Meu Querido Chefe escrita por Callie Adraude


Capítulo 28
Vinte e Oito


Notas iniciais do capítulo

Oiiiiii, meus amores. Sentiram saudades? Eu senti a falta de vocês e dos meus queridos personagens. Mas estou de volta para a felicidade de todos. Este é um presentinho de Natal para vocês. Antes da virada do ano, posto o próximo. DESTA VEZ É VERDADE. Sem mentiras.
Bem vindas queridas Keily, Littleangel, lorejovem, Beatriz Ramos, Lina e Queen Falls. Espero que continuem comigo.
Agradeço as que mandaram Mensagem Privada preocupadas se iria voltar a postar. Vocês são as melhores garotas.
Agora vamos ao capitulo antes que todas tenham um ataque de panico com o meu falatório.
Boa Leitura *_*



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Então é assim? Estou “lelé da cuca”? Não foi exatamente como o médico e o Demitri explicou, mas chega perto. A minha cabeça simplesmente está uma loucura. Após vários exames a que fui submetida e o resultado nada convincente fui liberada. Contudo, como todos os exames anteriores, não resultaram em absolutamente nada. Para todos os fins, o Dr. Fuller concluiu que a minha perda de memória era psicológica. Disse-me que a minha mente quer esquecer alguma coisa ou momento doloroso e meu cérebro está atendendo a ela. Bloqueando qualquer indicio do que aconteceu. Não entendo de medicina, mas não parece certo. Ficar sem saber de nada sobre sua própria vida é tão frustrante.

O que não quero lembrar? Minha vida é divertidamente louca. As aventuras que tenho com o John são mirabolantes e perigosas, mas não quero esquecê-las. São uma parte de mim e do que eu faço. De tudo que sou. Perder a memória psicologicamente foi à coisa mais ridícula que já fiz.

Suspiro com desânimo jogando os braços para cima, fazendo os pingentes de safira em meu pulso tilintar. É tão linda e brilhante. Como pude esquecer-me de quem me deu e onde? Bem, com certeza deram-me, já que parece bem caro. Tive alguns vislumbres depois que saí do hospital. Como o dia em que o Fred terminou comigo na frente de seus amigos e ainda me implorou para que voltássemos. Que babaca! Graças aos céus minha memória revelou esses fatos, se não estaria achando que ele ainda fosse meu namorado. Demitri daria uma tapa em minha cara se ainda pensasse assim.

Lembro-me de alguns casos que ajudei John a resolver. Das minhas saídas com Demitri em busca de um novo amor. A festa em que o abandonei e ele acabou conhecendo o Ryan. Que é super legal para ser sincera. Porem, minhas lembranças para há duas semanas. Elas não avançam a partir deste período.

Viro a cabeça em direção porta. Os ruídos da conversa dos garotos eram médios. Depois de toda aquela confusão me admira estarem conversando civilizadamente. Precisava de um tempo sozinha, já que para mim alguns são completamente estranhos. Apesar de conhecer metade e a outra não, são todos irritantes e hilários.

O som de um pequeno trovão dentro de mim estrondou. Demorou um pouco para perceber que meu estômago ansiava por comida. Roncava instantaneamente agora me lembrando de que não almocei e precisava repor as energias. Estou há horas olhando para o teto do meu quarto sem fazer nada. Acho que três dias dormindo já quitou minha divida de sono da semana.

O céu estava escurecido e apenas a luz do luar iluminava o quarto. Antes de ir atrás de comida tomei um banho rápido para tirar os restos de vestígios do hospital. Vestindo um vestido verde básico penteei o cabelo rapidamente após ouvir os gritos de Demitri avisando que o jantar já estava pronto. Saio em disparada do quarto com o intuito de matar a minha fome.

Eles arrumavam a mesa pondo o jantar sob ela. Sento-me em uma das pontas da mesa para não atrapalhá-los. Quem sou eu pra recusar criadagem? E eu pensando que uma faxineira já me qualificava rica imagino cinco mordomos. Sorrio ao ver lasanha e purê de batatas na minha frente. John e Demitri se sentam ao meu lado. Ryan, Gregory e Keenus se juntam a nós. Notei a falta de alguns.

— Onde estão Fred e Kyle?

— Os chutamos daqui – Demitri responde me servindo. – Aqueles dois só falam besteiras.

