A Culpa é Minha e das Metáforas escrita por Larissa Waters Mayhem


Capítulo 18
Capítulo 18 - Viver a vida sem Martírio


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, Okay?



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Acordei com aquela dor infeliz latejando, no mesmo tempo minha mãe entrou no quarto junto ao meu pai, os dois com uma terrível cara de enterro, calma aí, não morri ainda. Ainda estava deitado, sentei-me na cama e peguei minha prótese, meus pais sentaram um de cada lado.

– Bom dia queridos pais. – disse encaixando a prótese – Qual é a notícia ruim ou boa?

Minha mãe olhou para meu pai, o olhar dela dizia Vai logo, fala pra ele! Meu pai olhou pra mim e começou a dizer:

– Você vai começar a quimioterapia. – disse com tanta propriedade se esquecendo que a decisão é minha.

– Pai, me desculpe, mas não quero. – falei.

– Não cabe a você a decisão. – disse levantando-se.

– Cabe sim, eu que decido a minha vida! Ou o que resta dela! – disse levantando-me também. Meu pai estava nervoso, coçava a cabeça e suava.

– Augustus você tem que tentar! – disse mamãe, que já começava a chorar.

– Mamãe não tem mais o que se fazer! Já a sentença já está dada! – falei.

– Augustus! É sua vida! Você tem que tentar pelo amor de Deus! – gritou.

Aquilo me magoou profundamente, eu estava fazendo os meus pais sofrerem, o que foi horrível, o aperto no coração deles devia ser pior do que o meu. Sentei-me na cama e coloquei as mãos na minha cabeça e fiquei em silêncio.

– Faça isso por você, por nós e pela Hazel. – disse mamãe – Por favor Gus!

Meu pai estava de costas para nós, deduzi que ele estava chorando. Levantei-me e fui abraçá-lo dizendo:

– Calma meu velho,vou pensar nisso eu prometo.

Ele me abraçou tão forte que meus olhos quase saltaram, minha mãe levantou-se e nos abraçou também. Depois daquele melação fomos todos tomar café, sem tocar naquele raio de assunto, pois tinha prometido pensar naquele assunto.

(**)

Estava comento uma tigela de cereal deliciosamente cheia de leite e morangos, tão gostoso que poderia dizer que estava chegando ao clímax, o telefone tocou e minha mãe atendeu, segundos depois disse:

– Telefonema pra você!

Levantei-me animado e gritei:

– É A HAZEL GRACE?

– Não, é sua irmã, Martha!

Digamos que brochei, pensei que era a Hazel, atendi ao telefone:

– Você não é a mulher que esperava me ligar.

– Nossa Gussy, que amor hein?

– É brincadeira docinho, mas eaí como anda a família? – pergunto

– Bem sim. Papai me contou o que está havendo.

Consegui perceber a tristeza em sua voz.

– Mas eaí, quando a minha irmã mais sexy do mundo vai vir me visitar? – disse mudando de assunto.

– Irmã mais sexy? Sério? – perguntou.

– Não, na verdade estava falando da Julie, mas tudo bem. – brinquei. – Sério Martha, venha logo, estou com saudades. – falei.

– Claro que vou ir, nós duas vamos de visitar, Ok?

– Ta certo. – Não ousei falar Ok para a minha irmã, essa palavra carregada de sensualidade deve ser gasta apenas com a Hazel Grace.

– Vou ter que desligar Gussy, fique bem certo?

– Sim, prometo que não morrerei até você chegar. – comentei. Depois um silêncio se seguiu. – Brincadeira boba – completei.

– Então ta. – disse com uma voz chorosa – Te amo Gussy.

– Também de amo Martha.

Martha desligou, coloquei o telefone no gancho e voltei a comer o meu cereal delicioso fingindo que não fiz um comentário de mau gosto com a minha irmã.

– Então, como vai o namoro com a Só Hazel? – perguntou meu pai.

– Nossa, sério, esse cereal está muito bom. – falei tentando desviar o assunto, não curto muito falar dessas coisas com o meu pai.

Minha mãe fez um sinal para o meu pai, querendo dizer para que ele ficasse quieto. Depois lamber aquela tigela.

