Potterlock - A Pedra Filosofal escrita por Hamiko-san


Capítulo 8
O espelho de Ojesed




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John Watson respirou fundo e abriu a próxima porta.

Do outro lado havia um grande salão semelhante a uma cripta e tão medonho quanto uma. Um teto de calota, pilares formando um pentágono e, no centro, um espelho oval de corpo inteiro com inscrição talhada de modo bem visível em seu topo.

"Espelho de Ojesed"

Na frente do espelho, uma pessoa com turbante. Quirrel.

John sentiu-se desequilibrar e quase caiu pra trás. Seus olhos e sua boca se arregalaram enquanto seu cérebro tentava achar alguma explicação para a presença de Quirrel ali. O que tinha acontecido com Snape? Por que não era Snape quem estava lá?

O professor se virou para o aluno e empinou o nariz com arrogância. Não parecia aquele sujeito assustado que desmaiara no meio do refeitório por causa dos trasgos. Na verdade agora parecia alguém que poderia muito bem dar conta de um trasgo montanhês.

Tudo estava muito confuso.

— Eu jamais poderia imaginar que um aluno conseguiria chegar até aqui. — Quirrel lançou um sorriso zombeteiro..

John sacudiu a cabeça como se estivesse diante de uma ilusão.

— Quem esperava ver aqui, Watson? Snape?

"Lógico" Pensou o aluno ainda tentando encontrar qualquer evidência que apontasse Quirrel como culpado.

— Claro, com alguém como Snape nesse castelo, ninguém desconfiaria do p-p-p-pobre e g-g-gago professor Quirrel — Imitava a própria gagueira dissimulada.

Será que Sherlock desconfiava? Provavelmente não. Quirrel estava certo, quem desconfiaria dele? Aliais, por que motivo alguém como Quirrel iria querer a pedra?

— Então? Que feitiço pretende usar contra mim? Wingadium Leviosa? — O professor riu — Eu não sou um trasgo patético, garoto.

— F... Foi o senhor que deixou os trasgos invadirem o castelo?

— Hnf. Claro! — Quirrel se virou de frente pro espelho, dando mais importância ao que estava vendo lá do que ao aluno — Era a única maneira de distrair os professores e entrar na sala proibida... Mas Snape estava de guarda e entrou na sala justamente nessa hora. - Completou entredentes - Foi bem feito aquele monstro ter mordido ele.

John começou a se lembrar. A imagem de um menino de cabelos cacheados sendo arrastado por Filch depois de ter sido flagrado vendo o corredor proibido agora estava nítida em sua mente. Agora conseguia entender tudo. Quando os trasgos invadiram, Sherlock desconfiou que aquilo havia sido uma distração, já que ele tinha visto Snape perambulando pelo corredor proibido.

Na verdade era Snape que não confiava em Quirrel.

— Dumbledore escondeu a pedra aqui dentro, mas não faço ideia de como tirá-la... — Quirrel pensava alto enquanto olhava para o tal espelho — Eu olho os meus desejos no espelho, mas não consigo ver onde está a pedra.

John olhou mais uma vez para a frase cravada no espelho. "Ojesed".

"Desejo" ao contrário.

Um espelho que realiza desejos? Seria possível que qualquer coisa que quisesse aquele espelho poderia lhe oferecer?

Como reflexo do crescente desespero diante da total falta de alternativas que via para si mesmo, John imaginou o espelho lhe concedendo seu maior desejo. Livrar a pedra filosofal das mãos daquele cara.

"Use o garoto..."

Uma voz gelada soprou de algum lugar, assustando o menino. De onde surgiu aquela voz medonha, John não fazia ideia, mas ela percorreu em todos os seus pelos e lhe congelou os ossos, fazendo seu coração disparar no peito. Quando deu por si, Quirrel já tinha o agarrado pelo pijama e o aproximado forçadamente do espelho.

— Diga-me o que vê, a menos que queira morrer agora!

John não conseguiu pensar no que fazer. Sequer tinha um plano. Tudo o que queria era cumprir sua missão de manter a pedra filosofal a salvo. Nada mais se passava pela sua cabeça, senão um desejo crescente de obter aquela pedra, custe o que custar. Apenas tê-la pra si e mantê-la segura de Quirrel, seja lá pra qual finalidade ele usaria. Sherlock disse que ela era mais importante que qualquer coisa naquele momento. Tão importante que chegou a colocar a própria vida em risco.

Precisava proteger a pedra.

