Jogos Vorazes: O Despertar escrita por FernandaC


Capítulo 13
Quente - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de agradecer incomensuravelmente a todas as pessoas que comentaram e comentam minha fanfic e, principalmente, para aquelas que me deram o apoio que precisava. Não vou permitir me esmorecer por conta do que os outros fazem, muito pelo contrário, vou me orgulhar de mim, das palavras que escrevo, da história que crio, das pessoas maravilhosas (como vocês) que leem!
Para os meus fiéis leitores, meu muito obrigada.

Beijo, Fernanda



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Esboço um sorriso, mas dessa vez não me permito transparecer o turbilhão de emoções que percorrem meu corpo. Não sei pelo o que Peeta está jogando e não faço a mínima ideia de quais são os objetivos dele, por isso minha defensiva. Só que apesar disso, essa é a alternativa que vinha procurando. Um modo de não ter que comparecer ao maldito evento, um jeito de escapar de tudo. Descemos as escadas, pego minha velha mochila de caça e alguns suprimentos. Observo a rua antes de sair.

Caminhamos um ao lado do outro em silêncio. Peeta em nenhum momento me questiona o nosso destino e eu tampouco o informo. No momento em que ele me fez a proposta, já sabia para onde iríamos. Com certeza, não era sair do Distrito, mas quase isso. Saímos da Aldeia dos Vitoriosos e começo a pensar no melhor modo de chegar à floresta sem me aproximar muito do centro da cidade e sem sermos vistos. Faço o caminho mais longo, porém seguro. Pela primeira vez depois que voltei para o Distrito, vejo minha antiga casa, ou melhor, o que sobrou dela. A Costura ainda possui profundas marcas de destruição, entretanto, aos poucos, é possível observar pessoas trabalhando, reconstruindo suas casas, suas vidas.

Não querendo me prender muito ao passado, apenas lanço um olhar para o lugar onde cresci. Peeta também não faz nenhum comentário. Chegamos à orla da floresta. Olho para trás e não vejo ninguém nos seguindo. Caminhamos até chegarmos em um enorme carvalho e nos embrenhamos na mata pela trilha. Aos meus ouvidos escuto a vida da floresta. Respiro profundamente relaxando meus músculos.

– Não sei por que, mas tinha um pressentimento que nós acabaríamos no meio do mato. – Peeta fala sorrindo.

– Até parece que conseguiríamos roubar um trem só para nós. – Respondo.

– Essa era minha ideia inicial. – Ele fala sério. Eu o olho atentamente, então vejo seu sorriso zombeteiro se formando. - Estou brincando, na verdade queria vir aqui também.

– Sério? – Pergunto, enquanto afasto um arbusto para o lado.

– Sim, por que não? Sempre tive curiosidade em conhecer sua floresta, o lugar aonde você se refugiava dos temores e podia ser você mesma. – Peeta responde com sinceridade. – Eu me lembro dessa pedra! Quer dizer, tenho uma vaga lembrança de tê-la visto na tv.

– É... Acho que viu sim. Quando você foi telesequestrado e voltou para o Distrito 13, bem... Você não era mais o meu... – Limpo a garganta rapidamente e troco as palavras. – Não era mais o mesmo. Então, como não queria ficar perto de você, os rebeldes logo pensaram em um modo de ocupar nosso tempo com algo produtivo. Fazíamos depoimentos sobre nossas vidas, coisas pessoais, nunca ditas.

– Imagino o quão difícil deve ter sido para você. – Ele comenta baixinho preocupado com meu bem estar e nem um pouco chateado pelo fato de eu não ter ficado ao lado dele, no momento em que mais precisava.

Evito olhá-lo a todo custo, pois sei que da feita que nossos olhos se encontrarem serei incapaz de omitir qualquer coisa, de me controlar e ele me dominará. Passo direto pela pedra e sigo o caminho pela trilha. Faço pequenas paradas, coletando o necessário, já que é impossível encontrar alguma caça, por conta de todo o barulho que Peeta inevitavelmente faz.

