Cronicas de Éverof: O Lobo e o amaldiçoado escrita por Red Mark


Capítulo 9
Armadilha ao Leste


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal. Mil desculpas pela grande demora. Vários problemas com meu PC fizeram-me atrasar até dêmias. Um novo capitulo espero que gostem e comentem dizendo o que pode melhorar ^^



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–O sol apagou-se rápido hoje. –Disse Enderner, O Caçador da Matilha.

Ele preparava uma tropa de busca para ir ao Leste atrás dos rastros do Ex-general do Oeste. A patrulha consistia em seis guardas e o futuro general.

–Todos sabem quem procuramos? –Os guardas responderam batendo os cabos das lanças no chão. –Ótimo. Partiremos a noite já que agora devem estar descansando.

Enderner caminhou até o portão e fitou as Planícies Negras que cercavam toda a cidade. Ele pois suas mão para trás do corpo encontrando-se e levantou seu queixo deixando o cavanhaque negro com fios grisalhos cintilar com a luz da lua.

Os ventos gelados que viam do Sul cotavam-lhes a pele como aço vivo e fazia com que os músculos tornassem-se rígidos. Ao respirar eram como agulhas entrando-lhe pelos pulmões ao sair o ar se condensava.

Frio não era nem uma novidade em Emglavius. Era o reino de Ordenia mais próximo do Norte por este motivo quando o frio chegava era unânime.

O Caçador ignorou a dor de dentro e respirou o ar frio fortemente. Ele sentia a falto do inverno que demorava a chegar no Reino das Lanças.

Enderner Felts fora feito para baixas temperaturas. Ele sentia-se bem com o frio. A dor era apenas um efeito colateral qual tal O Caçador não se importava.

–Logo nossos corcéis serão trazidos. Levy, o mestre de montarias, nos trara os melhores cavalos que o ouro pode comprar de toda Emglavius.

–Meu senhor –Disse um dos guardas. Esse era Bolik, a estrela ardente. Seu título fora conquistado pela Guerra dos Ventos, a batalha entre Emglavius e as Três Ilhas Gêmeas, ele incendiara a tenda onde o rei das ilhas dormia ao leito do Mar de Cristal na Costa Rachada. A missão não foi fácil. Ele precisou de meses de espionagem e precisou se infiltrar no exército inimigo. Foi uma vitória vinda da traição. Não ouve honra. –Não seria melhor usar corcéis de sangue? –Continuou ele.

–Os últimos cinco dos potrancos rubros desapareceram. –O Caçador dobrou os dedos estalando-os. –Quando questionado o rei disse que não era da conta dos soldados demais onde estes corcéis estavam. Não retruquei pós o rei é sábio. –A última parte subiu por sua garganta com dificuldade.

Bolik entendeu do que se tratava e voltou junto aos outros guardas à espera das montarias.

Enderner olhou as armas que carregava: Na cintura embainhada jazia a lâmina padrão dos guardas, nas costas uma arma um tanto maior. Era uma arma diferente. Meio espada meio foice com um cabo protegido por uma meia lua de aço espetada. A lâmina era branca com lobos mortos e uma figura humana sem rosto segurando a própria arma unânime gravada. Esta arma não possuía nome pós era nova. O Caçador ganhara ela de seu pai, um ferreiro velho e parcialmente cego, mas seu talento não foi silenciado. Cabimedes Felts era o pai de Enderner.

Enderner Felts, O Caçador da Matilha encarou as vazias Planícies Escuras e sua mente se perdeu por um instante. Ele vagou pela Guerra dos Ventos, Quando executou Lobos e até mesmo a poucas horas quando seu pai o presenteara com a arma.

Ele voltou a realidade. Virou-se para as ruas escuras iluminadas apenas pelas tochas dos guardas e disse:

–Ele não deve demorar. –As palavras foram tão baixas que era como se ele dissesse para si mesmo.

As estrelas brilhavam no alto dos céus. Milhares e milhares delas.

