As Crónicas de Hermione escrita por Khaleesi Dracarys


Capítulo 6
A Vida não é um Poema


Notas iniciais do capítulo

Olá queridos leitores, obrigada aos que comentam! Especial obrigada à minha querida Mione Malfoy que fez uma recomendação linda e que eu não esperava. Obrigada de coração!

Desculpem ter demorado, mas estava com muito trabalho! Mas agora aqui está!

Em relação a este capítulo, mais uma vez é bem longo... Mas tem notícias do Draco, por isso acho que vale a pena! ;)

Vai aparecer um poema, que é da música In My Life dos Beatles, se quiserem podem ouvir através do link: http://www.youtube.com/watch?v=Zicw_dVwhfM

Boa leitura! Espero que tenham passado um ótimo Carnaval!



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Já se passara quase um mês desde que Hermione descobrira a pequena sala no 3º andar. Com a ideia inicial de a transformar no seu refúgio, começou por fazer uns pequenos arranjos, de modo a convencer a Professora McGonagall que ela merecia usufruir daquele espaço. Descobriu um livro de magia sobre remodelações de casas e desta forma aprendeu novos feitiços. Começou por limpar o local, depois mudou o papel de parede, colocou um tapete no chão, e conjurou dois sofás e uma pequena mesa. A salinha tinha ficado limpa, mas ainda precisaria de mais uns retoques para ficar perfeita. No entanto, era hora de chamar a Directora até ali.

McGonagall inspeccionou o lugar, de facto Hermione tinha feito um bom trabalho ali. Lembrava-se daquela sala, tinha sido requerida por um professor que passara por Hogwarts há muitos anos. Quando este deixara a escola, a sala parecia ter desaparecido, e agora estava ali novamente, porque a jovem Gryffindor a encontrara. Não havia como recusar o seu pedido, por isso a Directora não só permitiu que Hermione utilizasse aquela sala como a tornou secreta, assim apenas a jovem e quem ela convidasse a poderia encontrar.

Finalmente, Hermione tinha o seu próprio espaço. Ninguém o conhecia e por isso sempre que queria estar só, dirigia-se ao 3º andar e passava ali horas. Inicialmente aproveitava para fazer os seus trabalhos de casa, lia e relia os seus livros preferidos. No entanto, o tempo que passava sozinha fazia-a pensar. E cedo começou a anotar os seus pensamentos em pequenos cadernos. Ali podia ser ela própria, sem esconder o que sentia. Podia ficar triste. Podia chorar. Ali não precisava ser forte e sorrir a todo o momento, para que não ficassem preocupados com ela. Eram estes sentimentos que ela transpunha para o papel, como forma de exorcizar a sua dor.

Um certo dia, em que mais uma vez tinha esquecido a hora, e passara o jantar na sua salinha, Hermione chorava ao lembrar os seus pais. Como se sentia vazia desde que soubera que eles não estavam mais neste mundo. E nada parecia preencher aquele sentimento, nem os amigos, nem Ron. Era como se um buraco ocupasse o seu peito, como se o seu coração tivesse sido arrancado e lançado ao mar, quando estava na Austrália. E parecia que ninguém entendia essa sua dor, para ela todos pareciam seguir com a sua vida. Sabia que ela também devia fazer o mesmo, aliás, todos os dias repetia em pensamento que ela merecia ser feliz e construir um futuro melhor, mas depois ao longo do dia esse pensamento ia esmorecendo. E do nada, já tarde na noite, escreveu.

Existem lugares que vou lembrar toda a minha vida,

Apesar de alguns terem mudado.

Alguns para sempre, e não para melhor,

Alguns desapareceram e outros resistem.

Todos estes lugares tiveram os seus momentos

Com amores e amigos que ainda consigo recordar.

Alguns estão mortos, e alguns ainda vivem

Na minha vida, eu os amei a todos.

Mas de todos estes amigos e amores,

Não há nenhum que se compare a vocês.

E estas memórias perdem o seu significado

Quando penso no amor como algo novo.

Embora eu saiba que nunca vou perder o carinho

Pelas pessoas e pelas coisas que foram antes,

Eu sei que páro muitos vezes pra pensar neles

Na minha vida, Eu vou amá-los mais.

Naquelas breves linhas, Hermione tinha colocado tudo o que sentia nos últimos tempos. As recordações que sempre vinham à sua memória. Nunca antes escrevera poesia, mas ali, do nada aquele poema tinha-se formado no seu pensamento. E agora sentia-se mais leve. Respirou fundo, levantou-se e dirigiu-se ao seu dormitório, correndo de forma silenciosa, pois a hora de recolher já tinha passado há muito.

Já passava das 11h quando chegou ao quarto, e as suas colegas já dormiam, excepto Ginny que se encontrava sentada na sua cama, correndo a varinha entre os dedos da mão e balançando o pé esquerdo, freneticamente. Mostrava estar nervosa, tanto que nem deu conta de Hermione entrar e fechar a porta.

Hermione suspirou para que a amiga percebesse a sua presença sem se assustar. A ruiva olhou na sua direcção. Sem dizer palavra, levantou-se, abraçou-a e agarrando-lhe a mão, encaminhou-a para fora do quarto novamente, e dirigiram-se para a Sala Comum, que estava deserta.

Só depois de estarem sentadas em frente à lareira, Ginny falou:

– Onde estavas? Ficámos todos preocupados. O Neville e a Luna procuraram-te no jardim, enquanto eu e Pansy te procurávamos no castelo, mas não conseguimos encontrar-te em lugar nenhum. Entretanto chegou a hora de recolher. Onde te meteste, para faltares ao jantar? E já não é a primeira vez, mas hoje desapareceste por mais tempo que o normal. Se posso dizer que é normal, afastares-te dos teus amigos para ficares sozinha, mas tudo bem. – Ginny deixava transparecer na voz a mágoa, a preocupação pela amiga.