– Hãn... Katniss, você está andando em círculos, por quê?

– Não estou andando em círculos.

– Tem certeza? Estou quase certo de que já passamos por essa árvore! Ou você está querendo que eu me familiarize com ela para que possamos escalá-la? – Peeta pergunta. Eu levanto uma sobrancelha.

– Não estamos andando em círculos, essa é apenas uma árvore da mesma espécie e você não quer subir. – Respondo sem dar crédito ao que ele diz.

– Quem disse que eu não quero? – Peeta para de andar e se direciona para a maldita árvore. Eu o encaro ceticamente.

– Sério mesmo, Peeta? – Eu pergunto um pouco preocupada quando percebo que ele está posicionando o primeiro pé.

– Haha... Claro que não Katniss, é impossível eu subir com essa perna. – Peeta responde rindo. Ótimo, Peeta sarcástico.

– Muito engraçado, palhaço. – Digo revirando os olhos. – Você está passando muito tempo com o Haymitch, ele tem piadas tão sem graças quanto as suas.

Peeta ri mais ainda e voltamos para a trilha. Vou um pouco mais à frente, escondendo assim o pequeno sorriso que tento conter. Nunca vi Peeta tão à vontade e brincalhão, talvez esse seja o lado que os jogos me impediram de conhecer, um lado que aos poucos estou descobrindo e estou amando conhecer. Andamos mais um pouco e chegamos ao lago. O brilho do sol resplandece na água cristalina, enquanto a leve brisa nos traz o doce aroma das flores do verão desabrochadas entre as pedras no lado oposto do lago.

Peeta escolhe uma enorme árvore próxima da água e se senta sob a sombra. Ainda bem que ele fez isso, pois não intencionava entrar na pequena casa com esse calor sufocante. Colho algumas amoras e cavo algumas katniss para comermos. Volto ao encontro de Peeta e me sento ao seu lado, oferecendo as frutas. Ele pega uma baga de amora e a gira nos dedos, pensativo.

– Essa é comestível. – Digo para tranquiliza-lo. Peeta me lança um olhar.

– Eu sei que é... Estava apenas lembrando que essas pequenas frutinhas salvaram nossas vidas.

– Não são as mesmas... Já disse, essas são comestíveis! – Falo mais enfaticamente.

– Eu sei que não são as mesmas, eu apenas quis dizer que... – Ele tenta dizer, mas eu o corto.

– Você não acredita que essas não são as amoras cadeado?

– Não é isso, eu sei que...

– Olha, se você está tão desconfiado, eu posso lhe mostrar as duas e comparar. – Respondo apoiando-me para levantar.

Peeta segura meu braço com uma mão, desistindo completamente de falar e joga a baga na boca. Eu rio da cara derrotada dele e então Peeta percebe que eu estava brincando o tempo todo. Consternado, ele acompanha minha gargalhada. O nosso barulho atrai alguns tordos para os galhos das árvores vizinhas. Mas os ignoro, assim eles ficam calados e quietos. Olho de esguelha para Peeta e percebo que não fui a única que observou a presença das aves. Analiso as gotículas de suor escorrendo pelo seu rosto e sua concentração em algo.

– Em que você está pensando? - Pergunto, enquanto escoro minhas costas em uma pedra perto do tronco.

– Estava tentando me lembrar de uma coisa, ou melhor, decidindo se existiu ou não. - Peeta responde e eu recordo da sua entrevista, ele ainda não está totalmente recuperado.

– Hum... Deixe-me tentar ajudá-lo. Talvez eu possa esclarecer, já que a maior parte da sua memória, que foi afetada, está relacionada comigo. – Digo tentando ser indiferente.

– Mas Katniss, não faz muito sentido. Tenho a impressão que essa lembrança não foi manipulada e creio que seria impossível a Capital conseguir fazer isso. Entretanto, ainda assim não consigo... – Ele tenta dizer frustrado, angustiado por não conseguir recordar, por se sentir impotente com a própria mente.

