Olhos de Sangue, série Bombas de Sangue escrita por scpereira


Capítulo 22
Quem realmente somos


Notas iniciais do capítulo

Leiam até o fim, esse capítulo tem uma importância enorme para mim
Obrigada por todos os comentários nos capítulos anteriores e pela a recomendação da diva Annie Santana, suas palavras foram fantásticas, significaram muito!
Boa leitura, espero que gostem do capítulo ♡



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"São as nossas escolhas, mais do que as nossas capacidades, que mostram quem realmente somos.” J.K.Rowling

Barbie não acreditava que realmente tinha conseguido.

Agora empunhava a espada iluminando os corredores pelos quais passava. Hades não viera me buscar, então tive que traçar meu próprio caminho.

Foi um pouco mais complicado do que achei que seria, embora tivesse a sensação que estava me aproximando, algumas portas que abri revelaram criaturas, que prefiro nem citar, melhor para todos ignorar certas coisas. Já tinha andado demais, corrido demais, agora que a batalha acabara a adrenalina não utilizada corria por todo meu corpo me dando forças para abrir mais uma porta e mais outra.

***

– Você conseguiu então - ouço a voz de Hades no momento em que finalmente chego ao salão principal do castelo.

– Não com sua ajuda - respondo ríspida.

– Não seja tola, é claro que eu não lutaria a seu lado contra Briareu - conclui como se fosse o fato mais obvio do mundo.

Mas eu não estava prestando verdadeira atenção em nada do que Hades dizia. Eu olhava fixamente para Lucas que respondia meu olhar com a mesma intensidade. A alegria que presenciei quando percebi que ele não estava morto, não consigo expressar.

– Me dê a espada - Hades estende uma das mãos e me encara quase entediado.

– O quê? - fico extasiada, era uma brincadeira, só podia ser - essa espada não vai sair do meu poder tão cedo - concluo.

– Não pedi sua cooperação, foi uma ordem - ele não estava brincando. Mordo o interior da boca e espero o gosto de sangue encher meu paladar tentando me acalmar.

Não respondi a pergunta. Meus olhos corriam por todo o lugar a procura de algo que pudesse me salvar, qualquer coisa. Me delongo a olhar para um objeto bem a frente da bolha de Lucas, eu sabia o que iria fazer.

– Estou esperando - ouço Hades impaciente. Já estava na hora de agir.

– Desculpa pai, não vou fazer isso - digo friamente -. Lucas se abaixa! - foi tudo muito rápido. Lanço a espada na direção da bolha e jogo meu corpo para frente de forma a alcançar um escudo preto que se encontrava na mesa, tendo assim algo com o que me proteger.

O barulho é ensurdecedor igual ao de uma explosão, a bolha se desfaz e seus pedaços voam por todos os lugares, algum cortou meu braço e sinto o sangue escorrendo, mas continuo agarrada contra o escudo até ter certeza que nenhum pedaço vai voar em minha direção. Quando finalmente me ergo e olho ao redor percebo que Hades e Perséfone estão deitados inconscientes em um canto e Lucas esta ajoelhado olhando fixamente para a espada a sua frente, mas sem ousar tocá-la.

– Lucas! - grito e corro em sua direção, alguns cacos rasgando o tênis. Ajoelho-me ao seu lado e o envolvo em meus braços - deuses achei que nunca mais fosse te ver - desabo e começo a chorar, logo sinto ele correspondendo meu abraço.

– Pensei que você tivesse me largado - admite.

– Não larguei - é a única coisa que digo, porque já tinha aceitado o fato de que ele estava morto, já tinha me conformado em aceitar as consequências e a culpa que viriam, mas não disse. Certas coisas merecem nosso silêncio.

– Eu sei, obrigada por isso. - encerra com a voz cansada - podemos ir embora? - solto uma risada em meio a soluços.

– Vamos, claro -. Agarro a espada em uma mão e o escudo em outra, decidindo por fim levá-lo comigo.

Andamos com o maior cuidado possível tentando evitar barulhos, mas os cacos perfuravam meus pés de forma com que tive que conter gritos de dor várias vezes. De volta a porta do castelo não pude deixar de me lembrar do fraco de Lucas no mundo inferior.

– Você vai dar conta? - pergunto.

– Terei, não temos muita opção -. Assinto com a cabeça na esperança que sua força de vontade fosse o suficiente.

Abro as pesadas portas e seguida de Lucas avanço pela escuridão usando de referência o interminável Rio Estige.

– Não vamos conseguir voltar por onde viemos - ele constata o que eu já sabia.

– Temos que pensar em outras saídas - e rápido, penso uma vez que o tom da pele do menino ficava mais branco a cada passos que dávamos.

– Sugestões? - Vou enumerando os contos gregos um a um na minha cabeça.

– Na verdade eu tenho.

Seguimos pelo rio até certo ponto e depois fazemos um desvio da rota. Estávamos a caminho da passagem de Orfeu, uma trilha íngreme que no mito levava aos portões do mundo inferior. Mas aí está a jogada, obviamente não conseguiríamos passar pelos portões, mas uma vez que os tivéssemos alcançado, essa seria a parte mais alta do mundo inferior, de forma com que seria fácil para mim abrir passagem pela própria terra para chegar à luz.

Lucas está ficando pálido. Lucas está pálido. Lucas está branco. Lucas está mais branco que leite. Sem melhoras, as únicas observações que consegui fazer foi que ele estava piorando rápido demais. Por favor, aguenta.

