O Anjo escrita por Messer


Capítulo 8
Queens


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Os dias se passavam lentamente para John. Ele ainda tentava assimilar tudo aquilo, mas não parecia possível. Mesmo ainda sendo bom com as armas e a luta contra demônios, algo parecia lhe faltar. Uma enorme sensação de vazio tomava conta dele ao longo dos dias. Quase tudo o que fazia já era automático – exceto talvez escutar as histórias que os outros tinham a contar. Tentar relembrar seu passado, entender mais sobre o porquê era um Nelphilim e quem ele mesmo era.

Já conseguia lembrar os nomes das pessoas, mas sua mente ainda não havia liberado as antigas memórias. Tudo isso era frustrante.

Nesse momento, quando a neve parecia por fim deixar Nova Iorque, ele estava deitado na sua cama, encarando o teto branco. Seus braços doíam um pouco do treinamento que acabara de passar, ao qual ainda não havia se acostumado por inteiro. Logo ele teria que descer para jantar, pois já era quase noite, e sair caçar demônios. Não era uma vida ruim, mas ele desejou mais que o normal poder ter uma vida comum, como a das pessoas que passavam por lá e cá, sem vê-los, sem se preocupar com coisas sedentas de sangue atrás de si.

John deu um pulo e saiu do devaneio quando escutou uma batida na porta.

– Entre – disse se levantando.

A maçaneta virou devagar e Mary colocou a cabeça para dentro do quarto dele, com os cabelos soltos escorrendo em cascatas pelos ombros.

John ainda não havia se acostumado com a ideia de que ela era sua namorada. Depois que voltara para o Instituto, os dois mal se falavam. Quem havia contado a ele isso fora Percy, com o maior cuidado que conseguira reunir. Mary era legal com ele, ele a achava alguém com quem gostaria de gastar tempo, mas ainda assim, John não conseguia por essa ideia de “namoro” na cabeça.

– O jantar está pronto – ela disse, encarando-o com olhos cinza.

Ele assentiu com a cabeça e ela se retirou, fechando a porta sem fazer nenhum barulho.

John tentou se arrumar para desviar os pensamentos de tudo aquilo. Claro, voltaria depois para colocar a armadura e arrumar o cinto de armas, mas não iria descer para jantar com instrumentos para matar. Aliás, ainda era cedo. Dava tempo para voltar.

Ele abriu a porta e olhou os dois lados do corredor. Não havia ninguém lá. O Sol penetrava os vitrais, e iluminava de um jeito surreal o ambiente. John andou em direção ao elevador, os sapatos fazendo barulho no lugar silencioso.

Não demorou muito para ele chegar até a cozinha. As vozes estavam altas, com risos no meio. Era muito bom que, mesmo com tanto sacrifício na vida deles, as coisas continuavam “normais”. Ele girou a maçaneta e entrou no recinto.

– John! – Annie gritou, correndo em sua direção. Ela passou os braços em torno de seu corpo e o abraçou, soltando-o depois e segurando o garoto pelos ombros e falando novamente, com a voz alta e fina: - Achei que tinha se perdido, seu bobão! Preparado pra caçada de hoje a noite? Tem uns licantropes quebrando as regras. Eles vão ver que não se mexe com a nossa lei!

John deu um sorriso fraco enquanto ela se virava e continuava a falar que queria ”dar uma lição nos licantropes”. Ele achou aquilo estranho, esse fato de tanta violência com aquelas pessoas. Não era culpa de elas serem diferentes. Mas não se pronunciou. Ele somente se dirigiu até a mesa, sentou em uma cadeira e comeu, sem pensar muito. A comida não tinha mais gosto de papelão, mas ele não apreciava muito o sabor apimentado de tal.

– Quer ajuda com as Marcas? – Percy perguntou, sentando em uma cadeira ao seu lado. Ele estava vestido todo de preto, com uma estela na mão.

John pensou um pouco antes de falar.

– Bloqueio, agilidade e precisão.

O seu ex-Parabatai logo começou a desenhar o que fora pedido em sua pele. Ele nem notou a dor que a estela proporcionava a queimar sua pele, o Nelphilim estava muito mais ocupado prestando atenção nas conversas alheias, tentando reunir o máximo de informações. Era realmente muito chato perder a memória.

– Ei – Percy disse, terminando a segunda Marca no antebraço de John -, eu sei que a barra está ruim pra você, mas as coisas vão ficar bem. Os Irmãos do Silêncio já fizeram o ritual de bloqueio...

– Mas não souberam nada de minha memória – John o cortou. – Como eles disseram, minha mente está vazia. Somente com as memórias mais recentes – ele suspirou. – Acho que vou ter que começar tudo de novo.

Percy parou e o encarou por um momento antes de desenhar a terceira Marca em silêncio.


John estava terminando de apertar o cinto de armas em seu quarto. Já havia vestido sua roupa de luta – calças, blusas e luvas feitas de couro, firmes e boas em proteger, mas também fáceis de usar. Ele pegou o chicote que estava em cima da cama e saiu do lugar, quase batendo de encontro com Mary.

Ela estava com o mesmo uniforme dele, mas suas luvas eram maiores, indo até a altura dos cotovelos, repletas de finas e mortais adagas. No seu cinto, carregava duas enormes lâminas serafim e facas. Ela pareceu desconfortável ao encontrar com John lá. Ambos nunca se viram sozinhos desde que chegaram ao Instituto – ela parecia adivinhar aonde ele iria, para então não vê-lo. Isso o incomodava. Ambos pareciam muito distantes apesar da aproximação que tiveram no passado.

– Boa noite – ela disse, com a voz meio rouca.

– Boa noite – ele respondeu, encarando os olhos cinzentos dela.

