Rick e Lori ficaram me encarando como se eu tivesse dito algo inacreditável.

– Você... você é filha do Shane? Lori perguntou incrédula.

Antes que eu pudesse responder, Rick falou.

– É por isso que tinha a impressão de que te conhecia de algum lugar.

Lori desviou o olhar de mim para olhar para Rick.

– Você já sabia? Como... Por que não me contou Rick? Lori Exclamou.

– Eu não disse que sabia... Ele continuou... - Disse que me lembrava dela de algum lugar, só não sabia de onde.

– Então... É isso... Você era o melhor amigo do meu pai né... Lembro de ter te visto em algumas festas de aniversario minha quando meu pai me visitava. Eu disse olhando para baixo.

– Eu nem tenho palavras Charlie... Realmente, Rick parecia estar abismado com isso e Lori, estava horrorizada.

– Não precisa me dizer nada... Só quero saber o que aconteceu com meu pai. Eu sussurrei ainda olhando para baixo.

Em todo esse tempo, eu sempre fiquei imaginado se algum dia encontraria meu pai. Sempre o achei invencível pelo fato de ser policial. Pode parecer que não, mas eu adorava passar um tempo com meu pai, não importava se fosse só um dia, pelo menos estávamos juntos como pai e filha. Quando ele ia embora, eu implorava para que ele ficasse mais um pouco, mas quando eu cresci, desisti de pedir pois sabia que a resposta seria não.
Pensei varias vezes se ele estaria morto, mas nunca insisti tanto nessa possibilidade.

– E então? Eu perguntei novamente, dessa vez olhando diretamente para Rick.

– Ele... Ele tentou... Rick não conseguia completar as frases. Era como se aquilo fosse algo que ele queria esquecer.

– Ele se sacrificou por nos Querida. Lori falou desviando o olhar de Rick.

– É... Rick confirmou.

Nesse momento achei que fosse chorar, mas não. Tive a sensação de alivio... Alivio por saber o que tinha acontecido com meu pai... Alivio por não ter que mais passar noites sem dormir pensando onde ele estaria agora. Mas eu também estava me sentindo triste por saber que nunca poderia ver meu pai novamente e dizer-lhe que o amo.

– Charlie... Se soubesse que estava viva, seu pai com certeza teria ido te procurar, eu teria ido... Rick continuou. - Mas Atlanta virou um caos, foi dominada pelos mortos em pouco tempo... Eu sei por que estive lá pouco depois disso tudo começar.

– Tudo bem, eu sei que meu pai não se importava muito comigo mesmo. Eu exclamei, despertando um olhar de tristeza em Rick.

– Charlie... Shane... Seu pai não teve escolha... Ele me ajudou, ele nos salvou. Sem ele, não estaria aqui agora.

– Que legal, meu pai teve tempo de salvar vocês mas não teve tempo de se preocupar com a própria filha. Eu retruquei.

– Charlie, tenho certeza de que não foi isso que aconteceu. Rick comentou.

– Aé, como você sabe? Por acaso você estava lá quando tudo começou? Por acaso você viu o que eu vi... Minha tia sendo morta... Pessoas comendo pessoas? Você viu? Eu grite

– Não... Eu estava em coma quando tudo começou. Rick disse colocando as mãos do lado do corpo e desviando o olhar para uma pequena janela que havia no porão. Dela era possível ver alguns Walkers passando, arrastando lentamente seu pés apodrecidos.

– Em coma? Como assim? Perguntei curiosa, afastando minha raiva repentina de meu pai.

– Eu levei um tiro numa emboscada policial. Quando acordei uns três meses depois, estava sozinho. A primeira vez que vi um Walker era metade de uma mulher. Também não fui fácil para eu me adaptar nesse novo mundo, mas eu só conseguia pensar em achar minha família... Rick Falou isso olhando para lori e depois olhando para mim. - Por isso fui até Atlanta achando que ia encontrar um centro de refugiados, mas o que encontrei de verdade era uma cidade dominada pelos mortos.

Centro de Refugiados em Atlanta... Eu me lembrava muito bem de ter ouvido sobre isso no radio.

– Quer dizer que esse Centro era uma mentira?

– Não sei, pode ser que no começo tenha funcionado, mas depois desandou. Ele completou.

– Mesmo assim, meu pai podia ter ligado, podia ter tentado me achar, o que eu duvido que ele tenha feito não é Lori? Perguntei seca.

– Vai ver ele pensou que estivesse segura com sua Tia Charlie, não há como saber. Rick comentou, entrando na frente de Lori.

Eu tinha pegado pesado mesmo, por isso não respondi nada. Só fixei meu olhar no chão de madeira.
– Peraí... Minha Tia... Quer dizer que você sabe mais do que diz sobre mim... Eu o intimidei, se isso era possível de se fazer com o Rick.
– Seu pai era meu melhor amigo... Éramos como irmãos... Por isso não havia segredo entre nos... Um ouvia os problemas do outro e tentava ajudar... Era isso que eu fazia, tentava ajudar seu pai... Rick disse.
Eu o encarei por uns segundos.
– Mas isso não importa mais... Ele esta morto não esta? Falei dando de ombros.
– Charlie... Rick continuou... - Seu pai... Era um bom homem.
Rick falou essa ultima frase com certa dificuldade.
– Aé, que bom... Mas para mim, ele nunca foi bom. Nem parecia que eu era filha dele... Devia ter me abandonado quando eu era pequena, como fez a minha mãe... Iria poupar todas as reuniões de pais que ele poderia e deveria ter ido, Todos os dias dos pais que eu não tinha para quem entregar presentes...

