_ Alô?

_ NICK! – eu meio que berrei. – Juro que vou enlouquecer.

_ Por que você vai enlouquecer? – ele perguntou num tom duvidoso falso.

_ Desde aquela droga de incidente não saio de casa. Já faz um mês. Precisa me ajudar.

_ Preciso te manter segura, isso sim.

_ Convença eles. Juro que não vou longe. Eu fico em público. Eu já cansei de todas as pessoas da minha casa, eu não tenho visto mais ninguém. Faz tanto tempo que não vejo o Sol – eu disse dramatizando a voz.

_ Se esta querendo sair por causa do Sol pode ficar em casa mesmo. O sol não aparece faz uns três dias. – ele fez uma pausa como se estivesse calculando se eram realmente três dias. – Nossa! Você realmente não saiu de casa.

_ Por que o que há de errado com o Sol? – perguntei incerta.

_ Nada, é só que... Hei, eu tenho que fazer umas coisas, eu te ligo depois.

_Sei, tem wesens pra matar né? Tudo bem. Vou continuar aqui no meu antro de confinamento. Solitária.

_ Pensei que tivesse namorado – ele disse num tom brincalhão.

_ Tchau, Nick.

_ Eu te visito, depois... Talvez... Tchau – ele disse e desligou.

Mal desliguei o telefone e alguém abriu a porta do quarto subitamente. Era o Sam. Ele havia sido minha companhia constante desde a proibição de sair de casa por uns tempos.

_ Hei, já viu? – ele perguntou muito animado entrando no quarto e se deitando ao meu lado.

_ Vi o que? – perguntei incerta.

_ Ta bem, com certeza não viu – ele se levantou e foi até a janela e ficou um longo tempo com as mãos nos vidros, depois voltou e colocou a mão no meu rosto. A mão dele estava incrivelmente fria. Corri pra janela, abri as cortinas e então eu vi. Uma camada branca tinha coberto tudo. Tinha nevado. Olhei pro Sam sem entender e ele sorriu. – Nevou ontem e hoje a noite inteira. Finalmente parou e podemos ir lá fora.

_ Não quero ir só lá fora. Quero ir à cidade patinar. Quero ir a uma livraria que vende chocolate quente – fiz uma cara triste.

_ Não podemos. Podemos ir lá fora. Pode ficar feliz com isso? – ele fez aquela cara de cachorro abandonado e eu simplesmente não resisti.

_ Tudo bem, mas é bom isso ser divertido – indaguei.

_ Vai ser sim – ele disse, segurou minhas mãos e me puxou, me fazendo cair por cima dele na cama.

_ Não tenho vistos meus Mauvais Dentes, nenhum dele se enforcou ou teve a cabeça cortada, não é? – eu falei ainda deitada em cima dele.

_ Não, não, eles estão bem, mas um fica montando guarda na sua porta e o outro fica lá fora, acho que eles estão alternando turnos.

_ Esses caras são mais sobrenaturais que o normal.

_ Se ser sobrenatural for normal – nós rimos. Eu me inclinei pra beijá-lo. Ficamos lá por alguns momentos até algum abrir a porta de novo.

_ Ahn... Gente... – Era o Tanner.

_ Que foi ruivo? – Sai de cima do Sam um pouco rápido demais e ele se levantou.

_ Só queria falar sobre a neve.

_ Por que você não fala com a Ali sobre a neve? – Sam rebateu um pouco frustrado.

_ Não, tudo bem, nós já íamos descer, eu só ia vestir umas coisas de neve – eu disse tentando contornar a situação.

_ Ok. Vou falar com a Alisson sobre a neve, e esperar vocês lá em baixo – Tanner indagou e saiu.

_ Esse garoto esta sempre aqui? – Sam perguntou quando Tanner saiu.

_ Sim. Sempre – Eu concordei brincando me virando para o Closet.

Depois de vestir roupas tão pesadas que fizesse ser um pouco difícil andar, eu pude sair.

A neve estava como sempre foi, mas pra mim não parecia á mesma. Estava especial. Parecia que brilhava mais, estava mais molhada, ou mais macia. Eu não sabia dizer o que.

Sentei-me na neve e comecei a desenhar no chão, Sam se sentou ao meu lado e apenas olhou ao redor. Encostei-me no ombro dele e continuei o que estava fazendo.