Mary o olhou de um jeito indecifrável e então começou a caminhar pelo corredor, dando os mais longos passos que suas pequenas pernas permitiam. John poderia acompanhá-la sem problemas.

– Uma bela noite para caçar, não? – o garoto disse, passando a mão pelos cabelos castanhos.

Ela o olhou. Seus olhos carregavam melancolia, e John percebeu o quanto realmente gostava dele. Ele colocou as mãos nos bolsos do casaco negro.

– Sim. – Ela se limitou a dizer, voltando à atenção para o corredor que se estendia à sua frente.

Não demorou muito para chegarem ao elevador. Desceram em silêncio, escutando as velhas engrenagens girarem e estalarem.

Logo desembarcaram no piso de entrada do Instituto, o qual estava bem iluminado pelos candelabros acesos e os enormes lustres que dependuravam do teto. Perto da porta fechada, estava Marcus, Gabriel, Annie, Percy e Sara. Eles conversavam baixo, checando as armas. Marcus, com cabelos cacheados e pele escura os viu primeiro.

– Finalmente – ele disse, com o sotaque do sul. – Kate vai ficar aqui, pra cuidar do Instituto, logo que ela é maior de idade. Estão prontos?

John e Mary assentiram silenciosamente, com as cabeças. Logo estavam nas ruas pós-inverno de Nova Iorque, indo em direção ao metrô. De lá, pegaram um trem para o Queens, onde os licantropos contra a lei se reuniam. Andaram somente duas quadras escondidos nas sombras para então chegar ao local marcado.

– Ok – Percy disse com a voz bem baixa. – Nós temos que entrar lá para confirmar. Mary, você vai primeiro, depois dê um sinal para que possamos ir também.

– Ela vai sozinha? – Marcus questionou. – Assim, uh... Tudo bem que você é bem treinada e tals – ele disse quando a garota o encarou -, mas acho que nem eu e Percy conseguiríamos sozinhos. Acho que é bom alguém ir com você.

Mary pareceu estudar isso por um momento e abriu a boca para falar algo, mas foi interrompida.

– Eu vou junto – John se pronunciou.

Percy e Annie o olharam com cautela, mas ele não estava nem aí. Nada podia dar tão errado assim, podia?

– Está bem – Mary murmurou. Ela fez um sinal para John e foi em direção até a grade. Era uma casa abandonada, com hera e mato tomando conta do lugar, janelas quebradas com pedaços de madeira na frente para esconder o interior.

A garota segurou o alto das barras e se impulsionou para cima, contornando a cerca com graciosidade e sem fazer barulho. John optou pelo muro – não tinha certeza se o lugar por onde Mary foi agüentaria seu peso. Quando ele caiu do outro lado, a garota já estava bem na frente, indo em direção à parte de trás da casa.

John correu em silêncio para chegar perto dela.

– Ei – ele disse em um tom um pouco brusco. – Será se você pode me esperar?

Ela franziu a testa.

– Se não aguenta por que veio? – Disse em um tom desdenhoso.

O garoto se irritou. Já estavam quase na metade da mansão, que era rodeada de árvores e outras coisas abandonadas. Ele a segurou pelos ombros rapidamente e a pressionou contra a parede. Mary não reagiu, estava muito surpresa com a ação para poder fazer algo.

– Realmente precisa me tratar desse jeito? – Ele sussurrou com raiva.

Mary o encarou, o rosto semi-iluminado pela luz dos postes ali perto.

– O quê?

– Esse jeito que você me trata. Percy me disse algumas coisas sobre nós – ela pareceu empalidecer quando ele disse isso. - Desculpe por não se lembrar disso ou coisa parecida, mas não fui eu que quis perder a memória!

Mary franziu a testa e respirou fundo.

– Desculpe por te salvar, por salvar seus amigos e a droga do mundo, para depois descobrir que meu namorado não me conhece mais, mal fala comigo e age grosseiramente! Tudo bem que foi o Percy não eu que disse, mas será se você podia pelo menos ter tentado descobrir o porquê que nós éramos um casal? Ou sei lá, para de ser tão brusco?

– Eu não estou sendo brusco!

– Está sim! – Ela disse franzindo a testa em sinal de desagrado.

John suspirou e a soltou.

– Bom, antes disso eu não estava sendo brusco.

Mary olhou para o lado, mordendo o lábio inferior. Ela respirou fundo antes de responder.

– Desculpa – ela declarou. – Todo mundo sempre se vai. Eu... Eu me irritei sem motivo.

O garoto não soube o que dizer. Todo mundo sempre se vai... Ele nunca havia parado para pensar sobre o lado dela. Annie havia dito para ele sobre Mary ter nascido no século XVIII e depois ter se tornado imortal, razão pela qual ela aparentava 16 anos, não uma múmia. Porém, por causa do destino traiçoeiro, ela perdeu a imortalidade.

– Tudo bem – ele disse com a voz fraca.

A garota voltou a andar em direção aos fundos da casa sem dizer nada. Quando estavam quase no final, fez um gesto para que John parasse e se encostasse à parede ao seu lado. Devagar e com cuidado, ela espiou pela janela.

– Eles estão ali. Há mudanos feridos no local, também.

– Como daremos o sinal? – John sussurrou.

Mary esticou a mão em direção da entrada do casarão, e depois de um silêncio sem acontecer nada, buracos começaram a se abrir no muro. Os tijolos saíram, revelando uma entrada por onde o resto do grupo passou, andando rapidamente na direção deles.

Então, John escutou uma voz de dentro da casa que lhe fez congelar.

– Nelphilins!


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Notas finais do capítulo

Enfim, gostaram? Como acham que eles se sairão dessa?



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