— Que cruel! Você também.

— Olhe aqui querida – diz agora pondo vinho em minha taça. – Não me compare aqueles Zé Ruelas. Sou muito mais eu.

Não dou a mínima para o que ele disse e me concentro em minha comida. Não sei se é porque estou faminta ou essa comida está deliciosa. John pergunta se quero mais assim que acabo. Não quero parecer esfomeada, mas é minha primeira refeição em dias. Bons modos que se danem. Afirmo com a cabeça. É a primeira vez desde que saí do hospital que ele me dirigi à palavra. Aconteceu algo muito importante entre essas três semanas. O pior é que nenhum se habilita a contar-me. Estou pior que cego em tiroteio, sem saber aonde ir ou a quem recorrer.

O resto do jantar foi feito em silêncio. Fiquei assistindo TV na sala enquanto eles lavavam a louça. Tentei ajudar, mas tudo que recebi foi “Você está doente, precisa descansar.” Ainda levei uns olhares mal encarados por dizer que o meu problema era mental e não físico. Assim que terminaram todos foram embora e o único que ficou foi o John. Ele senta na poltrona e me encara. Seu olhar me deixa nervosa. Alguma coisa em mim não está regulando bem. Droga! Esqueci que é minha mente. Porém, existe mais uma coisa que não está se encaixando.

— Por que não foi para a sua casa?

— Esta é a minha casa temporária. – responde ainda me encarando. – A minha está em reforma.

— O seu apartamento é maravilhoso. – digo lembrando-me do quanto magnifico é. – Por que está fazendo uma reforma?

— Era maravilhoso. – especificou. – Hoje se reduziu a cinzas.

— Como assim?

— Foi explodido.

— E você fala nessa calma?

— Não se preocupe. – ele diz sorrindo para amenizar a conversa. – Já resolvi tudo.

Aceno a cabeça. Não por que não tenho nada para falar. Mas apenas por estar desconfortável. O que está acontecendo? Nunca me senti assim antes. Trabalho com John há anos, por que estou tendo esse tipo de sentimento? Volto a minha atenção a TV. Não fazia ideia do que estava passando e nem me importava. Não ter que olhar para ele agora no meio deste meu turbilhão de dúvidas é bem melhor.

— Ahn... Você disse alguma coisa? – pergunto quando percebo que fiquei tempo demais calada e perdida em meus pensamentos.

— Você está bem? – ele se levanta e põe as costas da mão e minha testa. – Por que não vai dormir?

—Estou sem sono.

Tiro sua mão de minha testa sentindo um formigamento depois do seu toque. Ele volta a se sentar na poltrona e tira o que parece uma espécie de mapa do bolso da calça. Franzo a testa me perguntando mentalmente para o que ele queria o mapa.

— Que tal uma diversãozinha? – proponhe, com um sorriso brilhante no rosto. – Prender alguns bandidos.

— Somos policiais agora?

— Quer vir ou não?

— Que milagre é esse?

— Do que você está falando? – vejo sua cara de perdido na conversa.

— Você está perguntando se quero ir e não me mandando ir.

Ele dá de ombros sabendo que é verdade e abre mais o sorriso lembrando-se dos fatos. Fatos que lembro até duas semanas atrás. Mas os anos que lembro são suficientes. Levanto-me pegando o mapa de suas mãos e ponho uma jaqueta jeans. Ponho uma bota preta sem salto para não dificultar nada. Procuro as chaves da BMW para irmos onde quer que seja. Não quero ficar enfurnada neste apartamento tentando lembrar-me de coisas que não sei quais são.

— O que está procurando? – pergunta pondo o casaco se aproximando.

— As chaves do meu carro. – respondo como se não já fosse óbvio.

— Bem, sobre isso. – ele coça a cabeça sem jeito. – Seu carro também foi reduzido às cinzas.

Meu corpo é que iria se reduzir a cinzas em pouco tempo. Caramba! Já estou sem memória e agora sem carro. Que maravilha!

— O que aconteceu? – pergunto com rispidez, mas ele continua calado. – Me conta.

— Seu carro explodiu enquanto sofríamos uma perseguição em massa.

Ele falou tão rápido que se eu não estivesse prestando atenção não teria entendido nada.

— Foi por isso que parei no hospital?