– Então agora é Pansy? Quer dizer que vocês finalmente se entenderam?! – Hermione falou sorridente – Pelo menos o meu afastamento serviu para alguma coisa. Fico contente.

– Nem tentes mudar de assunto, Hermione Granger. Mas por falar em Pansy, combinámos que eu avisaria os outros se voltasses para o quarto. – Enquanto falava escreveu num pequeno pedaço de pergaminho o recado, agitou a sua varinha, criando três cópias e cada uma se transformou num lindo passarinho origami, logo levantaram voo e desapareceram. Hermione ficara espantada com aquela magia, era muito bonita, mais tarde perguntaria a Ginny onde a aprendera. – Agora podes começar a contar-me tudo. – falou a ruiva.

– Ginny, sabes que te adoro como uma irmã, mas também sabes que nos últimos tempos muitas coisas têm mudado. Que não me tenho sentido tão bem, e que por isso prefiro ficar sozinha. Eu adoro-vos a todos, e todos os momentos que passamos juntos, mas depois preciso ficar só. Como que para carregar baterias, compreendes? Já vos tinha pedido que não se preocupassem. – Hermione ia falando, tentando conter as lágrimas, para mostrar que estava tudo bem.

– Tudo bem. Vou fingir que acredito nas tuas palavras, até confiares em mim para me contares o que se está a passar. – Ginny mostrava assim a sua indignação para com a amiga.

– Mas conta-me, – pediu Hermione – finalmente aceitaste a Pansy no nosso grupo?

– Bem, não é que tenha aceitado. Mas tu não deixaste muita escolha, não é? Uma vez que ela agora passa o tempo connosco, mesmo quando tu não estás. – Ginny encolheu os ombros. – Pronto, eu admito, alguma coisa mudou nela e não vejo mais porquê excluí-la. E depois, percebi que ela também é sua amiga, fica tão preocupada quanto eu, por isso acabámos por nos entender. – terminou piscando o olho à amiga.

– Nem imaginas como fico contente com essa notícia, finalmente vamos poder ficar todos em paz. Agora vamos dormir? Está tarde e amanhã temos aulas bem cedo. – Hermione obrigou a amiga a levantar-se e caminharam juntas para o respectivo quarto.

Na manhã seguinte, Hermione encontrou-se com os amigos ao pequeno-almoço. Todos a olharam com um misto de preocupação e alívio, mas também um pouco chateados. E por isso não falaram nada, o que magoou mais Hermione. Preferia que lhe dissessem que estavam zangados com ela, do que ter aquele silêncio. Mas ela também não tinha feito nada de mal, só se tinha ausentado durante mais tempo do que o normal. Mas isso era problema dela, eles só tinham de respeitar. Mas ela também compreendia que os tinha deixado preocupados ao desaparecer daquela maneira.

A caminho da aula de Defesa Contra as Artes Negras, partilhada pelos Gryffindor e pelos Slytherin, Pansy não aguentou mais e quase gritou com Hermione:

– Tens noção de como ficámos preocupados ontem? Eu e a Ginny até esquecemos os nossos problemas. Como podes desaparecer assim? Procurámos-te durante horas, não jantaste, não havia sinal de ti em parte alguma. – Hermione tentou interromper Pansy, mas esta não permitiu – Não, agora tens de ouvir até ao fim. Eu sei que de todos eu sou a última que devia falar, afinal somos amigas há tão pouco tempo que não me deveria meter. Mas também combinámos no início do ano que se tivéssemos um problema, estaríamos aqui uma para a outra. No entanto, e depois de me teres apoiado tanto, de me teres oferecido a tua amizade e dos teus amigos me terem aceitado, que eu agradeço e muito, tu resolves afastar-te. Não dizes nada, apenas desapareces. Todos sabemos que deves estar triste e por isso preferes ficar sozinha, mas essa tua dor absorve-te de tal maneira que não percebes sequer que os teus amigos estão aqui para ti e que ficam preocupados, sem saberem como te ajudar. Não te afastes, Hermione, independentemente do que pensas, nós estamos aqui para ti, e entendemos-te. E mesmo que não entendamos à primeira, podes sempre explicar-nos.

Hermione sentiu os olhos encherem-se de lágrimas e sabia que não tardaria muito para começar a chorar. As palavras de Pansy Parkinson tinham surtido mais efeito do que a própria esperava.

Assim que terminou de falar, Pansy percebeu que tinha falado demais. Neville olhou para Luna sem saber como reagir, e quando a jovem loira se começou a retirar dizendo que ia para a sua aula, preferiu seguir a namorada dizendo que lhe faria companhia até à sala. Ginny olhou de Hermione para Pansy, e novamente para Hermione, e tentou amenizar a situação:

– Mione, sabes que gosto muito de ti, mas a Pansy tem a sua razão nesta questão. E pode ter sido brusca na maneira como o disse, – Ginny falou e riu ligeiramente para Pansy – mas apenas disse o que todos pensávamos há algum tempo. Todos nós gostamos de ti e estamos preocupados contigo. Nós somos teus amigos, e estamos aqui para o bem e para o mal. Queremos apenas ajudar. Mas se achas que nós não percebemos, se preferes resolver tudo sozinha, seja o que for, pelo menos avisa quando quiseres “desaparecer”. Nós não vamos incomodar, e vamos respeitar o teu espaço, mas precisamos saber que estás bem, e em segurança. É só isso.