Involuntariamente o garoto olhou para o espelho e levou um susto ao se deparar com o próprio reflexo fazendo uma posição totalmente diferente da que ele se encontrava. A imagem atrás do espelho não fazia a mesma expressão que John. Nem mesmo se movia como ele, mas ainda assim era um reflexo.

O garoto do outro lado do espelho também vestia pijamas, mas estava sozinho e sorridente. Mostrava aquele olhar que dizia que tudo acabaria bem.

John franziu o cenho diante daquela imagem. Seu reflexo vagarosamente colocou a mão no bolso do pijama e puxou de dentro uma gema vermelha e brilhante, mostrando-a triunfante para aquele que o observava. Com certeza era a pedra filosofal, mas o que ela estava fazendo ali? O garoto do espelho então voltou a colocar a pedra no bolso e, ainda sorrindo, colocou o indicador sobre os próprios lábios, pedindo para o dono do reflexo guardar segredo.

Discretamente John tocou no bolso da calça de seu pijama.

Havia uma pedra ali.

— Vamos! Diga-me o que vê! — Insistia Quirrel.

— É... É incrível...

— O que? Fale!

— Eu... Eu sou o capitão do time de quadribol! E ajudei a Grifinória a ganhar!

— Que!?

— Puxa! E eu também virei monitor! Graças a mim a Grifinória ganhou a copa das casas! Esse espelho prevê o futuro?

Como ele conseguiu inventar tanta abobrinha ainda era um mistério

"Está mentindo..."

A voz demoníaca soou outra vez, fazendo-o arrepiar-se até a alma.

"Deixe-me falar com ele..."

Quirrel olhou feio para John e o empurrou para longe do espelho. Em seguida colocou as duas mãos no turbante, começando a desenrolá-lo. John não prestava a atenção naquela cena. Seu trabalho mental se resumia a um bom modo de sair correndo dali e deixar Quirrel para trás.

Se tivesse prestado mais atenção no professor não teria soltado uma exclamação assustada e barulhenta quando viu um rosto na cabeça careca de Quirrel encará-lo grotescamente.

— AHR! O... O que...?!

— John Watson... — A voz cavernosa vinha daquele rosto grotesco — Corajoso, mas ingênuo...

John engoliu em seco e recuou vários passos, sem conseguir olhar pra outra coisa que não fosse aquilo que estava na cabeça do professor.

— Sim... Pude vê-lo através de Quirrel... Seu futuro jamais será promissor com esse sangue sujo que carrega nas veias.

Sangue sujo. Ok, John não fazia ideia do que ele estava falando. Mas essa não foi a primeira pergunta que lhe veio à cabeça.

— Quem é você?

— Sou o Lorde das Trevas... Sou aquele que detém tanto poder que conseguiu enganar até a morte há anos.

Morte? Lorde das trevas? Só havia uma pessoa que ele conhecia que poderia se encaixar naquela apresentação.

— Você é... Voldemort?

O rosto sorriu mordaz:

— Sim... Mesmo nessa forma espectral, minha força vem aumentando... A hora do meu retorno se aproxima e você pode se juntar aos vitoriosos... Posso até relevar seu sangue se for leal a mim.

John quase não prestava a atenção naquelas palavras. Sua mente se dividia entre a pedra que estava em seu bolso e a coisa que parasitava a cabeça de Quirrel. E quanto mais o professor se aproximava, mais John recuava. Se aquele era o tal Voldemort mesmo, então ele estava perdido.

De repente Quirrel parou de andar, e pelo visto aquilo não foi obra do próprio Voldemort, sendo que seu rosto desfigurado mostrou uma expressão de surpresa. Logo depois Quirrel começou a tossir e curvou a espinha, começando a se encolher. John olhou para o professor como se só agora percebesse que ele ainda estava lá.

— Não!

— Mestre! - Quirrel fazia uma careta de dor e se contorcia.

— Não! Não agora!

Quirrel caiu sobre os joelhos:

— Ajude-me, mestre!

Algo deixava Quirrel definhar a uma velocidade acelerada e corrosiva. Uma cena de causar pânico em John, que só podia assistir a tudo alarmado.

— Imprestável! Levante-se!

— Faz horas... Que bebi... O último sangue... Mestre...

Sangue... Sangue fazia Quirrel ficar daquele jeito. Sangue de unicórnio!

— LEVANTE-SE E PEGUE A PEDRA! - Bradou Voldemort para o corpo que enrugava-se a uma velocidade surreal. 

