A arvore do enforcamento escrita por Maly_Lady


Capítulo 2
Chegando em casa


Notas iniciais do capítulo

Mil desculpas por não postar mais cedo. Como todo mundo sabe o "servidor deu piti" e obrigou todo mundo a ir fazer outra coisa além de ficar apertando F5. O mais engraçado é que quando meu surto de inspiração acabou tinha passado uma hora do pronunciamento do problema do servidor. Pra compensar um pouco esse é maior. Acho que o próximo vai ser menor, não tenho certeza, depende de quanta tarefa eu vou receber essa semana (na próxima começam as finais xp ).



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Esperei que ele passasse por mim e tomei um grande folego.

O que fazer agora?

Contei até 10. Falei as letras do alfabeto e o procedimento padrão para retirar carvão das paredes das cavernas profundas escavadas em pedra e terra. Lembrei-me de todos os distritos e o que cada um fazia, recordei os rostos dos dois últimos tributos do 12, duas crianças da costura que morreram nos 11° jogos. Lembrei também da minha casa de infância, antes de ser queimada durante a revolução e os Dias Sombrios.

Em todos os meus 23 anos de vida nunca fiquei tão nervoso.

Dei meia volta, nunca passei por aquele local de onde ouvi os tiros, naquela hora.

Resolvi pegar o caminho mais longo o possível para casa.

Estava morando em uma casa só minha, ocasionalmente (isto é, sempre) minha noiva dormia lá, passávamos as noites juntos sonhando acordados com os rostos dos nossos futuros filhos e nossas restritas escolhas para futuro.

Jenna era um sonho, um anjo, a mais bela flor de todos os jardins. Todos falariam o mesmo: como eu consegui conquista-la?

Amor é amor, não se discute para quem seu coração se entrega.

Assim como todos da Costura tinha cabelos em tom castanho e a pele mais morena. Os cachos quase negros se formavam após uma cachoeira de fios lisos que emolduravam seu rosto delicado, traços finos, olhos num verde intenso.

Eu era só mais um cara, era eu e eu mesmo, com os mesmos olhos e cabelos castanhos que todo mundo tinha, a estatura alta, acima da média, por acaso consegui um trabalho que tem mais cara de 3 que de 12. Eu não preciso descer muito para fazer meu trabalho. Eu fabrico as bombas que auxiliam abrir caminhos entre rochas. Não se pode usar muita temperatura ou energia ou tudo ruiria pelos ares.

Mas conheci Jenna quando ainda era menino e ia para escola. Já havia visto ela ocasionalmente nas ruas, em seu armário da escola, na aula de ginástica. Ela me notou na minha segunda colheita e passamos a conversar depois disso na escola. Quando o primo dela morreu naquele ano descobrimos que o marido da minha tia era primo da tia-avó em comum dos dois (louco, né?).

Mas isso não impediria nosso romance. Crescemos e continuamos juntos. Estudamos e continuamos juntos. Nos formamos e não nos separamos. Meus pais morreram e isso nos aproximou de certa forma. Seu pai morreu e ficamos firmes. Seus irmãos cassaram e ela ficou na casa da mãe. Noivamos e já temos data marcada para o casamento. Final de novembro Jenna vai receber meu sobrenome e vamos repartir o pão oficialmente.

Infelizmente agora estava trancafiado no meu próprio pesadelo. Me virei nas ruas da área mais pobre da cidade e andei até a minha casa, que ficava no meio de um pequeno ajuntamento de outras casas. O bom era que aqui o vento não tinha tanta força e o calor das lareiras se encontravam quando o vento se acalmava um pouco.

Abri minha porta e já a tranquei, usando uma tora de madeira sobre apoios da porta para dificultar a passagem de qualquer um e fui conferir as janelas. Dois passos e meu coração já estava mais sereno. Jenna havia adormecido na mesa da cozinha, uma vela já no fim ao seu lado, alguma receita fazia apoio para sua cabeça. O casaco grosso de lã estava nas costas da cadeira, revelando uma simples bata de algodão com mangas longas e calças um pouco largas. As botas enlameadas estavam perto da porta, convidando as minhas para um descanso merecido após este árduo dia.

Caminhei lentamente até ela e peguei um cacho que saiu do rabo de cavalo e esparramava pela mesa. Enrolei ele no meu dedo e senti a textura suave e reconfortante dela. Resolvi acorda-la gentilmente para que saísse da posição desconfortável e roupas diurnas. Estaria bem mais agasalhada embaixo de grosas cobertas do que na cozinha gelada como uma tumba, uma chama que já dizia boa noite por companhia.

Toquei em seu ombro e deixei que suas pálpebras abrissem e piscassem repetidamente, revelando a incrível tonalidade de seus olhos que, ao me reconhecerem, encheram-se de amor e carinho.

