Kümby escrita por Gumi


Capítulo 10
O "Cauda de Urubu"


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura!



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PDV Fred

   Vagávamos pesadamente por entre os arbustos cujos galhos arranhavam nossas peles, o que nem notávamos. Ninguém tinha coragem nem estômago para comentar sobre o ocorrido.
   Ralf ia nos guiando, pois era o único que supostamente “conhecia” aquelas terras.
   Começou a chover, o que nos obrigou a procurar um lugar para esperar pelo tempo seco. Corremos para baixo de dezenas de árvores que cercavam uma enorme clareira. Meus olhos vagavam à volta e se focaram ao longe, onde minha cabeça estava a mil, pensando, tentando descobrir o que seria pior que uma velha maníaca e, de repente, com um estalo, ela parou completamente. Estranhei a sensação de ter o estômago esmagado: era ansiedade, pois foi nesse momento em que vi uma luz tremulando ao longe. A cortina de chuva atrapalhava minha visão, não me deixando pistas do que poderia ser.
   Nunca, desde que chegamos em Nárnia, parei para pensar que ali também poderia existir comércio. Claro! Muito primitivo seria o pensamento se existisse civilização e não houvesse comércio.
   _Ei! – chamei a atenção dos dois ao meu lado que, agora que notei, estavam muito próximos. Ignorei a cena para não perder o rumo do meu raciocínio – existe alguma loja ou alguma outra coisa parecida aqui por perto?
   _ Provavelmente – disse o “mapinha ambulante”. Na minha opinião? Quem diz “provavelmente” não pode ser considerado um mapa muito preciso.
   _ Qual a sua idéia Fred? – perguntou uma Ellyon aborrecida – quer que a gente saia na chuva para procurar uma lojinha de conveniência? – ironizou.
   _ Sim – respondi irritado, mas logo me acalmei e passei para um tom maroto – só que não vamos sair procurando.
   Mais estranha do que sentir meu estômago despedaçado foi a sensação que senti quando virei a cabeça e sorri na direção da minha irmã e do sujeito. Entendam que eu ainda antipatizava com o cara. Enfim, parecia que eu não sorria a séculos.
   Saímos de baixo de chuva até que chegamos ao local. Era um bar. Na fachada tinha um letreiro com um urubu de asas abertas empalhado e abaixo escritas com letras grandes e rústicas em tom dourado, já gasto com o tempo, “Cauda de Urubu”. Empurramos a porta de madeira e entramos no recinto.
   Me senti mais leve e confortado quando senti o calor das velas que ficavam nos lustres e nas paredes e finalmente, pessoas falando.
   _ Vamos pedir alguma coisa quente pra beber – Ellyon decidiu, convidativamente.
   _ Ótima idéia! – exclamei – você só está esquecendo um pequeno detalhe, maninha...
   Não obtive nenhum entendimento por parte deles.
   _Dinheiro é claro! – disse revirando os olhos – O sabichão ai deve saber com o que os narnianos pagam as coisas, não é?
   _ As moedas são chamadas nuques, sicles e galeões. Cada galeão equivale a dezessete sicles e cada sicles equivale a vinte e nove nuques. 
   _ Ah! – exclamou Ellyon radiante – então foi útil mexer nas coisas da papa - humanos! – e mostrou uma bolsinha de couro cheia, tilintando quando batia na mão da minha irmã, em forma de protesto por ser jogada para cima.
   Olhei ao redor e notei o que eram os seres (abro um parênteses aqui para esclarecer que eram os mais extraordinários que já vi na minha vida) que compunham os clientes do “Cauda de Urubu”. Conclui que tinha esse nome por serem ratos, que chegavam à altura da cintura de um homem, todos os funcionários do bar. Imagino que esse urubu deva ser um encrenqueiro muito feio, se forem parecidos com os quadros de urubus sendo torturados e mortos pelos ratos, que estavam distribuídos nas paredes.    
   Mas eu falava dos clientes, certo?
   Ah, sim. As criaturas mais fantásticas que já vi.
   Centauros.
   Metade homem, metade cavalo. Seu porte era invejável, eram tão elegantes, amistosos e ao mesmo tempo aterrorizantes. Mesmo sem intenção, mesmo sem perceber, se estivesse diante de um você o respeitaria como se fosse seu herói.
   Estava perdido em meus pensamentos quando caiu minha ficha:
   _ Ellyon, você roubou! Por que fez isso, sua maluca? Sabe o que papai diria se soubesse disso?
   _ Cala a boca, Fred! Não sou ladra!
   _Considere isso um empréstimo. – Ralf defendia – e foi idéia minha! Sua irmã não tem nada a ver.
   _ Ainda assim – olhei com ‘A’ cara de decepção para Ellyon – não acredito que concordou com isso. Foi uma tremenda falta de responsabilidade... De vocês dois.
   _Olha aqui... a última coisa que precisamos é estarmos brigados entre nós. Fred: nós precisamos do dinheiro, você querendo ou não. E posso jurar pela minha alma que não tiramos dinheiro de gente honesta. – falou um Ralf sério comigo. Virou-se para minha irmã – Vamos Elly. Vamos pedir alguma coisa.
   Em certa parte o cara tinha razão, o que eu detestava. Foi pura sorte acharmos comida no caminho, mas não íamos conseguir viver muito mais de frutas e água. Estávamos definhando, isso era fato. Sobrava cada vez mais espaço para o estresse e o cansaço, aumentando a vontade incontrolável de abandonar tudo isso de uma vez por todas. Realmente, precisávamos do dinheiro. Eu ainda achava errado roubar, mas acabei concordando com a idéia de sobreviver.

