No fim do jantar cumprimentei e reencontrei muitas pessoas. Jake, Liam, Jane, Emma... Todos estavam lá e nunca haviam se separado, fui eu que me afastei deles. Fiquei com vergonha de mim mesmo quando percebi isso.

Vê-los tão felizes e unidos doía, mas doía porque eu tinha jogado a possibilidade de fazer parte daquela turma há muito tempo.

No final da festa Jake se aproximou de mim, eu já estava indo para o carro com Marie.

– Ei cara! Você não está a fim de sair comigo e com a galera? A gente vai para um bar aqui perto, só falta você dá turma! – Olhei para Marie, ela negou com a cabeça.

Eu estive prestes a explicar que não dava porque eu não era mais um adolescente irresponsável, mas foi aí que eu vi Skyler lá longe. Ela estava andando com Emma, Jane e Eleanor, todas entraram em um carro. Elas estavam esperando o resto da galera para sair e o resto da galera só precisava de minha confirmação.

– Eu vou. – Falei em alto e bom tom, Marie (que antes segurava minha mão) faltou quebrar meus dedos.

– Como assim você vai Joshua? Eu acho que não... – A interrompi

– Pois eu acho que tenho vinte e cinco anos, idade o suficiente para não precisar seguir regras de ninguém. – Libertei-me do aperto dela e fui com Jake. Amanhã seria um inferno, mas a noite de hoje será épica.

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Quando senti o carro estacionando, respirei fundo. Eu deveria estar em casa dormindo, mas alguma coisa me fazia querer ficar longe de Marie e quando vi essa alguma coisa saindo do carro à frente eu tive certeza do porque estava ali. Skyler entrou no bar rindo e conversando com Eleanor, ela estava feliz.

Consegui recordar de um trabalho de escola que me pediu para responder alguma coisa relacionada a meu objetivo e eu respondi que era a felicidade de Skyler. Abri a porta do carro de Jake e sorri para o meu amigo que saiu logo em seguida. Entramos no bar cheio e fomos direto para a mesa dos amigos.

– Ora, ora... – Skyler olhou para mim com um meio-sorriso e deu um gole em sua bebida – Madame Hajime deixou o cachorrinho sair para passear?

– Ela não manda em mim. – Cruzei os braços

– Movimento repentino, cruzar de braços. Ato que mostra desconforto perante um assunto porque sabe que falei apenas mais uma verdade sobre a vida. – Ela deu outro gole na bebida – Pura psicologia.

Aquele deveria ser o novo bordão dela, só pode...

Pedi uma vodka pura, eu precisava ficar bêbado, esquecer de Marie e da vida. Com o nível de álcool que tem na vodka (que é muito mesmo) não demorou para que essa missão fosse cumprida. Skyler parecia não ficar bêbada, ela tinha tomado tequila, vodka, cerveja, whisky e ainda bebia mais!

– Vocês são muito engraçados quando bêbados. – Ela olhou para as pessoas da mesa, realmente estávamos meio deploráveis (mas eu ainda tinha consciência, graças a Deus) – Acho que vou brincar de interrogatório ou putaria.

– Verdade ou consequência? – Liam perguntou

– Não, essa é a versão para as crianças do maternal. Depois que você faz treze anos seus amigos que jogam tornam essa simples brincadeira em interrogatório ou putaria. – Ela nem pegou uma garrafa vazia e girou, apenas apontou para Jake –Interrogatório ou putaria?

– Putaria. – E soltou um sorriso

– Você vai ter que dar uns pegas na Emma no banheiro. – Ambos olharam enojados – Queridos, vamos ser honestos. Vocês dois meio que se comeram com os olhos no jantar, então vamos ser adultos aqui não?

Não demorou cinco segundos para Emma e Jake saírem da mesa. O jogo continuou, mas chegou certo ponto que eu reclamei porque ninguém perguntava “interrogatório ou putaria” para Skyler e ela permitiu que eu perguntasse a ela.

