O velho se apresentou como Dr. Frankenstein e quis mostrar mais tralhas para Jack. O doutor seguiu para uma enorme bancada no andar de baixo – sim, a casa crescera na vertical também – e sentou, esperando que Jack fosse atrás. Com seus dois metros e meio de altura, Jack o seguiu, desajeitado, driblando o artrópode gigante que estava inconsciente no chão. Quando chegou a bancada, não ficou espantado, mas boquiaberto.

Uma bancada de 3 metros de comprimento, cheia de tralhas e bugigangas. Uma delas despertou a curiosidade de Jack. Ele pegou o aparelho, extremamente pequeno, que tinha um formato familiar.

– O que é isso, doutor? – Perguntou Jack.

– Um comunicador – respondeu o Dr. F.

– Um celular?

– Não, um comunicador por ondas cerebrais. Quem possuir um desses pode se comunicar com outros possuidores.

– Um celular... – disse Jack, teimoso.

– Pela última vez: NÃO! Um comunicador que transmite falas e pensamentos.

Depois de um suspiro de aflição, o Dr. F. continuou.

– Chris!

Cristina pegou o aparelho das mãos de Jack e, subitamente, introduziu o “celularzinho” no ouvido dele, que era, literalmente, um buraco na lateral da abóbora. O que Jack ouviu em seguida foi um longo e agudo “Bip”, que cessou em 2 minutos.

“Esse velho é louco!”, Jack pensou.

– Só para o seu conhecimento – começou o velho –, já está ligado...

Jack ficaria vermelho de vergonha se seu rosto não fosse laranja por natureza. O velho, ofendido, continuou:

– Mas você pode desligá-lo através do botão que deve ter surgido do lado do seu ouvido.

Jack levou as mãos a um dos buracos e pensou: “Não está aqui!”.

– O que eu faço!? – Gritou, desesperado. Sem querer, um pensamento lhe surgiu: “Velho mentiroso!”.

– Que tal tentar no outro ouvido, estrupício!

– Calma... – e finalmente achou o botão, no outro lado.

– Para ser mais exata – Chris se impôs -, você acaba de colocar os pensamentos no mudo. Nós dois ainda ouvimos o que você fala, mas não mais seus pensamentos.

Depois ela sorriu, tão grotescamente quanto da primeira vez.

Prestando mais atenção em Chris, Jack percebeu que seu rosto parecia mais normal. As mudanças drásticas de tonalidade na pele se tornaram mais tênues. As linhas de costura haviam sumido, deixando apenas leves cicatrizes. A cada segundo ela parecia mais com uma mulher normal.

O Doutor se manifestou. Fez uma cara de alegria. Que logo desmanchou, franzindo a testa. Soltou um suspiro e desabafou.

– Deu certo... E isso é ruim.

– Porque?! – Questionou Jack – Pera... O que deu certo?

– Minha última invenção o Humanizador. Todos os monstros que vivem aqui, conosco, gostariam de voltar as suas vidas humanas, antes da maldição. Assim – acrescentou, com uma voz triste -, decidi criar o Humanizador para curá-los. Pois é, funcionou...

– E o que tem de ruim nisso, vamos celebrar!

– Não... Tem alguns efeitos colaterais.