Hermione ainda estava sem palavras, compreendia os seus amigos, e sabia que ela tinha errado por os afastar daquela maneira. Eles faziam parte da sua vida e só queriam vê-la bem. E ela como sempre estava a isolar-se de tudo, não era propositado, simplesmente achava que era o melhor. Pensava que assim protegeria aqueles de quem gostava, bastava ser ela a sofrer. O que não tinha percebido é que a sua estratégia também os magoava, se calhar até mais. Compreendeu então que as duas amigas tinham razão, e mesmo que não lhes contasse tudo, pelo menos deveriam saber onde ela passava o tempo. Desta forma, ficariam mais descansadas quando ela quisesse ficar sozinha.

– Desculpem, agora eu vejo que estava errada. Quer dizer, não totalmente! – Hermione sorriu, e continuou – Eu preciso dos meus momentos, em que estou sozinha e penso em tudo, sem ninguém a analisar as minhas reacções. Mas agora percebo que desaparecia sem dizer nada e que isso os deixava preocupados. Não era minha intenção. Mas prometo que mais tarde explico tudo.

Estavam já junto à porta da aula e Tonks já se aproximava, por isso a conversa entre as três teria de ser adiada até ao fim da aula. A professora cumprimentou-as, e logo a aula tinha começado.

Quando terminou, e Hermione se dirigia à saída com Pansy e Ginny, pronta para lhes mostrar o seu esconderijo, fora interrompida pela professora que a chamou para uma breve conversa:

– Como vão as coisas, Hermione? Está tudo bem? – Perguntou Tonks.

– Sim, Tonks, e não. – Acabou por confessar – Têm dias que tudo parece melhor, mas há outros que parecem intermináveis, e tudo parece desmoronar. Mas tenho tentado ultrapassar. E contigo? Como está tudo? Com a tua mãe e o pequeno Ted?

– Estamos todos bem, obrigada querida. O Ted está cada vez mais crescido e parecido com o Remus. Está adorável. Tens de nos visitar. – Tonks falava com um sorriso, mostrava que estava bem melhor e que aos poucos ia superando o seu trauma.

– Obrigada pelo convite. A primeira visita a Hogsmeade é no final de semana, talvez possamos tomar um chá. Bem, agora tenho de ir! – Hermione sorriu e despediu-se, ia juntar-se às amigas, mas Tonks chamou-a novamente.

– E como te sentes na tua salinha? Era aquilo que procuravas e precisavas como refúgio? – perguntou a professora, piscando o olho.

– Como sabe da salinha? Pensei que fosse secreta, que ninguém soubesse da sua existência. Até a Directora ficou surpresa quando a viu. – Hermione não compreendia.

– Eu encontrei a sala. – revelou Tonks. – Pelo que descobri depois, ela pertencera a um outro professor de D.C.A.N., penso que terá sido enfeitiçada para aparecer apenas para os professores da mesma disciplina. Quando a encontrei, lembrei-me de ti. Tinha percebido que nem sempre estavas bem e que por vezes procuravas lugares mais isolados. Sim, eu sou observadora, sempre fui uma óptima Auror. – Disse, rindo. – Depois, foi só deixá-la visível apenas para ti, sabia que mais cedo ou mais tarde a encontrarias, e ser-te-ia útil.

– Nem sei o que dizer, a salinha apareceu no momento ideal. – falou Hermione, envergonhada – Realmente, eu já não sabia onde estudar nem onde ficar uns momentos sozinha. Sempre que ia para a biblioteca, os alunos mais novos não se calavam, sempre a cochichar sobre o “trio de ouro”. Já estava a ficar sem paciência. Aquela sala é perfeita. Obrigada por te teres lembrado de mim.

– Ora, não foi nada. Fico contente por ter ajudado. Mas por favor, toma bem conta de ti, e não te isoles demasiado, ou serei obrigada a intervir. – Tonks brincou, mas foi firme na “ameaça”.

– Vai ficar tudo bem Tonks, obrigada pela preocupação. Agora tenho mesmo de ir, Ginny e Pansy já devem estar impacientes.

– Ok, vai lá. A gente vê-se por aí. – deram um abraço breve, e cada uma seguiu o seu caminho.

Pansy e Ginny estavam junto da porta e mostravam já algum nervosismo. Quando Hermione se aproximou, bombardearam-na de perguntas, queriam saber tudo. Desde o teor da conversa com Tonks até ao segredo que Hermione tinha prometido revelar. Esta perguntou por Neville e Luna, pois queria revelar logo tudo de uma vez, mas o casalinho tinha preferido ficar sozinho e por isso Hermione decidiu contar primeiro às duas amigas.

Foram caminhando pelos corredores, enquanto Hermione explicava que não era sua intenção isolar-se tanto. Mas tinha momentos em que só queria ficar em silêncio, e isso tinha-se tornado impossível desde o início do ano, pois havia sempre gente onde ela estava. A biblioteca antes silenciosa, agora enchia-se de burburinhos quando ela ali estava. A Sala Comum só ficava vazia quando já era tarde na noite. E até no Jardim, apesar do frio que já se sentia, havia sempre alunos e alunas, a correr e a gritar. Contou então sobre a pequena sala que encontrara e que transformara para si, e onde agora passava o tempo sozinha.

As duas raparigas escutavam-na, e agora compreendiam melhor a sua situação. Mas quando Hermione chegou ao fim, ambas se entreolharam e perguntaram ao mesmo tempo:

– Mas onde fica essa Sala? Ontem nós procurámos-te em todo o lado, e não te vimos em sala nenhuma.

– Isso é porque a Directora Minerva a tornou secreta. Só eu a posso encontrar, quer dizer, eu e as pessoas a quem eu a mostrar. E é por isso que parámos aqui. – Disse Hermione.

