Nova Terra escrita por Raposa das Bibliotecas


Capítulo 20
Sor Vitoriano




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Sua mão deslizou pelo corrimão da escadaria do Grande Salão do Castelo Black. As portas se abriram, sem mesmo ter emitido um comando, os guardas fizeram uma reverência, sem nem mesmo saberem quem ele era. A praça em frente à entrada do castelo mudou muito. Antes, havia apenas uma guilhotina no canto esquerdo, onde não podia ser vista, e algumas árvores nuas, agora há um pedaço quadrado de madeira, grande, pesado e grosso o suficiente para receber vários golpes. Slap, o machado fazia. Um machado intrigante, de fato, de uma lâmina fina e grande, com flores esculpidas por toda esta. O coveiro executava-os.

–Majestade –implorou o Lorde de Primavera do Leste, há três léguas de Black- piedade, nunca roubei nada da coroa, juro pelo Rei.

–O Rei está morto, Lorde Kill, e logo você estará também. –Ela assentiu para os guardas, que o forçaram a ficar de joelhos e apoiar a cabeça no quadrado de madeira. –Eu, Rainha do Sul, o sentencio à morte, por roubo, aqui, perante os homens e o Sol. –Agora ela assentiu para o coveiro, e a lâmina separou a cabeça de Lorde Kill do corpo com único golpe. Sua cabeça rolou pelo bloco quadrado de madeira.

–Majestade? –Chamou Sor Vitoriano. A Rainha olhou-o furiosamente por atrapalhar as sentenças, mas deu-lhe atenção. –Podemos conversar agora?

Ela se levantou, exibindo o vestido carmesim com detalhes em metal. Seus cabelos estavam presos por minissais e seus lábios estavam magicamente mais vermelhos. Levantou-se de uma cadeira de madeira com um brilho estranho, toda coberta por veludo preto, entre os seios, na placa metálica, exibia uma montanha com duas rosas se entrelaçando nela. A Rainha veio de Pedreira, filha de Lorde Montanha, que ainda vive, e de Lady Fila, uma senhora bela, de lindos olhos azuis como safiras.

–Vamos para meus aposentos, Sor. Lá podemos conversar melhor.

Ele assentiu.

Subiu pelo menos nove lances de escadas para poderem chegar a uma torre que antes tinha portas de madeira, mas foram substituídas por portas de metal, reforçadas, prontas para suportar um ataque por algumas horas. Começaram a subir; as escadas os levavam por um caminho em formato de caracol. Sor logo ficou enjoado, faltando pelo menos mais três lances para o quarto da Rainha.

–Ah senhora... Ah... Ah senhora tem bom fôlego.

–Hábito. Meu falecido marido me deixava aqui quando não me queria por perto, o que era quase todo momento. Me exercitei muito. Enfim, chegamos. Sobre o que quer conversar, Sor?

A Rainha abriu outra porta, também de metal e entrou, sem convidá-lo, e ele não esperou pelo convite. Sentou-se perto da alta janela da torre para retomar o fôlego.

–Minha Rainha, como sabe, voltei a pouco de uma viagem rumo ao Oriente, fui pela ordem de Fredderic...

–Rei do Sul, Sor. Rei do Sul.

–Mil desculpas, Majestade. Fui mandado pelo Rei do Sul e voltei trazendo algo poderoso.

–O quê? Desculpe, não tive tempo de conversar com vosmicê.

–Ocupada demais decorando as estacas com cabeças em seus portões, Majestade. Compreendo sua preocupação com cabeças de seus Lordes, mas se continuar assim, pode acabar perdendo a sua.

–E vosmicê a sua. –Ela respondeu, erguendo um copo cheio de vinho.

–Como estava dizendo, quando voltei de Oriente trouxe em três navios algo que fará a senhora saltar de alegria.

–O que é?

–Quando comprei, tive de esperar para poder mandar todo o pacote para cá, demorou sim, mas veio comigo. Trago diretamente do Oriente dez barris cheios de pólvora.

–O que é pólvora?

–É uma substância preta, que queima muito rapidamente. Alguns alquimistas do Oriente inventaram por acaso há vinte anos e, desde então, começaram a trabalhar nela. Inventaram uma arma, majestade.

–Como ela é usada?

–Quando os alquimistas a descobriram, usaram-na dentro de algumas frutas, como romãs, e tacavam fogo nelas. Elas explodiam, mas a romã em si não adiantava de nada, mas a força da explosão sim. Chamaram isto de granada.

–Granada! –A palavra soou como música de sua boca. A Rainha bebeu um gole de vinho e continuou a refletir. –Acho que não poderei usar as granadas na minha batalha contra o Norte.

–Por que não, minha senhora?

–Minhas armas de cerco estão quase prontas. Meus construtores já terminaram minhas balistas e meus aríetes, mas meus trabucos e minhas torres de invasão não estão prontos. E não começaram as catapultas.

–A senhora pretende mesmo atacar o Norte?

–Arrancaram de mim minha vida, agora arrancarei a vida deles. Meu marido me avisou para me manter longe de lá, que bestas sanguinárias correm por aquelas terras geladas, mas não acho que exista bestas de verdade; o Ocidente caiu há muito. Nós somos as bestas que ameaçam o Norte. O Sul reinará por todos os reinos, pode ter certeza disto.

–Quando a senhora pretende invadir?

–O mais rápido possível, meu maior problema no momento é meu exército.

–Por quê?

–É grande demais e não sei se colocarei todos. Tenho mais de quatrocentos e cinquenta mil homens a meu dispor, todos alimentados e vestidos, mas é uma comitiva muito grande, não necessito de tudo isto para atacar o Norte.

