O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui escrita por Ster


Capítulo 1
Burn - Capítulo Único




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1

Bartô mostrou a língua para o fogo.

Às vezes, o próprio Bartolomeu se perguntava o porquê dele ser daquela forma. Será que ele fez alguma coisa errada? Desafiou algum ser superior inconscientemente ou a si mesmo? Ele nunca chegou a descobrir, mas a única certeza em sua vida era que ele adorava era ver coisas queimarem. Ele simplesmente era apaixonado ao ver como o objeto ou que fosse conseguia se dissolver com o simples toque ou explosão daquela grande chama laranja avermelhada. Seu coração batia mais forte e um sorriso espontâneo aparecia no canto de sua boca.

E poderia até mesmo chorar.

– Bartô? – ele também era muito disperso. Tinha sérias dificuldades em concentração. E era desse jeito que se perdia na rua ou nunca sabia o que as pessoas tinham lhe dito. O que consequentemente fazia sua mãe ser superprotetora, o que fazia o grande Bartolomeu Crouch irritar-se, preocupado com a possibilidade do filho se tornar frágil a ponto de não conseguir sobreviver fora da asa materna.

– Sua mãe está falando com você, garoto! – então Bartô Jr despertava e olhava o pai, ainda com os olhos aluados.

– Oh. Desculpe mamãe. – E Bree Crouch se forçava a sorrir para o filho, ainda um pouco preocupada com seu olhar apaixonado em direção da lareira.

2

Por incrível que pareça, para Bartô foi um alívio ir para Hogwarts.

Ele sentia em suas veias a liberdade que jamais fora lhe dada. Como sua mãe e seu pai foram da Corvinal, ele não fazia ideia de que casa deveria torcer para ir. Ele se interessava pela Grifinória, admirava a exclusividade da Sonserina, tinha um pouco de afeição pela Lufa-Lufa e não dispensava a Corvinal. Mas a Professora McGonagall sequer encostou o chapéu seletor nos cabelos finos e castanhos de Bartô e o chapéu simplesmente berrara:

– SONSERINA!

E ele teve a leve impressão que tudo estava borrado enquanto ele descia as escadas em direção da grande mesa decorada de verde. Os berros de um garoto de óculos rindo com seu amigo de cabelo cacheado na mesa da Grifinória eram mais altos que os aplausos, mas Bartô ficou encantado. Todas aquelas pessoas aplaudindo a ele. Prestando atenção nele... Atenção. Ele estava recebendo atenção.

– Seja muito bem-vindo! – sorriu uma garota loura com um crachá de Monitor brilhando em seu peito. – Sou Narcisa Malfoy.

– Aleto Carrow. – sorriu uma garota ao seu lado. – E esse é meu irmão Amico.

– Regulo Black. – assentiu um garoto de frente para Bartô, bem semelhante ao garoto que estava rindo muito alto na mesa da Grifinória. – E esse é o Snape.

O garoto sequer olhou Bartô.

– Você vai amar Hogwarts, não precisa se preocupar. É uma ótima escola, tirando algumas coisas, tipo... – disse Aleto, eles olharam para a mesa da Grifinória. Bartô contorceu seu rosto de nojo ao ver uma garota com o rosto marcado pela Varíola de Dragão jogar purê no rosto do garoto parecido com Regulo, que deu um soco no braço do amigo de óculos, que ficou vermelho quando uma garota ruiva gargalhou dele. – Ridículos.

– O garoto vai pensar que somos uma panelinha. – riu Snape, falando pela primeira vez desde que Bartô sentou-se na mesa.

– E não somos? Olhe lá, a Lufa-Lufa é a casa dos nerds fracassados e nojentos, dos desesperados por sucesso e pessoas retardadas no geral. Já na Corvinal tem os asiáticos legais, os nerds, os metidos e os descolados. Na Grifinória... – Aleto riu com Narcisa. – Tem eles.

Narcisa apontou para o grupo em que eles estavam olhando antes.

– Os babacas, tem os esfomeados e os que são tão burros que são considerados corajosos. E nós, que somos as melhores pessoas que você vai conhecer. – sorriu Amico.

Bartô sorriu para ele.

Sábias palavras, Carrow.

3

Bree Crouch era a própria perfeição.

Meticulosamente perfeita, seu cabelo sequer saia do lugar quando o vento batia. A grama de sua casa não era menos que perfeita, e tudo tinha que ser polido pelo menos uma vez ao ano. Ela era conhecida por costurar suas próprias roupas, fazer jantares dignos de prêmios, e de treinar seus elfos domésticos arduamente.

