"- Por que você não para com isso? Vá arranjar um emprego decente e crie juízo nessa sua cabeça, Angel... Deixe-a para lá. Ela não vale a pena. - Seu irmão vivia dizendo isso para Angel.

Roberto via que a ruiva mimada não dava boas idéias para Angel. Começar a dançar, por exemplo, do ponto de vista de Roberto, era a maior das besteiras possíveis. Mas é claro que o latino não ia parar de dançar e muito menos parar de andar com Miss Aubrey por causa de um simples sermão. Ou melhor, vários.

– Não entenderia, Roberto... Ela vale muito a pena. Divertida de um jeito quase irritante... - Angel sorriu - Ela me atrai de uma forma que eu não sei descrever.

– Entendo... - O irmão mais velho fez uma pausa, olhando para a areia da praia em seus pés - Você está realmente gostando daquela ruiva, não é, meu irmão? - Roberto olhou para Angel, que assumia uma expressão surpresa ao passar a areia por seus dedos.

Angel olhou para o horizonte por um instante, e depois voltou a olhar para Roberto.

– Às vezes você fica tão irritante quando está certo, hombre... Eu acho que estou gostando daquela chama ruiva...

Ambos riram levemente, mas Angel continuou sorrindo ao lembrar de Miss Aubrey.

Ele estava mesmo apaixonado por aquela dama de cabelos cor de fogo."

Aos poucos, sua mente ia clareando, abrindo espaço para os outros sentidos. Não estava enxergando nada, e muito menos ouvindo qualquer coisa, mas algo lhe dizia que estava bem, ou quase. Suas mãos estavam acima de sua cabeça, presas numa corda bem forte.

– Ora, ora. O anjinho acordou? - A voz apareceu do nada, assustando Angel.

– Quem é você? Me tire daqui! - Ele se balançou, fazendo barulho no chão.

O homem misterioso estalou os dedos, acendendo as luzes. Angel fechou os olhos, adaptando-se com a claridade.

– Vocês não lêem os arquivos, não? Sou eu, o Dr. Tan! - Seus cabelos cinzas o diferenciavam dos agentes ao seu lado, além da falta de capacete, é claro.

Angel reconhceu Rasa e Lima de capacetes roxos ao lado de Tan, porém havia outro agente atrás dos três, de capacete vermelho. À princípio, Angel não conseguiu reconhecer quem era.

– O que achou dos meus novos recrutamentos? Uma beleza, não? - Tan fez um gesto demonstrativo para Rasa e Lima.

Angel apenas observou o velho homem, sem responder ou comentar qualquer coisa. Não estava com paciência para escutar papo furado, como Tan pode perceber.

– Ah, tenho uma coisa para lhe contar... Tenho certeza que ficará feliz em saber notícias sobre sua ex-companheira desaparecida... - Tan saiu da frente do agente vermelho.

Os cabelos ruivos estavam presos em um coque bem-feito e suas roupas eram pretas com detalhes amarelos. A postura de Miss Aubrey era simples: braços para trás e pernas cruzadas.

Angel abriu levemente a boca para chamá-la, mas faltaram-lhe palavras. Ela estava irreconhecível. Uma integrante da Murder Of Crows.

– Chocante, não? - Vincent Tan olhou para Angel, de repente constrangido - Oh, temo que seja uma escolha ruim de palavras, certo?

Ele riu com desdém, aproximando-se do latino.

– Deixe-me testar uma coisa, sim? Miss Aubrey não parava de falar seu nome enquanto testávamos o Helmet na mente dela... Você entende o quão irritante isso pode ser? Bem, na verdade, há uma coisa que queria ver... Saber mais. Aparentemente, ela tem uma forte conexão com você, e preciso saber se isso pode ser um problema no... Futuro.

Angel não tirou os olhos da imagem controlada de Aubrey. Ela não demonstrou nenhuma emoção, nem ao menos mexeu-se. Ainda observando Miss Aubrey, Angel questionou Tan.

– E como pretende fazer isso, mestre supremo? - Zombou ele. As cordas começavam a machucar seus pulsos.