–A senhora já tem uma estratégia?

–É claro que tenho; o que acha que sou? Uma Rainha tola?

–De maneira alguma quis ofendê-la. Mil desculpas se a interpretei mal.

A Rainha seguiu para uma estante alta, cheia de livros empoeirados, depois de tomar mais um gole de seu vinho. Atrás dos livros estava um grande mapa velho, amarelo e gasto, com um cheiro forte.

–Isto é o Sul. –Disse ela apontando para uma grande extensão de terra. –Isto é o Norte. Moveu os dedos para cima, no centro de uma grande extensão, talvez até maior que o Sul. –E isto é o Castelo Griffin. –Subiu seu dedo para perto de uma cadeira de montanhas próximo ao Oriente. –Nossos exércitos marcharão por todo este caminho. Se eu levar todos eles, será mais demorado e sairá muito mais caro. Como deve saber, o Sul não dispõe de tanto dinheiro como o Norte.

–Então, quem liderará a vanguarda?

–Eu estava pensando em vosmicê...

–Seria uma honra, Majestade.

–Eu sei que sim, mas você não irá liderar minha vanguarda, terá outra missão, uma missão tão importante quanto.

Sor Vitoriano se ajeitou na cadeira, interessando no que ela iria dizer.

–Você irá para o Oriente.

–De novo? –Disse, frustrado.

–Sim, mas dessa vez retornará com algo mais precioso.

–O quê?

–Dragões!

Ele riu.

–Dragões? Majestade, anda comendo muitos cogumelos?

Ela não gostou do comentário, demonstrou isto com o olhar furioso.

–Não estou nem sou louca, Sor, e peço que controle sua língua, pois não hesitaria em cortá-la. Recebi uma carta, e nela dizia que há dragões no Oriente. Existe uma torre, com vários ovos, e alguns já eclodiram. Quero que os compre, pelo menos três, vou criá-los e anexá-los em meu exército.

–Demorará muito para que eles cresçam.

–Eu sei que vai, e é por isto que preciso deles o mais rápido possível.

Sor Vitoriano ficou observando a Rainha que tinha certo fogo no olhar. Ela não parecia estar inventando aquela conversa e nem parecia ter sido enganada. Se a tivessem feito de trouxa, ela se vingaria, com certeza, mas por que ela precisaria de dragões? Ela tem o maior exercito de todos os reinos; dragões não são nada comparados ao exorbitante número de soldados que estão prontos para defendê-la.

–Onde está meu amigo?

–Aquele anão? Está bem.

–Quero vê-lo.

A Rainha saiu de seus aposentos, deixando-o só. Sor Vitoriano colocou mais vinho em sua taça, e o bebeu todo em um único gole. Dragões, dragões, dragões, por que esta palavra não me soa tão real quanto aparenta ser? Sua cabeça estava doendo de tanto pensar, estava muito confuso e sua barriga começou a doer. O dia está quente, o vinho está quente e não estou me sentindo muito bem.

–Aqui está seu amiguinho. –Disse fazendo um movimento com a mão, ordenando que um de seus guardas reais o jogasse no quarto.

O anão estava com um roxo enorme no rosto. Um roxo quase preto e alguns cortes no braço que sangravam. Seus calções estavam furados, e tinha graves queimaduras nas mãos e nas costas.

–O que fez com ele? –Perguntou furiosamente, agachando-se para desatar o nó das amarras que prendiam as mãos do pequeno homem.

–Você, meu amigo, prometeu-me que seria um Lorde qualquer, com criadas e criados e, ao invés disto, sua Rainha me machucou.

–Ele teve o que mereceu e você merecia o mesmo, trouxe um espião.

–Espião? Que espião? Ele não é um espião, Majestade, é meu amigo, me ajudou em hora necessitada, esperou comigo no cais do Porto Vermelho até que meus vassalos trouxessem a pólvora, me trouxe em seu navio, me ajudou a fugir dos nortistas, ele não é um espião. –Agora ele estava irritado, muito irritado. Ajudando o anão a se levantar, ele faltava cuspir fogo. –A senhora não tinha o direito...

Não tinha o direito? Sabe quem eu sou? Sou sua Rainha, eu tenho todo o direito, Sor. Se bem sabe, jurou lealdade a mim e...

–E cumpri com meu dever para com meu Estado e sim, a senhora não tinha o direito, pois sem ele –disse apontando o dedo grosso para o anão, que agora se apoiava em uma banqueta para se manter em pé - não haveria pólvora para a senhora usar.

Ela ficou quieta. Não havia resposta para dar, simplesmente virou as costas para os dois e encheu sua taça de vinho. Ficou olhando pela janela, olhando a floresta verde e vasta que parece nunca ter fim.

–Me desculpe, Senhor Anão. –Ele somente gemeu de dor. –O senhor terá boas acomodações e trarão boas roupas para você.

–Só quero uma boa refeição no momento... Majestade.

–Ele irá comigo para o Oriente. –Informou Sor Vitoriano.

–Eu o quê?

–Ele o quê?

Os dois disseram no mesmo momento, em uma junção de voz perfeita, quase uníssona.

–Ele irá comigo e só partiremos quando ele estiver melhor. E mais, iremos no navio dele, é bem ao estilo oriental, então, não desconfiarão de nós. –A Rainha estava novamente furiosa, mas aceitou, como uma forma de se redimir pelo que havia feito.

–Para onde eu irei?

–Para o Oriente, partiremos em breve. Vamos buscar dragões!


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