Pego sua mão nas minhas, sentindo o calor emanando delas. Peeta está nessa situação por minha culpa, dei todas as armas para que Snow conseguisse deturpá-lo, usá-lo para me destruir. Seu objetivo falhou, mas o processo deixou uma das mais profundas marcas que uma pessoa pode sentir, a decepção de um coração partido. Peeta jamais duvidou do meu caráter, da minha pessoa e ele nunca questionou seu amor por mim. No momento em que o veneno circulou por suas veias, tudo mudou. Jamais achei que seria possível acontecer o que houve, mas aconteceu. Peeta me odiou e eu o odiei mais ainda por isso, o odiei por apontar todas as minhas piores imperfeições, por não me amar mais, por não ser mais meu menino do pão. Mas sufoquei todas as emoções. Concentrei-me na vingança. E aqui estamos nós colhendo os frutos, vivendo as consequências. Entretanto apesar dos pesares, a despeito disso tudo, eu agradeço por ainda tê-lo vivo, por ainda poder segurar sua mão, por ser Peeta.

– Era manhã de sol, estávamos na aula de música e a professora perguntou se alguém sabia alguma canção do vale, - Ele fala baixinho, seus olhos perfurando os meus. – sua mão subiu no ar instantaneamente. Você foi para o banquinho e cantou para nós. Todos ficaram em silêncio, segurando a respiração e posso jurar que os pássaros pararam para lhe escutar. Verdadeiro ou falso?

Ele volta ao antigo método de perguntas e respostas. Encaro Peeta por um tempo, sem acreditar que ele realmente pudesse se lembrar de algo tão antigo e irrelevante. Será que isso significa que ele poderá sentir o que sentia por mim? Que um dia ele poderá ser meu de novo? Inflo com a expectativa, a esperança de tê-lo, de ter de volta meu menino do pão, meu Peeta. Ele aperta um pouco mais minhas mãos, impaciente com a demora da resposta e um pouco desesperado pelo saber.

– Verdadeiro ou falso Katniss?! – Peeta pergunta com urgência, assustando-me.

– Verdadeiro, éramos muito novos. E cantei uma música que papai havia me ensinado. Você me lembrou dessa lembrança quando estávamos no primeiro Jogos Vorazes. – Finalmente digo, mas omito a parte que ele havia dito sobre ter se apaixonado por mim desde então.

– Quando você cantou os últimos versos, assim como sua mãe em relação ao seu pai, eu soube que estava perdido. – Peeta diz baixinho e cai uma lágrima dos seus olhos. Levanto uma mão e com a ponta dos meus dedos a enxugo, delicadamente.

Sinto a gota nos meus dedos, a significância da sua queda. Não o olho, mas sei que ele está prestando atenção em mim, decifrando meus gestos, lendo minhas expressões. Ainda não sei o que pensar sobre isso. Estou perdida sem saber se é seguro. Perdida sem definir o que estou sentindo. Não consigo encontrar as palavras, mesmo porque nunca fui boa com elas, todavia não consigo me mover, agir, ter a atitude que tanto trabalhei para conseguir. Peeta pega meus dedos e os entrelaça nos seus. Eu o olho e vejo seus olhos azuis levemente vermelhos. Seus cabelos um pouco grudados na testa. Vasculho seu rosto, memorizando cada detalhe. Giro meu polegar na sua mão repetidas vezes, ansiosa, impaciente. O calor sufoca meus pensamentos, acalenta meu peito.

Peeta se levanta e me puxa também. Sem dizer nada, ele tira os tênis, caminha um pouco para frente e retira a camisa, mete a mão nos bolsos pegando vários objetos de dentro e os enrola na blusa. Impressiono-me com a atitude e me pego encarando seu corpo, me perguntando os motivos por trás do gesto.

– Você me acompanharia? – Peeta pergunta e eu me forço a olhá-lo.

