As Crónicas de Hermione escrita por Khaleesi Dracarys


Capítulo 5
Nova vida na Velha Escola


Notas iniciais do capítulo

Meus queridos, eu sei que os meus capítulos são grandes, mas espero que gostem mesmo assim..
Boa Leitura!



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Quando o grupo de amigos entrou no Grande Salão, a maioria dos antigos alunos já se encontrava lá, sentando-se nas respectivas mesas. Aguardavam o momento da chegada dos alunos do primeiro ano, para que se procedesse à cerimónia de selecção.

Hermione, Ginny e Neville dirigiram-se para a mesa dos Gryffindor, enquanto Luna se afastava para se juntar ao resto dos Ravenclaw.

Hermione sentou-se e observou tudo ao seu redor. Viu Pansy do outro lado, e acenou-lhe com a cabeça. E depois observou atentamente a mesa dos Professores. No entanto foi interrompida pela entrada abrupta dos alunos mais novos, que seguiam uma Professora McGonagall de ar cansado.

A Professora McGonagall era agora a Directora de Hogwarts, mas não tinha deixado as suas funções de professora e muito menos abdicara daquela função de encaminhar os alunos do primeiro ano até ao Salão Principal. Chamando-os, depois, um a um para que estes fossem seleccionados para uma das casas. O velhinho Chapéu Seleccionador, que sofrera graves danos durante a guerra, tinha sido restaurado, e estava agora como Hermione se lembrava dele, em cima do banco, pronto a revelar o destino dos muitos alunos novos que ali se encontravam.

A Cerimónia de Selecção começou com a cantoria habitual do Chapéu, e de seguida a Professora McGonagall começou a ler a lista de nomes que tinha em mãos. Um a um os jovens alunos iam sentando-se no banquinho, descobriam qual a Casa que os acolheria e dirigiam-se à respectiva mesa, onde eram saudados pelos novos colegas. Hermione olhava aquela cena, tão familiar. Por isso rapidamente perdeu o interesse no que estava a acontecer e passou a analisar os professores que se encontravam sentados à mesa. Ficou de boca aberta quando viu quem estava entre eles, acabou por chamar a atenção de Ginny, indicando-lhe com a cabeça a pessoa em questão. Quando compreendeu, Ginny estava ainda mais surpresa que ela:

– O que é que a Tonks está a fazer aqui? Na mesa dos Professores? – perguntava Ginny, num tom mais alto que o normal, devido ao barulho da Selecção.

– Estava a perguntar-me o mesmo, pensei que soubesses de alguma coisa. – disse Hermione.

– Bem, se ela está na mesa dos Professores é porque é professora. Mas de quê?! E porque é que o Harry não me disse nada?! Tenho a certeza que ele sabia. E quando é que ela voltou?! – Ginny ia falando, Hermione não percebeu se a amiga falava com ela própria ou se esperava alguma resposta. – Não percebo nada.

Hermione olhava para Ginny e acompanhava o seu raciocínio. Também ela fazia as mesmas perguntas.

Enquanto olhava para a nova professora, Hermione nem se apercebeu, que aquela também a observava. Só percebeu isso quando viu uma espécie de sorriso nos lábios de Tonks, e então acenou-lhe com a cabeça. “Pelo menos parece melhor”, pensou Hermione ao reparar que o cabelo da outra mulher tinha uma tonalidade perto do laranja.

Perdida em pensamentos, Hermione mal deu pela Cerimónia terminar. Só notou que algo tinha mudado, quando percebeu que se fazia silêncio pelas mesas, e viu então a Professora McGonagall dirigir-se ao púlpito para iniciar o discurso de boas vindas. Porém, esta foi interrompida pela chegada da pessoa que faltava à mesa dos professores.

O homem entrou apressado, pedindo desculpa pelo atraso. Enquanto se sentava, ia acenando para as mesas dos alunos, e quando viu Hermione e Ginny abriu um amplo sorriso e acenou efusivamente. Hermione quase desatou a rir à gargalhada quando viu a expressão da amiga. Ginny estava vermelha, de boca aberta, incrédula enquanto acenava ligeiramente para o homem.

– Mas o que é que o teu pai está a fazer aqui?! – perguntou Hermione, embora desse para perceber pela reacção de Ginny, que esta também não esperava ver o pai ali.

– Eu não sei. Era suposto ele ter ido trabalhar depois de me deixar na Estação, e agora devia estar na Toca. O que é que ele está a fazer entre os Professores? – Ginny falava, ainda sem acreditar no que via – Porque é que ninguém me disse nada? O Harry vai ouvir das boas quando estivermos juntos. Era suposto ele contar-me tudo.

