Filhos do Sol escrita por sancho


Capítulo 2
# 01 - A Primeira Gota.


Notas iniciais do capítulo

"Me vi em uma situação de morte. Não morte fisica, mas morte sentimental, por ver meu lar e tudo o que eu acreditava desmoronar como um castelo de cartas. E me carregar para o abismo mais obscuro."



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Capítulo I – A Primeira Gota.


 


A chuva caia constantemente sobre mim, eu olhava para o horizonte cinza tentando encontrar algo que pudesse ser suspeito, porém apenas aquele mesmo tom de cinza podia ser visto. O nome de minha cidade se chama NeoFenix; cercada por grandes muralhas, era realmente uma fortaleza.


Eu estava de guarda no muro oeste, onde recentemente um grupo de murlogs haviam sido dizimados; criaturas podres e horrendas. Seres humanos corrompidos que vivem apenas para um fim: nos exterminar.


Caminhei olhando para os homens com capas amarelas tacando fogo nos corpos dos monstros, parecia que o cheiro dos corpos chamava a atenção de outros, então a única maneira é tacando fogo nos corpos. Olhei para frente e lá estava Edmund, sentado de costas para uma cadeira e segurando a grande arma calibre setenta milímetros que ficava encima do muro. Uma arma realmente muito potente... potente até demais.


Todos na cidade sabiam manejar armas de fogo. Desde as crianças até os velhos, isso era necessário para a sobrevivência. Continuei minha ronda, até a hora que eu escutei uma voz familiar me chamando.


 


- Lizie!      Lizie! - ele subiu correndo as escadas vindo parar na minha frente,      curvou-se arfando e colocou as mãos sobre os joelhos para que      pudesse recuperar o folego. Seu nome era Rolland, mas eu o chamava      apenas de Roll. Eu e ele fomos criados juntos.


- Diga      Roll, não vê que estou na minha ronda? - eu o olhei sério. Seus      lindos olhos castanhos claros contrastavam com aquele local      horrendo.


- O      velho Oslan te chama. Ele precisa urgentemente falar com você. Ele      está morrendo - O olhar sério de Roll me deixou inquieta. Joguei a      metralhadora para trás e segui ele. O grande sobretudo cinza      remendado que eu usava já estava pesado por causa da água, mas não      liguei.


 


Descemos as escadas que davam para as laterais internas do muro e seguimos por uma rua estreita até que saímos em uma rua larga e com algumas casas. No centro estava a igreja, onde apenas três pessoas visitavam: eu, Roll e Oslan, pois afinal era lá minha casa. Entramos pela grande porta de madeira e seguimos pelo centro das cadeiras até que chegamos no altar. Do lado direito estava a porta que levava para nossos quartos.


O cômodo era dividido em cinco partes, três quartos, uma pequena área onde se fazia de tudo e um banheiro. Tudo era aproveitado ali, até mesmo as camas. Entramos pela porta de ferro que rangeu muito ao ser empurrada para trás. Lá estava o velho Oslan; deitado e com um olhar triste no rosto. Sua pele era morena e seus cabelos brancos caíam sobre a cama feita de trapos.


Me ajoelhei ao lado da cama, e Roll fez a mesma coisa. Oslan havia nos criado, quando todos nos evitaram ele nos acolheu e nos ensinou tudo o que ele sabia, e agora ele estava ali, morrendo. Isso acertou meu coração como uma flecha acerta o alvo. Ele abriu os olhos negros e olhou diretamente para mim. Ele sorriu gentilmente e segurou minha mão.


 


- Minha      Elizie. Querida de minha vida, é tão bom te ver aqui agora. - Meus      olhos se encheram de água e eu chorei ali, enquanto que ele falava.      - Eu sinto muito por vocês terem que me ver nesse estado, mas meu      tempo é curto e eu tenho algo para falar para vocês;      principalmente para você Elizie. - Eu sequei as lágrimas e o      encarei, para poder ouvir o que seria a maior revelação de minha      vida.


- Lembra      que você sempre me perguntou quem era sua mãe? Pois bem, hoje eu      vou te contar sua história. Preste a atenção, pois logo depois de      me ouvir você terá que deixar essa cidade. - Eu não entendia o      que ele falava. Como assim eu ia ter que sair da cidade? Deixei que      ele continuasse a história, minha história.