– Haha, assim... - Ele fez um sinal com a mão para seus subordinados, Aubrey principalmente - Miss Aubrey, aqui.

O capacete brilhou fracamente e a imagem submissa de Aubrey se mexeu, indo de encontro aos dois homens.

– Sim, mestre. - Parou na frente de Angel.

Tan observou os dois com extrema curiosidade. Seus olhos brilhavam com a expectativa.

– Hm... Muito interessante. Rasa e Lima, tirem as cordas de nosso convidado. - O barulho de estalo fez com que Rasa e Lima se mexessem até Angel, tirando-lhe as cordas de seus pulsos - Não tente nenhuma gracinha, armas de choque podem ser letais.

Angel esperou seus colegas lhe libertarem, esfregando os pulsos logo após. A vontade de pular no pescoço de Tan era imensa, mas se acontecesse algo consigo mesmo, não haveria chance para os controlados.

– Sente-se, Angel. Vamos ver o que podemos fazer com você. - Ele puxou uma cadeira para ele na pequena mesa - Miss Aubrey?

Aubrey se sentou na direção oposta de Angel, de frente para ele.

Tan se sentou ao lado dos dois, observando a reação de cada um na mesa. Ninguém falou nada durante uma hora, Aubrey mantia a cabeça para frente, e Angel a analisava.

– Vamos, converse com ela...! Eu sei que você quer! - Insistiu Dr. Tan, sorrindo.

Angel olhou desconfiado para ele, mas voltou a encará-la.

– Hm... Aubs? Uh, sabe quem eu sou? Ang, lembra? Vamos andar de lambreta? - Ele esperou alguma reação. Nada - Aubs, vou cantar Glade You Came, hein?

Ele tentou várias coisas diferentes, e nenhuma deu certo. Começou a ficar mais nervoso, por ela não fazer nada. Aubrey permaneceu parada, olhando para frente. Não era possível ver seus olhos, mas Angel sabia que ela estava enxergando ele. Vendo suas tentativas falhas de alguma resposta.

Angel pausou seus questionamentos e a observou com mais atenção. Seus pulsos mostravam sinais de maus tratos e o pescoço de Aubrey tinha uma marca roxa de mão.

– Por Dios, ¿Qué hiciste con ella, monstruo?!– Angel pulou da cadeira, avançando para Tan.

Ele o derrubou no chão, dando diversos socos nele, até que aplicaram-lhe choques novamente. Ele virou, saindo de cima de Tan, contorcendo-se dolorosamente quando aumentaram a voltagem.

– Tentei te avisar... - Tan limpou o canto da boca, sujo com sangue.

Todos na sala observaram Angel no chão, gritando de dor, ainda levando choques.

Ainda sentada, Miss Aubrey balançou a cabeça repetidamente, incomodada. Pôs as mãos nas têmporas, mexendo o corpo para frente e para trás. Tan percebeu o que a ruiva estava fazendo e franziu o cenho. A respiração dela estava ofegante, e Aubrey tremia. Ele colocou a mão no pescoço dela e percebeu que estava quente, pegando fogo.

– Parem com isso! - Ordenou ele assim que ela começou a bagunçar o próprio cabelo, arrancando alguns fios.

Angel aguentava os choques mas, antes que ele desmaiasse, eles pararam. Doía, e ele não sabia mais onde estava.

– Ela está entrando em colapso! Tragam... - Angel ouviu uma porta ser aberta. Um homem calmo entrou e assustou Tan.

– Acabou sua festa... Pai. - Angel abriu minimamente os olhos e viu mechas azuis balançarem.

– O quê?! Oblio?! Está vivo?! - Tan largou Miss Aubrey, tamanho seu susto.

Ela continuava se balançando, rangendo os dentes, agonizando. Tan a olhou e viu as mãos dela, agora protegendo os ouvidos, sujas de sangue.

Miss Aubrey caiu no chão, antes que Tan pudesse segurá-la novamente. O RedHelmet saiu de sua cabeça, mostrando a boca manchada de sangue.