Helen Burns - Apenas uma história escrita por Lu Falleiros


Capítulo 4
Morrer




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O sino tocou baixo e docilmente acordando-me. Eu não sei porquê, mas já havia começado a me sentir de alguma forma em casa. – É. Com coisas boas nos acostumamos rápido. – Repeti descendo as escadas apressadamente. Sentei em meu típico lugar ao lado de madame Norrah.

– Helen. Você gostaria de estudar em casa? – Ela perguntou com um sorriso.

– O que for mais fácil para a senhora. – Respondi baixinho mordendo ao pedaço de pão que haviam posto na minha frente.

– Então está decidido. – Ela bateu de leve na mesa parecendo mais o chefe da casa que uma dama. – Estudará em casa. – Ela sorriu.

Depois desse dia tudo se passou muito rápido. Em poucos meses eu já conseguia ler e escrever, estava em estudo avançado do francês e começava a aprender alemão.

Os meses se passaram, e eu completava um ano na casa de Madame Norrah. Meu aniversário se aproximava. Ela de alguma forma fez uma festa enorme e convidou também ao meu pai. A festa foi agradável e infantil, fazendo com que eu pudesse me divertir em minha festa de cinco anos.

Novamente os anos voltaram a passar, e antes que eu percebesse havia completado oito anos.

– Helen! – Madame Norrah me chamou e eu rapidamente desci às escadas frias de pinho as quais já estava completamente acostumada. Abaixei o olhar.

– Sim, tia. – Respondi com um sorriso.

– Sabe... – Ela tossiu algumas vezes. Nos últimos dois anos suas tosses ficaram mais frequentes e ritmadas.

– Sim, tia. – Respondi fazendo sinal para que se sentasse. Normalmente ela se recusaria pois eu não teria aonde me sentar, mas ela se sentou com um sorriso.

– Ano que vem você irá para uma escola, aonde eu estarei de olho... Todo o tempo. Prometo. – Ela forçou um sorriso.

– Tia, tem certeza? A senhora pode ficar sozinha? – Tentei fazê-la perceber que ela não estava em condições.

– Sim. – Ela respondeu tossindo mais algumas vezes. – Agora por favor, deixe-me... – Ela sacudiu as mãos várias vezes, fazendo com que eu saísse e subisse as escadas rapidamente.

– Enfermeira!! – Consegui escutá-la de meu quarto.

A noite chegou rápido e eu tentei adormecer. A tosse incessante de minha tia prejudicou meus devaneios, fazendo com que eu acordasse a cada cinco minutos.

– Tia? – Adentrei seu quarto em sussurro, ela não estava bem.

– Sim... – Ela balbuciou mais baixo do que eu. Adentrei ao quarto e fui até a cabeceira da cama.

– Querida Helen... – Ela ajeitou meu cabelo, colocando-o atrás de minha orelha. – Em uma semana irá para a escola, será uma moça... De 9 anos. Sentirei tanta falta de você. – Ela forçou um sorriso sobre seu rosto sereno e enrugado. A luz da vela balbuciava entre se apagar e continuar acesa.

– O pavio já cessará. Por que não vai deitar? – Madame Norrah me pediu.

– Não quero deixá-la, tia.

– Estou em paz querida. Vá. Amanhã de manhã nos encontraremos na mesa do café. – Ela sorriu novamente e eu me coloquei de pé. Enquanto fechava a porta de seu quarto a vela novamente balbuciava como quem iria apagar. Os olhos de minha tia guiaram-me até a porta, e se fecharam junto com a minha saída.

Atravessei o enorme corredor, me batendo contra a parede já em meu quarto.

– Ela lembrou minha mãe... – Senti uma lágrima junto a uma pontada em minha barriga. Que sensação estranha era essa?

Naquela noite chuvosa e fria, a qual não consegui dormir e minha barriga sentia pontadas a cada minuto e meu coração se apertava forçando minhas lágrimas a rolarem pelo meu rosto, minha tia, um anjo da guarda. Morreu.


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