– Se calhar, ele também não sabia. – Hermione tentava defender o amigo, mas calou-se perante o olhar de Ginny.

As duas jovens calaram-se quando viram que Minerva McGonagall ia finalmente começar o seu discurso. Queriam estar atentas e perceber o que tinha mudado na Escola.

– Queridos alunos, sejam bem-vindos a Hogwarts! Aos alunos do primeiro ano eu dou as boas vindas e espero que encontrem nesta escola, conforto e amizade, e acima de tudo que encontrem aqui uma nova família. Aos antigos alunos, espero que estas paredes não lhes tragam apenas a memória dos que partiram, mas também a alegria do reencontro com amigos, colegas e professores. Não pretendo fazer um longo discurso, já todos sabem o que aconteceu no passado, e por isso não vou falar mais sobre isso. É tempo de avançar, o passado ficará apenas na nossa memória. Que este ano seja um ano de libertação, de reconhecimento, de tolerância, de amizade, de respeito. Esqueçam as diferenças do passado e construam um novo futuro.

Minerva McGonagall percorria a sala com o olhar, observava os alunos divididos pelas mesas das respectivas casas. O seu olhar demonstrava carinho e amizade, mas também alguma dor. A Escola tinha perdido muitos alunos e professores, e a nova Directora sentia alguma nostalgia ao lembrar os tempos antes da guerra. Mas seguiu o próprio conselho e seguiu em frente no seu discurso, afinal viu que alguns alunos já demonstravam impaciência para começarem a jantar.

– Bem, queridos alunos, não quero roubar-vos mais tempo, pois devem estar com fome. – sorriu quando viu muitos alunos acenarem afirmativamente. – Quero apenas apresentar os professores de Hogwarts a todos os alunos. Começando pelo lado esquerdo, temos Rubeus Hagrid, professor da disciplina de Cuidados com as Criaturas Mágicas. Ao seu lado o Professor Binns, de História da Magia. A seguir Pomona Sprout, professora de Herbologia e responsável pela Casa Hufflepuff. Seguida do professor Filius Flitwick, que lecciona a disciplina de Feitiços e é também o director da Casa Ravenclaw.

Hermione escutava tudo com atenção, e pôde perceber que Ginny, Neville, e basicamente todos os alunos esperavam ansiosos pela apresentação dos últimos professores da mesa.

– Seguidamente, temos Horace Slughorn, professor de Poções e Director da Casa Slytherin. E para o fim, guardei as novidades. Em primeiro lugar Nymphadora Tonks que leccionará a disciplina de Defesa Contra as Artes Negras e por último, o nosso professor atrasado, Arthur Weasley que será responsável pela disciplina de Estudo dos Muggles, sendo que será também o novo Director da Casa Gryffindor. Pois sendo eu Directora da Escola não poderia continuar com o cargo, no entanto continuarei sendo professora de Transfiguração. – E sorriu ternamente – Quero apenas salientar que existem outras disciplinas e mais professores, mas que não puderam juntar-se ao nosso jantar, mas brevemente os conhecerão. Agora, finalmente, podem jantar. Bom apetite!

Quando ouviram a Professora Mcgonagall terminar, Hermione e Ginny olharam-se em choque. As novidades eram ainda mais surpreendentes do que pensavam. A Tonks era a nova professora de Defesa contra as Artes Negras, disciplina que sempre consideraram amaldiçoada, pois nenhum professor ali permaneceu mais do que um ano. E o Sr. Weasley era não só o professor de Estudo dos Muggles como também era o Director dos Gryffindor. Hermione ia falar para Ginny quando reparou que esta batia com a cabeça na mesa, de forma leve, enquanto repetia qualquer coisa. Aproximou-se para conseguir ouvir, e teve de rir sozinha quando percebeu a amiga:

– Eu não acredito nisto! Eu não tenho sorte nenhuma! Como é que o meu próprio pai me pôde fazer isto?! Eu não acredito! Não pode ser! O meu próprio pai! Vai arruinar a minha vida! Não vou poder fazer nada! – Ginny recitava a lengalenga de forma automática, de forma chorosa.

Apenas parou quando ouviu Hermione chamá-la.

– Ginny! O teu pai está a olhar para cá, se não paras com isso, ele irá querer saber o que tens e então sim poderás queixar-te da pouca sorte! – sorriu com a expressão da rapariga mais nova – Não é assim tão mau, Ginny. Então o teu pai vai ser professor e director da nossa casa, o que é que tem?!