Já era noite quando Valtor chegará a Emglavius. Fazia um frio incomodo que desagradava ao ladrão. Valtor rumou por cima do Lago Espelhado cortando as Planícies Escuras. Chegando perto do portão Norte do Reino das Lanças Valtor encarou o horizonte. Viu os viajantes cansados que iam e vinham. Não importando a hora ou o clima parecia que os viajantes tinham seu caminho a traçar.

O segundo Bruminod no comando misturou-se a multidão e na primeira oportunidade correu para um beco escuro e escalou as paredes pondo-se sobre todos. Valtor gostava da sensação de estar acima dos demais. Talvez por este motivo tenha sido o segundo líder logo abaixo de Bélter.

Valtor praguejou sozinho. Odiava pensar sobre ser submisso a qualquer um. Isso podia ser explicado pela sua linhagem de sangue. Diferente dos demais ladrões Valtor sabia quem era o senhor seu pai e ele estava muito bem vivo. O jovem pertencia a Casa Bélestros. Era um filho legítimo que fora renegado por seu pai, o próprio Midos Bélestros, O General do Norte.

O garoto correu pelos telhados até a torre de Midos. A torre do guardião do Norte era azul diferente das demais. Era gigantesca. Erguia-se a mais de cem metros do chão. Só era possível ser tão grande pós, assim como o castelo, usava um grande pico fino e pontiagudo como suporte para não desmoronar. A torre era composta por vinte andares. O último andar do topo era onde O General do Norte ficava.

Valtor escalou a íngreme construção sem muitas dificuldades. O que realmente o atrapalhava era o frio profundo da longa altitude.

O manto de couro velho de Valtor dançava devido ao vento. Era difícil escalar e manter-se sem que o manto o atrapalha-se.

Um passo de cada vez. Era assim que Valtor chegaria. Ele escalou com perfeição até seu erro fatal. O vento soprou mais forte por um momento fazendo a capa do ladrão toma-se vida e se entrelaçasse em pedras pontiagudas. Ele tropeçou. A queda parecia iminente.

Valtor tentou prender-se em pedras, porém estavam afastadas. Ele teria caído para a morte, mas a capa o segurou.

Agora o ladrão estava suspenso. Ele balançou como uma bandeira até ouvir o som da capa se rasgar.

O medo foi visível. Valtor procurou a melhor forma de fugir da queda. Ele arranhou as lisas pedras em vão. O jovem ladrão se debateu até perceber que a única coisa que o ainda o mantinha suspenso era seu mando.

Rápido como um trovão o guerreiro saltou para frente agarrando-se eu uma pequena brecha nas paredes frias da torre. Algo frio escorreu pelo seu rosto.

“Suor?”, Pensou ele, “Nunca fico nervoso ao escalar!”

Valtor olhou a sua volta e viu o céu escurecido sem estrelas. Um grande risco azul cortou a negritude e acertou uma árvore fora das muralhas incendiando-a.

–Não suor... –Disse Valtor para si. –Tempestade!

Bélter assustou-se com um forte trovão que ouvira. Ele não era o único. Os cavalos do estábulo estavam com ele. O som dos corcéis era quase insuportável, mas o ladrão conseguiu ignorá-lo mesmo que por pouco tempo.

Seu irmão conversava com um estranho homem a algumas horas e ele já havia sido derrotado pelo tédio.

O amigo de seu irmão se aproximou. Burinel era seu nome. Um velho torto com uma perna menor que a outra, olhos vesgos e um sorriso amarelado com dentes faltando e outros grandes demais.

–Algo o incomoda menino Rylos? –Burinel mencionava as palavras cuspindo o que era incomodo para Bélter.

–Meu nome é Bélter, mestre dos cavalos. –Respondeu o ladrão levantando-se da cadeira onde estava sentado.

–Sim, e ao mesmo tempo você é um herdeiro da Casa Rylos, não é mesmo? –Rebateu o homem torto.

–Sim, quero dizer, não! A Casa Rylos foi destruída na Guerra dos Ventos pelo rei. Não sou um deles. Ninguém é.