Quirrel virou-se para John e mostrou sua cara tão engelhada que parecia não haver mais nenhum músculo na face. A pele muito enrugada apenas assumia o formado do crânio. Num salto, atirou-se sobre o aluno, agarrando-se às suas roupas, enquanto o olhava em desespero e, ao mesmo tempo secando cada vez mais.

— EU SÓ PRECISO DA PEDRA!

O garoto caiu no chão quando o professor pulou em cima dele, e tentou defender-se do corpo agora esquelético de Quirrel com as mãos e os pés. Enquanto o aluno se debatia, Quirrel começava a se decompor. Primeiro as pernas, depois o torso... Até se desfazer em pó quase instantaneamente.

John soltou um berro e recuou muitos metros até parecer uma estátua de olhos arregalados. Seu coração só faltava sair pela boca e seu corpo todo tremia. Desesperadamente tateou o bolso e tirou a pedra filosofal lá de dentro. Tinha que voltar, mostrar aquilo para a professora McGonagall e levar Sherlock consigo.

Correu até a saída, mas antes que a alcançasse um espectro emergiu das cinzas de Quirrel e atravessou o corpo do menino, gritando tão alto que ecoava o ambiente e lhe sugava todas as forças vitais.

A dor foi pulsante, como se todas as energias fossem levadas de si.

Em seguida John caiu sobre os joelhos e desmaiou.

 

~O~

 

Quando Sherlock abriu os olhos, não fazia ideia de onde estava. Havia um teto branco, algumas cortinas e um cheiro forte de hospital. A paisagem era uma mistura de borrões brancos que aos poucos iam tomando forma. Duas meia luas fora de foco revelaram ser as lentes dos óculos de Dumbledore.

— Diretor...?

— Uma aventura e tanto, não, Holmes?

Sherlock sentou-se na cama, ainda sonolento. Era a primeira vez que sentia aquela vontade de voltar a se enrolar nas cobertas e dormir por mais cinco minutinhos. Então sua memória voltou.

— A pedra! John!

— A pedra já foi devolvida ao Flamel. Hogwarts tinha sido a última esperança dele em termos de segurança.

— E John?

Dumbledore apontou para o leito ao lado. As cortinas envolviam todo o biombo, mas Madame Pomfrey havia esquecido de fechá-la totalmente, deixando uma brecha que permitia ver John dormindo (ou desmaiado).

Sherlock suspirou aliviado.

— Era Voldemort que estava atrás da pedra? — Perguntou o corvino.

Para a surpresa de Sherlock, Dumbledore não demonstrou espanto ou desprezo ante aquela pergunta. Seus olhos azuis carregavam a mesma expressão tranquila que ele apresentara no momento que o paciente despertou. Expressão de alguém que tinha plena confiança em si mesmo.

No final das contas, seus pais tinham razão. Dumbledore podia ser alguém incrível.

— Ele sumiu há anos, eu sei. — Prosseguiu o aluno — Mas uma criatura me atacou na floresta... E bebia sangue de unicórnio para sobreviver. Se juntar as peças ele pode ter um comparsa como profess... — Mas parou de falar ao ver um Dumbledore incrivelmente calmo erguendo a mão.

— Foi ele sim, Holmes. Através de Quirrel. Snape desconfiava dele e foi até a sala proibida na noite em que eu estive fora. Viu o alçapão aberto e alertou todos os professores. Encontraram vocês desmaiados e as roupas de Quirrel no meio de cinzas.

O queixo do garoto quase caiu. Quirrel? Então era Quirrel o tempo todo? Então isso queria dizer que foi Quirrel que deixou os trasgos entrarem no castelo? Snape deve ter desconfiado, foi impedi-lo e acabou tendo a perna mordida pelo Fofo. Quirrel tinha que descobrir como amansar aquele bicho e pra isso deu a Hagrid um ovo de dragão em troca de informação.

Tudo se encaixava perfeitamente.

— Era a pedra que estava no cofre arrombado em Gringotes, não? — Murmurou o aluno.

— Sim. Um de meus cofres de segurança máxima, mas eu decidi tirá-lo de lá ano passado. Era melhor deixá-lo num lugar mais seguro. O senhor Watson pode lhe explicar os detalhes quando acordar. Aproveite e lhe dê os parabéns por contornar meu enigma.

— John desvendou um enigma?!