Enquanto falavam, tinham chegado ao 3º andar. Pansy e Ginny olharam para ambos os lados mas não viam nada de extraordinário ali. De repente, Hermione dirigiu-se a uma parede, girou o que devia ser uma maçaneta e abriu uma porta. E finalmente elas viram. Uma pequena salinha revelou-se. Elas entraram, e notaram que devia ter estado realmente abandonada durante muito tempo, pois ainda tinha um certo cheiro abafado, e ainda estava algo sombria. Hermione contou que vinha tentando melhorar o espaço, mas ainda faltavam algumas coisas. Mas no essencial, já era o suficiente para ela, ali tinha silêncio e podia fazer as suas coisas em paz. As amigas compreenderam, e apoiaram-na. Pelo menos agora sabiam onde ela passava o tempo e já não ficariam preocupadas.

Depois daquela revelação, as amigas seguiram para as suas aulas. Ao almoço, todo o grupo se reuniu, e Neville e Luna foram informados daquela novidade. Passaram a refeição na conversa, e Hermione sentiu que um peso tinha saído das suas costas. Agora podia ter o que mais queria: ter momentos só para ela e ter os seus amigos sem problemas, sem estes ficarem chateados por ela desaparecer.

O resto da semana passou a um ritmo alucinante, e no fim-de-semana iriam pela primeira vez no ano a Hogsmeade. Hermione nem tinha voltado à sua salinha, pois os trabalhos eram tantos, e havia sempre algum dos seus amigos a requisitar a sua atenção, ou a pedir a sua ajuda para alguma dissertação, que ela nem teve tempo para si.

Sábado chegou, e quando acordou, Hermione percebeu que devia estar mesmo muito cansada, pois já tinha passado da sua hora habitual e todas as colegas já se tinham levantado. Levantou-se devagar, foi tomar um banho para despertar, e vestiu uns jeans, uma camisola de lã grossa, e calçou uns botins. Terminou colocando o seu cachecol gryffindor, e saiu em direcção ao Salão Principal.

O seu grupo habitual de amigos ainda ali estava, tomando o pequeno-almoço, e ela dirigiu-se a eles sentando-se entre Ginny e Pansy. Estas duas abriram um amplo sorriso, Hermione encolheu os ombros e começou a servir-se. Estava com fome, e por isso nem ligou para atitude dos amigos. Só quando terminou, percebeu que era observada por todos, e perguntou:

– O que foi? Não comi tanto assim… - ninguém respondeu – Digam de uma vez o que se passa, começo a ficar preocupada.

Neville e Luna sorriram para ela e pediram a Pansy e Ginny que contassem logo. As duas raparigas levantaram-se, ambas vestidas casualmente mas de forma muito fashion, esse era um ponto em comum entre as duas: a moda. E finalmente dirigiram-se a Hermione:

– Se já terminou, vamos logo. Hoje o dia será longo. – disse Ginny.

– E antes de irmos para Hogsmeade, queremos-lhe oferecer o nosso presente de aniversário. – Pansy finalmente revelou o porquê daqueles sorrisos – Nós não nos esquecemos, mas conhecendo-te minimamente todos sabíamos que não ias querer festejar. E depois não sabíamos o que te dar. Mas depois dos eventos desta semana, finalmente tivemos uma ideia. Acho que vais gostar.

– Podemos ir logo? – perguntou Luna impaciente.

Caminharam para fora do Salão, e assim que saíram para os corredores, Ginny vendou os olhos de Hermione. Ao fim de uns minutos, já não tinha noção de onde se encontrava, pois os amigos faziam-na dar voltas e voltas. Finalmente, pararam e os amigos pediram-lhe só mais uns segundos até ela poder retirar a venda.

Pansy por fim, disse-lhe que podia olhar. Hermione nem conseguia acreditar no que via. Estava na sua salinha secreta, mas agora estava completamente remodelada. De repente, fez-se luz na sua cabeça e tudo encaixava. Os seus amigos tinham-na mantido ocupada, para ela não ir ali.

– A Ginny teve a ideia quando estivemos aqui a primeira vez, e eu apoiei! Esta sala precisava mesmo de uma boa remodelação, admite? – falou Pansy.

– Juntas começámos logo a imaginar como ficaria, e depois foi só falar com o Neville e com a Luna para que te mantivessem ocupada, enquanto nós trabalhávamos aqui. Espero que tenha ficado ao seu gosto. – Ginny sorria amplamente.

– Está perfeita! Não faria melhor, aliás eu nem iria-me dar a tanto trabalho! Mas agora tenho de admitir que está muito mais agradável. – Hermione estava visivelmente emocionada, e em agradecimento, abraçou cada um dos seus amigos.

A sala agora estava luminosa. As amigas tinham sido geniais, tinham criado um segundo andar onde revestiram as paredes de estantes com livros, agora tinha a sua própria biblioteca. E em vez das duas poltronas que Hermione ali tinha colocado, agora havia um sofá ao longo das paredes com uma mesinha no centro. O ambiente era calmo, sereno. As amigas tinham pensado em tudo.

– Obrigada mais uma vez, não tenho palavras! Agora será ainda melhor passar aqui os meus momentos! – Hermione já tinha lágrimas nos olhos.

– Sem lamechices. – disse Ginny – Hoje o dia é para celebrar. Vamos para Hogsmead, e esquecer por um dia todos os problemas que tivemos ao longo deste ano. Pode ser?!

Todos concordaram, e caminharam juntos para fora do castelo, onde as carruagens esperavam os alunos. Entraram numa, e em segundos estavam a caminho do vilarejo.

Assim que chegaram em Hogsmeade, o grupo decidiu dar uma volta por ali, enquanto faziam tempo para poderem ir almoçar no “Três Vassouras”. Quando já estavam cansados de andar, dirigiram-se então para o bar. Hermione e Pansy foram as últimas a entrar, pois tinham ficado para trás enquanto conversavam. Tinha acabado de atravessar a porta quando ouviu o seu nome nas vozes que mais falta lhe faziam: Ron e Harry estavam ali.