PDV Ellyon

   Sentamos numa mesa aos fundos. Ralf foi buscar nossas bebidas e eu fiquei sentada a mesa com Fred, observando-o bater na mesa de leve com o dedo indicador.
   Tomei um gole da minha caneca assim que ela pousou na mesa e engasguei quando o líquido desceu queimando minha garganta.
   _ O que é isso? – perguntei tossindo ainda.
   Ralf riu da minha cara e respondeu:
   _ Uma espécie de chocolate quente com licor. Uma especialidade do “Cauda de Urubu”. Pode beber. – me tranqüilizou, vendo minha expressão – Aquece e irá repor suas energias.
   Dito e feito. Já me sentia mais animada e confortavelmente quente quando estávamos quase terminando de beber. Esse pensamento foi interrompido pelo estrondo que a porta fez ao ser aberta violentamente. A chuva ainda castigava a terra do lado de fora quando um ser enorme se movimentava para dentro do bar. Era uma espécie de minotauro, acho. Seus olhos vagaram pelos rostos nada surpresos dos clientes que continuavam falando, até que pousaram em nossa mesa.
   _ Não acredito – sussurrou.
   Veio a passos ansiosos em nossa direção e se sentou na cadeira vazia ao lado de Fred.
   _ Não acredito! – repetiu, agora mais alto – então a profecia está mesmo correta?! Oh, me desculpem! Quanta indelicadeza a minha. Meu nome é Malcom e trabalho em nome de Aslam desde a queda da Feiticeira Branca.
   _ Quer dizer que você conheceu Aslam e a Feiticeira? – era Ralf, interessado.
   _Infelizmente já vi e fiz muitas coisas horríveis pela feiticeira.
   Fred e eu nos entreolhamos.
   _ Feiticeira Branca...? – meu irmão foi mais rápido.
   _ Oh, claro que vocês não sabem. Como poderiam saber, não é? – e se dirigiu ao barman (apesar de ser um rato) – Mitcie, mais uma rodada, por minha conta! – virou a cabeçorra e olhou fundo nos nossos olhos – Bom rapazes, está na hora de lhes contar a minha história.


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Notas finais do capítulo

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