A Culpa é Minha e das Metáforas escrita por Larissa Waters Mayhem


Capítulo 3
Capítulo 3 - Isaac, O senhor da Depressão




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Uma Aflição Imperial, fala sobre uma meiga garotinha chamada Anna e de sua mãe de um olho só, o que me fez rapidamente lembrar-me do Isaac, Anna tem câncer, mas cara, ela não encarna o câncer, ela simplesmente o leva. Meu celular começou a tocar, o som da banda The Hectic Glow me deixou em êxtase, comecei a estalar os dedos conforme a música e cantarolar, peguei o celular e vi, era a Hazel Grace mandou uma mensagem, abri um sorriso que chegava as orelhas. Parei de enrolar e abri a mensagem.

Opinião sobre O preço do alvorecer: muitos corpos. Quantidade insuficiente de adjetivos. Como vai o UAI?

Li a mensagem, a crítica da Hazel Grace me fez abrir os olhos e cair na real: Como posso dar um livro totalmente sangrento para uma garota do nível da Hazel? Mas logo me lembrei que a mesma me prometeu ligar ao invés de mandar a mensagem. Então respondi o SMS:

Se lembro bem, você prometeu me LIGAR quando terminasse de ler o livro, e não me mandar um SMS.

Fiquei segurando o celular esperando a mesma ligar, o som do The Hectic Glow começou novamente, e comecei a cantar conforme a música, depois de alguns segundos, atendi:

— Hazel Grace.

— Você leu tudo? – perguntou a mesma.
— Não acabei ainda. O livro tem seiscentas e cinquenta e uma páginas e eu só tive vinte e quatro horas. – disse.

— Até onde chegou?
— Página quatrocentos e cinquenta e três.
— E?
— Nada de opiniões antes do fim. Mas tenho de admitir que estou meio envergonhado de ter dado O preço do alvorecer para você ler. – disse.

— Não fique. Já estou no Réquiem para Mayhem.
— Um acréscimo brilhante à série. Então tá, me diga, o cara das tulipas é um vigarista ou não é? Estou tendo um mau pressentimento com relação a ele.
— Nada de estragar o suspense — disse Hazel Grace.
— Se ele for qualquer coisa diferente de um completo cavalheiro, vou arrancar os olhos dele fora.
— Então você está gostando do livro. – perguntou Hazel Grace.
— Nada de opiniões antes do fim! Quando posso ver você?
— Com certeza, não até terminar Uma aflição imperial. – A cara, esse livro parece não ter fim, vou ter que esperar tanto assim para ver a garota dos meus sonhos? — Então é melhor eu desligar e começar a ler.
— Melhor mesmo — Hazel Grace disse e em seguida desligou, sem ao menos dar um tchau, ou um eu te amo Gus.

Então decidi engolir o livro, devorar, apenas em outras 24 horas, pois queria falar muito com a Hazel Grace, o livro de fato é muito bom, diferente do O Preço do Alvorecer. Existe um personagem que Anna o chama de O Vendedor de Tulipas Holandês, que pelo que o livro mostra a mãe da Anna ela é apaixonada pelo mesmo, mas Anna acha que ele é um vigarista, eu também acho, esse vendedor de Tulipas é um cara muito suspeito.

Enfim, não tomei banho, nem café, eu só fiquei no porão deitado ao lado da prótese e lendo aquele livro exaustivo porém muito bom e torcendo para acabar e ligar para a Hazel Grace.

...

Ah cara! Cara! Cara! Como assim? Quando eu havia pegado gosto a leitura daquele livro exaustivo simplesmente acaba numa merda de uma frase! Isso deve ser sacanagem daquele velho da livraria Noel, ele decidiu me castigar por eu ser um vândalo juvenil e...

– GUS! ISAAC ESTÁ AQUI! – disse meu pai, como eu disse, Isaac sempre estragando a minha vibe.

Sentei-me e coloquei a prótese, tentei correr, quando cheguei a sala Isaac estava no sofá chorando, minha mãe acariciando as suas costas e meu pai dizendo:

– você tem que ser homem rapaz!

– MAS EU VOU FICAS CEGO! – disse Isaac aos soluços. – E PIOR SEM A MINHA NAMORADA.

– O que foi grande homem? – perguntei ao meu pai, ele me olhou com tristeza e disse:

– Pergunte ao Isaac.

– ELA ME DEIXOU! ME DEIXOU ANTES QUE EU FIQUE CEGO!

A princípio eu permaneci quieto. Eu realmente não sabia o que dizer.

– Vamos jogar amigão! – disse, Isaac se levantou, seu rosto estava vermelho.

– Vai descendo, vou manda um SMS para a Hazel Grace.

