Eu finalmente estava livre! O que não era realmente muito bom, já que não tinha dinheiro pra comprar nada nem teria como trabalhar para ganhar dinheiro, já que estava sem meus documentos digitais – se é que eles ainda existiam, depois de tanto tempo. Novamente meu consolo era não ser a única e ter ganhado uma série de amigos. Vez ou outra aquele serzinho irritante que eu havia sido algum dia retornava para me atazanar. Como meu subconsciente era mentiroso e desleal!

 - Eu já falei que não vou para de aparecer. Pra mim você ainda está envolvida com aquele prédio e enquanto você não romper qualquer laço com ele, não vou sumir da sua frente!

 - Se isso significa que você quer que eu me separe dos meus novos amigos, pode ir tirando seu cavalo imaginário da chuva.

 - Não é isso! Eu acho que você se esqueceu de alguma coisa por lá.

 - Já sei. Você está falando que eu tenho que agradecer ao hacker que provocou a pane, seja ele quem for? Bom, nós nem sabemos se foi um hacker mesmo ou se foi um problema natural da empresa. O fato é que nós estamos livres e desde aquele dia não há mais hologramas ativos.

 - Anne! – Greg veio ao meu encontro. Eu estava em uma loja de utensílios domésticos quando ele apareceu. Era um dos atores, assim como eu – A Alicia disse que viu um homem em um holograma.

 - O quê?

 - Não falei? – disse meu eu irritante.

 - Cala a boca!

 - O que eu disse? – perguntou Greg.

 - Você não! Ah, esquece. Me mostre.

Ele me levou em direção a uma loja de CDs, onde um dos hologramas tinha voltado a funcionar. Alicia olhava para ele atônita. Não sabia o que pensar, assim como eu.

 - Isso significa que tudo começou de novo?

 - Provavelmente.

 - Mas não faz sentido, afinal se, depois de tanto tempo, o esquema tivesse voltado à ativa, haveriam muitos mais hologramas por aí, certo? – perguntou Alicia.

 - Parece que está sendo gradual – Trevor tinha entrado na conversa – acabei de sair de uma cafeteria e lá surgiu outro holograma. Se parece muito com o mesmo homem que atua nesse holograma.

Em seguida surgiu um novo holograma na mesma loja. Era bem parecido com o primeiro, tirando as roupas, o cabelo e os olhos. Para as demais pessoas que estavam acostumadas a ver variados rostos todos os dias – e a não prestar atenção nem em metade deles – aquilo era normal. Mas para nós que não vimos nem a nós mesmos durante um bom tempo, cada rosto tinha a sua peculiaridade especial e para a gente ficava fácil perceber.

 - Precisamos resgatá-lo.

 - Não irá adiantar – disse, pessimista – mesmo que consigamos o dono daquilo continuará raptando pessoas e forjando mortes até o fim.

 - Ei, espere – disse Greg – eles forjam mortes, não é?

 - Sim.

 - Então, só precisamos saber quais as mortes que ocorreram nos últimos meses. Aquela cujo “falecido” tiver as feições mais parecidas com as do holograma é a correta.

 - Só precisamos avisar a sua família que ele ainda está vivo – animou-se Alicia

 - Em seguida eles avisarão à polícia e tudo se resolverá – concluiu Trevor.

 - Vocês falam como se fosse simples assim.

 - Bem, temos que tentar.

 - É, eles estão certos.

 - Eu já disse pra me deixar em paz!

Quando vi, todos olhavam para mim.

 - Que foi? Estou reclamando com um mosquito, dá licença?