Hermione ficou sem reacção, aquele dia estava a ser surpreendente. Mas assim que se recuperou da surpresa, abraçou o melhor amigo, que já estava ao lado de Ginny. E de uma vez só, abraçou e beijou Ron. Era incrível como ao vê-lo ali lhe tinha mostrado que sentia a sua falta. Até ali não tinha percebido a imensa saudade que sentia do ruivo. Enquanto o beijava, só pensava que não o queria deixar mais. Mas caindo em si, separou-se dele e disse-lhe tudo o que tinha acabado de pensar. Ron carinhoso, correspondeu aos seus sentimentos.

Porém, ainda se estavam a sentar, e Hermione notou que Pansy estava distante deles, e Ron já tinha começado a falar:

– Foi impressão minha ou tu estavas a conversar com a Parkinson quando entraste? Ela estava a ser inconveniente? Há coisas que nunca mudam.

O grupo de amigos entreolhou-se. Como contar a Ron e Harry, que afinal havia coisas que mudavam, e Pansy tinha mudado e muito.

Hermione foi a primeira a falar:

– Não foi impressão tua, Ron. Eu estava mesmo a conversar com a Pansy. As coisas mudaram. Ela está diferente, e tem passado o tempo com o nosso grupo desde o início das aulas.

– Ela está diferente? São todos amigos? Mas vocês estão bem da cabeça? – Ron não queria acreditar naquilo.

– É verdade, Ron. – foi a vez de Neville falar – Eu também não queria acreditar, mas a Hermione raramente se engana. E foi ela que nos mostrou que a Pansy estava mudada, e agora posso dizer que ela já faz parte do grupo. Está simpática, preocupa-se connosco. Está diferente.

Hermione chamou Pansy para se ir sentar com eles, mas assim que ela se começou a aproximar, Ron levantou-se e disse em alto e bom som que se recusava a sentar com uma slytherin. Estavam todos espantados com a atitude de Ron. Tudo bem que não era uma situação normal mas também não necessário ser tão arrogante.

Harry foi o primeiro a opinar:

– Calma, Ron! A situação é estranha mas acho que podemos dar o benefício da dúvida. Se Hermione diz que a Parkinson está mudada, então eu confio nas capacidades dela para avaliar as pessoas.

– Harry, não podes estar de acordo com isto?! É ridículo… – Ron estava vermelho e quase gritava.

– Ronald Weasley já chega. Eu também demorei para me habituar à ideia, mas depois que fui conhecendo a Pansy, percebi que ela mudou, e temos muitas afinidades. Aceita logo que a Pansy veio para ficar e vamos comer que eu estou com fome, e quero aproveitar o tempo com o meu namorado! – Ginny falou de uma vez, e por momentos todos viram a imagem da sua mãe, Molly Weasley.

Mas Ron estava inflexível, continuava a recusar sentar-se com Pansy, e já todos no bar olhavam com interesse para a mesa.

Hermione estava cada vez mais envergonhada. De repente não reconhecia mais o namorado, e tudo aquilo que tinha sentido momentos antes se desvanecia a cada palavra que o ruivo falava. A pessoa que estava ao seu lado não era mais o rapaz dócil por quem se apaixonara. Ron tinha dito que há coisas que nunca mudam, mas afinal parecia que tudo mudava. Mas pensando bem, Ron sempre se tinha deslumbrado com o poder, com a fama, mesmo quando ainda estavam todos em Hogwarts. Agora que tinha uma posição de destaque na sociedade bruxa, parecia que ele próprio se tinha transformado num slytherin. Não perdoava o passado, não aceitava a diferença, e tinha um enorme preconceito para com todos os slytherin. Era como se tivesse mudado de lado. Essa mudança magoava Hermione que só queria viver num mundo de paz, sem preconceitos.

Enquanto Ron continuava com o seu discurso, Hermione resolveu que não queria mais discussões, que não queria estar mais ali. Por isso, virou costas e começou a andar em direcção à saída. Ron agarrou-lhe o braço, impedindo-a de se afastar.

– Onde pensas que vais? – perguntou furioso – Primeiro, trazes essa contigo e agora vais te embora sem te despedires? Preferes defender essa, que sempre te maltratou, do que ficar com os teus amigos? Não queres passar o dia comigo? – Ron nem referia o nome de Pansy, apenas a tratava por essa.

– Vou-me embora, porque quero paz, silêncio. Não quero discussões, sobretudo por motivos tão fúteis. Sim, a Pansy, – Hermione acentuou o nome da amiga devagar – que é esse o nome dela e não "Essa", é uma slytherin, e antes era uma inimiga. Mas a guerra acabou, tudo mudou. Ela também perdeu, não fomos só nós. Por isso, arruma o teu passado, porque eu já arrumei o meu. Perdoei-lhe e agora é uma grande amiga. Mas como tu vives no preconceito, não consegues ver mais nada, para ti só há bem e mal, mas hoje não é mais assim. Aceita isso. E sim, eu queria passar o dia contigo, mas agora não quero mais. Prefiro voltar ao castelo e evitar discussões.

Dizendo isso, afastou-se dele, disse adeus aos amigos, despediu-se mais demoradamente do seu melhor amigo, Harry, e saiu.

Foi seguida imediatamente por Pansy. Mas quando ia começar a falar para agradecer à gryffindor, Hermione disse-lhe não havia nada para agradecer, eram amigas e aquilo dizia tudo. Depois pediu-lhe para ficar sozinha, e Pansy aceitou a decisão da amiga.

Hermione resolveu caminhar de volta ao Castelo de Hogwarts, enquanto punha ideias no lugar. Os últimos acontecimentos tinham mexido muito com os seus sentimentos.

