Nova Terra escrita por Raposa das Bibliotecas


Capítulo 10
Zoryan


Notas iniciais do capítulo

Olá, essa é a primeira batalha de Nova Terra escrita, e espero que gostem.



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As paredes amarelas crescem. Um retângulo amarelo de três metros de altura se transforma em um quarto. Não há janelas. Existe uma sacada voltada para o mar, um marmeleiro cresce até a base da sacada e vinhas se enrolam nas pilastras brancas, tanto do parapeito quanto da cobertura de telhas vermelhas feitas de barro. A chuva vai, não é um belo dia, os pássaros não estão dançando e tudo está mais cinza do que nunca.

Os sons de tambores ecoam pelo quarto, bum bum bá, bum bum bá, bum bum bá bum!

Os animais azuis aparecem através do barbacã¹ amarelo. Homens de roupas simples correm pela passarela do barbacã e homens de armaduras pela passarela da muralha, todos segurando arcos nas mãos e suas flechas com penas negras nas costas. Algumas grandes flechas estão postas em cones encostados em alguma pedra, ou dentro de barris.

–Fogo! –Grita um soldado, e dois homens idosos transitam encostando a tocha no recipiente com óleo.

As criaturas azuis e pretas se aproximam. Enormes lobos, ursos e elefantes peludos. Todos vindos do Ocidente. O número é incontável. O último ataque foi contra o castelo de Lorde Kwin. Pelos relatos, não houve sobreviventes.

–Homens, a seus postos. –Disse o mesmo soldado.

As cordas foram puxadas, criando um som único, de repente viram pássaros vermelhos voando nos céus. As cartas a capital foram enviadas, para pedir ajuda ou relatar o que estava acontecendo. Até mesmo o Mestre dos Pássaros percebeu que não sobreviveriam e soltou-os para viver livres nas Florestas Cinza.

O primeiro elefante peludo apareceu. Enorme, seis metros de altura, dois pares de afiados chifres de marfins abaixo da grossa tromba. Seu grito de guerra é bem conhecido e sua tromba foi erguida e uma flecha flamejante viajou pelo ar, acertando a costela do animal que arquejou. O fogo de espalhou e o animal começou a se chocar contra o barbacã.

–É só isso? –Perguntou outro soldado, de repente um galho viajou pelo ar e atravessou a armadura de um dos soldados e este despencou da muralha, se chocou contra a pedra do barbacã e se estatelou no chão.

Cães selvagens negros correram contra a parte desprotegida da muralha, raspando suas garras nela, suas garras fortes arrancavam pequenas lascas de pedras.

–Atirem nos cães, atirem nos cães.

Pedras voavam contra o barbacã e escudos foram levantados. As pedras quicavam e caiam.

–Atirem na floresta, na floresta.

Flechas negras assoviaram rumo à floresta. Mas as árvores bloquearam. Os últimos cães caíram e montes de terra se levantaram, e essas elevações seguiam para o barbacã, mas sumiram. Mais elefantes peludos surgiram e começaram a se chocar no ponto cego da muralha, onde os cães lascaram a pedra. Novos galhos voavam, junto deles, pedras acinzentadas.

Um lamento de dor foi ouvido e um baque fez os homens ficarem alerta. Um arqueiro de roupas simples do barbacã caiu com uma flecha na garganta. Mas como? Foi a pergunta mais frequente, e então apareceu. Um homem, se é que se pode dizer assim, que mais aparentava uma pessoa com a pele totalmente queimada e negra, lisa de alguma forma, sua boca abria doidamente e mostrava pequenos dentes mais tão afiados quanto navalha. Seus olhos amarelos brilhavam no escuro e a fera que montava era tão assustadora quanto.

Os homens virão e o medo martelou em seus corações. Zoryan. Criaturas das trevas, filhas do próprio demônio, encarnados. São provocadores do mal; onde caminham, a maldição profana da morte anda junto.

–Atirem! Atirem! ATIREM!