Hermione tentava animar a amiga, mas quanto mais falava, mais percebia também que aquela não era uma situação fácil para ela, quanto mais para Ginny. Afinal, teriam de conviver com o Sr. Weasley ali, quase todos os dias, no espaço onde antes elas estavam sozinhas. Onde podiam ser elas próprias. Agora seria diferente. Mesmo que ali estivesse em trabalho, o Sr. Weasley seria sempre o pai de Ginny. E do Ron. Enquanto pensava em tudo isto, Hermione deve ter demonstrado algum incómodo, pois Ginny retomou a sua cantilena de lamentação.

– Eu não tenho sorte nenhum! Pobrezinha de mim! Como é que eu vou sobreviver a este trauma?! Oh Merlin ajuda-me.

Quando deram por isso, a hora do jantar tinha terminado. Com aquela confusão inicial, mal tinham apetite para comer. Por isso, Hermione e Ginny passaram o jantar ora a falar uma com a outra ora com os colegas que as rodeavam.

Quando se levantaram para se dirigirem para a Sala Comum dos Gryffindor, Hermione reparou que Tonks saiu imediatamente por uma portinha lateral, não falando com ninguém. Mas a sua atenção foi requerida por uma Ginny stressada, que lhe deu a mão e a puxava para saírem do Salão Principal. Olhando para trás, sobre o ombro, Hermione viu o Sr. Weasley levantar-se e começar a caminhar na sua direcção, tentando chamar a atenção de Ginny que teimava em ignorá-lo.

– Ginny, pára! Mais cedo ou mais tarde vais ter de falar com ele. – Hermione quase gritava com a ruiva.

– Então que seja mais tarde! Ou melhor, nunca! Aqui na Escola, ele é professor e eu sou aluna. Os Professores não vêm falar com os alunos no fim do jantar. Eu não tenho de o ouvir.

Mas enquanto barafustava, as duas raparigas foram apanhadas pelo Sr. Weasley. Ginny virou a cara, mas Hermione sorriu e cumprimentou aquele homem que às vezes via como um pai. Ele, sem a deixar falar, abraçou-a.

– Hermione, há quanto tempo. Porque não vieste para a Toca estes dias antes de vir para Hogwarts?! Tínhamos tantas saudades tuas. O Ron e o Harry disseram que preferias ir para um hotel, mas eu e a Molly não compreendemos porquê. Fizemos alguma coisa? Espero que esteja tudo bem. Nem na Estação te vimos, ficámos preocupados. – o Sr. Weasley mal respirava com tantas perguntas.

– Não é preciso tanta preocupação, está tudo bem! – Hermione falou assim que o homem se calou um instante – Não é que eu não tivesse saudades, porque também tenho, muitas. Mas tinha muitas ideias para arrumar, queria ter o meu espaço para pensar. Só isso. Acho que vocês compreendem, certo?

– Claro, querida Hermione. É normal. Mas sabes que terás sempre um lugar na Toca?! Esperamos que nos vás visitar no Natal. – entretanto interrompeu a conversa com Hermione, quando percebeu que Ginny tentava fugir dali – Onde pensas que vais Ginevra Molly Weasley?!

– O meu nome é Ginny. Vais começar a humilhar-me logo na primeira noite em Hogwarts? E porque estás aqui? E porque eu não fui informada? É claro, ninguém quis saber a minha opinião sobre isto… - falava e acenava para o pai com as duas mãos, muito indignada.

– Ginevra Weasley, cuidado com o que vais dizer. Senão Gryffindor vai começar o ano a perder pontos, sou teu pai mas aqui sou teu professor e director da tua casa. Exijo triplo respeito. – o Sr. Weasley falava com um ar sério, mas entretanto começou a rir – Perceberam? Triplo respeito, porque sou pai, professor e director. HAHAHA

Ao perceber que nem a filha nem a amiga achavam a mesma piada que ele, prosseguiu a conversa com Ginny. Que se recusava a olhar para ele.

– Filha, eu só aceitei o cargo porque foi a Directora McGonagall que me pediu directamente. Achei que seria bom, até porque sabes que é um tema que gosto muito, estudar os Muggles e os seus artefactos. E resolvemos guardar segredo para te fazer surpresa. Não sabíamos que ias reagir assim. É assim tão mau que eu seja professor aqui na Escola? – perguntou por fim.

Ginny olhou para Hermione, que tinha um olhar de acusação sobre a ruiva. Esta percebeu que estava a ser infantil e birrenta. Porém, não queria dar o braço a torcer.

– Não é que seja mau. Mas não estava à espera, é isso. – ela ia dizendo, enquanto olhava os sapatos – Também não vou dizer que é uma maravilha estares aqui. Nenhum adolescente iria gostar da ideia de ter o pai como professor. Mas já que tem de ser. Parabéns, pai, pelo novo cargo. – disse, enquanto o abraçava.