Tudo é muito estúpido. Eu já vi Peeta sem roupa antes, por que é tão difícil vê-lo sem camisa agora? Encará-lo decentemente? Então, sem confiar na minha voz, apenas dou de ombros, assentindo. Peeta anda para o lago, enquanto de costas para ele, eu começo a retirar meus sapatos, jeans e camisa. Agradeço-me eternamente por andar sempre jogada e confortável, usando top e calcinha short, ao invés da lingerie. Quando me direciono para o lago, percebo que Peeta não está prestando atenção em mim e, sim, concentrado em algo do outro lado da margem, oposto da minha direção. Engulo a decepção que se formou no meu peito e entro no lago.

O contato da minha pele com a água lança arrepios pelo meu corpo, mas é uma sensação muito boa, já que o calor está infernal. Peeta mergulha e por baixo da água vem até ao meu encontro. Ao emergir ele não para e se joga, nós dois caímos. Levanto-me enxugando os olhos, os pingos d’água refrescando minha carne. Escuto um riso gutural vindo de Peeta, que avança novamente para me derrubar, mas dessa vez sou mais rápida, quando ele se lança sobre mim, eu pulo para o lado, evitando ser derrubada. Ele se levanta, faz uma cara de desgosto. Dou língua implicando. Dessa vez, ele não pula, mas corre. Rindo desesperadamente da brincadeira, vou cada vez mais para o fundo, impedindo que ele me pegue.

Chego a um nível em que não consigo mais dar pé e começo a nadar, em poucas braçadas atinjo a outra margem, é quando percebo que Peeta não está mais me perseguindo. Apoio-me em uma pedra e olho para trás. Ele parou na metade do caminho com a água chegando ao meio do peito. Então, lembro-me que Peeta não sabe nadar. Observo-o procurar um caminho, um jeito de chegar até mim, agitando os braços de modo desengonçado e engraçado que acaba arrancando de mim algumas risadas. Vendo-me tirar sarro da cara dele, Peeta fecha o cenho e avança na minha direção, entretanto isso não vai dar certo, é muito fundo... Analiso a situação por uns instantes, mas logo mudo de ideia, ele não vai conseguir e se afogará.

Rapidamente, nado de volta para o raso. Levanto a cabeça e vejo que ele parou de tentar se afogar. Quando vou me aproximando, Peeta estende a mão para me pegar e me puxa, no entanto, ainda assim não consigo ficar em pé. Então, apoio-me nele. Desgraçado, foi mais esperto do que eu esperava. Contenho um sorriso. Meus braços seguram-se nos seus ombros, enquanto eu bato os pés levemente.

– Agora sim. Melhor do que eu poderia imaginar. – Peeta fala. Eu resmungo.

– E o que você imaginava? – Pergunto ainda contrariada por ter facilitado.

– Achei que fosse preciso me digladiar com você para mantê-la quieta nos meus braços. Mas basta eu ficar no fundo que você vem até mim! – Ele diz com uma surpresa sarcástica e levanta as sobrancelhas.

– Idiota, eu não queria que você se afogasse. – Comento com uma carranca, pois eu realmente fui até ele. Teria sido melhor se nós tivéssemos lutado, pelo menos não teria sido fácil. Peeta ri.

– Eu não iria me afogar, pois você me socorreria.

– Sei não, acho que depois dessa deixaria você engolir alguns litros d’água. – Retruco.

– Hum... Duvido. Você não seria capaz. – Peeta afirma com um leve sorriso, como se conseguisse ler meus pensamentos. Cravo meus olhos no azul infinito que são os dele e me perco.

– É... Talvez não. – Balbucio.