— Não. – ele parece que está tentando escolher as palavras certas. – Claire. Você foi atropelada por um carro enquanto atravessava a rua. O médico te disse isso.

— É. Agora lembro. – digo ainda olhando-o ameaçadoramente. – Então iremos em um dos seus.

— Isso também não será possível.

— Já sei. – não consigo esconder o sarcasmo. – Estão “reduzidos a cinzas”.

— Uau. Você recuperou a memória.

— Deixa de ser idiota. – xingo-o. – Vamos logo antes que eu desista.

—Espere aí, não é um mapa. – digo analisando o papel no banco de trás do táxi. – Isso é a planta de um edifício.

— Que está em construção. – acrescentou. – Mas já estão terminando.

— O que vamos fazer?

— Temos que encontrar umas pessoas.

— Encontrar ou espiar?

— Espiar fica bem mais atraente não é?

Ele sorrir e não sei se tenho uma mente poluída ou não, mas entendi um duplo sentido nessa frase. E por que meu corpo está reagindo como se tivesse gostado? Pode parar agora. John é meu chefe, nada mais que isso. Afirmo com a cabeça para não correr o risco de falar algo que não deva. O táxi para em meio à região metropolitana de Los Angeles.

Vejo o edifício em construção assim que desço do veiculo. Abro a planta percebendo que John destacou todas as entradas de ventilação. Ele marcou a que precisamos entrar. No vigésimo andar e última sala do corredor. Parece que vamos espionar mesmo.

John quebra o cadeado e libera o portão das correntes. Faz com cuidado para não fazer muito barulho e chamar atenção. Entramos cautelosamente e meus olhos procuravam avidamente pelas escadas. A mão de John me puxa em direção aos elevadores.

— O que pensa que está fazendo? – pergunto já me desesperando.

— Vamos subir até o décimo sétimo andar de elevador e seguimos de escada até o vigésimo.

Incrível como ele respondeu como se não houvesse problema algum.

— John – tento me soltar. – Você me conhece há anos, sabe que não pego elevadores. E também sabe o motivo.

— John agora estou duvidando da sua inteligência.

Ele estava prestes a apertar o botão para chamar o elevador.

— E por que acha isso?

— Se pegarmos o elevador irá aparecer nos outros andares que ele está em movimento. – explico torcendo para que ele entendesse. – E se os espionados estiverem prestes a pegarem o ele elevador? Por esse motivo temos que ir de escadas.

Ele simplesmente assente com a cabeça e aperta o botão. Fico perplexa que depois de tudo que eu expliquei, ele não deu à mínima.

— Não se preocupe. – diz me segurando com firmeza. – Esse é o elevador de serviço.

Tento escapar dele, mas é inútil. Meus bracinhos não são nada comparados aos músculos de um atleta. As portas do elevador se abrem revelando um cubículo pequeno. John entra me puxando para dentro apertando o botão do décimo sétimo andar. John me abraça com força encostando minha cabeça em seu peito.

Sinto o meu coração acelerar as batidas e o fluxo de sangue que envia para o meu corpo. Minha respiração fica rápida, como se meus pulmões precisassem de muito mais ar. É aí que percebo que não estava com medo do elevador como de costume. E sim ficar muito próxima e sozinha em um lugar pequeno e fechado com o John. O terror foi emplacado e substituído por um sentimento que não consigo identificar.

— Então... – ele diz cauteloso. – Você está bem?

— E-E-Eu n-n-não s-sei.

E era a mais pura verdade. Eu não sabia se estava bem ou estava em êxtase. Um êxtase de um sentimento tão bom que me frustrava não saber qual nome deveria chama-lo. Meus braços estão largados não ousando abraçar John em retribuição. Não tenho medo da situação. E sim de mim mesma. Sei que estou sem sexo há um ano, então não posso confundir esse gesto de ajuda com paixão. Ele é meu chefe. Nossa relação é profissional.

Franzo a testa quando minha cabeça dá uma pontada de dor. Parece que ela negava o que acabei de pensar. O elevador para e John me solta para que saiamos do elevador. Não dizemos nada por que não há nada que precisa ser dito. E também se houvesse eu não diria. Vamos em direção à escada e chegamos ao vigésimo andar.