Isaac foi descendo, minha mãe olhou preocupada comigo e disse:

– Vê lá o que você fala Gus.

– Mãe, eu sei o que fazer.

Ainda indignado com aquele suposto final tosco, eu havia me perguntado se aquele livro não estava rasgado ou coisa do tipo. Então decidi descarregar minha fúria na mensagem:

Hazel Grace, diga que eu não cheguei ao fim deste livro.
AI MEU DEUS ELES SE CASAM OU NÃO AI MEU DEUS O QUE É ISSO
A Anna morreu e a história acabou, é isso? CRUEL.

Depois disso desci até o porão Isaac já estava sentado na poltrona em formato de L, seu rosto estava vermelho.

– É Gus, você sempre teve razão sobre a Monica. – disse Isaac sem se mexer. – Ela é uma grande vadia.

– Não é culpa dela que você vai ficar cego Isaac, nem sua, a culpa mesmo é da vida, que é malandra, vive dando rasteiras em nós. Calma cara, você é um garoto vistoso, vai arrumar uma garota... – disse me sentando a poltrona ao lado.

Isaac me olhava indignado.

– Tantas palavras como, bonito, gato, charmoso... e você me vem com vistoso!?

– Acho meio estranho eu ficar te elogiando assim.

O silêncio tomou o porão. Isaac levantou-se e começou a gritar:

– MONICA SUA SAFADA! INFELIZ! SÓ TERMINOU AGORA PORQUE DAQUI UNS DIAS VOU SER UM GRANDE CEGO! – no momento Isaac começou a bater no peito, tipo gorila, o que achei um pouco engraçado a principio, mas depois eu vi que ele estava fazendo aquilo pra valer.

– Isaac, senta, senta. Vamos jogar, esquecer da vida e das garotas... – disse colocando-o sentado, quando o celular começou a tocar, atendi:

– Hazel Grace. – disse. Ouvi Isaac sussurrar, “Esquecer as garotas, ta certo’’depois ele começou a chorar e berrar.

— Seja bem-vindo à doce tortura que é ler Uma aflição… Você está bem? – perguntou Hazel Grace, acho que ela conseguia ouvir os berros de Isaac.

– Ah maravilha, mas estou aqui com o Isaac, que está meio descompensado. – respondi a Hazel Grace. Depois veio um grito dizendo:

“EU ODEIO VOCÊ MONICA!EU TE ODEIO!’’

Aqueles gritos estavam atrapalhando a conversa romântica entre mim e a Hazel Grace, olhei para Isaac o fuzilando e disse:

– Cara. Cara. A Hazel do Grupo de Apoio ajuda ou atrapalha? Isaac. Preste. Atenção. Em. Mim. – Acho que uma mulher ali conseguiria ajudar Isaac. Voltei ao celular e pedi para Hazel Grace:

– Você pode vir até a minha casa em mais ou menos vinte minutos?
— Claro.

Desliguei o celular e sentei-me na poltrona , Isaac havia parado com aqueles gritos. Lembrei-me da vez que eu estava na oitava série e eu havia levado um fora da garota mais bonita da turma.

– Isaac, lembra da Jeniffer Watson? – disse a Isaac.

– A que te deu um toco? Sim. – naquele momento vi Isaac sorrindo. – Nossa, você ficou mal né cara.

– Pois é, mas depois eu... Eu fiquei melhor...

Isaac parou e olhou pra mim, sem dizer nada.

– Agora eu gosto muito da Hazel Grace, de verdade, gosto mesmo.

– Você acha que ela seria capaz de...

– Me largar? Cara, eu acho que não, por esses dias eu andei pensando que seria mais fácil eu a deixar, do que ela.

Isaac me olhou curioso.

– Como assim?

– Estou falando da morte, só ela vai me separar da Hazel Grace, e eu acho que nem isso, mesmo depois de morrer, eu juro que eu vou estar com ela...

Isaac começou a chorar novamente.

– VOCÊ NÃO VAI MORRER GUS! – disse ele berrando.

– Todos nós vamos Isaac! – disse.

– MAS NÃO AGORA!

– Pode ser agora, ou amanhã, daqui um ano, ou anos. Mas todos nós vamos meu caro. Agora para de chorar e escolha a tela que você quer ir!

Isaac parou, e então começamos a jogar.

– Isaac, vá até atrás do prédio em ruínas!

– Espera! Espera! Estou reabastecendo!

– Hazel Grace! – disse ao escutar o barulho da escada. À vela eu disse:

— Isaac, a Hazel do Grupo de Apoio está descendo. Hazel, só para lembrar: o Isaac está no meio de um surto psicótico.

Hazel adentrou o porão.