–De fato é. Você é o último deles. Não seja tolo em falar tal coisa. –O homem olhou de relance Frederik. O líder ladrão instantaneamente compreendeu o que ele desejava dizer.

–Sei que Frederik é um Lobo. Por este motivo não pode ter uma família além de mim. Mas eu também tenho uma nova família...

–Ladrões são ladrões. Não são família ou amigos... Apenas ladrões. –O homem torto bateu em seu próprio pescoço procurando esmagar um inseto que o importunava.

–Não sabe do que fala. –Bélter não gostava de que questionassem a honra dos Bruminods. –O que sabe realmente da vida além dos muros deste estábulo? Nada, não é mesmo. É apenas um pobre homem sem a graça dos deuses. –O Bruminod encheu seu coração de fúria para falar tal coisa.

–Basta! –O Lobo Cinzento ordenou ao irmão.

–Não, Frederik, deixe com que ele fale. Quero ver o quanto pode defender a honra de ladrões. –Burinel sorriu e em seguida gargalhou. Para ele era divertido brincar com o pobre garoto. –Os cavalos já estão prontos. Podem partir quando desejarem. E quanto a você, manino Rylos, algum dia vai aceitar o que é. Daí vai ver que quando sebe sobre si mesmo é mais poderosos que aquele que julga saber quem é você. –O homem torto andou até Frederik e bateu no peitoral de sua armadura. –O cinzento sabe disso.

Os olhos de Bélter tornaram-se afiados como os do Lobo Cinzento e seu desejo era atacar o Mestre de Montarias, mas ele não o fez.

–Vamos partir imediatamente. Cinto profundamente se de alguma forma o ofendemos. –Frederik disse.

O homem torto revirou os olhos bufando profundamente como um touro velho.

–Como queira Lobo, mas saiba que de nada me ofendeu o menino Rylos. Sei de minha aparência e deficiência. Não é deste dia que ouço coisas como esta. Que parta agora a Toca, pós a noite será tempestuosa. –Dito isso, como uma sinistra brincadeira do deus da sorte, um trovão cortou os céus clareando todo o estábulo e atiçando os cavalos.

O Lobo Cinzento nada respondeu. Apenas acenou com a cabeça e dirigiu-se a um dos cavalos. Bélter fez o mesmo.

–Essas montarias foram tidas com o cruzamento de éguas e dois dos quatro Corcéis de Sangue. Nada corre como eles. –As últimas palavras de Burianel soaram como um deleite orgulhoso.

–Como poderia pagar-te por sua ajuda, velho amigo? –Frederik era absurdamente grato ao homem. Não pelos cavalos, mas sim por aventuras passadas.

–Ouro, oras! –O homem torto riu um mar de saliva. –Minha dividas com sua Casa já estão pagas, mas não com você.

Bélter adiantou-se com o cavalo para fora. Frederik andou lentamente com sua montaria acompanhado por Burianel.

–Minha Casa? Sabe que não sou um Rylos. –Frederik olhou para frente com uma postura impecável.

–Sabe, por mais que seja um Lobo não pode negar o sangue que corre em suas veias. Lembro-me de seu pai. –Os olhos tortos por um minuto focaram o Lobo Cinzento montado no cavalo. –Era um bom homem esse Falconis Rylos, um bom homem. Montava a cavalo como você. Digno de ser chamado de cavaleiro real. Esse título foi o que ele carregou até o dia de sua morte. Assim como o de pai.

–Eu lembro bem dele. –Frederik abaixou os olhos. Por mais que tentasse ele não se recordava totalmente do rosto de seu pai.

–Então deveria sentir-se envergonhado de dizer que não é um Rylos, mesmo que seja por honra, não é mesmo Lobo Cinzento?

Frederik não respondeu. A resposta era óbvia e a pergunta retórica.

–O menino, Bélter parece com você. E você é idêntico a ele. Não falhe como a única família que ele ainda tem. –O homem torto passou a mão pelo lombo do cavalo e deixou ir sozinho levando Frederik. Ele não se despediu.

O Lobo Cinzento acompanhou o Líder ladrão para fora das muralhas pelo Oeste.