Rick e Lori não falaram nada... Mas o que havia para se falar? Rick mais do que ninguém sabia que eu estava falando a verdade. Mas, prestando atenção em seu olhar, percebi que havia algo mais a ser revelado.

– O que foi? Por que me olham assim, como se eu não soubesse de nada? Perguntei olhando diretamente para Rick, afinal ele era o mais qualificado para responder.
– Charlie... Sua mãe... Ela... Rick novamente não conseguia completar a frase.

– Ela o que? Fala-me. Gritei.

Durante toda minha vida, tudo que eu mais queria era ter uma família,um pai presente,uma mãe que me amasse. E agora, eu não tinha nada disso, na verdade, nunca tive nada disso.

– Ela não te abandonou... Rick disse.

– Não me abandonou? Então onde ela esta agora? Vai me dizer que Ela também estava com vocês, junto com meu pai e que morreu ``protegendo vocês ´´ ? Falei com ironia.
– Do jeito que você fala parece que temos culpa por tudo que te aconteceu Charlie. Lori exclamou.
– Será que não tem mesmo? Eu perguntei em tom desafiador.
– Charlie... Rick foi interrompido por um barulho de tiro.

– O que foi isso? Lori perguntou assustada colocando a mão na barriga.

– Eu não sei... Rick sussurrou e foi em direção as escadas, Lori foi logo atrás e eu... Fiquei lá, parada.

Como eu pude ter sido tão ingênua pensando que encontraria meu pai vivo, afinal se passaram quase um ano desde que tudo começou. Mas acho que, o que me mantinha acreditando nisso era o fato de que ele era importante para mim, apesar de tudo que eu já sofri pela sua ausência.

POV Rick.

– O que aconteceu? Eu perguntei chegando rapidamente na sala.

– Não importa agora... O que importa e que temos que sair daqui agora... Daryl comentou, apontando sua besta para a janela.

Ao me aproximar, notei que mais Errantes estavam chegando, o que dificultaria nossa saída mais tarde.

– Ótimo... Arrumei suas coisas, temos que sair agora. Eu ordenei.

Enquanto todos se preparavam, fui até Carl.

– Carl... Quero que vá até o porão e Chame Charlie... Temos que sair daqui gora e não quero deixar ninguém para trás, tudo bem?

– Tá, pode deixar. Carl respondeu e foi até a cozinha.

Em pouco tempo, estávamos prontos. Eu e Daryl fomos abrir passagem para o pessoal até os carros, que estavam escondidos embaixo de folhagens a poucos metros da casa. Achamos melhor não os colocar ao redor da casa para não chamar atenção indesejada ( sim, eu estou falando de humanos).

Quando voltamos, percebi que havia algo errado.

– Tudo pronto? Perguntei.

– Não exatamente Rick. Hershel respondeu... - Charlie... Ela sumiu.

Eu o encarei.

– Sumiu... Como assim sumiu? Carl eu não mandei que fosse chamá-la? Eu o Repreendi.

– Mas eu fui e quando cheguei lá, ela não estava mais. Procurei-a por toda a casa, mas não a encontrei. Carl retrucou

– Mas como ela saiu sem que ninguém visse? Daryl perguntou.

– Eu estava olhando lá ontem a noite e vi que tinha uma passagem que dava para o quintal na parte de cima... Eu dei um jeito de protegê-la para que nenhum Walker a encontrasse e caísse dentro dela, mas a Charlie deve ter encontrado. Glenn Disse.

– É pode ser... Eu murmurei.

– Mas por qual motivo ela fugiria assim? Hershel perguntou em olhando.

– Eu não sei... Eu tentei disfarçar desviando o olhar de Hershel... Eu falei.
– Mas eu sei que temos que sair daqui logo se não quisermos pegar um engarrafamento mortal lá fora. Daryl exclamou.

– Mas não podemos deixá-la aqui sozinha. Carol falou.

– Faremos o que então? T-Dog perguntou.

– Carol esta certa... Ela não pode ficar sozinha... Eu disse olhando para Lori, que me retribuiu com um olhar de reprovação... Eu vou procurá-la... E Vocês vão na frente... A gente se encontra naquela casa que achamos na Rua paralela a essa.

– Sem essa, você não vai sozinho, eu vou com você... Daryl sugeriu.

– Não... Você vai com os outros até aquela casa... Esperem-me lá até o entardecer... Ela não deve ter ido muito longe.

–Mas e se vocês não chegarem até o entardecer? Lori perguntou aflita.

– Nos vamos. Eu disse com firmeza.

lori se virou e saiu, indo em direção ao banheiro, Carol foi acompanhá-la.

– Rick... É perigoso ir sozinho... Leve pelo menos alguém com você... Lori se sentira melhor assim. Hershel falou.

Eu não respondi.

– Eu vou com você Pai. Carl exclamou.

– Não Carl, você vai com eles, com sua mãe. Eu falei num tom razoável.

– Pai... Por favor... Ela é minha amiga... me deixe ir com você.

Eu não tinha certeza se isso era uma boa idéia, mas precisava decidir rápido, nosso tempo era curto.