A Feiticeira escrita por rkaoril


Capítulo 44
A verdade




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XLIV

ELIZABETH

FOI TÃO FÁCIL ENTRAR NO ELÍSIO que Elizabeth começou a desconfiar. Os portões eram imensos, feitos de ouro e incrustados em vários tipos de cenas – na maioria festividades. Elizabeth tocou a fechadura enorme do portão e ele se escancarou. Ela colocou o pé para dentro e instantaneamente tudo a sua frente se tornou uma montanha nevada. Ela olhou para Evan ao seu lado.
– O que aconteceu?
– Esse é o meu paraíso – disse Evan – já que eu sou o mais morto entre nós dois, o Elísio vai se mostrar assim. – Elizabeth assentiu, estava feliz por estar usando o cachecol de Sabrina.

Evan tinha uma visão muito linda do paraíso, para Elizabeth. Ela geralmente pensava no paraíso como uma ilha tropical com muito sol e praia – algo não muito legal, no ponto de vista dela. O paraíso de Evan era uma cordilheira enorme com neblina, neve e montanhas. Ela pensou ter visto vários pinheiros, um lago congelado e algo como bonecos de neve em todo o lugar.
– Eu acho que esse também seria meu paraíso. Você foi mandado pra cá – ela comentou – quando morreu? Ou você simplesmente supôs?
– Na verdade – Evan disse – eu vim pra cá. Aí eu comecei a incomodar seu pai e ele me mandou pra você.

Elizabeth achou aquilo um pouco poético. Como se o paraíso não fosse o bastante. Ela queria rir do próprio pensamento – não, ela definitivamente não era um prêmio ou algo digno de merecimento. Se Evan não estava contente com o paraíso, não foi atrás dela por causa de glória – foi punição.

Do que ele queria ser punido?
– Elizabeth! – alguém gritou o nome dela. Ela olhou para trás e viu algo que ela definitivamente não queria ver no paraíso: o pessoal do acampamento.

De longe, uma menina de cabelos castanhos e um casaco rosa-choque corria na direção dela. Ela estava sorrindo, alegremente, até que parou diante de Elizabeth (que estava pasma) e começou a respirar pesadamente.
– Wow, eu estou desacostumada com esse negócio de estar morta. – ela disse, então sorriu para Elizabeth mostrando seus olhos cinza-tempestade.
– Ve-verônica?
– Ah, você me reconheceu! – ela disse animada – Eu não tenho estado tão alegre a quanto tempo? Acho que nem minha mãe me reconheceria! – então ela sorriu pra Evan – Cara, seu paraíso é maneiro. O meu era só uma réplica da minha casa. – Evan sorriu e deu de ombros.
– Você... – Elizabeth engoliu em seco – está morta?
– Ah, sim. Noite passada eu acho. Malditos lestrigões, um deles atravessou a mão no meu estômago. – ela suspirou – Bem, você está viva?
– Sim. – disse Elizabeth – Quem mais morreu?
– Vários. – disse Verônica, um pouco mais séria – Foi realmente horrível. Mas se você está viva, eu acho que não tem problema. Sabrina, ela está bem?
– Sim. – disse Elizabeth – Eles estão recuperando o Velocino. – Verônica sorriu.
– Wow, isso é ótimo! Mas o que você está fazendo aqui?
– Eu vim deter a Feiticeira – disse Elizabeth – ela está planejando sacrificar uma amiga minha essa noite para despertar, você tem ideia de onde pode estar?
– Eu não faço ideia – disse a filha de Atena – mas eu ouvi falar de um cara, Samuel, ele foi praticamente exorcizado pra cá. Apareceu do nada, começou a gritar e saiu correndo na direção do paraíso do paraíso genérico, os trópicos perto da Ilha dos Abençoados. Ela pode estar lá!
– Eu acho que não. – disse Elizabeth – Algo me diz que não, mas já é um começo. Aconteceu mais alguma coisa Verônica?
– Não, na verdade. – disse ela – Bem, eu espero que você consiga impedi-la! Boa sorte!

Elizabeth agradeceu, e então Verônica desapareceu. Ela olhou pra Evan.
– Você sabe onde ela está, não é? – Evan assentiu.
– Sim. – ele disse – eu estive lá, algumas vezes.

Elizabeth achou melhor não perguntar. Ao invés, ela ajuntou um pouco de neve no chão dele e arremessou contra seu rosto. Para a surpresa dela, Evan fechou os olhos enquanto a bola de neve escorria por seu rosto pra cair no chão, deixando gelo e um pouco de água pra trás.
– Ouch.
– Ei! – ela disse – Isso não devia te atravessar?
– Não aqui. – disse Evan – No mundo inferior, as almas são maciças. De outra forma, o pessoal que vem pro Elísio não poderia comer ou nadar ou fazer outras coisas, e o pessoal dos campos da Punição não sentiriam dor. – Elizabeth sorriu.
– Eu posso jogar outra?