Entramos na última sala do corredor. Estava apenas iluminada pelo luar que entrava pelas janelas que ainda não continha os vidros. O piso continha pedrinhas e as paredes ainda precisavam ser pintados. John empurra uma mesa contendo ferramentas para ficar embaixo da entrada de ventilação.

— Damas primeiro. – gesticula.

— Na hora do perigo são as damas primeiro – resmungo aceitando sua ajuda para subir em cima da mesa.

Empurro a tampa do tubo de ventilação. Ponho a planta do prédio entre os seios para ficar com as mãos livres. John segura firme em minha cintura impulsionando-me a subir. O tubo é grande o suficiente para se locomover engatinhando. Ando um pouco pra frente para dar espaço para John.

Quando infelizmente lembro que estou de vestido. O vestido vai até o meio das coxas, mas na posição em que estou não quero nem imaginar o que ele vai deixar a mostra. A jaqueta jeans é curta e não ajuda em nada. Oh meu Deus. Como pude esquecer-me deste detalhe? Bem feito, Claire McAdams. Ninguém mandou usar vestido logo hoje. Agora seus poucos atributos físicos serão expostos para o seu chefe mulherengo.

Suspiro de gratidão ao perceber que está escuro o bastante para não ter iluminação, deixando o tubo de ventilação em um breu total. Noto uma claridade atrás de mim e pressinto que John acendeu uma lanterna.

— Não ouse olhar para a minha bunda. – ameaço assim que ele entra no tubo de ventilação.

— Vai ser meio difícil não reparar. – sinto que ele está querendo rir. Pena que não posso me virar para arrebentá-lo. – Mas não se preocupe. Vou tentar me controlar para não morder seu traseiro sexy.

— Morder o quê? – fico assustada com o que ele diz. Contudo, não passa despercebido o êxtase que essa frase causa sobre mim.

— É melhor você andar, por que estamos perdendo tempo. – conclui me passando outra lanterna, mas sem esquecer-se de acrescentar. – E também você está desconcentrando-me com esta visão que está me proporcionando.

— Arg...

Acendo a lanterna e retiro a planta do edifício de entre os seios. Percorro e sigo o caminho descrito até a sala especifica para a espionagem. John passa todo o caminho cantarolando baixo e isso me irrita mais que o normal. Paramos bem na sala desejada. Encolho-me e giro de maneira muito desconfortável para ficar de frente para John e espiarmos juntos pela fresta da tampa de saída do ar.

— Acabou com a minha diversão. – John fala com um sorriso de canto de boca.

— Você está muito estranho hoje.

Falo deixando translúcida a minha raiva. Queria falar pervertido, contudo acho que ele teria mais uma frase nesse sentido. Ele sempre abusou de sua autoridade como chefe, mas hoje ele está de parabéns. E sem contar que este seu tom insinuando “safadagem” não me agrada. Intimida-me. E muito. Ruim é que não sei se é ruim ou bom.

Escutamos vozes de várias pessoas. A maioria são homens. Espio pela fresta e vejo que só há homens na sala. Eles conversam, riem e discutem alto. Não tendo como escutarem John e eu aqui em cima. Reconheço o que está sentado na cadeira com os pés em cima da mesa. Todo largado e a vontade.

— Eu reconheço essa cara de cavalo – digo observando melhor o imprestável. – Não são aqueles caras ridículos daquela gangue ridícula com o nome mais ridículo ainda?

— Os Cabeças Rosas. – John responde e prendemos o riso.

— Não era para eles estarem presos?

— Fugiram. Ou foram soltos com a ajuda de alguém muito importante.

— Sabe o que eu acho? – ele faz sinal com a cabeça para que eu continuasse. – Essa gangue foi fundada por uma mulher.

— Também tenho certeza sobre isso. – ele tenta mexer no bolso de sua jaqueta e tira seu celular. – Agora vamos chamar a policia.

Continuo a observar a gangue enquanto John falava com os policiais a situação. Todos bebiam e comiam. Parecia não se preocuparem com o fato de serem bandidos. E qual bandido que se preocupa? Nenhum.

— Que estranho? – John questiona olhando para o celular. – Eles nem perguntaram onde estão localizados.

— Como assim? – fiquei perdida.

— Eles simplesmente disseram que estariam aqui em cinco a dez minutos. A não ser... – ele desmonta todo o seu celular e quebra o chip. John começa a engatinhar para trás e não consigo desfazer a minha cara de confusão. – Temos que ir, Claire. Venha devagar para não fazer barulho.