Fui tomar um banho para tirar as impurezas e sujeiras do meu corpo, ouvi alguém entrar no meu quarto, gritei:

– Mãe é você?

Ninguém respondeu, ouvi a pessoa derrubar meus DVD’s organizados em ordem alfabética, abri o box e peguei a minha toalha azul que estava pendurada. Coloquei em volta da minha cintura. Quando saí do banheiro levo um susto.

– Merda Isaac! Me assustou.

– Não é dessa vez que vou te ver pelado cara. – disse sentando-se na poltrona em forma de L.

– Veio aqui tão cedo por que? – perguntei.

– Saudades eu acho. – disse coçando a cabeça – Mentira, vim aqui pra te encher o saco, minha mãe foi a uma festinha na escola do Graham, bem, eu não quis ir.

– Então ela te deixou com a sua babá. – falei.

–Quem é a minha babá? – perguntou.

– Eu! Você não larga mais do meu pé! – disse brincando – Agora por favor, feche os olhos que eu vou me trocar.

– Legal essas suas piadas Gus, seu grande filho da mãe!

Peguei minha calça de moletom cinza e minha camisa vermelha, uma cueca e levei para o banheiro, me troquei lá. Depois voltei ao quarto, Isaac estava muito quieto.

– No que está pensando Isaac? – pergunto.

Ele balança a cabeça e diz:

– Em nada cara.

– Bem, eu conheço um ditado que fala, mente vazia é oficina do cara lá de baixo.

– Dos japoneses? – pergunta Isaac tirando uma com a minha cara.

– Deixe pra lá. – falei.

Ele suspirou, e depois começou a dizer:

– Bem, eu sei que isso é bem gay, mas mesmo assim vou dizer. Ultimamente eu venho ligando muito pra você, e vou ser bem sincero, estou aproveitando o máximo da sua amizade.

Eu sorri, Isaac não era o tipo de cara que se abria entende? Não comigo.

– Bem, você acompanhou a minha vida Gus – continuou a dizer - Você me viu levando os maiores foras, me viu ficar bêbado muitas vezes, me viu apanhar no playground e foi lá me ajudar quando nos conhecemos, seu filho da mãe porque foi meu melhor amigo. Eu prefiria que não tivéssemos nos conhecido pra sei lá, não sofrer a sua morte. – diz, consegui perceber sua tristeza. – Não estou querendo te agorar, mas sei lá seu filho da mãe, eu me senti na obrigação de agradecer tudo o que fez por mim. Você foi um grande irmão.

Sim soou muito gay, de fato. Mas eu me senti bem quando ele me disse aquilo, realmente éramos dois irmãos, e eu também me sinto culpado por ter que deixá-lo. Eu sei que esse bloco de notas (diário não, já disse que diário é coisa de garotas) muito deprimente Peter, mas pra mim todas as palavras e consolos já são um elogio fúnebre, eu sei que desde que acendi como uma árvore de natal, deixei de ser um cara empolgante e fiquei um depressivo. Mas o que é a vida Peter? Um lampejo ou uma faísca? Um bem sofrer ou um mal sofrer? A vida é amor ou ódio? Pode ser nada, mas ao mesmo tempo pode ser tudo. Só sou um cara perdido na imensidão dos meus pensamentos, eu lhe digo uma coisa meu velho, o nosso cérebro sabe nos pregar peças, é um martírio tudo isso que estou vivendo. Eu juro que a cada dia me sinto totalmente um mal agradecido, por não dar valor as pessoas que estão em minha volta, mas poxa, tenho uma família, amigos que eu amo, e a como diz a Hazel Grace, meu amor estrela cruzada, que é ela.

Eu realmente não quero perder minha magia só pelo simples fato de estar morrendo, isso acontece, uma certeza que tenho, todos nós nascemos para morrer, mas é inevitável deixar de gritar no vácuo e esperar uma resposta.

Eu simplesmente quero chegar a conclusão de que o melhor é viver a vida sem martírio.


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Notas finais do capítulo

Motivo desse capítulo depressivo? Estou ouvindo M83 - Wait '-'



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