Pela primeira vez, o choro da segunda-feira não vinha da preguiçosa Laika.

— Ah, meu irmãozinho. Franny chorava inconsolavelmente. — Ele disse que seria apenas meu e vai casar com aquele monstro loiro.

— Cala a boca. Laika prosseguia sua repetição infinita. — Limpa esse nariz, também, seu choro está me irritando.

— M-mas, você não entende. Deitou a cabeça na mesa e chorava abafado.

O irmão de Franny vai se casar com a irmã do Miguel, ela não gostou nada, é muito raro vê-la até mover uma pálpebra, mas agora está chorando como uma criança sem doce.

— E como foi seu encontro com Quentin? Mordeu seu biscoito.

— Nem meu irmão quis me contar, imagino que tenha sido ótimo. Melanina olhava meio tristonha para mim.

— Também não vou contar. Olhei-as tentando não mostrar minha felicidade.

Mas foi muito bom…

— Vai fazer a mesma coisa que meu irmão? Ter um relacionamento secreto e de repente se casar?

— Não, Laika ainda está procurando alguém pra você. Sorri tentando confortá-la. — Do jeito que estou enrolada, você vai se dar bem primeiro que eu.

Laika e Melanina insistiam em tentar conversar com ela para finalmente parar de chorar.

O barulho do refeitório cessou no toque do sino, as meninas foram mais rápidas que eu para guardar suas vasilhas de lanche e foram na frente, tentando deixar Franny de algum modo longe das janelas, para não pensar em coisa pior.

Me levantei e senti alguém segurar meu pulso.

— Por que você não se apaixona por mim? O olhar penetrante do Rhay encarava os meus seriamente, estava sentado no lugar onde eu estava.

— Por que você é tão manipulador?

— Ainda com raiva disso. Não respondi. — Como foi o encontro com Quentin? Olhei-o com raiva e ele respondeu com frieza.

— Foi ótimo. Dei-lhe as costas e ele rapidamente me acompanhou.

— Certo. Desabrochou um estranho olhar, quase escondendo-os através de seus cabelos.

Eu o encarei, tentando decifrar seus olhos, mas me assustavam, me deixava cada vez mais acuada, eu não posso brincar com ele… Ele não é um rapaz de brincadeiras… E sim de sarcasmo e autoridade.

— Me desculpe. Para minha surpresa se aliviou deixando o ar mais tranquilo. — Eu preciso de um favor seu.

— Como posso ser útil para o rei?

Não brinque com ele SUA TONTA!!

— Você quer realmente perder sua língua hoje.

— N-nã…

— Eu quero sair com você.

— Sair comigo? Que atitude romântica, você é um doce! Talvez o soco tenha alterado o funcionamento cerebral. Dei-lhe um soco fraco no ombro.

Ele me olhou indignado desejando protestar meu toque e minha falácia.

Pensei que ia morrer quando se aproximava de mim, eu tentava me afastar e de repente me senti encurralada.

Seu rosto se movia em direção ao meu, eu fechei meus olhos já esperando um beijo.

— É, você tem sorte de estar aqui no meio do corredor, mas não lembre disso para seu bem. Ele se aproximou de meu ouvido. — Ou vou dar uma surra em você, mil vezes pior.

Puff. Lembre-se de não provocar mais ele.

— Você teria mesmo coragem? Disse com um tom meigo, ele respirou fundo e colocou a mão no rosto contendo algum sentimento.

— Estúpida. Saiu resmungando indo para seu bloco escolar.

E você, adorável.

— Você vai?

— R-Renata? Coloquei a mão no peito para ter certeza que meu coração ainda estava lá. — Por que você sempre me assusta?

— Ahahaha, foi mal. Deu uma tapinha nas minhas costas. — O Rhay lhe chamou para a festa da nossa família, cê vai, né?

— Eu acho que depois do que falei ele prefere levar até o Quentin, ele explodiu agora comigo.

— Naaam, eu acho que ainda está perto de explodir, isso aí é a versão demonstrativa do produto… Aliais, quero fazer uma experiência, vá com decote, vai ser engraçado.

— É para fazer o contrário? Disse com um ar de tédio. — Aquele chá que você deu deixou ele louco.

— Não, apenas liberou seus desejos, se quer ter certeza do que ele sente por você, use um decote.

— Ele vai tentar…

Imaginação breve.

— Ah… Eles estão cada vez maiores, deixe-me tocá-los imediatamente!

Apenas breve.

— Não vai. Renata ria suspeitosamente. — Mas eu não digo por todos.

Correu para sua sala, sem ao menos me dar um tchau.

Eu fui para a minha e por coincidência o professor chegou no mesmo instante.

Não é má ideia, ele quer ser sempre o espertão, melhor que todos, por que não dá na mesma moeda? Lado sádico da doce Menezes.

Mas… Ele a viu saindo com o Quentin, não é muita tortura para ele? Ele ainda não explodiu e você não quer ver o estrago. Lado mais sensato.

Quentin é seu amigo de infância!! Além do mais nem a beijou desde o dia que provocou o outro, ele estava estranho e apenas encarava e desviava.

— Senhorita Menezes, leia o texto página 345.

— Sim.

Preferi voltar ao foco da aula ao invés me perder novamente nos meus pensamentos. Apenas pensei.

Foquei em um casal de anões ao lado.

— Não fica assim Franny. Miguel pelo visto tinha trocado de lugar com Laika. — Meu irmão é solteiro e provavelmente nunca vai arranjar uma mulher, eu posso pedir pra ele ser seu irmão também.

Preocupante…

O resto das aulas passaram voando, saí da sala junta com as meninas, o Quentin não veio hoje para a escola…

Rhay passou por mim ocupado falando no celular, sempre reclamando, entrou num carro e desapareceu da minha vista.

— Tchau. Acenei para as garotas. — Tá, ninguém percebeu. Entrei no carro e mamãe estava estranhamente alegrexcessivamente.

Cheguei em casa e subi para deixar meu material escolar, meu pai invadiu meu quarto com a cara que olhava quando via Rhay e disse que tinha uma moça na porta perguntando sobre mim.

Desci, numa confusão imensurável mental.

— Oh, você não é nada demais.

Ha? Que l-linda. Vestia uniforme de empregada, tinha lindos cabelos loiros e belos olhos castanhos claros.

E uma bela comissão de frente.

— O que foi?

— V-você é linda.

— Ah. Entregou-me um papel com a letra do Rhay. — Não desaponte o mestre.

— Mestre? Ele lhe obrigou a falar isso? Ele é um pervertido mesmo, não deixe-o tocar em você.

— Quem dera. Mordeu os lábios. — De qualquer forma, tem tudo que precisa saber aí.

Se despediu de mim e entrou num carro, com o maior despeito do mundo.

Mas era irritantemente linda, ela deve conviver muito com ele para ser desse jeito.

Fechei a porta e li o bilhete.

SÁBADO DE MANHÃ? AHHH.