- Aproximadamente      mil e trezentos anos atrás, nós seres humanos, destruímos a terra      mãe por ganância e ódio. A terra foi corrompida e foi criado um      projeto chamado Filhos do Sol. Este projeto selecionava crianças      extraordinárias de todo o mundo para fazerem parte de uma elite que      dominaria o futuro. Nosso futuro. - eu não podia acreditar no que      ele falava; nós destruímos a terra mãe e não os murlogs? Ele      continuou.


- Eles      por um processo muito avançado congelaram essas crianças e      implantaram um gene em cada uma delas; o gene do caos. Ele é o      responsável pelos murlogs terem aparecido e estarem destruindo os      seres humanos. Eles visam exterminar todos os humanos para que      apenas os filhos do sol reinem soberanos. - eu e Roll olhávamos      espantados para o velho Oslan. Como ele sabia de tudo isso?


- Oslan      eu não estou entendendo. Como isso tudo tem a ver comigo? -      Perguntei enquanto que via ele tossindo.


- Você      é uma filha do Sol. Eu não sei muito de seu passado nem de onde      você veio, você foi entregue à mim ainda muito pequena por um      homem chamado Ferânimos. Ele me contou o que eu disse agora e me      deixou como seu guardião. E me disse uma coisa: “Quando ela te      perguntar sobre o passado, diga a ela para ir para FimLands. Lá ela      encontrará as respostas para tudo o que procura.” e      partiu para nunca mais ser visto. - aquela revelação me custou a      entender, mas eu ão entendia direito o que estava acontecendo. Eu      era a responsável pelos murlogs aparecerem nesse mundo? Não! Isso      era impossível.


 


Me levantei tentando entender o que ele havia dito mas nada ficava nítido em minha mente. Tudo estava rodando e picos de luz faziam eu cambalear. Eu me encostei em uma parede para organizar os pensamentos. Roll levantou-se rapidamente e me segurou entes que eu caísse.


 


- Isso      é realmente verdade Oslan? - Ele perguntou com um olhar sério      enquanto que me colocava sentada no chão.


- Sim.      E mais uma coisa. Eles estão vindo para destruir essa cidade e te      levar de volta para o lar dos deu...


 


Oslan arregalou os olhos e balbuciou algumas palavras sem sentido, sua boca se mexia mas não saiam palavras delas ele olhou fixamente para mim e depois fez uma cara de alívio e em seguida morreu. Antes ele tivesse morrido sem me falar essas coisas, eu chorei por ele ter morrido e chorei pelo que eu era. As sirenes tocaram rapidamente o pensamento veio a tona: são eles.


Levantei e corri para a saída para ver o que acontecia, logo atrás vinha Roll já armado de duas pistolas com facas acopladas no punho. Nós corremos para o muro onde estávamos originalmente e lá estava a arma disparando freneticamente para baixo. A expressão de Edmund era a mais horripilante possível. Olhei para onde ele estava apontando a arma.


Uma mão gigante caiu sobre Edmundo quebrando a muralha e o agarrando. Eu podia ouvir seus ossos sendo quebrados e o sangue caía no muro. Aquela mão apertou com tanta força que a cabeça rolou e as pernas que estava mais abaixo também se desprenderam do corpo. Era como se estivesse espremendo uma laranja. A mão veio em nossa direção.


 


- ABAIXE-SE      ROLL !!! - em uma fração de segundos nos abaixamos e a mão passou      por cima de nós, e acertou a outra arma na outra extremidade. O que      estava acontecendo ali? Que mão gigante era aquela?


 


Me levantei rapidamente e vi aquela criatura morta se movendo. Era como um murlog comum, não fosse pelos pares de braços extras e o tamanho extraordinariamente grande. Ele se pôs de pé e ficou do tamanho da muralha. Levantou o maior dos braços e o deixou cair sobre a muralha.


 


- Pula      Lizie! - Gritou Roll pulando em um dos telhados das casas que      ficavam encostadas na muralha. Pulei e logo em seguida o poderoso      braço fez um buraco na muralha grossa. Não podia acreditar naquela      cena. Continuei correndo e seguindo Rolland. Olhei mais uma vez para      trás, os murlogs já estavam dentro da cidade. Alguns vinham por      cima dos telhados, nos seguindo e outros já eram mortos pelo      pessoal da cidade.


 


 


Peguei a metralhadora que estava atravessa da na minha lateral e disparei uma carreira de tiros contra aquelas criaturas. Algumas corriam para os lados tentando evitar os tiros mas outras eram acertadas. Um vulto preto pulou ao meu lado e levantou o braço para me acertar. Um tiro bem no centro da cabeça seguido de um poderoso chute matou a criatura.


