PDV Ellyon

CRACK!

    O plano de fundo escuro não ajudava a enxergar de onde vinha o barulho.

CRACK!

    Corri para a fogueira, mas não havia vestígios de fogo entre as lenhas queimadas.

CRACK!

    _Vou ver o que é. – disse Fred caminhando pra fora da caverna.

    _O que? Ta louco? Não, você não vai!

    _Calma garota! Eu vou... disfarçado.

    _Então eu também vou!

    _Não mesmo! _ Fred me desafiou.

    Vire priores alacritas!

CRACK!

    _Pronto! Já peguei meu arco... – eu disse – pulguento.

    _Au!Au! _ latiu em protesto.

    _Shhh... Cãozinho mau! Cãozinho mau! Você checa a área da direita e eu, a da esquerda ok?

    Me direcionei para a esquerda, como havia dito, e continuava sem ver nada. A única coisa que se mexia na clareira frente a caverna de Thil era eu.Nem uma folha. Nem um morcego. Apenas eu e meu irmão canino. Preparei a flecha no arco e continuei andando de um lado para o outro, em busca de um alvo para atirar.

    CRACK!

    E um grito cortou a noite fria. Olhei espantada para a direita e vi que Fred tinha achado a origem dos barulhos que faziam meus nervos tremerem.

    Era um homem.

    Na verdade, um rapaz novo que estava sendo arrastado pelo tornozelo. Parecia que Fredia engolir o pé da vitima.Era apavorante.

    _Ahhh! Socorro! Alguém tire esse vira-lata de cima de mim!_ gritava nosso... camarada.

    _ Calma... _ fui tentar socorrer _ Fred, larga ele!

    E soltou. No instante seguinte Fred havia voltado a forma normal.

    _ Eca! Gosto de sangue!

    _ Como assim sangue? _ me apavorei _ Não acredito que você machucou ele!

    _Ei, ei, ei!Dá um desconto! Ainda não sei controlar a minha força.

    Estávamos no auge da discussão quando me lembrei que havia uma pessoa ferida, gemendo e sem entender nada do que falávamos no chão. Não que ele não falasse a nossa língua, mas ele estava meio atordoado e confuso.

    _Quem é você, bisbilhoteiro? Por que estava escondido?

    _ Eu estava em uma missão e vi movimento por essas bandas.Me escondi para ver se vocês eram inimigos._ respondeu o ferido, com rispidez.

    _ E pra quem você trabalha? _ Perguntou Fred, mais carrancudo ainda.

    _Trabalho em nome de Nárnia e de Aslam.

    _ Você já o viu? _ me intrometi _ Ele vai nos ajudar?

    _ Não. Nunca o vi. Mas quero uma Nárnia livre, e não Harus governando!

    _ Então, qual seu nome cidadão?

    _ Me chamo Ralf. Ralf Flins. E vocês, quem são?

    _ Acho que está do nosso lado, não é? Eu sou Fred Halley e esta é minha irmã, Ellyon.

    _Prazer Srta. Ellyon, e Sr. Fred.

    _Ah, não me venha com formalidades _ eu disse, já ficando vermelha_ agora vamos cuidar desse machucado antes que inflame.

    _ Desculpe o mau jeito. Sabe como é... pensei que era um intruso.

    _ Eu faria o mesmo... só que saberia controlar a força da mordida. _ e deu uma risada sufocada... que ser estranho!

   E foi assim (depois de um longo cochilo, claro) que terminou nossa noite.

                                                                . . .

PDV Fred

    O dia mal havia clareado quando acordei. Olhei para o lado e lá estava Elly em seu habitual sono profundo. Mas quem não encontrei dormindo foi o tal de Ralf... sujeitinho metido!

    Mas devia ser só a primeira impressão e não é legal julgar as pessoas antes de conhece-las. Saí à procura dele e não demorei muito a encontrá-lo pegando frutas e cantarolando o que devia ser uma cantiga de Nárnia.

    O cara nem me viu e eu não fiz esforço pra ser notado. Ta. Sem sermões! Eu sei que também não é certo bisbilhotar as pessoas, mas em minha defesa, o cara era um estranho total! Precisávamos saber com que realmente estávamos lidando.

    Não parecia ameaça, mas encasquetei com a pessoa. Parecia... bom de mais pra ser verdade, ter um aliado, mais uma pessoa para ajudar a combater o feiticeiro das trevas.

    _ O que foi? Já acordou? _ a pergunta de Ralf me fez voltar à tona da realidade.

    _ Anh? Ah, sim... o que você ta fazendo? _ perguntei surpreso.

    _ Café da manhã. E juntando algumas coisas para a viajem.

    _ Certo. Vou chamar Elly.

    Dei as costas e comecei a andar, mas sua pergunta me fez estacar:

    _ Vocês... são irmãos certo?

    _ Sim... já havíamos dito isso ontem. Por que a pergunta?

    _ Por nada. Curiosidade.

    Não disse? Que cara estranho fomos arranjar...  

PDV Ellyon

    Fui chacoalhada ate acordar por Fred, o que demorou um pouco, admito.

    Já é horrível você acordar com pancadas no braço, ainda mais ter que sair às pressas em seguida.

    Essa foi minha manhã.

    Caminhamos um longo trecho até o sol estar a pino, onde pegamos três frutas e comemos andando mesmo.

    Os dias até ali haviam sido basicamente isso: acordar, andar, comer pouquíssima coisa, andar, andar, andar e enfim, dormir. Já estava cansada dessa monotonia, se bem que, cair em um mundo paralelo e explora-lo não deveria ser monótono...

   Mas era. De um certo e curioso jeito era.

   As aparições eram o que quebravam a rotina. Os silenos, Sr. Tumnus – Noel, e agora ele.

   Ralf era esquisito sim e de algum modo eu sabia que as mesmas suspeitas pairavam sobre Fred. O olhar. Um simples olhar revela tudo. E o dele revelara, e revelara os pensamentos que mantinha focado seu conceito em Ralf.

    Mas Ralf também tinha um olhar. O olhar de experiência, sabedoria e esperteza. Mas um único olhar de Ralf me assustava.

    O olhar das sombras.