Tales of the Bard escrita por diginyan


Capítulo 2
Heroes of the Lost Valley




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/436291/chapter/2

Sentada em uma das mesas da taberna, a elfa lia despreocupadamente um de seus tomos. Lanceloth, em outra mesa, bebia canecas de hidromel em companhia de seus novos desconhecidos amigos. Terminando de beber o néctar que havia em sua jarra, deixara ali uma quantia em prata suficiente, e recolocara seu livro dentro da algibeira. Levantou-se, percorrendo o caminho sinuoso por entre as mesas, deixando o estabelecimento mal-iluminado, fora seguida pelo humano.

–Onde você está indo? - perguntou o guerreiro, tocando-lhe o ombro.

–Apenas dar uma volta. Sabe, tomar um ar. Nos vemos mais tarde, na estalagem.

A elfa olhou para um dos anões que compunham a mesa onde o humano estava antes, e que os observavam. Olhou para Lanceloth, indicando que não importava-se que o mesmo continuasse ali, e seguiu em frente. A atmosfera noturna era completamente diferente da que presenciava na taberna, e isso lhe fazia muito bem. Observou, ao seu redor, a pequena vila em que estavam. Era um povoado de moradia quase exclusiva de humanos, anões e um ou outro kobold, normalmente comerciantes. Olhou para o lado, e viu seu cavalo e o do humano pastando juntos. Pensou em montar seu garanhão branco, mas hesitou, e ignorou a ideia. Preferiu caminhar, e sentir a brisa noturna contra seu rosto. Notou, no horizonte, uma colina, e resolveu andar até a mesma, para sentar e observar as constelações atravessando o céu noturno. Trazia consigo, além de sua algibeira com um de seus livros, apenas sua flauta. Isso lhe serviria para entoar uma cantiga em honras aos espíritos da noite, e os deuses da natureza.

Subiu, calmamente, e sentou-se sobre a relva levemente úmida. Sua veste comprida impedia que sua pele tivesse contato com a grama, fazendo-a retirar, então, seus sapatos. Sussurrou, no élfico antigo, um convite à natureza, e vagalumes voaram até a colina, girando pelo ar. Retirou sua flauta do cinto, e entoou uma melodia calma, tão tranquila quanto aquela noite. Com os olhos fechados, envolvida por lembranças doces de sua mãe, não notara que havia ali outra presença.

–Danna...

Abriu seus olhos, e viu, pairando no ar, logo à sua frente, a silhueta de uma bela mulher. Não era exatamente uma humana, nem mesmo elfa; possuía detalhes de todas as raças, atribuindo-lhe uma beleza única. Seus longos cabelos cacheados, escarlates como o fogo, encantaram os olhos da elfa - eram típicos dos anões, mas raríssimos em suas mulheres. Possuía longos chifres negros, e orelhas élficas. Suas feições eram humanas, mas seus olhos e tatuagens, típicas dos faens e fadas, deixavam-na ainda mais mística. Trajava um longo vestido branco, que, mais abaixo, confundia-se com o horizonte, não possuindo fim.

–Eu venho procurando por você. - sorriu, e sua face iluminara-se como o mais belo luar. - Não posso dizer-lhe mais, mas você precisa ver por si mesma.

–Sobre o que dizes? E... quem és você? - sabia que, no fundo, a conhecia.

–Sou Danu, jovem druidesa. Eu tenho ouvido suas cantigas; tenho acompanhado seus estudos; mas ainda não me provastes seu verdadeiro valor. Embora já o conheça, será no desespero, e ainda mais no medo, que me mostrarás sua verdadeira face.

A elfa olhou-a nos olhos, compreendendo o que estas palavras queriam dizer-lhe.

–Mas advirto-te: o mal que começas a descobrir é maior do que você ainda possa compreender.

–Posso perguntar-lhe uma coisa? - Indagou, hesitante, a druidesa.

A deidade observou-na, assentindo.

–Por que Lúthiën? Por que escolhestes ela, e meu pai?

–Eles não eram simples criaturas, minha jovem aprendiz. Seus pais foram, há muitos séculos atrás, os primeiros descendentes de meu povo. Aquele shaman, em seu amor e comunhão com a elfa, unificaram os quatro reinos humanos, e juntos foram bondosos soberanos, escolhidos e abençoados pela Pedra dos Reis, uma das grandes Relíquias com as quais agraciamos este mundo. Criaram alianças com todas as outras raças, estendendo seus domínios pacíficos por todo o continente. Entretanto, não eram os únicos com poder para deter um artefato tão poderoso; vindos de terras longínquas, dois detentores das outras relíquias - a lança de Assal, e a espada de Nuada - os retiraram do poder, enviando-os para Avalon. Desfizeram as sólidas alianças construídas, e nós, filhos do grande Dagda, nos dividimos. Alguns de nós acreditaram que era necessário tomar-lhes as relíquias, para que fossem encontradas e empunhadas apenas pelos que fossem dignos de espírito. Outros, que se alguém detinha poder para encontrá-las, já havia então o direito de utilizá-las. Dagda ouviu-me, e as relíquias foram novamente dispersas por este mundo. Não posso dizer-lhe as localizações das mesmas, pois você precisará ter a força, a sabedoria, e o poder para encontrá-las. Quando o fizer, este mundo não precisará mais de sua ajuda, pois o mal que espalha-se será derrotado.

Acompanhando tudo o que a deidade dissera-lhe, Danna pôs-se a pensar.