O Sr. Weasley sorria para a filha, sabia que esta tinha um feitio difícil e rebelde, e já contava que não reagisse muito bem ao seu cargo em Hogwarts. Por isso, tinham preferido esconder-lhe a verdade. Pois agora já não havia volta a dar, e a pequena ruiva teria de aceitar.

– Se te fizer sentir melhor, só estarei na Escola dois dias por semana. Terças e Quintas. Nos outros dias continuarei a trabalhar no Ministério. – acrescentou por fim – Não queria deixar a tua mãe sozinha, assim poderei continuar a viver na Toca. É o melhor para todos.

– Oh claro que sim, não podias deixar a mãe sozinha na Toca. E tu gostas muito do teu emprego no Ministério. É mesmo o melhor. – disse Ginny imediatamente, mal escondendo o alívio por saber que o pai não ficaria a viver em Hogwarts toda a semana como os outros Professores.

Falaram os três durante mais alguns minutos, mas logo depois as duas raparigas decidiram ir para a sala comum do seu dormitório. No dia seguinte as aulas começariam e ambas precisavam descansar.

Já na sala, sentaram-se em frente à lareira, juntamente com Neville e Dean Thomas. Ficaram em silêncio, cada um perdido nos seus pensamentos. A guerra tinha deixado marcas profundas em todos. Finalmente, Neville levantou-se e falou para os companheiros:

– Hora de ir para a cama! Amanha tudo volta ao normal. Aulas e mais aulas... Trabalhos… Pelo menos não vamos ter de aturar mais o Snape. – Neville que parecia entediado antes, ficara mais animado quando percebera que não ia ter mais aulas com o ex-professor de Defesa contra as Artes Negras. Apesar de já todos saberem a verdade sobre Severus Snape, também era sabido que antes era um professor detestado por quase todos.

Enquanto se dirigiam para os dormitórios, Hermione pensou no que teria acontecido ao ex-professor. Desde a cerimónia fúnebre que nunca mais soubera nada. Durante o tempo que esteve na Toca, nunca fora referido. E agora durante o jantar a Professora McGonagall também nada dissera sobre o antigo professor. Será que Snape se tinha retirado? Viajado? Era um assunto que falaria depois com a Directora McGonagall, pensou a jovem, sorrindo ao pensar na sua professora preferida como Directora da Escola.

O primeiro dia de aulas amanheceu com alguns raios solares, que teimavam em aparecer por trás de algumas nuvens que corriam pelo céu. Hermione acordara mais cedo que as suas colegas de quarto, pois queria preparar-se sem correrias. Quando já estava pronta, saiu da sala comum e dirigiu-se ao salão principal para tomar o pequeno-almoço.

Quando estava perto da porta do salão, a gryffindor viu que Pansy vinha do outro lado do corredor. Porém, a slytherin nem reparou em Hermione, que precisou chamá-la duas vezes até conseguir a sua atenção.

– Hermione?! Não te tinha visto. Estava distraída. Como foi a primeira noite no castelo? – perguntou Pansy, disfarçando o olhar triste com que caminhava antes de Hermione a chamar.

– Eu estou bem, dormi bem! Mas tu estás com um ar abatido. E nem precisas disfarçar, Parkinson. – Hermione falou num tom amistoso, para que Pansy ficasse mais calma.

– Foi uma noite complicada, só isso. A sala comum dos slytherin trouxe muitas memórias. Todos os que eu conhecia, não regressaram. Agora divido o espaço com conhecidos de outros anos. Mas nenhum é meu amigo. Sinto falta deles! – Pansy confessou.

Hermione compreendeu a outra rapariga. Ela também tinha saudades de Ron e Harry. Mas pelo menos ela ainda tinha Ginny, e Neville. Ela considerava-os seus amigos e podia contar com eles caso necessário. Já Pansy estava completamente sozinha. Sabia que ela se referia a Zabini e a Malfoy, quando dissera que sentia falta “deles”. O seu namorado e o melhor amigo, quase irmão. A gryffindor compreendia aquele sentimento muito bem, ela também estava longe do namorado e do seu melhor amigo. Por isso, sem pensar duas vezes, abraçou a slytherin, que ficou surpreendida pelo gesto, e disse-lhe baixinho:

– Eu compreendo-te, Pansy! Eu também tenho saudades do meu namorado e do meu melhor amigo.

Quando terminou o abraço, sorriu para Pansy, e puxou-a em direcção ao salão principal. Pansy não estaria mais sozinha, ela seria sua amiga. A slytherin foi atrás de Hermione, ainda sem reacção. Mas mais confortável, por não ter de entrar sozinha no salão para tomar o pequeno-almoço.

