Adeus.

Sim, minha história começa com essa palavra forte, mas ao mesmo tempo amedrontadora.
Ela se parece comigo, a palavra, sabe... Mas já se foi à época em que eu me fazia de forte na presença de outros e no escuro da noite chorava de medo.

Sim, medo.
Ele foi a minha única companhia durante esses anos que se passaram. Desde minha entrada em Hogwarts até a queda do Lorde das Trevas. Longos anos com aquele ardor no meu braço, me escondendo, lutando contra o meu verdadeiro lado, e o pior de tudo, vendo a minha menina dos cabelos cor de mel chorando pelo idiota cabeça de cenoura...

Ah... Ela é tudo para mim. Pena que agora está se casando com outro. Sim, o mesmo outro que a fez chorar enquanto namorava a Lilá, o que a chamava de sabe-tudo, o que sempre a acompanhou nas lutas e aventuras que faziam pelo castelo...

Ah, como eu queria ser ele. Eu teria cuidado de minha pequena, teria a feito sorrir a todo instante, nunca teria feito-a derramar uma lágrima sequer, eu estaria lá... Para sempre.

Mas agora é tarde demais, ela ainda me odeia como sempre me odiou. Eu a insultei tanto, eu a fiz pensar que era um nada. Sim, eu a fiz chorar, e agora quem chora sou eu.

Ela deve estar feliz hoje, radiante como sempre, afinal, em poucas horas ela vai entrar na igreja, toda vestida de branco. Eu a imagino... Deve estar maravilhosa! Uma verdadeira princesa prestes a se tornar rainha.

Ah, aquela irritante sabe-tudo... Ela tem meu coração e isso é impossível negar. Mas porque ela gostaria de alguém como eu para ficar ao seu lado por toda a eternidade? Pois é, ela não gostaria.

Eu a machuquei com um corte tão profundo que não se pode cicatrizar... Mas não sou um monstro completo, sou? Afinal, quando ela me encontrou no banheiro chorando, desolado, mostrando a ela meu lado interior, ela cuidou de mim.

Sim, cuidou. E ali mesmo nós fizemos um pacto. Enquanto ainda nos importássemos um com o outro uma pulseira dourada estaria em nossos pulsos. Enquanto eu ainda resistisse ao Lorde e enquanto ela me apoiasse, mesmo distante, aquela pulseira continuaria lá. Intacta. E a cada vez que pensássemos um no outro ela brilharia, como um diamante nunca seria capaz de brilhar. Era um brilho tão lindo...
Mas se os nossos sentimentos mudassem, a pulseira trocaria de cor...

Ah, minha pulseira já adquiriu tantas cores, mas nunca vou me esquecer de quando eu e a minha castanha nos beijamos... Aquela pulseira tomou uma cor, para mim desconhecida, era tão mágica... Uma mistura linda da cor de seus olhos com a cor dos meus. Era o caramelo lutando contra a tempestade, tentando sobressair enquanto um turbilhão de outras cores se mesclavam a aquela linda mistura.

Mas agora aqui estou eu

Sozinho;

Bebendo;

Fumando;

Chorando;

Morrendo aos poucos;

Olhando esta pulseira de ouro que reluz fracamente;

E escrevendo minha carta de despedida.

Sim, adeus.

Essa dor dentro de mim já deveria ter parado há muito tempo...