Peeta esboça um leve sorriso de canto, coloca suas mãos gentilmente na minha cintura e começa a nos girar suavemente na água. Apoio-me melhor nos seus ombros, envolvendo-os completamente com meus braços. Desvio meu olhar dos seus olhos e miro nos seus lábios, umedeço os meus próprios, sentindo algo que há tempos não sentia. Fome. Volto a encará-lo e percebo que Peeta lentamente desvia o olhar da minha boca e os fixa nos meus olhos. Ambos queremos as mesmas coisas, temos as mesmas vontades, no entanto não temos a coragem de dar o primeiro passo. O receio nos invadindo. Ele para de nos girar. Concentrados na respiração um do outro, no piscar dos olhos. E então nós dois avançamos, tomados pela audácia repentina. Totalmente dominados pelo desejo.

Um beijo urgente. Consumido pelo calor do momento. Peeta firma seus braços ao meu redor, no momento em que eu me elevo um pouco sobre a sua cabeça. Ele levanta o rosto para poder continuar me beijando, enquanto eu apoio meus cotovelos nos seus ombros. Sinto meus lábios explorarem os seus, minha boca experimentando o sabor da sua língua. Peeta lentamente me desce, à medida que puxo seu lábio entre meus dentes. Ouço seu resmungo soar do fundo da sua garganta. Então, eu solto e abro os olhos. Mas ele continua com os olhos fechados e inclina-se procurando minha boca. Beijo-o com olhos derretidos de prazer, fechando-os aos poucos, domada pelas sensações.

Peeta me aperta mais contra si. Sinto sua mão deslizar por minhas costas, subindo pelos meus ombros e descendo até minha cintura. Seus lábios cravados nos meus. Então, Peeta começa a andar mais para o raso. Logo, meus pés tocam a areia. Mais baixa agora, inclino minha cabeça para continuar beijando-o. Peeta tira a boca da minha e começa a explorar meu pescoço. Sua respiração pesada acompanhada do leve toque dos seus lábios me fazem cócegas e instintivamente me afasto com um sorriso bobo no rosto. Mas ele me prende ainda mais forte contra si, empurrando seu rosto de volta. Peeta desliza os lábios novamente, e eu rio frouxamente, tentando afastá-lo. Até consigo me afastar, mas percebo Peeta se aproximar novamente, sorrindo derretidamente para mim. Mordo o lábio. Levanto o braço para manter a distância, mas ele o pega e o me puxa de volta para si.

– Sabia que uma hora ou outra teríamos que nos digladiar. – Ele comenta baixinho com um sorriso enorme estampado no rosto. Impossível não se encantar.

– Mas você usa armas pesadas. – Respondo, enquanto pouso minhas mãos no seu peitoral.

– Humpf... Como se você jogasse limpo.

– Não uso armas! – Contradigo. Meus dedos desvendando institivamente o corpo dele. Seus ombros largos, peitoral definido, braços fortes. Esse é o meu Peeta.

– Não? Basta você dizer o meu nome na tonalidade certa e já era, fico todo bobo, rendido. – Peeta fala com uma desconsolação de dar dó.

– Peeta... – Digo tentando consolá-lo para poder desmentir.

– Viu?! Você acabou de provar meu ponto. – Ele argumenta balançando a cabeça. Sem me soltar, Peeta afasta uma mexa do meu cabelo que caiu no meio do meu rosto. – Rendido.

Esboço um largo sorriso e ele volta a me beijar. Seus lábios tomam o meu inferior, depois o superior. Lentamente, ele vai me possuindo. Traçando pequenos beijos pelo meu rosto, chegando ao meu maxilar e mordendo-o devagar. Novamente, ele tenta ir para meu pescoço, mas dessa vez eu permito. Recebo beijos aqui e mordidinhas ali... O sol pode esquentar o quanto for, mas ele jamais conseguirá me aquecer como Peeta consegue. O calor desprende-se do meu corpo e percorre o dele. Cravo minhas unhas nas suas costas. Solto um audível suspiro. Então, ele sobe a cabeça, roçando os lábios na minha pele, delineando um caminho até meu queixo e para.