Flechas flamejantes acertaram o Zoryan e sua montaria, uma espécie de felino, todo rajado de preto. As flechas incendiaram o animal, mas o Zoryan ainda mantinha-se de pé. A flecha ainda tinha o fogo lambendo-a, mas era como se ele não fosse vivo. E todos tinham a plena certeza de que não era.

O Zoryan caminhou além da floresta, para perto do barbacã e gritou, apontando uma espada e vários desses felinos portando Zoryans brotaram da floresta, os felinos saltaram e suas longas garras entraram na pedra e começaram a escalar.

–Atirem!

As flechas não valiam de nada, mas as espadas resolviam. As lâminas deslizavam para dentro da carne e cortavam seus braços, mãos, suas cabeças e seus bichos que perdiam a força e despencavam.

Mais elefantes. Suas cabeças eram tão duras que faziam a muralha tremer.

–Matem todos.

Flechas flamejantes voaram em direção destes e o fogo se espalhava, matando-os. Macacos atiravam galhos contra os homens no barbacã que despencavam. Pedras voavam acertando-os.

–Envie-o. Envie-o.

O portão do castelo desceu, e um cavaleiro de armadura dourada cavalgava em direção dos Zoryans.

–Venho para negociar.

O ataque dos Zoryans parou. O Primeiro Zoryan saiu da floresta, sua mão estava à altura do peito, seu cheiro era pior que o de carne podre. O homem ouviu um múrmuro, ou algo em uma língua que ele não entendia.

–Venho em nome do Lorde Fly para negociar. Pare o ataque e lhe daremos ouro, muito ouro, mais do que pode portar.

Novamente um múrmuro que parecia uma garra rasgando a carne. O Zoryan caminhou até o cavaleiro e tomou de sua mão um rolo de pergaminho com o símbolo da casa, um pássaro. O selo foi quebrado e a carta lida. O Zoryan gargalhou, parecendo estar engasgado no próprio sangue.

–Não quero o seu ouro. –Ele disse com uma voz amedrontadora.

–Então o que quer? Vamos negociar a nossa rendição.

O Zoryan olhou e por um momento seus olhos mudaram de cor, de dourado para escarlate.

–Quero sua alma. –O Zoryan cravou suas garras, atravessando a armadura e tirando o coração do cavaleiro, que caiu depois de alguns segundos. O coração ainda pingava o sangue que bebeu e depois o sangue da cavidade do peito. Sua pele ficou mais lisa e ficou um pouco mais clara.

As pedras começaram a rolar, o ponto cego da muralha começou a ceder e a muralha a cair. Um buraco foi feito e o exército de Zoryans entrou.

–Guarde alguns pra mim. –Disse o Primeiro Zoryan a um que corria para dentro do castelo.

Este assentiu, e os homens que antes tentavam guarnecer, desciam a muralha e o barbacã em direção à floresta, mas foram todos mortos. Estão cercados. Um exército esperava e nada podia ser feito.

O fogo nasceu no castelo e gritos puderam ser ouvidos. No alto, uma das torres, a ponte levadiça foi içada, bloqueando a passagem.

–Lá. –O Primeiro Zoryan disse, apontando e um grifo negro saiu da floresta, seu pescoço em frangalhos, um pouco de sua barrigada estava de fora e seu bico quebrado na ponta.

O Zoryan subiu no grifo que alçou voo e parou na janela. Todas as Miladys do castelo estavam ali, com vestidos rosas, azuis, verdes, crianças sujas e com medo gritavam. Ele se alimentou de cada uma. Cada mulher e criança pereceram e ao final, sua pele estava lisa e branca. Havia um longo cabelo castanho acinzentado, que foi preso com uma tira preta. Seus olhos ainda estavam vermelhos, sua boca suja de sangue e seu corpo nu. Ele não mais era um filho do demônio, agora era um homem, mas nem todos os homens têm corações.

¹ Barbacã- barbacã é uma espécie de muro que antecede a muralha, como uma proteção extra.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e obrigado!



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