Todavia, foram impossibilitadas de entrar no salão, pois quando abriram a porta, uma figura alta, vestida de negro estava de saída.

Os três encararam-se. Severus Snape recuperou a pose altiva, e repreendeu as raparigas:

– Miss Granger. Miss Parkinson. Deviam ter mais cuidado ao andar no corredor.

Hermione e Pansy iam defender-se, pois naquele momento não tinham culpa do acontecido. Não podiam saber quem vinha a sair do Salão quando elas iam entrar. Mas o professor nem lhes deu oportunidade de abrir a boca.

– Não quero ouvir desculpas, não tenho tempo para isso! – continuou a falar de modo grosseiro, enquanto Hermione ficava cada vez mais espantada. Não parecia o mesmo Severus Snape que eles tinham descoberto em Maio passado. Mas de toda a forma, parecia-se com o Professor Snape que sempre conheceram. – Espero que tenham mais cuidado da próxima vez. Aqui têm o respectivo horário de cada uma! – agitou a varinha e dois pergaminhos apareceram, e as duas raparigas receberam aquele que seria o horário das suas aulas ao longo daquele ano lectivo. O professor fungou, passou por elas e desapareceu nos corredores.

– O que é que ele está a fazer aqui? – perguntou, retoricamente, Hermione.

– Parece-me que afinal há coisas que nunca mudarão. O Professor Snape é uma delas. – disse Pansy – Mas ontem foram apresentados quase todos os professores. As principais disciplinas estão ocupadas. Então qual será a sua função em Hogwarts?

Hermione olhou para Pansy, aquela era a pergunta que se fazia desde que vira Severus Snape à sua frente. Ainda na noite anterior se tinha questionado sobre o mesmo, e o que lhe teria acontecido. Agora ele estava ali, e supostamente não seria para exercer nenhum cargo de professor.

Entrando no Salão Principal para finalmente tomarem o pequeno-almoço, foram novamente interrompidas. A Professora McGonagall aproximou-se delas e começou logo a falar com Hermione.

– Miss Granger, há quanto tempo! – disse carinhosamente, enquanto a cumprimentava – Miss Parkinson, foi com surpresa que vi o seu regresso a Hogwarts. Espero que este ano corra melhor do que os anteriores. – falou cautelosamente.

– Professora McGonagall, vai tudo correr bem, não se preocupe! – disse Hermione, imediatamente. – Uma vez que está aqui, posso pedir para que Pansy tome o pequeno-almoço na mesa dos gryffindor?

Minerva McGonagall mal acreditava naquilo que ouvia. “Hermione Granger quer tomar o pequeno-almoço com Pansy Parkinson na mesa dos gryffindor?” pensava para consigo. Algo está errado, e perguntou baixinho “Como?”

Hermione explicou-se:

– Eu e Pansy conversámos ainda no Expresso de Hogwarts. Acertámos algumas diferenças que tínhamos e descobrimos algumas afinidades. Agora íamos tomar o pequeno-almoço e lembrei-me como estamos as duas sozinhas podíamos fazer companhia uma à outra. Pode ser?

A professora McGonagall olhou com espantou para Pansy, enquanto ouvia aquela explicação. Pansy olhava para Hermione e para a professora, um pouco envergonhada, com ar de quem não sabia o que estava a acontecer.

– Bem, eu não vejo inconveniente nenhum, - disse a professora finalmente – se ambas estão de acordo. Acho que será até bom, pode ser que vendo-as juntas, os outros alunos deixem de lado a rivalidade entre gryffindors e slytherins.

– Obrigada pela oportunidade, Professora. Eu vou provar-lhe que mudei. Com a ajuda de Hermione, este ano vai ser melhor para todos. – Pansy disse por fim.

As duas raparigas sorriram, e a Professora ficou maravilhada perante aquela cena. Tratava-se de algo inédito, mas também os tempos tinham mudado nos últimos meses. O que agora precisavam era de paz, e se aquelas duas alunas se tinham unido, então era possível que tudo voltasse a ficar bem. Despedia-se já das duas quando foi chamada por Hermione.

– Professora McGonagall?! Posso perguntar o que o Professor Snape está a fazer na Escola? Vai voltar a dar aulas? – a curiosidade falava mais alto.

– Não, miss Granger. – a nova Directora respondia calmamente – O professor Snape decidiu aceitar voltar à Escola mas com outras funções. É agora o nosso Vice-Director. Qualquer assunto da Escola, poderão tratar com ele ou directamente comigo. Agora se me dão licença, tenho assuntos a tratar.