— Por quê?

Escutamos um toque de telefone e o cara de cavalo atende-o. Todos da sala fazem silêncio não sendo difícil escutar o que o imprestável falaria.

— Descobriram onde estamos? – ele faz uma pausa para escutar a pessoa do outro lado da linha. Os outros pontificalmente sacaram as armas. – Não se preocupem, vamos mata-los.

Mal ouvi aquelas palavras, corri para John que começou a refazer o caminho da volta.

— Pra onde devo ir? – John pergunta.

— Para a esquerda. – indico. – Não para á direita. Peraí, - paro para pensar. – minha esquerda é a sua direita.

— Claire! Rápido! – diz ríspido. – Quer morrer?

— Esquerda. Definitivamente à esquerda.

Ele vai mais um pouco para trás para fazer a volta e ficar de costas para mim.

— John eles devem ter visto a tampa do tubo aberta na outra sala.

— Eu fechei. – diz aliviando-me. – Eles devem estar nos andares de baixo.

— E a mesa embaixo da abertura?

— Eles são burros. – exclama. – A única coisa que sabe fazer é apertar o gatilho.

Continuamos engatinhando até chegar à abertura certa. John desce primeiro sendo seguido por mim. Ponho as pernas para fora primeiro e John segura minha cintura para me ajudar. Meu vestido sobe um pouco me deixando constrangida. Contudo, constrangida não é nada comparado a como me sinto quando ele diz:

— Vermelha. Gostei. – diz sorrindo. – Pensei que todas as suas lingeries fossem pretas. O que também não é ruim.

— Você está muito assanhado hoje. – digo descendo da mesa com raiva. – E se você continua assim eu vou te denunciar por assédio sexual.

Ele dá um sorriso sensual que mexe com as minhas entranhas. O que está havendo comigo? Não posso ter uma paixonite pelo meu chefe. Está totalmente fora de questão. E eu nem sou seu típico físico. Ele só vive com aquela loura da Morgana e outras mais. Minha cabeça dá uma pontada e meu estomago dá um nó. Sinto que estou prestes a desmaiar e John me segura a tempo.

— Você está bem?

— Não sei... – ele pega nos braços e a minha razão recobra. – Não John. Estou bem.

Tento sair de seus braços.

— Não está não. – diz arrependido. – Foi um erro ter te trazido comigo. Só pensei que você recobraria a memória se vivencia-se o perigo.

Reparo em seu rosto, olho, boca. Toda a sua feição. Sinto-me segura com o John. Não vejo perigo quando estou com ele. A segurança que ele me passa me deixa cega. Por que estou sentindo isso agora? Por que ele me faz me sentir assim? Por que nunca percebi antes? Tudo nele é tão errado e tão certo, que simplesmente quando ele me chama para o perigo não consigo dizer não.

Minha covardia não me deixa dizer a ele o que descobri. Quero revelar quando tiver todas as respostas. Sobre mim. Sobre ele. Sobre nós. Assim será.

Entramos no elevador minúsculo. Não questionei sobre o elevador. Continuava em seus braços e de alguma maneira que não conseguia explicar, achava que era o melhor lugar do mundo. Mas que merda estou pensando? Acho que preciso visitar um psicólogo. Urgentemente.

Paramos no primeiro andar, para não correr o risco das portas do elevador abrir e darmos de cara com os Cabeças Rosas no térreo. Tento explicar para John que já estou bem e ele pode me soltar. Mas ele insiste em levar-me até o final do lance de escadas até o térreo. Não discuto mais.

O som de muitos carros saindo da garagem aceleradamente foi estrondoso. Seguimos em direção à saída. Los Angeles estava calma e silenciosa. Só havia pessoas que iriam curtir a sexta à noite. Teríamos que voltar a pé até acharmos um táxi, já que não temos um celular para chamar um ou alguém.

— Que tal dançarmos um pouco? – John aponta para uma boate da esquina.

— Dançar? – ele afirma com a cabeça, sorridente e esperançoso. – Você sempre disse que quando danço você acaba passando vergonha.

— Eu mentia.

— Por quê? – franzo a testa esperando a resposta.

— Você chamava a atenção de muitos caras e isso me incomodava.