Então, as atitudes fora do comum de seu tão amado filho Bartô não lhe passavam despercebidas. Bree tinha dúvidas, medos e perguntas. Ela decidiu comprar um livro sobre adolescentes problemáticos e consultou vários médicos e voltou para casa pensando seriamente na possibilidade de educa-lo em casa. Ela era ciente que a única doença que seu filho possuía era a maldita "Síndrome de Tourette", tendo como sintoma mais acentuado a Cropopraxia, um tique nervoso que se manifesta pela emissão involuntária de gestos obscenos. Mas o marido quase teve um enfarte quando ela compartilhou seus pensamentos.

– Bree, não seja doente! O garoto está indo muito bem em Hogwarts, tem amigos, ótimos professores e acesso a aprendizagem de primeira linha.

Mas Bree Crouch fora muito bem educada por sua mãe. Ela lhe ensinou perfeitamente como ser uma mulher e como saber usar isso. Ela lhe ensinou sobre a máscara, a preciosa expressão que você faz quando não quer que os outros saibam o que está sentindo ou pensando. Todas as boas mulheres sabem fazer isso, principalmente a mãe de Bree, que se saiu muito bem fazendo tortas para seu marido, para que ele não notasse a tristeza em seus olhos em pensar que ele sairia no dia seguinte dizendo que iria trabalhar, mas cairia nos braços da secretária.

Um pequeno sorriso, dizia a belíssima Samantha Van De Kamp para a pequena Bree.

E aquela era a máscara perfeita.

4

Bartô sempre imaginava como as pessoas agiriam se ele morresse.

Ele ficava observando rosto por rosto e tentando imaginar suas expressões, se cairiam muitas ou poucas lágrimas, se teriam memórias ternas sobre ele. Então ele ria, porque com toda certeza iriam soltar fogos de artifícios quando ele morresse. E até que ele gostava da ideia, queria que fosse cremado ao som de fogos de artifícios.

– Você pensa tanto na morte. – Aleto fez uma careta. Estavam no quinto ano, na véspera dos N.O.M’s, assistindo James Potter e Sirius Black encherem a paciência de Snape em uma das salas que tinha janelas para o jardim. A árvore impedia que o sol rachasse a cabeça dos dois de tão quente que estava. Bartolomeu amava esses dias, pois ele tinha a leve impressão de que a qualquer momento o sol poderia explodir.

Pense só no quão bonito seria.

– Eu gosto da morte. – retrucou Bartô, ajeitando seus óculos escuros enquanto olhava para o céu.

– Dos outros... Ou sua? – Bartô olhou para Aleto. Ele gostava muito dos olhos dela, pois entre o eletrizando azul, havia pequenos riscos vermelhos que quando ela ficava com raiva, formava uma borda intensa através do azul. Por isso era um costume irritá-la, porque ele era totalmente apaixonado por aqueles olhos de fogo.

– Das duas.

5

Bellatrix Lestrange deixava Bartô excitado, o que o fazia ficar mostrando a língua o tempo inteiro.

Claro que ele não dizia isso para ninguém, primeiramente porque a mulher era muito bem casada com Rodolfo Lestrange, segundo porque ele só costumava vê-la nas reuniões. Ser um sangue puro de uma linhagem pura apenas facilitou a entrada de Bartô para o perfeito e seleto círculo do influente Tom Riddle. Obviamente ninguém podia chama-lo assim, aliás, pouquíssimas pessoas sabiam que ele era Tom Riddle, Bartô sabia porque investigou arduamente sobre ele antes de se juntar.

Ele sequer concordava com o homem.

A única coisa que fazia Bartô obedecer ao Lorde, era sua capacidade de lhe dar o poder. Bartolomeu sentiu seus olhos se encherem de lágrimas ao ver o mestiço pegar fogo diante dos seus olhos. Era lindo. Era a coisa mais bonita que ele já tinha visto em toda sua vida. Ele se perguntava como algo tão sólido, tão humano podia simplesmente se decompor em contato com ele. Bartô queria ser o fogo.

Queria poder queimar a vida inteira.

6

O melhor aluno de Hogwarts.

Vinte cartas de recomendação, doze N.O.M’s, viajou pelo mundo para disputar prêmios por Hogwarts e voltou para casa com todos. Era influente a ponto de ser capa da revista “Guia do Bruxo”, que era voltado para os estudantes. Não havia um romance que Bartô não tenha lido. Ele sabia conversar sobre toda a filosofia por trás do famoso livro O Grande Salazar, gostava de discutir o capitalismo no mundo bruxo e a divisão social dos dias atuais.

Um orgulho para todos, principalmente para o pai.