Agora que estava tudo explicado, Hermione puxou novamente Pansy, e as duas dirigiram-se para a mesa gryffindor. A rapariga slytherin estava um pouco incomodada com a situação:

– Hermione não acho que seja boa ideia. Se até os slytherin se afastam de mim, os gryffindor vão odiar-te por me trazeres para a vossa mesa. É melhor eu ir lá para a minha mesa.

Mas Hermione calou-a imediatamente:

– Pansy, eu não vou deixar que fiques sozinha por aí. Não quando eu estou por perto. Se alguém se sentir incomodado, que mude de lugar. A mesa é suficientemente grande para todos. Agora vamos sentar-nos e comer, que estou a morrer de fome. Parecia que nunca mais chegávamos à mesa. – Disse, sentando-se e quase obrigando Pansy a sentar-se. – Quem diria, hein? O Professor Snape agora é o Vice-Director Snape?!

Começaram a comer, e conversavam animadamente sobre aquele assunto. Estavam tão entretidas que não deram conta quando a mesa começou a ficar preenchida, e todos cochichavam por as duas mostrarem tanta cumplicidade. Apenas perceberam os olhares dos colegas, quando Ginny pigarreou e chamou a atenção das duas:

– O que se passa aqui, Hermione? Ontem saíste do comboio com ela, e não deste qualquer explicação. Hoje ela está aqui, na nossa mesa, como se fosse uma gryffindor. Desde quando é que se tornaram tão “amigas”? – a ruiva mostrava todo o seu rancor enquanto falava.

­– Ginny, eu não devo explicações a ninguém. Muito menos tenho de justificar as escolhas que eu faço, com quem falo, de quem me torno amiga ou não. – silenciou a amiga com a mão, quando viu que a outra ia falar novamente – Deixa-me acabar, e depois fazes o que quiseres. Eu e a Pansy viajámos juntas no Expresso, reconhecemos as nossas diferenças, vimos que hoje não existem mais e que até somos mais parecidas do que pensávamos. Por isso, resolvemos dar uma oportunidade uma à outra para nos conhecermos melhor. Hoje eu convidei a Pansy para tomar o pequeno-almoço aqui para ela não ficar sozinha na mesa dela. Esperava que vocês a recebessem bem, ou pelo menos pacificamente, pode ser?

– Continuo a duvidar dessa tua mudança súbita, Parkinson! – Ginny falou directamente para Pansy – Podes ter enganado a Hermione, mas eu vou estar de olho em ti. Mas sê bem-vinda à mesa da melhor equipa da Escola. Nós falamos depois, Hermione!

– Weasley! – chamou Pansy – Não fui eu que pedi para vir para a vossa mesa. Apenas aceitei o convite da Hermione. Se nós as duas nos acertámos, será assim tão difícil para nós as duas convivermos?

– Não temos de conviver, Parkinson! Somos apenas duas colegas de escola com uma amiga em comum. Não tenho de gostar de ti, nem tu de mim. – e Ginny virou costas, afastando-se de seguida.

Hermione abanava a cabeça negativamente, mostrando claramente que aquela atitude de Ginny lhe desagradava.

– Desculpa, Hermione, mas eu avisei que os teus amigos se iriam afastar. – disse Pansy, cabisbaixa.

– Não tens de pedir desculpa pelas escolhas deles. Cada um escolhe como agir na vida. Um dia eles vão aceitar que o mundo mudou, e que não somos mais os mesmos. – respondeu-lhe Hermione, mostrando que aquele assunto estava encerrado.

Enquanto terminavam o pequeno-almoço, começaram a falar sobre as aulas e olharam pela primeira vez para os respectivos horários. Viram que naquele dia teriam Poções juntas, logo depois de almoço. No dia seguinte, tinham Defesa contra as Artes Negras logo pela manhã. Depois só voltavam a ter Cuidados com as Criaturas Mágicas, dois dias depois. Mas no último dia da semana, teriam duas aulas juntas. Todas as outras disciplinas, eram partilhadas com os colegas de ravenclaw ou de hufflepuff. Hermione ficou satisfeita com o seu horário.

Vendo que estavam já em cima da hora para a primeira aula, as duas dirigiram-se à saída, e encaminharam-se para as respectivas aulas.

Durante a manhã, Hermione teve de repetir várias vezes para Ginny, que esta teria de aceitar a sua amizade com Pansy. Luna e Neville, que tinham começado a namorar, e formavam um dos casais mais amorosos de Hogwarts, concordavam com Hermione. Mesmo sem conhecerem Pansy, e mesmo tendo sofrido bastante nas suas mãos, estavam os dois dispostos a dar-lhe uma oportunidade. No final da manhã, Ginny continuava na mesma. Teimava que nunca seria amiga da Parkinson, mas que eles faziam o que queriam.