–Mas o mal sempre levantará... - pensou a elfa, em voz alta.

–E sempre haverá alguém para derrotá-lo. Assim como os espíritos dos elementos sempre irão onde outros, furiosos, espalham a destruição. Lúthiën disse-lhe o que fazer. Encontrarás uma casa amiga ao sul, onde muitos de nosso panteão ainda encontram depositam esperanças.

–Obrigada... mãe.

A visão dissipou-se lentamente, tornando-se apenas um leve brilho a espalhar-se com o vento. Voltou à estalagem, com os pensamentos fixos no que havia ouvido. Assim que adentrou seu quarto, sentou-se próxima a janela, e, iluminada pelo luar, escreveu o que Danu lhe havia dito, para que não se esquecesse. Levantou-se para observar se Lanceloth já havia retornado da taberna. Empurrou, levemente, a porta do quarto ao lado, que mantinha-se entreaberta. Teve nos olhos a visão do humano, deitado de bruços em sua cama.

"Ele esperou-me após aquela tragédia", pensou. "Por que fez isto? O que fez-lhe querer me acompanhar?"

Sorriu, e retornou ao seu quarto. Eram coisas que não compreendia, mas também, talvez não o desejasse. Deitou-se, e logo que fechou seus olhos, adormeceu, pensando em seu futuro distante.

–x-

A druida levantou-se cedo, com os raios solares a atravessar a janela de seu quarto. Observou a movimentação dos cidadãos pela vila, relembrando de sua rotina há algumas semanas atrás, em Salassi. Afastando as lembranças, embora boas, recolocou sua algibeira ao redor de seu torso, e reuniu suas coisas, passando ao quarto seguinte para acordar o humano.

A elfa seguiu em frente, esperando-o junto de suas montarias. Observou-o atravessando as estradas pouco movimentadas, trajando sua cota de malha, e com diversas bolsas em seu corpo, carregando diferentes objetos. O humano depositou-as no torso de seu cavalo negro, mas hesitou antes de montá-lo.

–Então, vamos partir, Lanceloth? - perguntou, divertida, a elfa. Agora que tinha em mente um objetivo, não se preocupava tanto com a jornada.

–Bem, não tenho nenhuma outra obrigação por aqui. Minha espada já foi afiada, e não existe nenhuma outra melhoria a fazer em minha armadura. E você?

A druidesa subiu no dorso de seu cavalo, exclamando estar pronta. Trotou para fora da aldeia, seguindo a estrada principal, sabendo o caminho a seguir. O guerreiro não se importava em ser guiado por uma elfa, ainda mais quando a mesma já acumulava um grande conhecimento de mapas, e sabia-os interpretar como ninguém. Também não se importava em ajudar-na nos objetivos - sejam lá quais fossem - que a mesma tivesse em mente. Desde que pudesse aventurar-se um pouco por terras desconhecidas, e Danna o acompanhasse com seu sorriso encantador, isso lhe bastava.

A elfa contava ao guerreiro sobre o que pretendia fazer a seguir, e para onde desejava seguir, quando fora interrompida por um urro uníssono. Pararam seus cavalos abruptamente, preparando-se para entrar em combate a qualquer momento. Saindo das sombras da mata, três ogros empunhavam monstruosas maças em seus punhos, erguidas acima de suas cabeças duplas. Lanceloth saltara do cavalo, investindo contra os três, enquanto Danna começava a invocar o fogo das estrelas para queimar os atacantes. O guerreiro atraía a atenção dos três bárbaros, para que estes não interrompessem a druidesa. Ela, por sua vez, concentrava-se em invocar os espíritos da floresta para combaterem por si. Ouvia o tilintar da espada de Lanceloth a evitar os golpes dos ogros, que possuíam quase o dobro de seu tamanho. Começavam a entrar em fúria, e a ferir ainda mais o humano, quando ouviu-se um uivo provindo da floresta. Um lobo espectral surpreendeu os bárbaros, atacando-os ferozmente enquanto o guerreiro investia ainda mais contra os três. A druidesa encarregou-se em curar suas feridas à distância, com o poder da flora, enquanto Lanceloth desferia os golpes fatais. Por fim, o lobo espectral, invocado por Danna, cruzara os céus em seu rastro translúcido, e retornara para o globo violáceo de seu cajado. O humano observara-o atravessar a atmosfera, e demonstrara sua surpresa enquanto limpava os respingos de sangue em seu rosto.

–Wow. Não sabia que você podia fazer isso.

–Bem, quando se está em sintonia com a natureza, nada é impossível.

O guerreiro sorriu, e juntou-se à elfa que já ajoelhava-se para saquear os corpos. Encontraram uma boa quantidade de outro, e um escudo para o guerreiro. Era feito de madeira, e revestido em metal. O humano apenas proferiu um "É, vai prestar". Já preparava-se para partir, quando a barda notou a tatuagem na nuca de um dos brutamontes, que jazia de bruços.

–O símbolo... - murmurou, enquanto tentava, com toda a sua força, colocar os outros também de bruços. -Eu não acredito!

Por um momento, ficou sem saber o que pensar. Aquelas criaturas tolas estavam envolvidas com o grande mal que Lúthiën havia lhe dito? Antes de partir, notou uma pequena bolsa no cinto de um deles. Abriu-na e retirou um pequeno rolo de papel, cuidadosamente dobrado, selado com o símbolo já bastante conhecido.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tales of the Bard" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.