Ficamos alguns infinitos instantes observando a respiração um do outro. Nossas bocas próximas, mas intocadas. Na ponta dos pés, consigo me erguer o suficiente para friccionar meu nariz no dele e impaciente pelo tempo sem beijá-lo, começo a riscar o contorno dos seus lábios com a ponta da minha língua e logo invado sua boca com ela. Peeta agarra-me mais firmemente e com toda morosidade, ele a acaricia na sua, sugando-a delicadamente. Aos poucos vou retirando minha língua. Dou alguns pequenos beijos, enquanto movo minhas mãos para os seus cabelos úmidos. Encosto minha testa na sua, tentando me controlar, procurando regularizar o fôlego.

– Katniss... – Ele murmura meu nome de um modo que me desarma, roubando todas as minhas forças, derrubando minhas resistências.

Abro os olhos e o observo. Grudados um no outro, tentando matar a fome insaciável, a necessidade de estar junto. Aos poucos nossa tarde vai sendo consumida pelos nossos beijos, pelo tempo que simplesmente não existiu. Mas temos que voltar para nossa realidade e ele percebe isso também. Peeta tira a testa da minha e me envolve em um abraço aconchegante. Deito minha cabeça em seu ombro, descansando-a. Ficamos assim até o limite permitido, em seguida ele me pega mais embaixo e me levanta nos seus braços para sairmos do lago. Peeta põe-me no chão e corre para pegar suas coisas. Eu demoro mais um pouco espremendo minha trança e me visto.

Caminhamos em silêncio, absortos em pensamentos. Vou à frente, assim não consigo olhar para sua expressão, do mesmo modo não faço a mínima ideia do que ele está sentindo ou confabulando. Já eu... Eu não consigo refrear a frequência de sorrisos bobos que insistem em se formar nos meus lábios. Em pouco tempo, chegamos a enorme pedra que eu subia com Gale e uma ideia me surge. Estamos no final da tarde, logo tenho a impressão de que Peeta gostará de ver o tom laranja que o sol faz no horizonte.

– Vem, quero lhe mostrar uma coisa. – Chamo-o. Fico feliz pela subida não ser tão íngreme, assim Peeta não corre o risco de despencar daqui de cima. – Eu e Gale nos encontrávamos neste local para caçarmos, era aqui que dividíamos nossos rendimentos, que comíamos, conversávamos...

Deixo a frase no ar e o analiso. Peeta não demonstra nada, totalmente indiferente. Ele gira sobre os pés olhando o lugar e sorri.

– Você quis compartilhar esse lugar comigo? – Ele pergunta deixando transparecer uma pontada de incredulidade.

– Ora, por que não? – Questiono dando de ombros.

– Achei que esse fosse um lugar apenas seu e dele. – Peeta responde evitando me olhar. Eu pego a sua mão e nos sentamos com as costas na pedra.

Ele passa o braço ao meu redor, como tantas vezes fez antes, mas nenhuma se compara com este momento. Então, eu me permito relaxar a cabeça no seu ombro. Juntos, admiramos o sol se pôr. Entretanto, sinto que Peeta está um pouco inquieto, se mexendo constantemente. Isso me incomoda profundamente, que chega até a me magoar. Se ele está tão aflito é porque outras coisas o preocupam. Seriam arrependimentos? Os fleches? Ou pior, Delly? Pensei que essa tarde fosse ser perfeita, mas ele está conseguindo estragar. Tiro minha cabeça do seu ombro e quando estou prestes a questioná-lo, Peeta se afasta um pouco de mim.

Meu coração palpita esperando pela inevitável destruição que virá. Sinto minha respiração aumentar gradativamente. Será possível que nossos beijos não tenham significância alguma? Olho um pouco desesperada para o horizonte alaranjado a procura de uma ajuda. Mas só me ocorre decepção, pois estamos perdendo os desfrutes finais do que deveria ter sido uma das melhores tardes da minha vida. Vejo Peeta passar as mãos nos cabelos, agoniado. Toco levemente no seu ombro.

– Katniss, eu preciso lhe contar uma coisa, tenho que ser sincero com você. – Ele fala intensamente com os olhos fixos nos meus.