— Está tudo bem, Hazel? — perguntei.
— Estou bem — respondeu Hazel Grace — Isaac?

Isaac não a respondeu, Hazel Grace olhou para mim. Ela estava linda, com um vestido bonito que ia até abaixo dos joelhos.

— Você está bonita. – disse.

— E mesmo assim — falou Hazel Grace — o Isaac não é nem capaz de dar uma olhada rápida em mim. Apaixonado demais pela Monica, só pode ser. — Puts... Hazel o apunhalou. Nem quero ver no que isso vai dar.
— Este é um assunto delicado — expliquei. — Isaac, não sei por você, mas tenho a vaga impressão de que estamos sendo flanqueados. — me virei para falar com Hazel Grace — O Isaac e a Monica não são mais um casal, mas ele não quer falar sobre isso. Só quer chorar e jogar Counterinsurgence 2: O preço do alvorecer.
— É justo — falou Hazel Grace.

— Isaac, estou começando a ficar preocupado com a nossa localização. Caso concorde com isso, vá até aquela usina termoelétrica, e eu cubro você.
O Isaac correu para uma construção indistinta enquanto o eu atirava enlouquecidamente com uma metralhadora, numa série de rajadas rápidas, e corria atrás dele.
— De qualquer forma — me dirigi a Hazel Grace —, não vai fazer nenhum mal falar com ele. Se tiver alguma palavra sábia, algum conselho feminino.
— Para falar a verdade, acho que a reação dele é, provavelmente, a mais apropriada — Disse Hazel Grace.

Concordei com a Hazel, ainda olhando para o TV.

— A dor precisa ser sentida — disse, é uma frase de Uma Aflição Imperial... o maldito livro sem fim.

— Você tem certeza de que não há ninguém atrás de nós? — perguntei a Isaac Momentos depois, balas traçantes começaram a zumbir acima das nossas cabeças. — Ai, que droga, Isaac — disse. — Não quero criticar você num momento tão sensível como esse, mas deixou que fôssemos flanqueados, e agora não há nada entre os terroristas e a escola.

O personagem do Isaac partiu correndo na direção do fogo cruzado, ziguezagueando por uma passagem estreita.
— Vocês poderiam atravessar a ponte e dar a volta por trás — palpitou Hazel Grace

— Infelizmente, a ponte já está sob o controle dos rebeldes devido à estratégia questionável do meu parceiro desconsolado aqui. – respondi a ela.
— Eu? — disse Isaac ofegante. — Eu?! Foi você quem sugeriu que nos metêssemos no raio da usina termoelétrica. – desviei minha atenção para ele.— Eu sabia que você conseguia falar, meu chapa — disse.
– Agora vamos salvar alguns estudantes mirins ficcionais.
Juntos, corremos pela passagem estreita, atirando e se escondendo nos momentos certos, até chegarmos a uma escola de um andar só e com apenas uma sala. Nos agachamos atrás de uma parede do outro lado da rua e acertaram os inimigos, um a um.
— Por que eles querem entrar na escola? — perguntou Hazel Grace.
— Pretendem fazer as crianças de reféns — Respondi.
— Vai vai vai — disse.— Granada! Granada! — Gritei quando alguma coisa passou desenhando um arco pela tela, quicou no caminho que levava à entrada da escola e então rolou, parando encostada na porta.
O Isaac largou o controle, de tão frustrado.
— Se esses desgraçados não conseguirem fazer reféns, vão matar todos eles e colocar a culpa em nós.
— Isaac, me cubra! — Disse indo em diração a escola.

O Isaac pegou de volta o controle, sem jeito, e começou a atirar enquanto choviam balas em cima do Augustus, que foi atingido uma vez e depois duas, mas continuou a correr, gritando: "VOCÊS NÃO PODEM MATAR MAX MAYHEM!", e com uma combinação final e afobada de apertos nos botões ele mergulhou em cima da granada, que detonou. Uma voz gutural disse: "MISSÃO FRACASSADA",achei injusta aquela perda, mas tudo bem, peguei o maço de cigarro e o coloquei na boca.— Salvamos as crianças — ele disse.
— Por enquanto — observou Hazel Grace.
— Todo salvamento é temporário —Retruquei— Eu proporcionei a elas mais um minuto. Talvez esse seja o minuto que vai proporcionar a elas mais uma hora, que é a hora que vai proporcionar a elas mais um ano. Ninguém vai dar a elas uma quantidade infinita de tempo, Hazel Grace, mas a minha vida deu a elas mais um minuto. E isso não é pouco.
— Opa, peraí — disse Hazel Grace — Estamos falando de pixels aqui.Dei de ombros, depois me virei para Isaac.

— Vamos tentar completar a missão mais uma vez, cabo?
O Isaac fez que não.