As ruas daquela parte da cidade eram desertas e fazias. Não por respeito a cidade, mas sim pelo medo. Sem o General do Oeste as ruas tornavam-se perigosas.

Bélter mexeu seus ombros desconfortável com a montaria. Seus olhos afiados perderam o corte e foram de encontro ao chão.

–Desculpe-me pelo que disse. –Ele parecia mesmo arrependido.

–Não era um insulto chamado de Rylos. –Frederik respondeu.

–Não era, mas não quero ser o filho de uma Casa esquecida.

–Você deve ter em mente a memória de nosso pai. –Frederik tentou, mas não falava como Burianel.

–Ouvi as palavras do Mestre de Montarias para com você. Por respeito não as repitas a mim. –Bélter acelerou o cavalo.

–Não foi minha intenção... –O Lobo Cinzento sabia a hora de se calar.

Seus pés já sangravam. Nunca antes caminhara tanto e por tanto tempo. O suave roçar da armadura de seu senhor já o deixava louco de ódio. Pela primeira vez, Válvet, desejava apenas um descanso.

–Meu senhor, –Disse ele com a respiração ofegante. –meus pés ardem e meus pulmões já não aceitam o ar. –Kaider o encarou com fúria e soberania. –Preciso parar.

–Parar? –As palavras soavam como um motim em um navio. –Deseja parar, Válvet? Deseja entregar-se e a mim ao cavaleiro negro? Ele nos persegue e nesta altura estão próximos a nos. Ele caminha entre o caminho mais perigoso. Claro que por este motivo temos tamanha vantagem, mas a vitória é passageira. No final das Mãos de Soulos ele nos encontrara. Ai terá seu descanso, meu caro tolo. Ai vai descansar, para sempre! –O ex-general do Oeste continuou seu caminho.

Válvet não ousou questioná-lo. Por muito tempo caminharam até o final da estrada secreta já era visível.

O local era inóspito. Nem uma cabana ou animal. Apenas cordilheiras espetadas. O chão era feito de cascalhos cinzentos e terra solta. Hora ou outra, plantas negras, secas e espinhosas cortavam o caminho dos viajantes ocultadas pela noite que os cercava.

Para alguém que não está acostumado com a solidão era perturbador. Não era o caso de Kaider Viks. Ele crescera com seu título de General. Dado a ele por ter o sangue de seus pai.

O Viks antecessor fora um grande herói. Muito jovem pereceu na Guerra dos Ventos deixando seu filho para carregar o legado e o nome de sua Casa. O rei Ferbylhos Algar I fora um amigo do General do Oeste e seu filho, Ferbylhos II, decidiu presenteá-lo com o título.

Kaider na adolescência tornou-se um General. Isso foi a quase quinze anos no final da Guerra dos Ventos.

A solidão para Viks era comum. Nunca antes tivera alguém que o chamasse de filho ou que lhe estendera a mão. Dês de sempre no castelo tendo que limpar a merda das botas de prata do rei.

Ao caminhar até o final da estrada traiçoeira era possível ver a vegetação crescendo novamente ao redor.

Kaider agachou e constatou o gramado e a lama ao redor.

–Botas pesadas. Recentes. –Ele disse baixo. Ninguém destreinado poderia ver algo assim em plena noite.

Kaider olhou para cima. A lua timidamente.

–Errei o caminho, Válvet. Já deveríamos ter chegado. Atrai-me para uma armadilha! –Kaider rapidamente se levantou.

O mato em volta produziu som.

Kaider levantou-se rapidamente e olhou para a direção do som. Uma armadura negra brilhante saiu da floresta a volta. Brilhava malignamente com a escassa luz pratiada. Uma armadura completamente escura. Era como se ela pertencesse a noite que a cercava.