– O que está havendo? – Pergunto bruta demais, sobressaindo minha defensiva. Peeta inspira profundamente e solta.

– O que eu vou lhe contar é muito difícil, na verdade é uma das coisas mais complicadas que terei que dizer. Eu não gostaria que fosse desse modo, mas não vejo escolha, terei que ser corajoso e enfrentar o que tiver que acontecer. Peço que não me interrompa, pois é bem capaz que eu não consiga continuar. – Peeta desvia o olhar para o horizonte, reunindo forças, se controlando. Vou levar o toco, estou sentindo isso. Minha garganta começa a se fechar. – Katniss, como você sabe, na vida sofremos a influência dos mais variados sentimentos e emoções. Tem dias em que atingimos o fundo do poço, mas em outros é como se estivéssemos morando no paraíso. E todos os dias o sol nasce para nos dizer que é um novo dia, que podemos recomeçar sempre. E assim foi comigo. Vivi momentos acreditando piamente que seriam meus últimos. Mas não foram e aqui estou. Fui mutilado, maltratado, telesequestrado e deturpado. – Peeta diz concentrando todo o poder dos seus olhos nos meus. – Conseguiram me fazer odiá-la e fui programado para matá-la.

Inevitavelmente, quebro nosso contato visual. Olho para baixo tentando conter a enxurrada de lembranças de um Peeta louco, irreal, sem resquícios nenhum do meu menino do pão. Meus olhos arderem, mas volto a encará-lo.

– Eles arrancaram tudo de mim, até minha sanidade, salvo um sentimento. Usaram todos os meios possíveis de tortura para dizimá-lo, mas falharam impiedosamente. – Peeta para de falar por uns instantes e estuda meu rosto. – Eles procuraram aniquilar o meu desejo, no entanto isso é impossível, visto que o desejo é constante e está na transcendência do afeto, diferente da vontade que é passageira e não faz parte de mim. Minha vida inteira, meu amor, minha alma, todo o meu tempo é baseado no meu desejo, jamais na minha vontade. Se eu tivesse que passar por tudo novamente, apenas para voltar a estar ao seu lado, o risco da morte jamais me afetaria. Tudo o que importa, tudo o que mais anseio, minha felicidade é você, meu desejo é Katniss Everdeen, a eterna garota em chamas.

Entorpecida. Sem sentidos. Paralisada. Um torpor completamente distinto. O que sinto é indescritível, como se o sol finalmente tivesse encontrado a lua. Sinto-me como se o calor da luz do dia tocasse minha pele e iluminasse as partes mais sombrias da minha alma. Meu coração pulsa fortemente, bombeando rapidamente o sangue quente pelo meu corpo. Tudo o que Peeta disse soou como a mais bela música cantada pelo pássaro mais bonito da floresta. Ele declarou os mais belos versos que alguém poderia compor. Irradiando-me de vida, aflorando minhas emoções e movendo meus desejos. Peeta mete a mão no bolso e retira um objeto fino. Demoro um pouco para entender o que seria. Então, observo uma pérola pendurada como um pingente em uma delicada corrente de ouro. Lágrimas escapam dos meus olhos e não me incomodo em limpá-las.

Encaro-o rapidamente e percebo seu rosto sério e atento no meu. Volto-me para a pérola que balança brandamente como um pêndulo. O tempo por uma resposta. Uma decisão. Mas isto não será mais o dilema, minha escolha foi tomada.


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Notas finais do capítulo

Calor! Nossa... rsrs. Um capítulo inteiro apenas de Katniss e Peeta, espero que tenham gostado e que não tenha sido muito meloso. Espero que eu tenha conseguido surpreendê-los e quero MUITO ler muito a opinião de vocês.
Sei que eu falei que a postagem seria em 3 dias, mas não consegui. Por isso passei a madrugada inteira escrevendo. xD
Até em breve.
Beijo, Fernanda.