Andamos uma eternidade, ou pelo menos pareceu muito tempo. O que importa é que finalmente avistei ao longe os portões do mundo inferior. Eram enormes e além de seus domínios só havia escuridão. A fortaleza erguida a uma altura colossal inibia qualquer um que pensasse em atravessar, realmente as portas eram infernais.

– É aqui - paro em um local perto do limite das portas, mas longe o suficiente para evitarmos de ser vistos. Então, canalizo toda minha força, me conecto com a terra com o mundo inferior, deixo essa parte de mim prevalecer e jogo todo esse poder para o muro. Ouço um estrondo seguindo de gritos de alerta por todos os lados no momento que parte da muralha é quebrada.

– Vem Lucas - só então percebo que ele havia virado uma figura imóvel ao meu lado, não estava mais branco, mas sim transparente -. Acorda! - berro em desespero. Sem resposta, junto forças e carrego ele comigo pela fenda no momento que Tânatos nos avista. Não importa, não estávamos mais em seu domínio.

Respiro profundamente o ar do mudo exterior, era diferente. Não melhor, porque por mais que não gostasse disso senti uma compatibilidade impressionante no reino de Hades, entretanto a sensação de ar puro e vivo preenchendo os pulmões era sem igual.

Olho para Lucas para presenciar sua cara de alívio de volta ao contato com o Sol, mas não foi isso que vi. O corpo continuava imóvel, sem responder aos meus pedidos. Começo a chorar de forma compulsiva.

– Não, não! - urro - Você venceu Hades, venceu todas as dificuldades! Merda, não me deixa agora! - Me ajoelho ao lado do corpo. Gelado. Não sabia onde havíamos parado, mas aqui era um campo coberto de grama, algumas árvores e flores. O Sol brilhava e irradiava calor, estava um dia lindo. Tenho certeza que Lucas gostaria.

Choro sobre o corpo, grito seu nome, peço para voltar, nada. Lucas estava morto. Ele estava morto, mas o Sol continuava a brilhar, a grama ainda estava verde, os pássaros ainda cantavam… Era como se nada tivesse mudado, mas tudo mudara. Meu mundo parou por um momento, mas o mundo não parou comigo, continuou rodando.

– Se eu pudesse, te levaria para o Sol e lá que você seria enterrado - digo quase como um sussurro, as palavras vieram abafadas, misturadas aos soluços que pareciam intermináveis -. Todo o tempo que passamos juntos Lucas, não foi muito, queria que tivesse sido muito mais, mas saiba que esse curto espaço de tempo significou muito mais do que palavras podem dizer, obrigada por tudo.

Espero um pouco. Ele vai voltar, mentalizo, não ele não faria isso comigo, não agora, desse jeito. Eu não tenho mais ninguém, ele era tudo que me restara, não era justo me tirar ele, não era. Nada.

– Acorda, por favor acorda - balanço o corpo, choro, grito, nada. - Não é justo, não é justo, não é justo - repito tentando aceitar a ideia, mas não fazia sentido.

O Sangue das minhas lágrimas se espalha sobre todo o corpo morto desesperando-me. Puxo a ponta da blusa e começo a limpar seu rosto, mas as lágrimas voltavam a escorrer, de forma com que não tive muito sucesso.

Olho para seu rosto novamente, angelical. Os cachos dourados ainda brilhavam como se fossem o próprio Sol, os olhos antes de um maravilhoso tom de mel agora eram vazios, brancos, sem cor, sem nada, olhos de gente morta. Fecho seus olhos, talvez me sentisse melhor. As maças do rosto antes rosadas agora eram pálidas, brancas, aquela pele que um dia fora bronzeada sumira. Os lábios carnudos estavam quase roxos, doeu. Procurei palavras para descrever o que eu estava sentindo, mas eu não encontrei. Não parecia certo aquela boca bela morta, não era certo.

Sem pensar muito me inclino e toco meus lábios nos seus e sinto o que temia, nada, somente o frio gélido e evidente de morte. Qualquer sentimento que existiu, correspondido ou não era indiferente. Eu jamais poderia saber qual era a sensação de o beijar, de ter seus braços como uma zona de conforto, não me restara nada.

Decido deixar o corpo ali mesmo, como se ele estivesse dormindo, tomando Sol. Ninguém viria nesse lugar deserto por muito tempo mesmo.

Como eu disse, seria difícil, haveria consequências, não sabia o quanto seria difícil aceitá-las até que me vi em uma situação em que não pude fazer nada. Agora só me resta o Sol, vou seguí-lo até o fim, sei que é Lucas me guiando.


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Notas finais do capítulo

Antes que me xinguem leiam todos os meus argumentos:
— Eu procuro o máximo possível sair do clichê, não quero que tudo acabe em chocolate, quero que os personagens sintam realmente o que é estar em uma situação a qual estão vivendo para que assim possam dar mais valor a suas conquistas.
— O Lucas foi um personagem muito importante para mim, então queria que ele fosse lembrado não pelo namorado da personagem principal, a importância dele foi de uma dimensão muito maior para eu reduzi-lo a isso.
Se vocês ainda quiserem me odiar não tem muito o que eu posso fazer, mas garanto que muitos novos personagens estão a caminho e quanto mais próximo do fim chegarmos mais emocionante vai ficar!
Comentem o que acharam, a opinião de vocês significa muito, mesmo que for um: Te odeio, Sarah! Vou levar numa boa o importante é deixar sua opinião :D
Xoxo,
Sarah



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