A bola de neve veio antes que ela pudesse desviar. Elizabeth tropeçou pra trás e caiu na neve rindo, apenas para sentir ele prendê-la.
– Nós não tínhamos um mundo pra salvar?

Elizabeth abriu os olhos e viu ele muito de perto. Percebeu que os cabelos dele caiam no rosto dela, com a gravidade. Que o rosto dele ainda estava um pouco molhado, que o coração dele batia contra o dela. Ela tentou se lembrar de Catherine, então se soltou dele (com muita dificuldade) e bufou.
– Certo. Onde é esse lugar?

***

Evan subiu as montanhas com ela e mostrou a ela uma caverna. Quando mais subia, mais frio Elizabeth tinha. Ela tremeu e reenrolou o cachecol no pescoço, querendo de todo o coração estar na frente de uma lareira. Ela deu um passo a frente e olhou para Evan, que continuava parado fora da caverna.
– Você não vem? – Elizabeth perguntou. Evan negou com a cabeça.
– Eu refiz o selo quando morri – ele disse – esse lugar tem a minha energia vital. Uma vez que a feiticeira continua presa, mesmo com o selo enfraquecendo, eu não posso entrar. O meu espírito iria se distorcer e não seria algo muito bom pra se ver.
– Como se a sua alma jovem quisesse entrar em sintonia com o corpo velho? – ela perguntou.
– Exatamente. Me desculpe.

Ela suspirou.
– Bem, eu acho que isso é um adeus então. – ela sorriu – Meu pai te mandou pra que me ajudasse né? Depois disso eu não irei mais te ver, certo? – Evan sorriu.
– Se você quiser me ver. – ele disse – Eu não vou sair daqui. Além do mais, o meu paraíso é o mesmo que o seu. – Elizabeth sentiu seu coração palpitar.
– Então, tchau. – ela deu as costas a ele e entrou na escuridão da caverna.

Quanto mais Elizabeth adentrava a caverna, mais frio sentia, como se o vento gelado que vinha de lá impregnasse seus ossos. Ela se abraçou e seus olhos começaram a lacrimejar, como se a cada passo um grau descesse. Ela caminhou na escuridão por muito tempo, até que reconheceu uma luz azul muito a frente.

Se lembrou de seu sonho, então pegou a espada das costas e avançou.

Elizabeth caminhou muito até chegar até a luz azul, que se revelou uma chama safira flutuante. Ela levantou uma sobrancelha para ela, e seguiu a outra chama mais a frente até que o túnel se alargou e seus olhos arderam quando ela viu o cômodo mais iluminado.

Estava como Elizabeth se lembrava – um pouco de chão de pedra, uma cúpula como meio ovo de páscoa com vidro e ferro estígio, mais afrente um penhasco para o tártaro e várias tochas de fogo azul flutuando pela sala. Elizabeth notou pasma quantas rachaduras a cúpula tinha, como se o vidro estivesse prestes a se quebrar.

O que mais a espantava era a ausência de pessoas na sala – além dela e do corpo da feiticeira na cúpula, não havia ninguém. Onde estava Catherine?

Elizabeth só notou a verdade quando estava no chão, seu peito ardendo tentando respirar e uma gargalhada familiar ecoando pelo ar.
– Bem, então o sonho falso funcionou, minha senhora.

Sonho falso? Elizabeth queria gritar, queria fugir, queria acima de tudo respirar. Seu corpo parecia paralisado e dormente. Ela teve breves arfadas de ar que não pareciam suficientes, então tentou mexer uma de suas mãos enquanto Sam tagarelava.

Ela não conseguia sentir a mão, mas ainda podia mexer com dificuldade. Alcançou uma semente de romã nos bolsos e colocou na boca, dando apenas uma mordida pra quebrar a semente amarga antes de engolir.

Samuel pegou seu corpo e colocou acima da cúpula da Feiticeira. As tochas azuis formaram um círculo ao redor do lugar, como que esperando algo. Elizabeth então viu que as tochas deviam ser a força vital de Evan.

Samuel puxou uma pequena adaga e cortou seus pulsos, mandando uma onda de dor que fez com que ela apertasse os lábios e tremesse os braços. Muito sangue escorreu antes que ela acordasse.


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Notas finais do capítulo

Caso tenha ficado confuso, Elizabeth comeu a semente por que ela sabia que ia morrer pelo sangramento (como Nico ia morrer por ficar sem ar, ela ia morrer por que ia ficar sem sangue. Comendo a semente de romã, ela tinha mais tempo pro corpo se recuperar)



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