronnie tinha uma personalidade contagiante assim como eu, logo era um pouco impossível não se apagar a ela em tão pouco tempo. Parecido que um buraco no meu coração havia sido levado embora mesmo eu tendo apenas “conhecido” ela a algumas horas.

Mas por mais que estivéssemos tristes, concordamos que ainda deveríamos curtir o resto da festa, afinal, mesmo depois de tantas lagrimas e tantas coisas ruins que havíamos passado hoje e antes, aquela era uma noite linda demais no Acampamento Meio-Sangue para não se aproveitar. 

 

 

FIM 

... por enquanto.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam do nosso gran-finale desta história? Agradou suas expectativas? Te surpreendeu? Por favor, não deixem de comentar!
Antes de fecharem a página, gostaria de avisar que eu ainda não irei marcar essa historia como finalizada. Por que? Bom, eu ainda irei postar uma pequena surpresinha aqui, então por favor, não esqueçam de passar aqui depois!

Muito obrigada por lerem essa história durante todos esses anos, a Lady Meow ama vocês.
Até mais!



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