Quando a hora de almoço chegou, estavam todos na mesa dos gryffindor. Luna tinha resolvido ficar mesmo ali, ao pé do namorado, uma vez que não havia mais obrigação de cada um comer na sua mesa. Conversavam animados, e riam entre si. Quando Pansy Parkinson entrou no Salão, e ao ver que Hermione estava acompanhada começou a encaminhar-se para a sua mesa. Mas foi surpreendida pelo grupo animado da mesa gryffindor, que a chamou prontamente. Tinha sido Hermione quem gritara o seu nome, mas o Longbottom e a Lovegood também lhe acenavam, para que ela se juntasse a eles. Pansy reparou que Ginny Weasley estava de cara fechada, que não devia estar muito de acordo com aquilo, mas estava calada. Por isso aproximou-se, sentou-se e almoçou com o grupo. E por incrível que pareça, sentiu-se bem, eles faziam com que se sentisse integrada.

Foram todos juntos para aula de Poções, à excepção de Luna que teria aula com os Hufflepuff. A aula passou rápido. Aliás, quando perceberam o dia tinha terminado. As aulas tinham sido calmas, sem muitos trabalhos. Afinal aquele era o primeiro dia de aulas, e os professores davam-lhes algum descanso inicial.

No dia seguinte, Hermione acordou com o ritmo acelerado. Dali a pouco tempo a primeira aula com Tonks ia começar. Tinha decidido falar com a jovem professora antes da aula, no momento em que tinha visto o seu horário. Por isso, despachou-se, foi tomar o seu pequeno-almoço, sozinha, pois ainda era muito cedo e ia sair do salão quando viu Pansy chegar, sorrindo. A slytherin mostrava-se cada vez mais simpática, depois de no dia anterior ter passado o resto do dia com ela e os seus amigos. Hermione disse-lhe que se fosse sentar na mesa gryffindor, que o resto do grupo devia estar a chegar, que ela estava com pressa mas que se encontravam na aula de D.C.A.N. (Defesa Contra as Artes Negras).

Quando chegou à sala de D.C.A.N., bateu à porta, abriu-a devagarinho e procurou pela nova professora. Já estava para desistir, pensando que Tonks ainda não estava ali. Quando esta saiu de uma pequena salinha contígua à sala de aulas. Primeiro, ficaram sem reacção. Hermione que tinha pensado tudo antes, agora não sabia o que dizer. Por isso, foi Tonks quem deu o primeiro passo:

­– Querida Hermione, que saudades! Entra. Fico feliz que tenhas vindo mais cedo, queria mesmo falar contigo. Acho que te devo uma explicação, não é verdade? – Tonks falou de forma amigável, não demonstrando qualquer sofrimento em relação ao passado, parecia que tinha alcançado um certo nível de paz, tal como Hermione.

– Professora Nymphadora, - falou Hermione depois de muito pensar em como devia tratar Tonks. Esta interrompeu-a de imediato, pedindo-lhe que a chamasse de Tonks como sempre. Hermione continuou – Ok. Tonks. Não vinha pedir explicação, melhor que ninguém entendo a tua posição, acredita. Vim apenas saber como estavas.

Tonks sorriu, e o cabelo mudou de laranja para azul.

– Eu estou bem, querida. A sério. – insistiu ao ver o ar desconfiado de Hermione. – É óbvio que há dores que nunca irão passar. Perder o Remus foi terrível, algo que nunca imaginei possível. Mas tive de aceitar que não podia ficar presa ao passado, tenho um filho que precisa de mim. – E sorriu.

– Fico feliz por ti. Eu compreendo, perdi os meus pais e também me vi forçada a aceitar e a seguir com a minha vida. – Hermione permitiu que uma lágrima descesse por sua face – Mas porque é que vieste para Hogwarts? Dar aulas numa disciplina que foi leccionada pelo Remus? Não será pior para ti?

– Eu não sabia o que fazer depois da guerra. Sentia-me perdida. Fugi de tudo e de todos, e mantive-me afastada. Deixei o pequeno Ted com a minha mãe, e perguntava ocasionalmente por ele. Entretanto, o tempo foi passando, e fui percebendo que se o Remus estivesse algures, a tomar conta de mim e do nosso filho, como eu sei que estaria, não devia estar nada satisfeito. Eu precisava voltar e criar o nosso filho por nós os dois. – o cabelo de Tonks ficava vermelho, sempre que falava de Remus Lupin – Depois, escrevi à Professora McGonagall, a pedir-lhe que me deixasse trabalhar em Hogwarts. Estava cansada da vida de Auror, queria fazer algo menos stressante e menos perigoso. Quando ela me disse que o único lugar disponível era como professora de D.C.A.N., achei que era um sinal do Remus para eu aceitar, e o ideal para recomeçar a minha vida.