– boa noite, amor – disse à ela

– boa noite, querido. Eu acabei dormindo – soltou um bocejo e se espreguiçou minimamente – que horas são?

– provavelmente meia noite, olhei em volta e vi meu relógio de parede tiquetaqueando, na verdade meia noite e quarenta.

Seus olhos arregalaram-se, desaprovadores:

– Hugo Cleanwater, o que fazia na rua até tarde?

– eu vim do Prego até aqui, não posso mais ver meus amigos?

– Claro que sim. Ah, amanhã a gente fala disso. Como foi o trabalho hoje?

– bem. Encontramos um novo jeito de direcionar a explosão, e reduzindo metade do custo. Com o catalizador certo talvez consigamos fazer com monitoramento à distancia e... desculpa, eu me empolguei um pouco.

– não precisa se desculpar, isto tudo é facinante! Seus olhos brilhavam de orgulho – já jantou?

– sim, comi a sopa da Frida hoje. E como foi seu dia?

– eu tinha preparado um ensopado pra você, mas já está frio e estranho agora. Se eu tampar bem a panela da para esquentar para amanhã. Meu dia foi normal.- nisso ela se movia em direção ao quarto para arrumar a cama - A mãe teve outro ataque de tosses com a mudança de clima. Cuidei dela de dia, Tita vai olhar ela de noite. Jimmy aprendeu a cantar a canção do Salgueiro na campina e Flora me passou essa receita de ensopado que eu fiz hoje.

– mas sua mãe não passou tão mal dessa vez? Eu quero que Melinda veja nosso casamento, falta menos de um ano agora.

– eu sei disso, querido, eu também quero. E ela também. Mas tem coisas que nem mesmo a Capital pode controlar totalmente: a Morte.

Conferi todas as janelas. Fechadas e com tábuas.

Deitamos e apaguei assim que me aconcheguei mais ao corpo de Jenna.

Na manhã seguinte o sol acordou quente, mesmo sem produzir muitos efeitos na umidade deixada pela chuva de ontem a tarde e de madrugada (teve outra chuva) que deixou largas poças de água e barro.

Um gato vadio que passava ali perto caiu em uma delas ao perseguir um rato. Saiu miando e molhado, sujo e frio. Mas dentro da cabana de Hugo era quente. O braço do rapaz estava em baixo de uma cabeleira morena, o outro em baixo das grossas cobertas de lã bruta.

Os olhos castanhos se abriram na escuridão e olharam para a pessoa que abraçava sua cintura, encaixada em seu corpo.

Não pode deixar de sorrir com a imagem. Em 5 meses seriam marido e mulher. Ele e Jenna eram um casal já a algum tempo, mas agora seriam definitivamente um do outro.

Ele queria lhe dar o mundo, lhe dar as joias que eram feitas no distrito 1 ou o conhecimento que ela tanto queria sobre tudo. Queria que ela visse as festas da Capital ao vivo e em cores sem ser um tributo ou mais um a ser condenado nos degraus da mansão presidencial. Mas não poderia lhe dar isso, apenas uma vida tranquila e com barriga cheia, crianças correndo pela casa e ser o bom marido fiel.

Maldito fossem as leis da capital. Maldita fosse a proibição do transito entre distritos que os obrigava a serem condenados em 12 rebanhos.

Em pelo menos em 9 deles podemos morrer de fome em paz, sussurrou sem humor ao pensar na imagem de um amigo que tentou fugir do 12 para as ruínas do 13 e foi capturado além da cerca.

Morreu eletrocutado, mas Hugo se lembrava do estado do corpo do amigo. Disseram que encontraram na cerca com uma mochila nas costas contendo um par de roupas, uma manta, uma faca e frutos disponíveis na Campina. Os próprios pacificadores forjaram a morte ao dizer que o acharam ligado à cerca elétrica pelas mãos.

Então porque os dedos não estavam mais queimados do que deveriam? Por experiências no trabalho sabia que o ponto de contato deveria estar com um dano maior ou pelo menos flexionados. Não haviam marcas de luta claras e seus tornozelos e pulsos estavam mais roxos do que deveriam e a bacia quebrada, como se alguém tivesse forçado a ossatura ao tentar parecer mais verdadeira a história. Não parecia o corpo de alguém que tivesse morrido na cerca, parecia um corpo eletrocutado por um grupo de homens em uma sala.

Logo pensou sobre o homem com olhos em duas fendas negras e cruéis, a arma na mão a passar por ele.

Jenna o tirou de seus devaneios desagradáveis ao aperta-lo um pouco mais forte com os braços delicados e mãos calejadas. Olhou o rosto do homem com o semblante calmo e olhos brilhantes. Logo a face se contorceu em preocupação.

