We Remain escrita por garotadeontem
Cida estava feliz com as compras que tinha feito para Megan. Seu quarto seria realmente de uma princesa, e ela teria tudo que a mãe não teve. Ultimamente, tinha muito tempo pra pensar e passavam lembranças de sua mãe na cabeça. Ela sentia tanta falta, queria que ela estivesse ao seu lado nesse momento tão importante de sua vida. Não estava acostumada com a atenção que recebia das duas mães de Fabinho, principalmente Margot, que queria lhe fazer um chá de bebê, mas ela recusou com educação. Ela não conhecia ninguém de lá e além do mais não podia fazer esforço.
Estava voltando para a cama quando parou na porta, observando Fabinho, que olhava com atenção um macacão do Corinthians. Hoje era o chá de bebê de Giane e eles tinham recebido o convite, mas Cida sabia que só tinha recebido porque Margot era a organizadora. Então pediu para Fabinho levar o presente, que ele mesmo tinha comprado. Tudo do time da mãe do bebê.
Cida se sentia péssima, sabia o quanto Fabinho amava Giane, e que nem ela, nem Megan, iriam ocupar esse lugar. Ela sabia porque ainda amava demais Elano, com todas as forças.
_ Cida? – Fabinho percebeu a presença dela e dobrou de mal jeito o macacão, enfiando em um saco de presentes.
_ Fabinho, se não quiser entregar o presente, tudo bem, eu entrego outro dia. – ele recusou com a cabeça.
_ Eu vou deixar lá com a minha mãe. Você não tá bem hoje. – ele levantou e foi até ela, a pegando pela a mão e conduzindo para a cama – Você não quer ir ao médico?
_ Não, eu só to me sentindo um pouco... Indisposta.
_ Além do mais, ainda falta um tempo. Posso ficar aqui com você. – ele sorriu e ela tentou lhe sorrir de volta, fazendo carinho na própria barriga – Que foi? O que você tem?
_ Hoje é o aniversário da minha mãe. Eu ando pensando muito nela, sabe? Sonhando com ela e com o meu pai. – Cida deu de ombros.
Fabinho deu um beijo em sua testa e também começou a acariciar a barriga dela.
_ Acho que eles estão querendo dizer que estão do seu lado e da Megan. – ela assentiu.
Os dois ficaram um momento juntos, quando a campainha tocou. Cida permaneceu deitada, enquanto Fabinho desceu para atender. Ao abrir, deu de cara com Penha.
_ Nossa. – ela riu – Não pensei que você se parecesse tanto assim com o meu irmão. – disse com um forte sotaque carioca.
_ Você é a Penha, né? Prazer, Fabinho. – ele lhe ofereceu a mão, mas ela lhe cumprimentou com um beijo em cada lado do rosto.
_ Prazer é meu. Cadê minha amiga?
_ Ela tá lá em cima, a gente não sabia que você vinha... A casa tá uma bagunça. – ele fechou a porta. Ela trazia um pacote enorme nos braços.
_ Tudo bem, eu peguei um táxi do aeroporto pra cá. Era pra ser uma surpresa mesmo. Posso subir?
_ Claro, claro que pode.
Fabinho a ajudou com o pacote de presentes e Penha entrou no quarto, levando a amiga as lágrimas.
_ Minha amiga. – ela se sentou na cama e a abraçou forte – Não precisa chorar assim. – ela afagava os cabelos da amiga.
_ Eu... – ela fungou – Estou feliz de te ver. – ela sorria no meio das lágrimas. E Penha também ficou emocionada de ver a amiga nesse estado.
_ Eu... – Fabinho entrou no quarto, deixando o pacote de presente no chão próximo à cama, e pegou o pacote menor que tinha acabado de fechar – Vou deixar vocês sozinhas. Eu vou levar isso aqui. Qualquer coisa, me liga. – Cida assentiu com um sorriso torto e ele saiu.
_ Olha, Cida, ele realmente é a cara cuspida e escarrada do Elano. – as duas riram – Desculpa ter vindo assim sem avisar. Queria que fosse surpresa. – ela limpou as lágrimas do rosto da amiga – E como está a nossa princesinha, hein? – ela pousou a mão na barriga de Cida.
_ Ela tá bem, apesar de tudo, está bem. Estou tomando todos os cuidados possíveis.
_ Eu sei, eu sei... Eu queria que você fosse mais feliz nessa gravidez, Cida. É uma pena que você e o Elano tenham se metido nesse rolo todo. Eu queria tanto que vocês se acertassem, mas aí você vem morar com o irmão dele e ele com a ex do irmão. O que vocês têm na cabeça, menina? – Cida riu do jeito da ex-cunhada – Mas, de qualquer forma, vim te trazer um pouco de alegria e muitos, muitos, muitos presentes para a Megan.
Penha pegou o pacote que trouxe e jogou em cima da cama. O pacote estava cheio de roupinhas, brinquedos e acessórios para a princesinha. Elas teriam uma tarde divertida com o chá de bebê particular de Cida, que logo estava animada novamente.