Mas era tarde demais para isso, Bartolomeu Crouch já tinha conseguido estragar toda a esperança do filho de um dia sentir afeto por seu pai que tanto o rejeitou. Tinha nojo dele, odiava quando ele ousava tocá-lo. Ele sentiu-se consideravelmente mal quando viu que não tinha nenhum objetivo relativamente grande em sua vida, então dedicou tudo que tinha ao Lorde das Trevas.

Quando recebeu a missão dos Longbottom, quase chorou de felicidade.

Evan, Bella e Bartô não bateram na porta quando invadiram a casa. O auror tentou pará-los na escada, mas Bella subiu em suas costas, enfiou sua varinha em seu ouvido e soltou seu crucio. Evan e Bartô invadiram o quarto e duelaram com Alice Longbottom até conseguirem pará-la. A torturaram para que dissesse onde o filho estava, mas ela não abria a boca.

– Vai mesmo se negar a dizer? – Evan desabotoou sua calça e Bartô riu. Ele iria fazer com ela a mesma coisa que fizera com a pobre Mary MacDonald? Mas antes que pudesse amordaçar a Longbottom e abaixar sua calça, Bellatrix berrou e subiu as escadas às pressas. Fora uma confusão sem fim, os aurores McKinnon e Moody haviam chegado.

Por sorte, Bartô e Bella conseguiram fugir, mas Evan ficou.

Eles ficaram um pouco tristes.

Afinal, as máscaras ficaram.

7

– Conhecia Frank Longbottom?

– Não. – Bartô conseguia ser tão dissimuladamente cínico, que era impossível não acreditar nele. Estava em uma sala escura do Ministério, e pensava em como ele foi estúpido de não ter se retirado antes de Karkaroff abrir a boca. Pensando bem, sequer deveria ter saído da casa de Aleto naquela tarde.

– Karfaroff disse que participou da tortura dos Longbottom.

– Minha nossa, que besteira. – riu Bartô. – Eu tenho mais o que fazer.

– Assumiu diante do Tribunal. Nos pés de seu pai. É aliado com o Lorde Voldemort? É um Comensal da Morte?

– Quem é Lorde Voldemort? – sorriu Bartô. Ele foi condenado a cem anos de Azkaban pelo próprio pai. Não se sentiu ofendido, o que ele realmente sentiu foi tristeza. Ele estava rodeado de água. O mar. Todo ao seu redor. E não havia fogo em nenhum lugar. Apesar de odiá-lo, ele sabia tudo sobre o maior inimigo dele mesmo, que era a água. E apesar de detestar, Bellatrix parecia encantada com a água, tanto que não conseguia parar de olhá-la.

– Me pergunte o quão profundo o oceano é. – pediu Bartô, com sua cela ao lado de Bella.

– Oh meu Deus, lá vai. – resmungou Sirius Black. Bartolomeu raramente falava, ao contrário do Black, que não conseguia calar a boca. Ficava cantando, falando sozinho, resmungando ou contando histórias inesquecíveis. E não adiantava mandar calá-lo a boca.

– Cale a boca. – pediu Bellatrix com a voz rouca.

– Vamos, pergunte. – Bartô insistiu.

– Por que?

– Porque eu sei a resposta.

– Ohhhh, você sabe?

– Sim, eu sei.

– O quão profundo é o oceano?

– Não vou dizer.

– Estou de coração quebrado.

– O oceano tem seis quilômetros de profundidade.

– Ótimo. – e Bartô podia jurar que esse diálogo durou por dez anos inteiros.

8

Bree Van De Kamp Crouch odiava ser contrariada.

Gostava que as pessoas pensassem que era estúpida, assim lhe daria mais tempo para mostrar o contrário. Mas ela era envolvida por sua própria cama de gato quando era posta contra algo que amava profundamente, como Bartô. Então mesmo sabendo o porque, e que fim teria, ela não hesitou em aceitar a condição do filho.

Então ela poliu os talheres, regou o jardim e cortou as ervas daninhas. Terminou de pintar a cadeira de balanço da varanda. Tirou o pó do piano e leu o Profeta Diário. Passou as roupas do marido enquanto conversava com Winky, que estava encerando o chão. Sorriu para os vizinhos e correu com Andrômeda Tonks pelo parque, conversando sobre a famosa torta de cereja da senhora Hodge. As quatro horas da tarde a casa estava meticulosamente perfeita. Ela ajeitou seu quadro favorito em cima do piano, a foto de sua família, e aparatou para Azkaban para visitar o filho.

Foi a última vez que Bree foi vista.

9

Imperius é uma coisa delicada.