– Interrogatório. – Ela sorriu e deu mais um gole no whisky.

– Como você faz isso?

– Isso o que? Seja mais específico.

Eu ia falar alguma coisa, mas meu estômago não deixou. Só tive tempo de virar para trás quando comecei a vomitar, depois disso não me lembro de mais nada.

Acordei e olhei para os lados, eu estava no meu quarto... quer dizer, no meu quarto mesmo! No meu quarto da casa de minha mãe.

Levantei-me o mais rápido que pude e saí do quarto, corri até a sala de estar e minha mãe estava vendo TV com Eddie.

– O que aconteceu? – Perguntei, os dois viraram a cabeça simultaneamente para mim.

– Ah, você passou mal ontem depois de tomar um porre. – Minha mãe beliscou o braço de Eddie – Ai! Ok, você passou mal ontem por beber demais e uma garota linda te trouxe para cá.

– A Skyler te trouxe para cá. – Minha mãe completou – E a Marie está morrendo de raiva de você, acho melhor ligar para ela antes de ir para casa.

Era só o que me faltava! Andei de volta para o meu quarto e procurei pelo meu celular – estava encima do criado-mudo. Olhei para os números e fiquei paralisado, foi só então que eu percebi que SKYLER tinha me trazido para a casa de minha mãe. Quando eu estava bêbado, acabei pegando o novo número dela, disquei sem pensar duas vezes.

– Quem incomoda? – Ela tinha uma voz sonolenta

– Skyler?

– Não! Papai Noel! Se você estiver ligando para reclamar porque não recebeu presentes no final do ano, fique sabendo que você foi um menino muito levado e...

– Você continua a mesma né? – Soltei uma leve risada

– Eu sim, e você?

Fiquei um pouco em silêncio.

– Vamos ser adultos aqui Josh... Qual é o seu problema? Simon reclama que você não vê mais os amigos, não aceitou se o padrinho de Stan quando ele nasceu, só pensa no seu universo de falsa riqueza com Marie. Eu não entendo! Onde está o garoto atencioso, meigo e fiel a tudo e todos que conheci há sete anos?

– Ele cresceu, amadureceu e...

– Não culpe o amadurecimento, Josh. Seu problema é outro, pode me dizer! Eu sou psicóloga agora lembra?

– Primeiro você tem que responder uma coisa... Uma coisa que eu te perguntei ontem antes de não lembrar mais de nada.

– É verdade, você me perguntou como eu conseguia fazer alguma coisa... Não entendi a pergunta.

Deitei-me novamente na cama, era provável que aquela seria uma longa conversa.

– Como você consegue analisar as pessoas daquele jeito que fez comigo, com o Jake e com a Emma? Como consegue desvendar os nossos segredos sem a necessidade da fala? – Eu sabia que ela estava sorrindo do outro lado da linha

– Joshua, existe uma pequena coisa do ser humano chamada linguagem corporal. Se eu começasse a bater o peito do pé freneticamente e ficasse com os braços cruzados olhando para você em um ambiente sem música, o que significaria?

– Que você está impaciente comigo.

– Parabéns! Depois dessa eu até te daria um biscoito, mas eu estou em um apartamento no centro e você está mais no subúrbio... não dá né?

– Espera, você mudou para um apartamento?! Por quê? Você não ia ficar aqui só por um tempo?

– Ia! Passado. O Gregory era dono do apartamento onde eu morava lá em Londres e o vendeu! Agora o Potter e o Shakespeare já estão aqui, minhas roupas também... Mas aquela desgraça não me mandou meus livros! Eu vou arrancar a cabeça dele!

– O Potter ainda existe? – Admiro que fiquei surpreso

– Mas é claro que sim! Só se passaram seis anos Josh, cachorros vivem dezesseis! – Ela suspirou – E aí? Qual é o seu problema? Por que você tentou mudar tanto de assunto?

Merda! Achei que ela não tivesse percebido!