Fabinho segurava o saco de presente de encontro ao peito, enquanto esperava a mãe abrir a porta, mas o falatório das mulheres da Casa Verde a impedia de ouvir. Ele tocou de novo, houve um momento de silêncio e a porta foi aberta por Salma. Assim que todas viram quem era, voltaram a falar, e ele não entendeu a lógica.
_ Ah, é você, Fabinho. Entra, entra. A Giane não pode ver de quem é o presente, por isso, tivemos que esconde-la.
_ Ah... – ele ainda estava confuso. – Boa tarde, boa tarde... – ele cumprimentou todas com um aceno e deixou o presente no topo dos outros que estavam no chão – Posso pegar isso aqui? Posso, né? – ele passou pela mesa de salgadinhos e roubou três coxinhas – Cadê minha mãe?
_ Na cozinha... Mas, filho... – Irene, que estava sentada ao lado de Salma, disse.
_ Pode continuar a brincadeira de vocês. – ele deu de ombros e adentrou a cozinha comendo um pedaço de uma coxinha e cuspindo logo em seguida.
_ Fabinho!? – Giane se escondeu atrás de Margot.
_ Fabinho, meu filho! O que você tá fazendo aqui?
Fabinho ainda estava engasgado com a visão que tinha de Giane, de top com o barrigão de fora e toda maquiada de uma forma totalmente errada. Sua barriga estava toda desenhada e seus cabelos médios amarrados em diversos rabos de cavalos. Ele se segurava pra não rir.
_ O que é, Fraldinha? Nunca viu? – ela rosnou, saindo de trás da ex sogra, com os braços cruzados no peito.
_ Não. – ele segurava o riso. – Você é realmente muito ruim nessa brincadeira, hein pivete? Não acertou uma pelo jeito!
_ O que você tá fazendo aqui?
_ Eu vim falar com a minha mãe. Oi, mãe. – ele deu um beijo no rosto da mãe e se aproximou de Giane – Oi, Davi! – ele se abaixou perto da barriga e Giane recuou alguns passos.
Fabinho se endireitou e Salma veio buscar Giane para voltar para a brincadeira. Ele suspirou e deu de ombros para a mãe.
_ Que você tá fazendo aqui, meu filho?
_ Eu só vim deixar o presente da Cida, aliás, nosso presente.
_ E por que ela não veio? – Fabinho encarou a mãe como se fosse o óbvio.
_ E ela também estava meio pra baixo. – ele colocou outra coxinha na boca. – A Penha, a empreguete mor, apareceu lá. É bom pra ver se ela se anima um pouco. – a mãe assentiu.
_ Você não pode ficar aqui, cê sabe né?
_ Eu sei, eu saio pelos fundos, vou atrás do Jonas... Conversar, sei lá.
_ Tá bom. – Margot lhe deu um beijo no rosto e saiu.
Fabinho ficou tentado em ficar, queria pelo menos ver a reação dela ao ver o presente dele. Ele se escondeu atrás do batente da porta, a mulherada parou de falar quando ela pegou o pacote que estava no topo. Ela segurou e apertou, mas não parecia saber o que era.
_ Não sabe o que é, Giane? – perguntou Margot.
_ Ah, cara, vocês me dão o castigo pra todos esses presentes, eu não sei nada disso. – todas riram e ela também.
_ Então, abre. – Irene disse com carinho.
Ela começou a abrir e o coração de Fabinho palpitou no peito. Ele ficou ali torcendo para que ninguém o visse. Ela sorriu ao tirar o primeiro mimo, uma chupeta do Corinthians.
_ Ah, do meu Timão! – ela sorriu e Fabinho se emocionou ao ver seu sorriso – Chupeta, mamadeira... – ela foi tirando do pacote e depositando em uma caixa ao seu lado – Babador, chocalho... – seu sorriso ficava maior a cada presente.
Ela pegou o pequeno macacão e estendeu a frente da sua visão. As mulheres soltaram um “awn” coletivo e ela virou a parte de trás para ver também. Era como se fosse uma camiseta do time, atrás estava escrito DAVI e o número 10. Giane apertou com mais força a roupinha.
_ É lindo! Quem deu? – Fabinho se escondeu de volta dentro da cozinha, limpando umas lágrimas insistentes dos seus olhos.
_ Acho que foi a Cida... – Irene disse, incerta – O Fabinho...
_ Ah, sim. Agradeça depois. – Giane disse, o coração apertado. Dobrou a roupinha e colocou na caixa como tinha feito com as outras. E logo estava pegando outro presente para tentar se livrar da emoção que sentia.
Fabinho saiu da casa da mãe e caminhava pela rua, quando ouviu uma barulheira no Cantaí, as vozes de seus amigos. Ele entrou, era domingo, passava um clássico na TV, Santos e Palmeiras. A maioria de seus amigos eram corintianos e todos secavam o time alviverde. Uma pessoa no meio daquela torcida chamou sua atenção, Elano. Ele estava distraído sentado no balcão do bar. Fabinho se aproximou e Gilson veio atendê-lo.
_ Vê um copo de cerveja, Gilson.
