– Tudo bem, Joseph. Por onde vamos começar? – pergunto.

Ele olha para mim, em silêncio. Eu o encaro de volta. Joseph é do tipo de cara que tem um olhar indecifrável. Sustentei esse olhar por cerca de cinco segundos, até que perguntei:

– O que foi?

– Você vai mesmo fazer isso por mim? – indagou de volta. Eu suspiro, fingindo exasperação.

– Joseph, você é meu melhor amigo. Esteve comigo... bom, não em todos os momentos, mas sempre que eu precisei. Isso é o mínimo que eu posso fazer por você.

– Liv, você é incrível, sabia?

É claro. E ele diz isso só para quebrar meu coração. Eu contenho um arquejo. Porque aqui está o cara que eu amo, na minha frente, dizendo que sou incrível. E tudo isso porque irei ajudá-lo a encontrar o amor de sua vida.

– Quanto tempo você tem?

– Até a meia noite de hoje – ele murmura.

– O quê?! – exclamo.

– Eu disse que meu prazo estava acabando...

– Você não poderia ter me dito sobre tudo isso antes? Tipo, uns dois anos antes?!

– Eu não queria assustá-la, Liv. Você era muito nova. Iria ficar confusa...

– Eu estou confusa agora. Não existe idade para isso.

– Eu sei, desculpe-me. – Joseph abaixa a cabeça.

Eu paro por um segundo. Isso deve estar sendo difícil para ele. Se ele demorou tanto tempo para me contar, é porque realmente isso o torturava muito.

Cheguei perto dele e o abracei.

– Não peça desculpas – eu disse. – Vamos encontrar Antônia. Eu não sei como, mas vamos.

– Tudo bem – concorda.

– Você tem alguma ideia de onde poderemos ir? Se ela morreu, e você... Acha que ela também estaria na forma de...

– Espírito?

– Bem, é – digo, desconfortável.

– Não precisa se sentir desconfortável, Liv. Eu sou um espírito. Mais especificamente, um espírito preso a um livro.

– Como assim? – pergunto.

– Não sei como, mas ao escrever a minha história, meu irmão me eternizou nessas páginas. Ele não fez isso por querer. É assim mesmo. Quando um escritor escreve uma história, ele eterniza cada ser criado, cada momento vivido se torna real.

– É algum tipo de magia?

– Sim e não. É um tipo de magia só para aqueles que leem, que se entregam de coração ao livro. Os livros têm esse poder. Mas para os outros, aqueles que não leem, livros são apenas folhas. Não sabem eles o que perdem.

– Um pouco confuso, mas acho que entendi... E para onde iremos primeiro?

– Você é que irá me guiar – diz. E, de alguma forma, eu sei para onde ir.

– O lugar onde vocês se encontraram a primeira vez. Onde foi?

– O parque.

Eu olho para ele e me levanto. Logo saímos de casa e corremos para lá.

– Onde foi? – pergunto. Já estamos no parque. Joseph olha para todos os lados, até que aponta para uma árvore. E eu reconheço como a mesma árvore sob a qual eu abri aquele livro pela primeira vez. – Você está brincando, não é?

– Não.

Corremos em direção à árvore. Peço que ele se sente e Joseph me obedece. Fecho os olhos e faço uma pequena oração para que meus anjos me deem luz. Um estalo ocorre na minha mente, e digo para Joseph se levantar. Desta vez, tomo o lugar dele, sento-me e recosto na árvore, fechando os olhos.

Cenas rápidas invadem a minha mente. Eu podia ver Joseph mais novo, mais sorridente, com os olhos brilhando. Ele falava algo sobre o futuro, olhava para as pessoas passeando. Ouvi uma risada de garota.

E então abri os olhos. E a cena se foi.

Olhei para Joseph. Por que eu estava tendo visões dele? E quem era aquela garota de quem ouvi a risada? Seria Antônia?

Fechei os olhos novamente, e dessa vez apenas uma coisa chegou a mim. Um anel.

Abri os olhos e apenas disse:

– O anel.