– o que aconteceu pra você estar tão preocupado assim de manhã, Hugo?

Olhou para ela e viu a companheira, a confidente.

– quer tomar café da manhã?

– por hora foi salvo. Mas logo vai me contar isso e também o que estava fazendo até tarde ontem – a sobrancelha esquerda disparou para cima, no meio da testa pálida.

– eu faço a comida agora. A gente pode almoçar a sua sopa.

Levantou-se e plantou um beijo em seus lábios. Colocou um roupão de flanela por cima das roupas intimas com que dormira e dirigiu-se para a cozinha ver o que dava para fazer.

Pegou uma frigideira e despejou óleo suficiente para fritar ovos. Deixou esquentando enquanto pegava dois ovos do armário e sal. Quebrou o primeiro ovo, colocou uma pitada de sal e foi mexendo com uma colher. Jogando óleo quente por cima da gema até ficar no ponto que Jenna gosta.

Fritou o segundo e colocou os dois em um prato e seguiu com o serviço andando pela cozinha pegando a compota de morangos, pão e leite de cabra. Também recolhia talheres, dois pratos e duas xícaras. Enquanto ajeitava o ultimo par de talheres do jeito que sua mãe havia aprendido com uma mulher comerciante (faca do lado direito com a serra virada para o prato, garfo do esquerdo, a colher acima do prato) sentiu braços envolvendo a cintura máscula e mãos deslizando gentilmente pelo seu peito por baixo do roupão. A respiração quente no pescoço mandou uma onde de arrepios pela coluna vertebral.

– humm, que delicia. Tudo isso pra mim?

– o melhor pra você, querida. Sempre.

Ela me fez sentar enquanto cortava duas fatias de pão e nos servia leite. Depois de já ter colocado em cada prato um pedaço de pão com doce de morango e um ovo frito ela se acalmou o suficiente para começar a comer sua refeição.

Ela só havia comido o ovo e uma mordida do pão com alguns goles do leite quando parou e olhou para o noivo com aquela linda sobrancelha erguida.

– lembra quando disse que ia me contar o que tava te atormentando? Que tal agora?

– acho melhor a gente terminar de comer aí depois...

– depois o que, Cleanwater? Depois você vai me enrolar até eu esquecer do assunto e não lembre direito o que aconteceu e já estou mansinha com tudo isso? Não, você começa a me contar tudo agora mesmo.

Ficaram numa competição de olhares. Castanho e verde, duas fachadas sérias e a sobrancelha dela continuou se erguendo até quase achar os cabelos quase negros dela.

Não conseguindo resistir ele entregou o jogo.

– tudo bem. Quer que comece de onde?

– comece de quando você saiu do trabalho.

– fui na quitanda fechar uma conta em aberto. Fui até o Prego e primeiro passei pela – fiz uma pausa. Eu sabia que ela não iria gostar de saber que ele tinha tomado algumas doses de licor – passei pela venda do Ferdinand – dito e feito, ela lançou o olhar especial alertando-o que não devia ter bebido – não bebi muito – disse antes que ela começa-se o discurso.

– quantos?

–não muito, só...

–eu quero a quantidade não a estimativa.

– três copos de vinho de maçã, dois de licor de cereja e um pequeno daquele liquido transparente.

– continua.

– passei pela Frida Sae e tomei uma tigela de caldo de alguma coisa com Robbie e um cara que ficava falando sobre a criação de cabras. Sujeito novo, mas já está pirado com o pouco tempo nas minas. Resolvi pegar um caminho para casa mais curto – nisso a respiração o denunciou apesar da voz continuar firme. Não conseguiu continuar falando e desviou o olhar para o prato com um ovo em um sorriso rasgado, espirrando a gema amarela e zombando de sua situação.

Ela pegou suaa mão por debaixo da mesa e olhou em seus olhos quando levantou a cabeça. Aquele olhar dizia tudo. Ele podia contar pra ela qualquer coisa que ela não julgaria, não daria um discurso enorme sobre como ele estava errado e apoiaria tudo que ele decidisse fazer.

Então Hugo contou para Jenna tudo que viu e escutou durante o caminho para casa.


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Notas finais do capítulo

Então, eu vou tentar postar quando puder, mas talvez na próxima semana e na outra eu só consiga fazer isso sexta feira de tarde, quando minhas provas já tenham terminado e eu já esteja livre para estudar para as minhas recuperações de física e matemática (eu arraso nessas matérias, sqn). Muito obrigada Stephanie Orsina e musa por terem comentado no primeiro capitulo!! Beijos com flor de lótus pra vocês!!
Vamos concordar que flor de lótus é mais gostoso e divertido que tutti futti.



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