Rolland era muito bom de mira e havia treinado para momentos como esse. Após o ultimo do telhado ter sido morto Roll continuou correndo e me disse para seguir ele. Eu não entendia o que estava acontecendo. Seguimos para um prédio abandonado muito alto. Entramos e subimos uma longa carreira de escadas até chegarmos no ponto mais alto onde um painel se estendia de uma extremidade a outra da sala. Ele apertou uma série de botões e em seguida virou para mim.


 


- Eu      vou destruir a cidade. - Aquela frase me espantou.


- Destruir      a cidade? Você está louco? - Era impossível algo como aquilo      estar acontecendo. Ele ia matar milhares de pessoas assim?


- Não.      Isso é instinto de sobrevivência. Se não fizermos isso, mesmo que      nós consigamos fugir, eles sentiram nosso cheiro e logo logo      estaremos assim como essa cidade: mortos. - As palavras deles      realmente faziam sentido. Mas não tinha como eu concordar com isso.


- Não      se preocupe. As pessoas sabiam que isso ia acontecer algum dia por      isso construíram abrigos subterrâneos para suportarem essa      explosão. Ela é apenas superficial para que pudesse destruir      apenas os murlogs acima da superfície. Eu não tenho outra opção      a não ser fazer isso. Olhe lá embaixo: há mais daquelas coisas      gigantes. Temos que destruir todas elas.


 


Ele me puxou pelo braço e uma sirene tocou com uma voz feminina ao fundo: “Cinco minutos para a explosão” . Começamos a descer a série de escadas em espiram e ouvimos os sons dos murlogs subindo pelas escadas. Eles estavam realmente atrás de mim. Rolland subiu em cima do pequeno muro que dava para o centro do prédio e se jogou com as duas armas em mãos. Passando pelo meio da escada em espiral e acertando os murlogs enquanto que caía.


Eu descia pela escada e matava os que sobravam. Ao término saímos do edifício. E mais uma vez aquela criatura gigante estava na nossa frente.


 


- VENHA      LIZIE!!! - gritou enquanto que corria na direção contrária.      Aquele mostro urrou e veio atrás de nós. Corremos por alguns becos      e aquela criatura vinha atrás destruindo as casas. “Tres      minutos para a explosão.”


- Droga      só nos resta três minutos. VAMOS! VAMOS! - Gritou enquanto que      corriamos em direção a igreja onde Oslan permanecia morto.


 


 


Entramos correndo e seguimos para o cômodo onde havia os quartos. Ele rapidamente pegou duas mochilas e pegou algumas roupas. Pegou o corpo de Oslan e o jogou no chão como um boneco.


 


- O      que está fazendo Roll? - Ele não me respondeu apenas afastou a      cama para o lado e abriu um alçapão. Jogou as mochilas e em      seguida entrou e caiu sentado em uma cadeira.


- Venha      Lizie! Nossa única chance de sobreviver é essa! - O som de      escombros caindo não fizeram pensar muito. Me joguei dentro do      buraco e cai sentada no colo de Roll.


 


A mão penetrou no quarto e destruiu a parede. Eu vi aqueles olhos amarelos olhando diretamente para mim. A capsula de vidro se fechou e em um segundo algo me impulsionou para trás: Era uma capsula de fuga. Dentro ouvimos a voz feminina. “Três, Dois, Um”. Um barulho ensurdecedor tomou conta daquela capsula. Logo em seguida uma forte dor começou a latejar na lateral da minha cabeça e eu desmaiei, caindo mais uma vez nas profundezas da escuridão.


 


Eu abri os olhos uma forte dor tomou conta de minha vista, mas eu ignorei, olhei para o lado e lá estava Rolland sentado abaixo de uma grande árvore. Ele estava inconsciente e sem a camisa. Ele havia enfaixado o abdome com bandanas. Eu olhei em volta e não havia nada. Apenas aquela árvore e as pedras. Não estava chovendo mais, uma nuvem negra se estendia no céu chamando a atenção no meio das outras nuvens cinzas. Olhei de onde vinha e lá estava minha cidade; meu lar.


 


Uma gota caiu sobre a lateral do meu rosto. Era gelada e sem vida, escorreu e se juntou com minhas lágrimas. Eu agora não tinha mais nada; apenas Rolland. Esta foi a primeira gota de minha vida.



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Notas finais do capítulo

Minha vida desmoronou e eu não sei mas o que fazer. Apenas uma coisa agora me impulsiona: o nome Ferânimos.