Puta que pariu! Por que ele está me dizendo isto agora? Quando foi que chegamos a esse ponto? Mas é claro. Eu não lembro. Eu não me lembro de nada de duas semanas atrás. Mas eu quero lembrar. E muito. Sinto algo quente escorrer na minha bochecha e não consigo segurar as lágrimas.

— É horrível, John. Não se lembrar de nada. – soluço.

Ele me abraça e diz que tudo vai ficar. Que vou lembrar-me de tudo na hora certa. Duas semanas são piores do que não se lembrar do porre da noite anterior. Trato de parar com o meu choro insignificante. Minhas lágrimas não vão trazer minhas lembranças de volta.

— A proposta da dança ainda está de pé?

— Com certeza. – ele me puxa em direção à boate.

Ele conversa com o segurança da entrada tentando negociar para que não possamos enfrentar a fila. Oferece uma boa grana além do preço da entrada e um cartão oferecendo serviço de graça se um dia ele precisar. Por incrível que pareça, dá certo e estamos dentro da boate.

Está bastante lotada. Pessoas dançando e bebendo, se divertindo, se apaixonando. Várias dançavam, pulando ao som da batida. O laser de luz cegava, mas acaba se acostumando. Puxei John para pista de dança e não consegui me segurar. Havia tempo que não fazia isso. Acho, já que apaguei tudo de duas semanas.

Dançamos como se não houvesse problemas. Como se não tivéssemos uma vida cheia de perigos. Como se tudo que precisássemos estava bem ali ao lado. Sorri tanto que meu rosto doía. Mas não importava. Dançava para tirar tudo de ruim que sentia. A mágoa.

John sempre foi bom nisso. Não se preocupar com os problemas e simplesmente viver o momento. Sempre tem uma solução para tudo. Esperto para sair das piores situações. Na verdade, ele nunca vê como um problema, e sim, como desafios. Como prova para a vida. Essa era uma das coisas que mais admirava em John.

Ficamos na boate por volta de duas horas. Saímos da boate era quase uma da manhã. Fomos andando porque todo o dinheiro de John foi para nossa pura diversão. Gargalhamos e cantamos como se estivéssemos bêbados. Mas estávamos bêbados, bêbados de felicidade.

Depois de uma hora de caminhada chegamos ao edifício onde moro. Pela primeira vez em cinco anos que moro neste prédio, irei usar o elevador. Já posso dizer que este é o maior avanço que fiz em toda a minha vida. Desde que tinha cinco anos enfrentava as escadas. Meu pai até me carregava quando eram muitos lances d escada. Depois de duas décadas não estou amedrontada.

O silencio emanou no elevador. Apenas sorriamos um para o outro. Quando chegamos ao andar e abri a porta de meu apartamento fui surpreendida por braços e reclamações. Eu estava tão feliz que não cabia em mim e nada iria abalar.

— Claire! – Demitri fala exasperado. – Você me matou de preocupação.

— Calma Demitri. – John tenta explicar. – Apenas fomos dar uma volta.

— Apenas uma volta??? – Demitri parecia indignado. Ryan rindo tentava acalmá-lo. – Claire desmemoriada, lelé da cuca, no meio dessa cidade perigosa cheia de marginais. Ela não devia estar por aí há essa hora. E sim em casa, tentando recuperar as suas lembranças. Além do mais, liguei feito um condenado pra esse infeliz, - aponta para John – e só dava desligado.

— Demitri, - chego perto dele o abraçando. – eu estou bem. Não se preocupe. Divertir-me bastante. Boa noite, rapazes.

Deixo Ryan, Demitri, Keenus, Gregory e John na sala e sigo pelo corretor entrando no meu quarto. Apenas ouvi Demitri dizer antes de fechar a porta “Ai meu Deus! Você a desvirtuou”. Pulo na cama e ao mesmo tempo sou jogada em uma lembrança.

O guarda abre a grade de ferro para que eu pudesse passar. Entro no corredor de celas indo para a ultima onde o guarda me disse que estariam os rapazes. O guarda andava atrás de mim para qualquer contratempo. Fico de frente para a cela encontrando os quatro sentados em cada ponta do cubículo quadricular.

Fred encostado na grade à direita e Keenus à esquerda. John estava nos fundos com as pernas dobradas e a cabeça abaixada. Parecem todos deprimidos com o fato de estarem em um mesmo lugar isolados com o mundo. Kyle andava de um lado para o outro e para quando me ver.