Ao mesmo tempo, bem longe dali…

A sala era exígua, tão pequena que chegava a sufocar. Estava suja, imunda, sem condições de ser habitada pelo ser mais vil. No entanto, o seu ocupante não se queixava. Apesar dos altos padrões a que estava habituado, tendo vivido sempre no luxo, agora estava ali e ele próprio se sentia como a sua cela. Pequeno, sujo, imundo, sem condições de ser salvo, sem vontade de viver, vazio de tudo. Draco Malfoy era uma sombra de si mesmo, a porta da sua cela indicava o seu nome, mas quem o visse juraria que não era ele. E ele preferia assim. Ele não queria ser ele. Ele queria que tudo tivesse sido diferente.

FlashBack ON - Draco

Albus Dumbledore tinha acabado de chegar à Torre de Astronomia, parecia debilitado mas mesmo assim falou para Draco de forma suave e calma. Ele tentava dissuadi-lo, não queria que o jovem se tornasse num assassino. Draco mostrava estar nervoso, mas resistiu às palavras do velho Director, mostrando que tinha sido escolhido, que ele era já portador da Marca Negra. A sua voz e a sua mão tremiam, mas mesmo assim conseguira fazer o feitiço que desarmou Dumbledore.

Mas foram as palavras que foram proferidas de seguida, que marcaram o jovem loiro para sempre. Dumbledore falou-lhe de um rapaz que ele tinha conhecido, e que tinha feito todas as escolhas erradas, ofereceu-lhe a sua ajuda. Como se fosse fácil assim. Draco não pôde fazer as escolhas erradas, pois ele simplesmente não tivera escolha. Estava ali, naquela posição porque o pai sempre decidira por ele, desde que nascera que era preparado para aquele papel de seguidor do Senhor das Trevas.

Tinham sido os ideais do pai que os tinham colocado naquela posição. E depois a sua incompetência em completar uma missão dada expressamente por Voldemort, fizeram com que Draco fosse obrigado a aceitar aquela missão louca de levar os Devoradores para Hogwarts e de matar o grande feiticeiro Albus Dumbledore. Ele era apenas um miúdo de 16 anos, não era suposto ter uma missão daquele tipo. Mas o Lord tinha sido claro, ou ele matava o Director ou era Draco que morria, e de seguida a sua mãe. E Draco podia ser insensível para muita coisa, mas a sua mãe era o que mais importava, e no que dependia dele, ela nunca sofreria.

Todavia no fim, nada valera a pena. Ele fracassou. E todos foram castigados. Foram obrigados a aceitar todas as ordens do Senhor das Trevas, a sua casa virou o “covil” de todos os Devoradores da Morte. A família Malfoy foi castigada, humilhada por todos. O nome Malfoy que antes enchia Draco de orgulho começou a ser um peso.

E depois simplesmente aconteceu. A oportunidade de recuperar as boas graças de Lord Voldemort batera-lhes directamente à porta. Aquele grupo de selvagens trouxe o trio de ouro para a Mansão Malfoy. O pai rejubilou com aquilo, via ali a chance de readquirir o poder que antes tinha, de ganhar a confiança do Lord novamente. Mas Harry Potter estava desfigurado, irreconhecível, não tinham como ter a certeza que era mesmo ele, e se chamassem Voldemort sem a certeza absoluta, então iriam sentir novamente a sua fúria se por acaso se enganassem. Draco perdera a conta à quantidade de feitiços torturantes que os Devoradores lançavam sobre ele, apenas para se divertirem, a maldição Cruciatus era a preferida de todos. Por isso, para ele já nada importava. Apenas o bem-estar da sua mãe.

E ali estava mais uma vez, com o destino da família nas mãos. Sabia que tinha de os proteger, mesmo que o chefe de família não se importasse com isso. Mas também não podia entregar Harry Potter assim. Sabia que se alguém podia derrotar o Lord era aquele rapaz, e mesmo não gostando dele, não podia revelar que era ele mesmo. Sabia isso desde que tinham entrado em sua casa, quem mais podia ser, se vinha acompanhado de Hermione Granger e de Ron Weasley. Quando os vira, Draco nem queria acreditar que aqueles idiotas se tinham deixado capturar.

Mesmo depois, quando foram castigados novamente, nunca percebeu porque não entregou o grupinho na hora e salvou a família. O seu pai costumava chamá-lo de fraco, dizia-lhe que tinha saído à mãe, como se aquilo o insultasse. Mas cada vez mais aquela lembrança que se parecia mais com Narcissa Malfoy o enchia de orgulho, e a outra em que ele crescera a querer imitar o pai, cada vez mais o enojava. Ele, Draco Malfoy, cada vez mais tinha certeza que não queria para si o futuro que o pai lhe reservara. Ele não pedira para ser um Devorador, ele fora obrigado.

Felizmente, naquela ocasião, ele acabou por ser colocado de lado, não precisou mais reconhecer o “desfigurado” Potter, pois a sua tia Bellatrix focou a sua atenção na Granger. Tudo por causa duma espada. Draco não captara bem a história, percebera apenas que aquela espada devia estar no cofre da tia em Gringotts, porém de alguma forma estava ali. Mas de repente deixou de prestar atenção na conversa, olhava apenas para antiga colega de escola, sua inimiga por sinal. A tia brincava com ela como os outros Devoradores brincavam com ele. Draco ouvia os gritos de Hermione, eram sons arrepiantes que nunca mais iria esquecer. Sabia o que ela estava a sentir, no entanto ele nunca se ouvira a si próprio, normalmente a dor era tanta que ele quase perdia os sentidos. E não havia nada que ele pudesse fazer por ela, pois não era próprio de um puro-sangue defender uma sangue-de-lama como ela. Ou pelo menos, foi isso que disse a si próprio, apenas para não enfrentar a sua tia.

