Eu estava dormindo quando começou. Uma sirene maldita. A luz branca que iluminava meu quarto estava piscando em vermelho, com uma freqüência baixa. Eu ouvia uma confusão nos corredores. Passos. Pessoas correndo para um lado e para o outro. Em seguida a porta da minha ‘cela’ se abriu. Grande. Estava presa na cama e isso não faria muita diferença. Se as pessoas que corressem não fossem atores de holograma assim como eu. E quando uma delas me viu, com os cabelos brancos iguais aos meus, correu para me ajudar.

 - Oi, eu sou Mary – disse enquanto me desprendia com uma chave peculiar.

 - Eu sou Anne. O que está acontecendo?

 - Ocorreu uma pane no sistema. Todas as celas estão sendo abertas. Venha.

Depois de me ajudar a levantar, começamos a correr.

 - Obrigada, mas quem fez isso?

 - Algum hacker que descobriu toda a tramóia.

 - Anne!!

Eu virei o rosto para o lado para ver aquela que eu não queria ver.

 - Menina, eu não falei que você ia sair essa noite? Não com todo o estilo que eu imaginei, mas...

 - Epa! Eu saí, então é pra você calar a boca, não é?

 - Tecnicamente você ainda não saiu e, afinal, para onde está indo? A saída é pro outro lado

Eu parei.

 - Anne. Porque você parou? Vamos logo.

 - Espere – me voltei para meu eu – Como você sabe disso?

 - Helloo! Todos os outros estão indo para o outro lado.

Realmente, eu estava tão absorta em meus pensamentos que não tinha reparado naquilo.

 - Anne, com quem você está falando?

Olhei para aquela que deveria ser uma das secretárias do meu chefe.

 - Com a única pessoa em quem eu posso confiar.

Eu mesma, pensei.

Dei então um soco que a levou pra longe. Comecei a correr para o outro lado. Depois de algum tempo correndo sem conversar com ninguém e de subir alguns – muitos – lances de escada, achei a saída. Muitos outros já estavam lá fora. Alguns corriam sem parar enquanto outros beijavam o chão, emocionados, ou aproveitavam o ar puro ou então choravam de emoção. Eu tinha parado para observar a cena, mas logo fui empurrada por tantas outras pessoas e me lembrei de que tinha que sair dali imediatamente.

Finalmente apareceram uns seguranças com armas de choque especiais – daquelas que imobilizam sem matar – e começaram a atirar. Lógico que eu me espantei e comecei a correr pro outro lado, mas já havia outros vindo e atirando. Porém aqueles que eram atingidos continuavam correndo mesmo após o susto.

 - Wow! Parece que sua fuga tem mais estilo do que parecia.

 - FICA QUIETA E ME DEIXA CORRER EM PAZ!

 - Hum... magoei.

Enquanto corria reparei que a maioria estava correndo para um mesmo lugar, então resolvi ir para lá também. Afinal, parecia que seguir a manada era a melhor coisa a se fazer. Foi quando as luzes da instalação se apagaram.