— Claire! – ele grita vindo para a grade.

— Cala a boca, Kyle. Você não quer levar outro soco, quer? Desta vez não vai ficar nada bonito para se ver. – John ameaça ainda de cabeça baixa.

— Posso saber o que aconteceu?

Todos se levantam e vem até a grade de ferro em direção a mim.

— Vocês ligaram para ela? – falaram olhando indignados um para o outro.

— Isso não importa. – digo chamando a atenção de todos, inclusive os outros prisioneiros. – Quero saber a causa da briga e destruição que fizeram ou faço questão de deixa-los apodrecer aqui.

— Você não faria isso, faria? – Kyle se desespera se segurando na grade.

— Nós apenas nos desentendemos. Só isto. – John explica.

— Tá na cara que se desentenderam, eu quero saber por que.

Nenhum se pronunciou o que eu sabia que nenhum falaria nada. Respirei fundo para formular aquela situação. Olhei para cada um. Kyle suplicava para sair dali, Keenus estava ressentido, Fred tinha a expressão de exigência e John, bem, John parecia estar com raiva. Como sempre. Todavia, não irei desistir. Eu sei de tudo e o que eu não sei eu descubro. E sei quem irá tirar esta informação para mim.

— Tudo bem. Boa noite então rapazes.

Viro-me para ir embora e ouço o grito de todos: - Claire! – paro para saber o que eles querem.

— Nós brigamos por sua causa. – Kyle exclama gaguejando.

— O que foi que eu fiz?

— Você é muito chata. Esse é o caso. – diz Fred.

— Minha chatice não é da conta de vocês e esse é o motivo mais ridículo que eu já vi na minha vida para uma briga.

— Foi uma briga boba. – John tenta explicar.

— Vocês destruíram uma joalheria.

Todos se silenciaram novamente. Vendo seu peso na consciência pareciam refletir um pouco sobre o que fizeram, contudo não tinham expressões de que estavam arrependidos. Não tendo alternativa chamei a atenção do guarda de novo.

— Pode abrir a cela. – digo para o guarda.

Levantei-me de supetão. Lembrei-me de alguma coisa. Lembrei. Comecei a pular pelo quarto. Em menos tempo do que eu imaginava. Finalmente. Abro a porta para divulgar a informação. Vou em direção a cozinha onde escuto as vozes. Paro abruptamente quando reconheço o assunto da conversa.

— Você tem que dizer para ela? – Gregory parecia por as cartas na mesa. – É isso que está a bloqueando e você sabe disso.

Dizer o que? O que tão importante tenho que saber? Tento aprimorar mais o ouvido para melhorar a audição.

— Estou com medo. – John desabafa. – Se ela não quiser saber de mim depois. Ela vai se demitir e voltar para a Austrália.

— E eu a convenci a conversar com você quando vocês voltaram de Nova Iorque. A conversar não né, a te agarrar logo de cara. – Demitri joga na cara dele. – Mas tudo em vão, já que você deu um de galinha.

Eu fui para Nova Iorque? E por que eu deveria agarrar ele? Aconteceu algo entre John e eu?

— Porra. Quantas vezes terei que dizer que aquilo foi o fim. – John parece que está cansado de falar aquilo. – Resolvemos tudo ali.

— Resolver como? – Demitri despeja indignado. – Beijando aquela loura oxigenada, aquela vagabunda. Como é o nome dela mesmo?

— Morgana? – Gregory responde.

— Essa vadia mesmo.

Morgana. Morgana. Morgana. Morgana. Morgana. Morgana. Morgana.

Foi como se um tsunami tivesse me atingido. Minhas pernas não aguentaram ficar em pé. Fui arriando para o chão. Minha cabeça doía como se uma bigorna caiu bem em cima de mim quebrando o meu crânio. As lembranças vinham como um tormento.

 

Tudo se encaixou agora. Não sou mais uma desmemoriada. E sim, uma idiota rejeitada. Que todos sentem pena. Fecho a mão em punho pela raiva e magoa que sentia. A única coisa que quero fazer é arrebentar, picar o John em pedacinhos. "John seu desgraçado".


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Notas finais do capítulo

Espero ver vocês nos comentários.