Hermione escutou a sua nova professora com atenção, e percebeu que ela estava bem. E que seria bom para Tonks estar ali.

– E o Ted como está? Ficou com a tua mãe? – resolveu perguntar.

– Oh resolvemos mudar-nos para Hogsmeade. Quando contei à minha mãe sobre este trabalho, ela teve a mesma reacção que tu tiveste. Mas quando lhe expliquei, ela aceitou. Até porque eu contei-lhe imediatamente que iria alugar uma casa aqui perto para não ficar longe do meu filhote, e não ficaria a viver em Hogwarts. No entanto, não contava que a minha mãe também viesse. A ideia era contratar uma pessoa que cuidasse da casa e do Ted enquanto eu estivesse a dar aulas. Mas, claro, a minha mãe adiantou-se e disse que ela própria faria isso. – concluiu e encolheu os ombros, como quem diz que não valia a pena discutir com a mãe.

– Que bom, isso são realmente boas notícias. – Hermione disse, abraçando a professora.

– Sim, querida. A vida não pára. – Tonks segurou a mão da jovem enquanto falava – Eu soube dos teus pais, e lamento muito, que tenhas passado por tudo isso. Quero que saibas que estou aqui para o que precisares, e que a nossa casa em Hogsmeade estará de portas abertas para te receber sempre que quiseres. – e sorriu.

– Obrigada, Tonks, isso significa muito para mim. – não teve tempo de dizer mais nada, pois os colegas de turma começaram a entrar na sala, para o início da aula.

Hermione dirigiu-se à mesa onde Pansy se instalava, e viu que Ginny olhava para elas de lado. A slytherin disse-lhe que não se importava se ela preferisse ficar com os outros gryffindor, mas Hermione sentou-se na mesma. Mais cedo ou mais tarde a implicância de Ginny com Pansy teria de acabar.

E de facto, ao longo dessa primeira semana de aulas, o ambiente entre Pansy e Ginny começava a ficar mais ameno. Pelo menos, a gryffindor já não ficava tão incomodada com a presença da slytherin. E chegaram mesmo a partilhar algumas ideias em comum.

No entanto, à medida que Pansy era cada vez mais aceite pelo grupo de amigos de Hermione, mais esta se afastava. Continuava a ter necessidade de se isolar, de pensar na sua vida. E se inicialmente a biblioteca continuava a ser o seu refúgio, logo notou que não poderia continuar ali, pois muitos alunos iam para a biblioteca só para ver o que ela estava a fazer. Ela continuava a ser reconhecida, e não gostava disso.

Inicialmente, Pansy insistia com Hermione que não era bom ela afastar-se, que devia manter-se unida aos amigos que ela ainda tinha. Nisso concordava com Ginny, que tinha a mesma opinião. E foi mesmo por partirem desse ponto em comum que se começaram a aproximar mais. Só por ver as duas amigas a entenderem-se finalmente, Hermione já achava que compensava o seu afastamento.

Entre as aulas e todos os trabalhos que os professores lhes passavam, o tempo voava. E Hermione tentava conciliar tudo isso com a vontade de estar sozinha e estar com os seus amigos, que continuavam a reclamar a sua atenção.

Já no final do mês de Setembro, enquanto passava pelo 3º andar, dirigindo-se para o seu dormitório, pretendendo ficar umas horas sozinha antes do jantar, Hermione deu por si a entrar numa sala, que parecia abandonada. Foi o barulho de uma janela a bater que a fez entrar na sala. Curiosa, seguiu o som e vendo que não era nada de especial, resolveu fechar a janela, sair e continuar o seu caminho. No entanto, algo prendeu a sua atenção. Aquela sala era diferente, não tinha aspecto de sala de aula, nem de arrumos, parecia que tinha aparecido ali do nada. Aliás, Hermione podia jurar que ela não existia até ao dia anterior, pois ela conhecia Hogwarts como ninguém e não se lembrava daquela pequena sala. Hermione pensou que podia ser um lugar muito agradável se não estivesse completamente abandonado.

De repente, fez-se luz, e Hermione viu naquela sala abandonada a oportunidade de ter um local só para ela. Um lugar onde pudesse estudar, e passar algum tempo sozinha, sem que ninguém a perturbasse. Só tinha de convencer a Directora McGonagall a dar-lhe permissão para utilizá-la.


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Notas finais do capítulo

Mais uma vez, se encontrarem algum erro ou se alguma coisa não fizer sentido, avisem-me. Que rapidamente eu corrijo, ou explico!

Comentem! Gostaria de saber a vossa opinião!
Dani