— Ela não quis deixar para depois. – disse Isaac, olhando para Hazel Grace.
— Ela não quis terminar o namoro com um cara cego — continuou Hazel. Ele concordou, as lágrimas caindo na cadência de um metrônomo silencioso: constante, interminável.
— Ela disse que não conseguiria lidar com isso — o Isaac falou. — Estou prestes a perder a visão e ela não consegue lidar com isso.
— Sinto muito — falou Hazel Grace.
Ele enxugou o rosto todo molhado na manga da camisa. Por trás dos óculos.

— Isso é inaceitável — continuou Isaac falando a Hazel Grace. — Isso é totalmente inaceitável.
— Bem, para ser honesta — disse Hazel Grace —, quer dizer, ela não deve mesmo conseguir lidar com isso. Você também não, mas ela não precisa. E você, sim.
— Eu ficava dizendo "sempre" para ela hoje, "sempre, sempre, sempre", e ela só continuava falando ao mesmo tempo que eu, sem me escutar, e não disse "sempre" para mim. Era como se eu não estivesse mais ali, sabe? "Sempre" era uma promessa! Como é que você pode não cumprir uma promessa desse jeito?
— Às vezes as pessoas não têm noção das promessas que estão fazendo no momento em que as fazem — disse Hazel Grace.

— Tá, tem razão. Mas você cumpre a promessa mesmo assim. Amar é isso. Amar é cumprir a promessa mesmo assim. Você não acredita em amor verdadeiro?

— Eu acredito em amor verdadeiro — o Isaac disse. — Eu amo a
Monica. E ela fez uma promessa. Ela me prometeu para sempre. Ele ficou de pé e deu um passo na minha direção. Eu me levantei, achando que ele queria um abraço ou coisa assim, mas aí ele simplesmente deu meia-volta, como se não conseguisse se lembrar de por que tinha ficado em pé – Eu e Hazel Grace vimos a expressão de ódio em seu rosto

— Isaac — disse ao Isaac.

— O quê?
— Você parece um pouco… Não leve a mal o duplo sentido, amigo, mas há algo preocupante no seu olhar.
Isaac começou a chutar a poltrona, logo deu uma cambalhota e foi parar na minha cama.
— E lá vamos nós — disse.O ataque de começou, Isaac seguiu a poltrona e chutou a coitada mais uma vez. Eu concordei com ele, por ele estar descontando sua raiva em objetos inanimados — Isso aí — falei. — Atrás dela. Chute a poltrona até não poder mais! – bom, acho melhor ele chutar a poltrona do que a cara de Monica... Bem não seria uma má ideia. Brincadeira.
O Isaac chutou a poltrona de novo, chutou a minha cama, pegou os travesseiros o começou a bater eles na parede.
— Eu não consigo parar de pensar naquele livro. – disse ao me lembrar de UAI.
— Nem me fale! – disse Hazel Grace.
— Ele nunca disse o que acontece com os outros personagens? – perguntei com uma ponta de esperança.
— Não — respondeu Hazel. O Isaac ainda estava batendo na parede com o travesseiro. — Ele se mudou para Amsterdã, o que me fez imaginar que talvez estivesse escrevendo a continuação da história, com o Homem das Tulipas Holandês como personagem principal, mas ele não publicou nada.
Ele nunca é entrevistado. E não parece estar on-line. Já escrevi várias cartas perguntando o que acontece com todo mundo, mas ele nunca responde. Então… é isso.

— Espere um instante — disse, fui até Isaac, o peguei pelos ombros e disse — Cara, travesseiros não quebram.Tente alguma coisa que quebre.


O Isaac pegou um troféu de basquete da prateleira acima da cama e o segurou no alto da cabeça, como se esperasse uma permissão. — Isso —disse— Isso! — O troféu se espatifou no chão, o braço de plástico do jogador de basquete separado do corpo, ainda segurando a bola. O Isaac começou a pisotear o troféu. — Isso! — disse novamente. — Acabe com
ele! — virei para Hazel Grace: — Já faz algum tempo que venho procurando uma forma de dizer ao meu pai que, na verdade, eu meio que odeio basquete, e acho que encontrei.
Os troféus vieram todos abaixo, um a um, e o Isaac pulava neles e gritava— Está

Depois disso, olhei meus troféus jogados no chão, não senti nada, eram apenas um bando de plástico, e pior, os ganhei pelos ‘’Privilégios do Câncer’’ Fui até Isaac e o perguntei:

– Está se sentindo melhor?

— Não — murmurou o Isaac, o peito inflando por causa da respiração ofegante.
— Esse é o problema da dor — disse , depois me voltei a Hazel e continuei — Ela precisa ser sentida.


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