–Kaider Viks, filho de Kal Viks, General do Oeste, por ordem de Ferbylhos Algar II, Guardião das Lanças, Rei Vermelho e senhor do Mar De Cristal Norte, eu, Gangreliz, da Casa Frés, Os Seguidores das Sombras, vim levá-lo a justiça. –Disse o homem que a vestia. Ele era como um ser sombrio

–Justiça? Sabe bem, Frés, em Emglavius não existe mais justiça! –Kaider embora intimidado não se deixou demonstrar. Continuou forte e corajoso como um leão.

O cavaleiro negro nada disse. Lentamente sacou sua arma. Uma espada de aço do deserto. Uma grande história rondava aquela lâmina. Uma cimitarra com gravuras e o fio vermelho que nunca, jamais perderia o corte. Forjada em Mercuria, o reino antigo, por anões hoje esquecido e perdidos na área do deserto. A muito pertencera a um sábio guerreiro chamado, Gen Algar, um homem de sangue real e coração bondoso. Agora não passava de mais uma rocha usada para construir o reino de Ferbylhos. Graças a Gen e a outras milhas de guerreiros o Mar de Cristal pertencia ao Reino das Lanças.

–Conhece a história? –Perguntou Gangreliz enquanto sacava sua espada da bainha de aço comum lentamente produzindo um som estridente de aço rangendo contra aço. Ele mencionava a lâmina.

Kaider respirou fundo.

–Não é digno de empunhar esta arma. –A voz do ex-general soou como um desafio rouco e frio.

–Forjada por anões com um material conhecido como aço do deserto, trazido da própria Baia do Aço, ao Leste de Sefyros... – Gangreliz olhou o reluzir macabro da lâmina ao luar.

–E banhada no sangue do Dragão de Sefyros. Dada aos Algars pelos Sefyrions com prova de amizade e roubada por vocês, Seguidores das Sombras! –Kaider sacou também sua espada, a Alma Sombria, uma arma azulada afiada. Parte lisa e parte serrilhada. A lâmina era tão fina quanto a do Cavaleiro Negro, porém reta.

–Finalmente, –A cimitarra dançou no ar pela pegada de Gangreliz. –finalmente o embate final entre os Frés e os Viks. Os últimos herdeiros de cada Casa em uma peleja até o final. A Adaga Negra encontra os Olhos de Tigre! –A Adaga Negra era o símbolo da Casa Frés e os Olhos de Tigre pertencia a casa Viks.

Kaider olhou para Válvet. Rapidamente o subordinado entendeu a muda ordem. O homem de cabelos brancos sacou uma adaga escondida de seu manto tomando distância.

O subordinado estava quase tão furioso quanto Kaider. Ninguém tinha direito de matar Viks mudando seus planos.

A noite era ainda mais bela em Marizia do que em Emglavius. A luz da lua brilhava sobre as pequenas gotas de orvalho sobre as flores verdes quase completamente engolidas pelas trevas.

Ur e seus homens marcharam pela fechada floresta onde as trilhas dos humanos não tocavam. A floresta era escura demais para que qualquer um pudesse ver algo, qualquer um que não seja um elfo, é claro.

Um elfo selvagem é invisível a noite em meio a mata. Seus contornos são ocultados pelas trevas deixando apenas a vegetação que em sua pele cresce.

Ur tomou a liderança como faz de costume. A mata fechada foi cortada de cima por cima pelas árvores mais altas. Lá os elfos tinham maior perícia. Eles saltaram de galho em galho como se possuíssem asas.

Ao chegar em uma clareira, Ur, sobre um grosso galho saltou e girou no ar de ponta cabeça caindo de pé agachado na grama alta. Por um momento o príncipe estava sozinho.

A clareira possuía uma única árvore em seu centro. A falha na floresta media quarenta metros e a árvore quinze metros de largura e subia torta até atingir vinte metros de altura. Ela era completamente invisível de fora da clareira. As trevas da noite engaliam o topo da árvore.

Ur foi até a base da árvore. Ele olhou para a cima e pousou sua mão sobre a grossa casca cinza embranquecida. Ele sentia, como ele sentia, o poder correr entre a grande árvore.