Depois desse episódio, em que mais uma vez, Potter e os amigos tinham saído vencedores, Draco acordou na sua cama, com a mãe cuidando dele. Não se lembrava muito bem do que tinha acontecido logo após a fuga daquele grupo de prisioneiros. Mas a última coisa que guardara na memória tinha sido a fúria que o seu pai lhe dirigira. Lucius Malfoy ficara enraivecido por terem deixado escapar aquela oportunidade, e descontou no filho. Insultou-o, disse-lhe que era tudo culpa dele, e quando Draco tivera a coragem de lhe dizer que a culpa de toda a situação era dele, pois ele tinha apostado no cavalo errado, o pai enlouquecera e lançara-lhe feitiços atrás de feitiços. Só parou porque Narcissa interviera. Draco tinha ficado desacordado durante quase duas semanas, e mesmo assim ficou mais uma de repouso, pois sentia que todos os seus ossos tinham sido quebrados e colocados de novo no sítio.

Lucius nunca mais chegou perto dele, embora Draco soubesse que ele o continuava a chamar de fraco e indigno do nome Malfoy. De facto, o jovem loiro chegava a pensar que gostaria de ser apenas um Black, já que era assim tão parecido com a mãe.

Mas os dias foram passando, Draco recuperou totalmente e certo dia, do nada, a sua Marca começou a queimar. Ele soube que o grande Lord Voldemort chamava todos os Devoradores, e isso só poderia querer dizer uma coisa, o início da Guerra estava iminente. E logo se viu nos campos de Hogwarts, e tudo passava tão rápido. Num momento ele corria pelo castelo, atordoando quem se metesse no seu caminho, no outro o Potter salvava-o do Fogo Maldito. Perdera um amigo ali, Crabbe, por causa de uma guerra estúpida que cada vez mais lhe parecia sem sentido, onde esperavam que um mestiço ganhasse para liderar todos os puro-sangue e exterminasse todos os sangues-de-lama e traidores de sangue. Mas para quê?

Cada vez mais aquilo não fazia sentido na sua cabeça. Lord Voldemort era um mestiço com ideias megalómanas e egocêntricas. Ele não queria saber de ninguém a não dele próprio, e Draco deu por si a pensar se queria viver num mundo assim, onde tinha de ser submisso àquele monstro. Draco queria ser livre, e fazer as suas escolhas pela primeira vez na vida, fossem elas erradas ou não. Mal sabia ele o que o seu destino lhe reservava.

Quando o Rapaz que Sobreviveu, sobreviveu novamente graças à sua mãe, e derrotara de uma vez por todas o grande Voldemort, Draco viu pela primeira vez a luz ao fundo do túnel. Uma chama de esperança se acendeu e pensou que teria um futuro melhor do que pensara. Um futuro que ele escolheria.

No entanto, na hora em que a sua mãe foi pedir perdão para a sua família, advogando que graças a ela Harry Potter tinha conseguido escapar à morte e assim matar o Senhor das Trevas, o pedido foi negado. Disseram-lhe que apenas ela receberia perdão completo, mas que os crimes do seu marido e de Draco, seu filho, eram demasiado graves e não podiam sair impunes.

No meio de toda aquela confusão pós-guerra, a família decidiu fugir. Draco ainda insistira que ficassem e pagassem pelos seus crimes, nada mais justo, afinal. Todavia, seu pai não quis arriscar, os seus crimes eram imperdoáveis e se fosse a julgamento, provavelmente seria condenado ao beijo do Dementor. E bastaram estas palavras para que Narcissa não quisesse mais ficar. Ali mesmo decidiu que o melhor a fazer era fugir, e manterem-se unidos. Draco nunca entenderia aquela devoção da mãe ao pai, mas também nunca a deixaria sozinha com ele. Era sua função protege-la.

O plano era simples: iriam abandonar a vida mágica, pelo menos durante uns tempos. As varinhas seriam arrumadas e viveriam como Muggles até poderem fugir do país. Draco sorriu com aquele plano, como é uma família de feiticeiros que sempre fora anti-muggles, conseguiria passar por uma família muggle comum? Era um pormenor, que teriam de ir ajustando, se queria salvar a mãe.

As coisas iam correndo bem, foram movimentando-se sem pressa, para não dar nas vistas. E encontraram inclusive um esconderijo perto da cidade de Guildford, no condado de Surrey, não muito longe de Londres onde puderam passar uns dias mais descansados, antes de darem início à segunda parte do plano.

Era final de Maio, e seus pais resolveram sair para finalmente arranjar um carro, um objecto muggle que tanto desprezavam, mas que agora seria crucial. Assim que tivessem o meio de transporte, seguiriam para encontrar um falsificador que lhes venderia documentos falsos para todos, para assim fugirem do país. Felizmente, dinheiro era coisa que não faltava aos Malfoy, fosse ele muggle ou feiticeiro.

Ainda de acordo com o que tinham planeado com o filho, o casal Malfoy seguiria para o seu esconderijo assim que tivessem os documentos falsos e então partiriam para sul. Depois, circulando pela costa de Inglaterra, iriam chegar até Folkestone onde através do Túnel do Canal da Mancha poderiam chegar a França, e dali escolheriam o próximo destino. Todo o plano parecia simples e fácil, e até ali tudo estava a decorrer sem problemas.

Draco estava sentado na pequena casa que servia como esconderijo, tinham-se passado horas desde que os pais tinham saído. Seria normal? A compra do automóvel e dos documentos demoraria tanto assim? Ele não sabia. Mas à medida que o tempo passava, e a noite se aproximava, começava a ficar cada vez mais preocupado. Ele devia ter ido com eles, assim saberia o que estava a acontecer. Assim, ali preso, não tinha como fazer nada, pois não tinham meios de comunicação. O que fazer? Resolveu aguardar mais uma hora, então seria noite escura e ele sairia na escuridão para procurar por eles na cidade.