Você sabia perfeitamente o que estava fazendo ou deixando de fazer, mas não tinha controle. Bartô só não sentia ódio porque passava a maior parte do tempo diante da lareira. Observando, absorvendo, respirando, consumindo o fogo. Ele se sentia bem melhor, e foi nisso que conseguiu a confiança da pequena Winky, que deixou de usar Imperius sob ele ao ver que ficava quietinho diante do fogo.

E também por um belo jogo psicológico ao falar o quão magoada sua mãe ficaria se ficasse sabendo daquilo e que ele também era deu dono.

Bartô estava rodeado de fogo quando Voldemort o encontrou.

10

Ele gostou do pirralho.

Potencial, talento, orgulho. O Potter era um completo idiota, mas era muito talentoso. Gostava de fingir ser Alastor Moody e sentia vontade de gargalhar toda vez que lembrava que conseguiram capturar o melhor e mais precavido auror do Ministério. Aquilo era um grande feito. E ajudar o grande Lorde das Trevas a se reerguer era mais do que isso. Era o sonho mais profundo de Bellatrix Lestrange e ele estava realizando, enquanto ela estava lá, pensando seriamente em se jogar nos seis quilômetros de profundidade do mar.

Fazia questão de sentar-se ao lado de Dumbledore e conversar com ele, fazê-lo contar velhas memórias da Ordem da Fênix, e como ria. Bartô ria até sua barriga doer. A noite, auxiliava Rabicho nas coisas que deveria fazer para que o plano não falhasse, enquanto estudava feitiços e praticava para tirar os três campeões da mira do Potter. Somente ele poderia pegar aquela Chave do Portal.

Mas Bartô não contava que Harry Potter fosse mais estúpido do que ele já tinha julgado que fosse. O garoto se superou deixando que Cedrico Diggory pegasse a taça com ele, o que fez o lufano ir junto para o Cemitério onde o Lorde das Trevas aguardava. Ficou desesperado quando os dois apareceram no meio da arena, com o Potter chorando feito uma garotinha. Ficou aflito enquanto mancava em direção dos dois. Será que o Lorde confundiu o Diggory com o Potter? Nah, ele não deixaria o outro vivo. Olhe só para ele, parece uma menininha chorando desse jeito.

– Está tudo bem, filho, estou com você... Vamos... Ala Hospitalar...

– Dumbledore disse para eu ficar. – disse Harry com a fala pastosa. O garoto parecia aluado, perdido e assustado.

– Você precisa se deitar... Vamos. – Agarrou o braço do pirralho e o arrastou pelos corredores abandonados de Hogwarts até sua sala. – Harry, Voldemort voltou? Ele voltou?

– Voltou...

E era tudo que precisava saber.

UNEVEN ODDS

the glorious return of those who have never been here

Fogo-Vivo ou energia interior do ser humano é freqüentemente desperdiçado em distrações que confortam o ser humano.Na ira, o calor interior do corpo se torna tão intenso que a Alma (o Eu Verdadeiro) é forçado quase fora de controle. É comum ouvirmos a expressão ele estava tão bravo que estava fora de si. A histeria e outras emoções além da raiva precisam ser controladas. Estas emoções são quase que instintos animais em sua qualidade e, quando se dá liberdade total a elas, tendem a trazer para fora um primitivismo do caráter humano o qual normalmente é chamado egoísmo.

Talvez ele fosse um completo fogo-vivo.

Bartô sempre se perguntou porque ele era do jeito que era. Ele não conseguia entender. E então, naquela sala gelada, ele pensava em como ele esteve ali o tempo inteiro, mas não estava. Era um completo fantasma correndo pelas beiradas da vida. A angústia de saber que estava perdido entre bilhões. Ele sabia o que aconteceria, mas estava tão tranquilo, pois sabia que podia ter um último pedido. Então quando o carrasco fez a pergunta antes de soltar o Dementador, Bartolomeu disse sua palavra favorita.

– Fogo.

E antes e durante a sugação completa de sua alma, o céu estava queimando em fogos de artifícios. Eram milhares de estrelas explodindo em câmera lenta em cores diversificadas e jamais imaginadas que preenchiam o céu escuro de uma forma mágica e única. E aos poucos, nada além do fogo existia. E aquela explosão no céu durou para todo sempre em que seus olhos estiveram abertos.

Mas o fogo não dura para sempre, assim como nada nessa vida é permanente. A mudança é constante. Como experimentamos a mudança é que depende de nós. Como se a qualquer momento tivéssemos uma nova chance na vida.

Como se a qualquer momento, pudéssemos nascer de novo.

Como o fogo.


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Notas finais do capítulo

Referência fortissimas de Mean Girls e Desperate Housewives hahahahahaha

Eu escrevi por pedacinhos, então eu acho que ficou meio desconexo, sei la, eu gostei...

Vocês gostaram?

Até.