O sol devagar começou a aparecer entre as nuvens apenas para poder se pôr, fazendo toda a neve cintilar.

_ É dessas coisas que eu quero lembrar – murmurei – desses tipos de momentos perfeitos.

Sam apenas assentiu. E as coisas se seguiram perfeitas.

Tanner e Alisson vieram correndo pela porta fazendo uma grande algazarra e em questão de segundos começando uma guerra de neve que se estendeu até o anoitecer.

_ Acho que deveríamos caminhar – Sam sugeriu em algum momento.

Eu concordei e nós seguimos.

Adentramos pelas arvores saindo do complexo de casas do condomínio, andamos uns bons metros até chegarmos a uma colina. Lá em baixo estava o lago coberto pelo que parecia ser uma fina camada de gelo.

_ Ah! O lago! Ouvi falar que havia um por aqui, mas nunca tive grande vontade de sair desse condomínio – eu indaguei.

_ Tem coisas incríveis aqui – Sam completou.

O lago parecia ter uma forma oval perfeita e vários postes de luz estavam colocados ao seu redor.

_ Acho que é propriedade do condomínio. Então posso ir até lá.

Não esperei resposta, soltei a mão do asiático e lentamente comecei a descer a colina.

_ Não acho que seja uma idéia sensata, senhora Blake. – Algum dos Mauvais dentes disse, mas eu ignorei.

Lá em baixo a margem do rio a camada parecia ser realmente fina. A neve ao redor parecia mais molhada, provavelmente devido à água no solo, mas também era mais macia.

Em poucos instantes, Sam estava ao meu lado.

_ Esta muito fina, não dá pra patinar – comentei.

_ E nós queríamos patinar? – Sam olhou pra mim com uma expressão que era um pouco espanto e um pouco medo.

_ Posso dar um jeito.

Levantei-me e lentamente pisei na borda congelada do lago e fui prosseguindo, colocando um pé na frente do outro, com a máxima cautela possível.

_ Será que eu não posso te levar numa pista de patinação muito segura no shopping ou no centro da cidade? Qualquer coisa? – Sam indagou com uma ponta de desespero na voz.

Ele não entendeu o que eu queria fazer.

_ Senhora Blake, acho que não devemos deixar a senhorita fazer isso. – Consegui ouvir os passos dos dois guardas se aproximando e dessa vez não pude ignorar.

_ Se você pisar no gelo, eu vou cair – alertei.

_ Então volte – Jason pediu num tom que quase soou dócil.

_ Esta tudo bem – eu murmurei e continuei andando.

A cada passo a coisa se tornava mais tensa, o gelo parecia estar mais fino, mas com alguns passos eu cheguei ao meio exato do lago.

Com muita delicadeza eu me agachei e encostei as duas mãos no gelo, mas só então me lembrei que estava de luvas. Tirei as peças das duas mãos e coloquei novamente as mãos no gelo juntei toda a concentração que consegui reunir e deixei acontecer.

Uma ventania começou me fazendo cambalear, mas consegui recuperar o equilíbrio sem parar o feitiço, e do nada o vento parou, tudo ficou calmo e alguns segundos depois um barulho de como se um grande pedaço de gelo tivesse se soltado de um Iceberg deixando uma grande rachadura foi ouvido.

O som vinha do lago logo abaixo, completamente congelado.

Levantei-me, virei para trás com um ar satisfeito e indaguei:

_ Pronto, Agora vocês podem pisar.

Sam prontamente se levantou, voltou um pouco para trás e correu, pegando um impulso para logo quando pisasse no gelo conseguisse deslizar.

Ele parou quase ao meu lado tendo que dar apenas alguns passos para chegar á mim. Então segurou na minha cintura e disse:

_ Já disse que você é incrível?

_ Não precisa. Eu sei disso sozinha.

Ele riu.

Alguns minutos depois Tanner e Alisson apareceram ofegantes e vermelhos, pareceu que estavam correndo.

_ Ah vocês estão aí – indagou o ruivo. – A gente sentiu o vento e vocês tinham sumido, então...

_ Caramba! – Alisson interrompeu – Você congelou o lago.

_ Bem observado – concordei.

_ Eu desisto você é demais pra mim – Tanner disse levantando as mãos em rendição.

Eu ri.

_ Demais pra todos vocês.