– Meu único problema Skyler, a única coisa que está fazendo minha cabeça dar um nó, a única coisa que anda fazendo meu coração acelerar e minhas mãos suarem toda vez que vejo... é você. – E assim desliguei.

Quando cheguei em meu apartamento, Marie estava me esperando... Sim, ela estava me esperando com uma cara fechada e um olhar de ódio mortal sobre mim.

– Onde você estava Joshua? – Ela nem esperou que eu trancasse a porta do apartamento

– Na casa da minha mãe. Eu não estava em condições muito boas para lembrar onde fica minha casa e Sky me levou para lá.

– “Sky”? Nossa, que intimidade! – Ela ficou de pé na minha frente e apontou para mim – É o seguinte, você nunca mais vai frequentar qualquer evento com aqueles idiotas! Nem com essa tal de Skyler! Ela não é bom exemplo para você e também é uma tremenda babaca! Foi só você reencontrar aquele bando de pobres que sua rebeldia atiçou! Quando eu falar que você não pode ir para qualquer lugar, é porque você não pode! Ok? Estamos entendidos?!

Abaixei minha cabeça, Marie se virou e andou pelo corredor. Ela estava prestes a entrar pelo quarto quando ouvimos alguém batendo na porta. Eu atendi. Não sei definir o que senti quando vi Skyler parada ali com uma regada e shorts, descalça ainda por cima. Ela entrou sem convite e mirou os olhos para Marie (que aquela altura já tinha voltado para a sala).

– Olha aqui querida, em primeiro lugar, se você se atrever a me chamar de babaca e mau exemplo de novo eu juro que arranco suas seu coração pela sua boca ok? Em segundo lugar, nunca chame meus amigos de pobres ou idiotas, porque eles moram todos em casarões enquanto você e seu noivinho vivem em um apartamento. Em terceiro lugar, eu sou sua nova vizinha. Prazer, Skyler. – E ela estendeu a mão, já sabendo que Marie não ia responder ao gesto.

– Quem você pensa que é para invadir meu apartamento sua... – Skyler interrompeu Marie

– Acabei de dizer que sou sua nova vizinha, é surda é? Por acaso, sou uma nova vizinha muito surpresa por saber que o Josh abaixa a cabeça e acata suas ordens. – Ela olhou para mim meio decepcionada – Você não vai dizer nada sobre o que Marie falou anteriormente Josh? Realmente não vai se defender e nem defender a mim?

Ela me olhou como se fosse um cachorrinho pidão, fechei meus olhos e depois os abri olhando para Marie.

– Ele não vai falar nada, não tem coragem. – Marie deu um sorriso vitorioso que me irritou muito

– Marie, saí daqui. – Falei

– O que?!

– Saí do meu apartamento, eu não te quero aqui. Não te quero em minha vida, acho que nunca gostei de você aliás! Eu nunca gostaria de uma pessoa tão nojenta, mesquinha e ridícula como você! Agora SAÍ DAQUI!

Marie bufou e andou ante o quarto de casal, saiu de lá minutos depois com duas malas abarrotadas de suas coisas e antes de passar pela porta olhou para mim e arremessou a aliança de noivado em Skyler.

– É toda sua! Faça bom proveito desse daí!

Sky tinha pegado a aliança sem problemas e agora a analisava com os olhos, demorou um pouco para ela se virar e entregá-la a mim.

– Então... Você quer ver algum filme no meu apartamento? – Ela sorriu

– Eu iria adorar. – Sorri de volta

Ficamos o resto do domingo conversando e tentando assistir filmes, mas ou o papo estava bom ou o filme estava chato.

Sky me contou que não fazia menor ideia de que aquele apartamento ao lado era o meu, mas que ela havia alugado o dela por indicação de Simon (aparentemente, quando ele tinha vindo me visitar descobriu que o lugar estava para alugar e sugeriu para Skyler, falando que era um prédio ótimo).