O diretor riu:

— Sim. Um dos bons. Eu escondi a pedra dentro do espelho de Ojesed, que pode mostrar os seus maiores desejos no momento. Somente uma pessoa cujo maior desejo fosse apenas segurar a pedra poderia tê-la. - Deu de ombros - Ninguém que quisesse se apossar do elixir da vida conseguiria tal proeza.

— Uau...

— Foi minha ideia, pra ser franco.

— O senhor é bem esperto.

— Não sou tão esperto quanto você, eu presumo. A Dama Cinzenta me contou que esteve investigando sobre a pedra.

— E o que vai fazer com ela?

— Bem... Flamel e a esposa dele já concordaram em destruí-la.

— Mas... Sem ela... Ele vai morrer, não?

O diretor suspirou:

— Todos nós morreremos um dia, Holmes, mesmo que a vida seja prolongada. — Voltou seu olhar pra John e sorriu — Diga-me, nós o encontramos sob efeito de uma magia do sono. Por acaso isso foi obra do senhor Watson?

— Ele só fez isso pra me proteger.

— Entendo. Acredite, os sacrifícios são fontes das magias mais variadas que você pode imaginar. Mas tome cuidado com o caminho que vai escolher. As proteções verdadeiramente poderosas são aquelas imbuídas de amor.

O menino franziu o cenho tentando entender qual o sentido da frase de Dumbledore. Não conhecia nenhuma magia movida a amor. Além disso, sentimentos sempre foram uma fraqueza, em todos os sentidos.

Ouviu-se um ranger da porta e algumas cabeças se mostraram pela brecha. Uma delas era Molly, mirando-o nervosamente, e a outra era a última pessoa que o paciente queria ver ali: Jim Moriaty.

— D... Diretor? — Molly sorriu timidamente.

— Entre. Entre, senhorita Hopper. Sherlock acabou de acordar. Hm... Você também, senhor Moriaty.

Quando Sherlock viu Moriaty assentir rapidamente e mexer os braços como se fosse um aluno tímido e pacato que não sabia ao certo como se comportar, ficou sem fala e sem reação. Que tipo de personagem aquele sonserino estava querendo interpretar?

— Oi. E ai, Holmes? - Jim ria sem jeito e olhava ora pra Molly, ora pro paciente - Ficamos sabendo o que aconteceu.

Sherlock encarou o diretor como se quisesse explicações.

— Ah, sim. — Explicou-se Dumbledore — O que aconteceu lá embaixo é segredo absoluto, então todo mundo já sabe.

— Droga. — Sherlock jogou-se na cama aborrecido.

Mais uma vez o diretor riu:

— Não gosta da fama, Holmes?

— Não. É chato.

— Mas o que vocês fizeram foi realmente incrível! — Molly falava cheia de emoção e com um sorriso trêmulo — Digo... Passaram por todos os desafios e salvaram a pedra!

— Espero que só encham o saco do John com essa história...

— Bem, eu vou deixar Holmes a sós com seus amigos. — Disse o diretor antes de ir embora.

Sherlock revirou os olhos. "Amigos?" Aqueles dois? Ok, Molly parecia uma boa pessoa, e até inteligente, podendo ser uma companhia razoável, mesmo com aquela mania irritante de morder o lábio inferior como se estivesse ansiosa por um evento extraordinário. Agora Jim? Jim Moriaty? Dumbledore tinha noção de como aquele garoto realmente era? E, francamente, gostava mais dele com aquele ar de deboche e pinta de psicopata do que representando aquela personagem patética.

— Desde quando vocês se conhecem? — Sherlock olhava para o teto branco tentando digerir tanta cara de pau.

— Nos encontramos no corredor. — Molly respondeu. — Ele também veio visitar você, mas você ainda estava dormindo. Então ficamos conversando até você acordar.

— Eu estava dizendo pra Molly... — Jim interveio — Quem sabe no próximo ano nós não participemos de alguma aventura com...

— Talvez as minhas acabem por aqui. — Sherlock cortou.

— Ah, eu duvido. Muitas coisas podem acontecer na escola. E você não é o tipo que vai aceitar ficar quieto.

Por um curto instante, Sherlock viu Jim parar de representar. O sonserino havia lhe lançado aquele sorriso interessado e desafiador que mostrara quando se falaram pela primeira vez. Tudo muito rápido.

Um ranger se ouviu quando a porta se abriu mais uma vez. Mycroft Holmes havia acabado de chegar.

Sherlock fechou os olhos e bufou:

— Parece até que morri e acordei no inferno.

— É bom vê-lo vivo, irmão. — O mais velho cumprimentou cheio de escárnio. Em seguida olhou para Molly e Moriaty. — Podem me dar licença?