–Lutt eto a mu valik... –Foram suas palavras. Seu significado era “Revele aquilo que nos pertence.” Não apenas palavras vazias, mas também uma oração curta. Uma prece feita como um pedido. Uma curta oração para que a justiça seja sempre feita e que os olhos dos deuses sempre os guie. Por fim foi dito: –Alun.

Os ventos sopraram de todas as direções até encontrarem-se na base da árvore subindo rodeando-a. Um a um, cristais azulados e brancos acenderam na extremidade. Eram espalhados. Pequenos ficavam no chão e iam crescendo ao longo da gigantesca árvore. A luz dos cristais iluminaram a escuridão e revelaram o verdadeiro tamanho.

Conforme a luz brilhava sombras apareciam e desapareciam até que tomassem formas e fosse claro o que eram. Casas, pessoas e animais eram o que apareciam inundando a clareira como fantasmas translúcidos. Há pouco não se sabia mais o que era real ou não. A luz da lua lançou um longo feixe de luz sobre a clareira e foi diminuindo até se concentrar apenas em Ur. Ele fechou os olhos e sentiu uma poderosa energia o cercando. O poder inundou o corpo do príncipe dos elfos deixando-o leve como uma pena. Seus pés ficaram a centímetros do chão que agora era feito de mármore branco.

Ele subiu alguns centímetros a mais de olhos fechados, punhos cerrados e braços dobrados. Seus cabelos se tornaram prateados realçando as orelhas pontudas, sua pele era branca como uma nuvem em um dia ensolarado.

Quando Ur abriu os olhos caiu de joelhos ao chão chocando seu punho contra o mármore. Sua aparência retornou ao seu normal.

Os olhos do príncipe percorreram a sala não deixando um único detalhe escapar. Ele foi transportado para uma sala de mármore em forma de pentágono. O teto era circular, três pilastras apoiavam a estrutura. Duas atrás e uma afrente de Ur. O teto era desenhado com uma árvore com milhares de galhos.

–Meu nobre príncipe retornou ao lar. –Disse uma voz de trás de Ur. O dialeto usado era o Edigana antiga conhecida como Alta Edigana.

–Mulik, príncipe dos peles brancas. –Disse Ur levantando e virando-se a ele. O príncipe selvagem desceu os degraus que separavam ele do outro homem.

Mulik vestia um manto azulado aberto e preso pelos ombros com tiras negras que desciam caindo sobre cima dos braços e passando pelas costas circulando-o, seus olhos eram azuis como o a parte mais profunda do Mar de Cristal, nada escondia o seu peito, a não ser pelas finas tiras negras, seus cabelos lisos chegavam até a cintura caídos para atrás das costas, eles eram prateados e a pele branca que podia quase brilhar ao contraste da luz dos cristais.

Ur passou por ele indo até a grande porta do salão. Era gigantesca com gravuras que faziam a continuação da árvore ao redor da sala. Seus olhos percorreram o exterior.

Ur estava na árvore em um grande galho que antes não aparecia nas trevas. Os galhos delineavam grossas estradas em meio ao ar. Visto de baixo era como uma grande teia de aranhas.

Casas inteiras jaziam sobre os grossos galhos. No coração da árvore uma construção erguia-se. Era um castelo feito de pedras cinzentas equilibrado por nada a não ser os pequenos pontos de apoios. Nas extremidades e nas janelas não haviam bandeiras ou símbolos. E de fato era desnecessário pós o único brasão de todas as raças élficas era a Yggdrasia, a árvore da vida e o príncipe dos elfos selvagens estava em um de seus galhos.

Ele não perdeu tempo admirando a cidade. Ele já a conhecia cada galho inferior da árvore.

–Meus homens estão do outro lado do portal da lua. Só quando o portal abrir novamente vão poder vir até mim. –Disse Ur.

–Sei bem como funciona o portal. A magia da minha tribo a construiu. Lembra? –As costas de Mulik tornaram-se uma linha reta regozijando toda a sua postura impecável.

–Não me lembrava que a magia da deusa mãe era sua? –Ur virou seus olhos para Mulik com respeito, mas também rancor.

Mulik calou-se.