Elano se assustou, mas fingiu que não era nada de mais, voltando sua atenção para o copo de cerveja quase vazio à sua frente. Fabinho sentou no banco ao seu lado, e logo Gilson trouxe a cerveja, olhando os dois irmãos atentamente.
_ Que é, Gilson? Vai ter briga aqui não, fica tranquilo. Eu só vim matar o tempo. – Fabinho disse pegando seu copo e Elano nem se moveu – E aí, irmãozinho. Tá torcendo pra quem?
Fabinho tomou um gole do copo de sua cerveja, sentindo o gosto amargo de suas palavras indo junto com a bebida.
_ Santos. – Elano disse, sem olhar para o irmão – E você?
_ Palmeiras. Eu não gosto muito do Corinthians. – Fabinho disse.
Elano assentiu, não estava afim de papo, ainda mais com Fabinho. Sabia que o irmão iria lhe acusar de algo, jogar alguma mágoa em sua cara, e ele estava mais do que certo. Então, terminou o copo, tirou o dinheiro da carteira e deixou sobre a bancada, saindo em seguida.
Queria ter um por cento da sorte de Fabinho, duas mulheres apaixonadas por ele, dois filhos que estavam a caminho. Pra dizer a verdade queria 50% da sorte dele.
Uma certa mulher e uma certa filha.
Por hora, seria o apoio de Giane, mas sabia que não ia tardar para que ela contasse para Fabinho a verdade, ela o amava demais.
E Elano sobraria de novo.
Giane tinha tomado um bom banho e tirado toda aquela maquiagem da cara e da barriga. Ficou observando a caixa com os presentes, até que teve a coragem de ir até lá e buscar o macacão que Fabinho tinha dado. Ela ficou admirando a pequena peça e logo a abraçava contra o peito, algumas lágrimas caindo de seu rosto.
_ Seu fraldinha ridículo!
Ela sentiu uma falta de ar e uma pequena pontada no ventre, e era como se estivesse fazendo xixi nas calças.
_ Pai!!!! Elano!!! – ela gritou, desesperada.
Elano tinha acabado de chegar e estava conversando com seu Silvério na sala, viam alguns flashes do jogo de futebol. Ao ouvir o grito de Giane, ambos se desesperaram, e Elano foi o primeiro a entrar no quarto.
_ Meu Deus. – ele olhou para o líquido no chão – A bolsa estourou, Giane!
_ O QUÊ? – ela gritou – AGORA? – ela jogou a roupinha que segurava na cama.
_ Seu Silvério, eu vou levar a Giane para o carro. – disse Elano, se aproximando dela. – Pega a bolsa que separamos, ela tá dentro do guarda roupa.
Giane o encarava com o olhar desesperado, e ele lhe deu um beijo na testa.
_ Vai ficar tudo bem. O Davi tá vindo, Giane! – ele sorriu pra ela.
_ Cida, eu trouxe um presente especial pra Megan... – Penha disse.
_ Outro? – Cida olhava todos os presentes espalhados pela cama.
_ É... Mas jura que tu não vai me bater, tá?
_ Tá... – ela riu.
A amiga abriu a bolsa que tirou um pequeno pacote, ela mesma abriu e tirou uma pequena pulseira de ouro, feita para o pulso de um bebê. Penha a colocou na palma da mão.
_ Essa pulseira era do Elano, tava junto com ele quando minha mãe o pegou. Ele nem sabe da existência disso. A pedido da minha mãe, eu... Tava guardando pro filho de vocês, e... – ela deu de ombros.
Cida olhava fascinada para pulseira e a pegou da mão de Penha, observando o cordão e as pequenas bolinhas de ouro. Ela sentiu uma emoção enorme e sentiu as lágrimas correrem livres pelo seu rosto novamente. Cida fechou a mão ao redor da pequena joia e levou ao peito.
_ É linda, Penha. Obrigada. Eu vou colocar no bracinho dela assim que eu puder. Prometo.
_ Não foi nada... – ela sorriu para a amiga.
Penha mudou sua expressão para preocupação quando ouviu um gemido de Cida, que levou a mão livre para a barriga.
_ Que foi? Que foi, Cida? Você tá bem?
_ Eu... Penha! – ela exclamou ao ver o lençol molhado onde ela estava sentada.
_ A bolsa, Cida! Meu Deus do céu! - ela pegou a pulseira da mão da amiga, a colocando no pacote e jogando na cama – Eu vou ligar pro Fabinho. Cadê seu celular?
_ Na cômoda! Meu Deus do Céu, Penha! Não devia ter estourado agora. – ela se deitou, tentando amenizar seu nervosismo e a dor que logo chegaria.
Uns dois copos depois, Fabinho voltava pra casa. Estava abrindo a porta quando ouviu seu celular tocar, era o número de Cida. Ele nem atendeu, fechou a porta e subiu as escadas, encontrando uma Penha desesperada e sua Cida, que respirava fundo várias vezes seguidas e chorava.
_ O que tá acontecendo?
_ Fabinho, a gente precisa ir para o hospital. A bolsa da Cida estourou!
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