— Ah, claro. — Respondeu Molly — Vamos, Jim.

Os visitantes do primeiro ano saíram sob o olhar arrogante do terceiranista.

— O que você quer, Mycroft?

— Eu disse que no momento que coloquei meus olhos em Moriaty, sabia que era um dissimulado.

— Você não me disse que ele era um exímio ator.

— Ele é. E essa não é a única vantagem que ele tem sobre você. Não entre no jogo dele que nem fez naquela partida de Quadribol e tudo ficará bem.

O paciente não replicou.

Mycroft passou a andar vagamente de um lado para o outro, com as mãos entrelaçadas atrás das costas e o olhar analítico nas cortinas que rodeavam o leito de John. Sherlock permaneceu encarando o teto, fingindo não ligar.

— Os boatos dizem que o professor Flitwick tinha montado um xadrez bruxo tamanho humano lá embaixo.

— Quantos capachos você tem na Corvinal?

— Você foi a rainha?

— Não. A rainha é muito visada.

— Você foi cavalo ou bispo?

— Cavalo. Mais fácil pra se locomover e melhor pra me deixar pensar.

— Você deixou o Watson como uma torre? 

Silêncio. Mycroft se limitou a fechar os olhos.

Sabia que Sherlock não era um exímio jogador de xadrez, mas Anthea, seu contato na Corvinal, lhe avisou que o garoto andava treinando. Certamente o irmão sabia que o cavalo pode ser colocado no meio dos inimigos, em locais onde não pode ser atacado pelos peões, mas era uma péssima peça pra um xeque-mate.

Ele correu o risco, confiando em outra pessoa para terminá-lo.

Mycroft olhou para um Watson desacordado. Aquele garoto que insistia em acompanhar o irmão nas suas maluquices. Aquele ser humano que Sherlock gostava de manter por perto mesmo sendo tão antissocial. Não duvidaria que Sherlock o tivesse colocado como uma das peças mais valiosas do jogo, como a Torre.

Suspirou.

— Eu só espero que ele seja o que você esteja precisando.

E voltou-se para a porta.

Aquilo foi tão inesperado que Sherlock mirou o irmão incrédulo antes dele ir embora. Havia escutado direito? Mycroft aprovou uma amizade sua? Ou melhor, Mycroft atribuiu alguma confiança a um ser humano que teve contato com Sherlock? Era o fim do mundo. O sinal do apocalipse!

"... Sherlock?"

— John! — O corvino logo olhou para o leito ao lado.

John havia acordado e agora afastava um pouco as cortinas.

— O que... O que aconteceu? Como viemos parar aqui?

Sherlock sentou-se novamente e lançou um olhar nada satisfeito para o loiro

— Nunca mais faça aquilo que você fez. Me colocar pra dormir? Sério mesmo?

— Você não ia ter chance nenhuma contra Quirrel, ta legal? Aliais, não era Snape, era Quirrel.

— Sim, eu sei.

— Como pode saber?

— O diretor me disse. E você também não tinha chances.

— Tinha mais que você!

Um silêncio indignado preencheu a enfermaria enquanto os garotos viraram o rosto para direções opostas, evitando, assim, se encararem

— Como você escapou? — Perguntando o corvino.

John ficou em silêncio, tentando se lembrar do ocorrido. Em seguida baixou a cabeça timidamente.

— Muita sorte. — Murmurou quase sorrindo — O efeito do sangue de unicórnio passou e ele começou a queimar. Eu disse que vício é uma fraqueza.

Silêncio.

— Sherlock.

— Hm?

— Era... Voldemort que queria a pedra. Eu o vi.

Sherlock ergueu as sobrancelhas, mas nada falou.

— Eu o vi... Vivo. O bruxo medonho que você tanto me falava. Mas ele não existe em carne e osso. Parece mais um espectro. Um espectro parasita.

— Quirrel queria a pedra filosofal para trazê-lo de volta a vida. O sangue de unicórnio é o que mantinha Voldemort preso a ele.

— Mas... Faz muitos anos, não? Por que só agora ele resolveu ir atrás da pedra.

— Talvez só agora tenha ficado forte o suficiente pra possuir o corpo de Quirrel.

John olhou para os próprios joelhos temeroso. Depois de tudo, parecia que o episódio não havia passado de um pesadelo, mas ainda assim a lembrança lhe causava um frio na barriga.