Ur desceu três degraus até ouvir a melódica voz do príncipe dos peles brancas mais uma vez.

–Filhos da lua. –Disse ele ajeitando as mangas. –Somos os Filhos da lua, selvagem. A raça pura. Sangue prateado como a luz da lua.

–Sabe que sangra vermelho como nos. –Foi visível que o comentário de Mulik não era de agrado do príncipe selvagem. –A pergunta que não quer calar é: O que deseja? De fato não me esperou por afeto.

–De fato. Vim a mando de seu pai. Ele não goza de toda sua saúde. O rei dos selvagens está ferido do embate com o rei de Emglavius. Um homem conhecido como Édmund o feriu gravemente. –Ele levou suas mãos as costas. –Eu como filho da lua acho que é indigno ser vencido por um mortal... –Mulik falava de olhos fechados e nariz empinado. –Ao abrir os olhos para continuar as palavras viu-se sozinho. Ur havia partido. As palavras para ele eram irrelevantes.

As trombetas soaram novamente. Tambores soaram ao longo do coliseu das lanças. A noite era fria.

Sons penetravam até o abismo onde o Lobo Dourado jazia fraco. A escada em espiral infinita estava escura e logo homens viriam leva-lo para mais uma batalha. Nathels sabia que não poderia continuar. Aquela seria sua última batalha. Sua força e folego eram limitados pela má nutrição. A armadura já não prendia-se bem ao corpo, seus pulsos estavam cortados pelas correntes.

O Lobo Dourado sentiu um profundo calafrio. A sua única fonte de calor era uma tocha na parede que logo se apagaria. Ele respirava pesadamente quase inerte em sua própria mente. Ele não se movera.

Um súbito som fez com que seus olhos se encontrassem nas trevas. Ele fez um esforço para levantar-se em vão.

–Está péssimo, Nathels. –Disse uma voz feminina vinda da escuridão.

–Como é bom ouvir sua voz, Lore. –O Lobo Dourado conhecia profundamente a presença. –Sinto não estar apresentável.

Mãos lisas e pequenas saídas das trevas agarraram as barras da cela. A mulher ainda estava escondida pelas sombras.

–Não deveria ter voltado. –Nathels finalmente levantou-se. E pós suas mãos junto as da mulher sobre as barras de ferro. –Estar em Emglavius é um risco muito grande para pessoas como nos.

–Eu sei, Nathels. Mas precisava vê-lo. –As mãos dela saíram das barras e sumiram nas trevas.

–Ele também sente sua falta, mas agora é um de nos. Não pode tê-lo.

– “Apenas um ser com meu coração” E se essa ser eu?

–Ele não faria isso. A alguém que ele ame. Ele já fez esta escolha. Se o ama fique longe. Aqui não é seguro.

–O que sabe sobre mim, Nathels? Posso suportar um reino de serpentes venenosas como Emglavius. Por muito vaguei pelas Terras sem Leis ao Sul. –A voz se tornava aos poucos zangada.

–Sei muito de você, Lore, sei muito. –O Lobo Dourado retornou ao seu lugar. –Ele foi de encontro ao irmão a vários dias. Foi a última vez que eu o vi.

–Obrigada, Nathels. Fique bem. Logo voltarei para te tirar daqui.

–Não volte. Não a fuga para mim. Faça-me um favor: Vá e não retorne. Não quero que arrisque-se por mim.

–Peço perdão, mas não há essa escolha. Logo eu retornarei. –Das sombras um embrulho caio sobre Nathels. Sons de passos apresados foram ouvidos subindo a longa escadaria.

O Lobo abriu o embrulho. Lá jazia um pão fresco. Ele agradeceu aos deuses pós sentia fome e agora podia ser saciada. Ao termino da rápida refeição olhou novamente para as trevas.

–Lore. –Disse ele como uma prece. –Cuide-se. –Ele sabia de todo o coração que não retornaria a ver a menina outra vez.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem! Logo, logo sairá o próximo capitulo. Posso deixar um pequeno spoler: Haverá novos personagem. Um novo vilão. Até ^_^



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