Não aguentou uma hora, assim que escureceu o suficiente, Draco pôs-se a caminho. Tinha caminhado durante quase meia hora, ou melhor, ela correra durante meia hora. Não sabia quantos quilómetros tinha percorrido, mas uns faróis a piscar na berma da estrada chamaram a sua atenção. Olhou a estrada, havia uma curva apertada e as marcas de pneu no alcatrão mostravam que o carro seguia em grande velocidade, indo embater de frente com uma árvore bem antiga. O choque tinha sido de tal forma violento que a parte frontal do veículo estava completamente destruída. Era impossível que os seus ocupantes tivessem sobrevivido.

Draco sentiu uma dor no peito, não queria acreditar naquilo que o seu coração já lhe dizia, por isso aproximou-se, tinha de confirmar com os próprios olhos. As duas cabeleiras loiras que seguiam nos bancos da frente confirmaram as suas suspeitas. Viu as roupas simples mas sofisticadas de Narcissa Malfoy, cheias de sangue. Mas Draco tinha de confirmar que não havia mais nada a fazer, afastou o cabelo do rosto dilacerado da sua mãe e tentou sentir o pulso no seu pescoço. As lágrimas não se seguraram e rebolaram pelo seu rosto. A única pessoa que alguma vez o amara, e que ele amara mais que tudo na vida, estava morta. Não havia mais nada que podia fazer por ela. Queria ser ele no lugar dela, foi sempre o que quis: protege-la, e no fim não conseguiu.

Olhou para o pai, e não precisou sequer aproximar-se para saber que também estava morto. As feridas eram demasiadas. Mas não sentiu qualquer dor por o ter perdido, pelo contrário. Sentia alívio por finalmente não lhe dever explicações, mas sobretudo sentiu raiva, e muito ódio do pai. Tinha sido ele que os conduzira àquela situação, e no fim foi ele que matou a sua mãe. Há muito tempo que Draco sabia que seria assim, e mesmo não sendo propositado o seu pai tinha provocado a morte da única que se importava com ele. Como sempre, Lucius destruíra tudo. E agora, o que ele faria sozinho no mundo?

Era 28 de Maio, quase meia-noite, e depois de ter chorado sobre a sua mãe durante vários minutos, Draco recuperou a calma. Respirou fundo e pensou no que faria. Podia chamar ajuda, deixar que tomassem conta dos corpos, e ele prosseguia com o plano. Mas aquilo não lhe pareceu correcto, ele não podia abandonar os pais mesmo que mortos. Por isso, e apesar do risco de usar magia, esperou que sendo feitiços tão básicos ninguém fosse perceber, começou a tratar de abrir dois buracos junto de uma árvore frondosa. Era um espaço bonito e agradável, bem perto de um pequeno lago, seria o lugar ideal para os seus pais descansarem. Transportou os corpos e depositou-os ali, enterrando-os e fazendo crescer flores sobre a sepultura. Finalmente, transfigurou o automóvel numa pedra e atirou-a ao lago.

Ali, olhando as duas sepulturas mais uma vez se perguntou o que faria. E voltou a chorar sobre o final trágico dos seus pais, principalmente da sua mãe. Entre tantas adversidades que passaram e tinha de morrer ali, daquela forma estúpida e muggle. O que ele faria agora? Draco sabia apenas que ela lhe faria muita falta. E assim pôs-se a caminho, não sabia para onde ia, mas logo decidiria.

Foi caminhando, ou melhor, arrastando os pés pela cidade durante toda a noite e todo o dia. Não sabia já onde estava, estava esfomeado pois não comia desde o dia anterior, e continuava desnorteado com a falta que a mãe lhe fazia. Sem se dar conta, viu-se rodeado de Aurores. Não reagiu, deixou-se capturar, pois agora já nada fazia sentido. Podia ser preso, morrer, nada mais importava. A razão por que tinha suportado tudo, torturas atrás de torturas, tinha desaparecido. Já não tinha razão para viver.

E assim se viu preso, julgado e condenado, e tudo aceitou de bom grado. Assim a morte chegaria mais depressa.

FlashBack OFF

Tinham passado 5 meses, desde que Draco Malfoy tinha sido preso. E contra todo as suas expectativas continuava vivo. Mal se alimentava, mas era obrigado a comer, por isso não podia morrer à fome. Por duas vezes tinha tentado acabar com a própria vida, enforcando-se com o próprio lençol, tendo sido salvo a tempo pelos guardas de Azkaban. Na terceira vez, não sabe se foi a fraqueza da subnutrição ou a falta de oxigénio, mas viu a sua mãe. Ela sorriu-lhe, pediu-lhe por favor que parasse com aquelas tentativas de ir ter com ela, pois ainda não era o seu tempo. Ele estava vivo e tinha de lutar pela sua vida, pois muitas coisas boas lhe estavam reservadas. E ela estaria sempre com ele, ao seu lado.

Desde esse dia, Draco acalmou. Mas caiu num estado de letargia. Não sabia como viver, como lutar pela sua vida, se estava ali preso. Ele continuava a achar que não tinha direito à vida, quanto mais à felicidade. Mas não queria desapontar a sua mãe, isso nunca. E ocorreu-lhe que pela primeira vez que ele podia escolher: viver ou morrer, lutar ou desistir. E ele escolheu viver, escolheu nunca desistir.


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Notas finais do capítulo

Links:
Sala Secreta: http://ascronicasdehermione.tumblr.com/

Look de Hermione, Ginny e Pansy: http://www.polyvore.com/cgi/set?id=115358229

Espero que tenham gostado! Me digam a vossa opinião!
Bjs