Apesar de tudo, seria mentira se John tivesse dito que não desejaria que aquilo acontecesse de novo. O risco, a aventura, o perigo... Tudo isso havia deixado-o eufórico no fim das contas. Enfim uma história pra contar para os seus netos.

— A pedra foi destruída. — Avisou Sherlock, cortando-lhe o raciocínio — Mas isso não significa que ele não vá tentar voltar por outros meios.

— Hn. Eu espero que nosso diretor faça jus à fama da figurinha de bruxos e magos famosos.

Os dois se olharam e riram.

 

~O~

 

Durante todo o resto do ano, Sherlock Holmes e John Watson haviam virado celebridades, o que já estava deixando o corvino com os nervos à flor da pele. Os únicos momentos de paz que teve foi durante as partidas de quadribol, quando todos os alunos estavam concentrados demais nos jogos. A final acabou sendo entre Lufa Lufa e Sonserina, sendo que a Lufa Lufa saiu vitoriosa depois que o terceiranista Tom Ford conseguiu apanhar o pomo.

Sally e Henry pararam de fazer perguntas sobre a aventura para John depois que os exames finais chegaram. Passavam maior parte do tempo estudando e foi numa dessas vezes que Henry ratificou o convite para os dois passarem parte das férias na casa dele.

— Só não liguem para os meus tios. — Dizia o rapaz enquanto dava uma pausa na sua redação sobre a revolução dos duendes — Eles costumam ser bem rabugentos quando querem.

— Não liga, meus pais também são assim. - Sally brincou - Vamos na última semana das férias, certo, John?

— Ah... Certo. Eu só preciso pedir pros meus pais. Eles ficam... Hm... Preocupados comigo aqui, no mundo da magia. Acham que é perigoso.

— Então nem pode comentar sobre a pedra filosofal.

— Como se Harry não fosse abrir a boca. — O loiro fechou a cara — Estou até imaginando ela fazer minha caveira pra eles. Mas não se preocupem. Vou dar um jeito de convencê-los.

— É bom variar. — Dizia a menina — Todo ano passo as férias com os Holmes e os Lestrades. Nada contra o Greg, mas ninguém merece a prole Holmes.

John nem se incomodava mais com aquele tipo de comentário. Apenas riu e olhou em volta. Sherlock estudava num canto mais afastado.

O resto do ano passou rápido, tendo a Corvinal ganhado a copa das casas, passando em frente da Sonserina. John tinha quase certeza que boa parte dessa vitória se deu em razão de todos os pontos conquistados por Sherlock durante as aulas, acrescentando ainda aqueles ganhados por saber lidar com um cão de três cabeças, um Visgo do Diabo, um jogo de xadrez bruxo letal e o enigma de Snape (que não parecia nem um pouco satisfeito com isso). A Grifinória acabou ficando com o terceiro lugar, mas a turma (juntamente com os lufanos) comemoraram a vitória da Corvinal.

Sherlock não fazia grandes comentários sobre a vitória da sua casa. John fazia isso por ele até mesmo na hora de embarcarem no expresso para Londres.

— A sua casa pode acabar liderando a copa das casas por seis anos se você continuar assim!

— Você está esquecendo que ela perdeu pontos por eu ter lutado contra aquele trasgo.

— Mas isso porque você mentiu! Sherlock, isso foi incrível!

Sherlock olhou desconsertado para o próprio bagageiro.

"Vamos, alunos! Por aqui!" entoava Hagrid tocando a sineta no meio do alvoroço de alunos.

— Então... — O loiro se voltou novamente para o amigo — Tem planos para as férias?

— O de sempre. Passar as férias com os Donovans e os Lestrades e tentar não ficar entediado.

— As famílias são tão amigas assim?

— Sim, eles tem um passado juntos.

Os dois ficaram frente a frente e se entreolharam. Jonh queria dizer uma série de coisas, mas o semblante de Sherlock tinha o poder de roubar as palavras.

— Bem... — John sorriu com carinho — Escreva-me.

Sherlock retribuiu o sorriso.

— Claro que vou escrever.

E enquanto todos embarcavam no trem, John se lembrava da tensão que sentira quando atravessara a plataforma 9 e 1/2.

Agora se sentia mais seguro. Descobrira o quão incrível Hogwarts podia ser, especialmente com Sherlock fazendo parte dela.

FIM


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Notas finais do capítulo

Crise do último capítulo. É incrível como ele demora uma vida pra ser postado.

Bem, aos que chegaram até aqui, muito obrigada. Espero que tenham curtido a história.