Ela havia mentido para mim sobre o negócio de ficar por pouco tempo porque achava que eu não me importava mais com a existência dela e dos amigos, então preferiu ficar calada e sorrir mesmo.

Vez ou outra pintava um clima entre nós, mas Potter sempre atrapalhava! Ele vinha atacar a bacia de pipoca e Skyler tinha que ficar de pé para ele não alcança-la (ele é um São Bernardo, é uma raça que fica bem grande). Shakespeare era mais quieto e bem grande também para um gato, porém ele se dava muito bem com Potter. Os dois pareciam ser bem amigos.

– Seu apartamento está muito legal. – Olhei para os lados e só então que reparei em uma coisa – Espera, esse daqui é o sofá-cama lá do porão?!

– Sim, é só que ele não tem mais tantos cobertores e travesseiros por cima como antes. – E soltou uma risadinha

Pensei na importância daquele sofá-cama, tínhamos passado muitos momentos bons nele (sim, podem olhar de forma pervertida se quiserem).

– Sabe Josh, nesses seis anos em que estive fora dos Estados Unidos e visitei outros países percebi uma coisa...

– O que?

– As pessoas da dos Estados Unidos e da Europa são muito frias, elas não se abraçam, não se tocam... Não se dão o prazer de sentir o carinho do outro. Quando visitei o Brasil ano passado com o Davi, percebi que os brasileiros não estão em melhores condições do que nós, mas são felizes. Eles pensam que o EUA é a perfeição do mundo, mas me senti uma pessoa tão fria em comparação a eles... tão amigáveis, calorosos e carinhosos. Senti pena de mim mesma.

– E por que você está me falando isso?

Ela não respondeu, apenas me abraçou. Simplesmente isso, me abraçou.

Eu não fui bobo e a abracei de volta, Skyler tinha o mesmo cheiro de baunilha e hortelã de seis anos atrás (primeira mulher que vejo não mudar de shampoo a cada três dias). Ficamos ali, quietos, apenas sentindo a respiração um do outro. Ela não tinha mencionado nada sobre a última coisa que disse em nossa conversa mais cedo, mas eu precisava voltar àquele assunto.

– Sky... Por que não damos uma chance para nós?

– Oi?

– Uma chance para nós dois Skyler, para reatarmos tudo, esquecermos o passado. Eu... eu sei que você deve pensar que como saí de um relacionamento literalmente agora, eu não vá estar pronto para outro. Te disse hoje de manhã que você ainda fazia meu coração palpitar e acho que não vou conseguir viver com você morando ao meu lado sem que eu possa invadir seu apartamento quando eu quiser.

Ela se sentou novamente e me olhou com os olhos verdes espremidos e um leve biquinho, era uma cara cômica que me fez soltar muitas risadas.

– Depende Joshua, se você continuar beijando da mesma forma que beijava seis anos atrás... É dá para voltar com você. – E sorriu

Sky se aproximou de mim e roçou os lábios levemente nos meus, intensifiquei o beijo passando minha língua por seus lábios pedindo passagem – que ela logo cedeu. O beijo foi calmo até, tranquilo em todos os sentidos. Quando nossos lábios se separaram ela sorriu e eu também.

– É... Dá para voltar a namorar você senhor Ian Somehalder.

– Seria um prazer voltar a te namorar senhora Taylor Momsen.

Voltamos a nos beijar e quando eu precisei ir embora fomos andando até a porta sem romper o beijo, quando Sky separou nossos lábios fiz cara de gatinho do Shrek.

– Josh, você tem que trabalhar amanhã e eu também! Temos que dormir cedo! – E me deu um empurrão de brincadeira

– Ah, não... Só mais um! Fiquei seis anos sem te beijar!

Ela revirou os olhos e voltou a me beijar, uns cinquenta segundos depois ela me empurrou e mandou um beijinho no ar, fechando a porta na minha cara.

Entrei no meu apartamento, trancando a porta logo atrás de mim e me sentei no chão encostado nela.

Sky, você ainda me surpreende baixinha.