Olhos de Sangue, série Bombas de Sangue escrita por scpereira


Capítulo 20
Efeitos colaterais


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu sei que fiquei mais de uma semana sem postar e peço mil desculpas, acho que estava pensado, queria falar muitas coisas nesse capítulo, esclarecer algumas coisas antes de ler julgamentos, tentei fazer isso.
Boa leitura, espero que gostem do capítulo ♡



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"Felicidade?

Disse o mais tolo: "Felicidade não existe."

O intelectual: "Não no sentido lato."

O empresário: "Desde que haja lucro."

O operário: "Sem emprego, nem pensar!"

O cientista: "Ainda será descoberta."

O místico: "Está escrito nas estrelas."

O político: "Poder"

A igreja: "Sem tristeza? Impossível.... (Amém)"

O poeta riu de todos,

E por alguns minutos...

Foi feliz!” O Teatro Mágico

Barbie gostava cada vez menos do mundo inferior.

Em um futuro distante, caso eu sobrevivesse a toda esse missão, eu iria contar essa história. Eu contaria um clichê de um menina que tinha tudo para não ser ninguém, mas no final era mais do que essencial para o desenvolvimento de uma história, que mesmo dando muito destaque a ela, nada daquilo no final lhe traria a melhor das recompensas. A maior recompensa viria sempre para as pessoas que ela não conhece e que nunca virá a conhecer, mas essa não é uma desculpa boa o suficiente para deixar de ajudá-los. Meus ouvintes irão me julgar, me perguntar, enfurecer e jamais compreender o por quê de eu não ter brigado com meu pai por Lucas. Eu jamais serei capaz de explicar, muito menos de ir contra as críticas, porque eu própria me odeio por isso, mas como eu disse são aqueles que não conheço que serão beneficiados no final. Ninguém envolvido em uma guerra consegue sair indefeso, ninguém, temos que aprender a lidar com os efeitos colaterais, e só. É duro, mas é a verdade, o mundo é assim não fui eu que inventei.

E foi por isso que acompanhei meu pai sem o questionar por um segundo sequer.

A imagem de Lucas me olhando desamparado antes de eu decidir que acompanharia meu pai me perturbava. Eu tentava tirar aquele filho do Tártaro da minha cabeça, mas toda hora que eu pensava em algo do tipo “Ele veio até aqui por que quis”, a culpa tomava conta de mim. Ele veio aqui porque quis mesmo, não tinha outro motivo, estava procurando confusão pra distrair da irmã e me encontrou no caminho. Azar o dele. Guerra é guerra, caso vá se envolver tem de aceitar as consequências. Hades carregava um olhar satisfeito e por mais que não conseguisse eu queria me sentir feliz por ter agradado meu pai. Só de pensar nisso já me censurava.

Eu era guiada por uma sequência absurda de corredores, de forma com que perdi a noção do tamanho do lugar onde me encontrava, parecia mais um labirinto. A cada porta que atravessávamos sentia a escuridão se tornando maior, mais palpável. O ar era muito denso, propiciando uma exaustão que nunca senti, não sabia nem mesmo como estava respirando.

– Aonde estamos indo afinal? - me arrependo da pergunta no momento em que a faço, pois sinto como se aquelas palavras tivessem retirado toda a força que me restava, luto para não desabar.

– Para onde você acha? Vamos buscar seu prêmio. - Senti que até mesmo Hades era prejudicado por esse ambiente, devíamos estar começando a descer para além de seus limites.

Não perguntei mais nada depois, temia não só a resposta, mas também que se o fizesse, eu fosse cair no chão ali mesmo e morrer. Ao envés disso segui meu pai confiante e tentando ao máximo não expressar a dor que irradiava de todos os pontos do meu corpo.

Portas, corredores, porta, corredores, portas no chão, portas e corredores no teto… Perdi a conexão com o mundo exterior. Esse lugar ia além de qualquer limite imaginário. Será que se descêssemos muito mais alcançaríamos o Tártaro? Não perguntei, a verdade é que não queria saber. No final chegamos em uma porta exatamente igual a todas as outras: muito grande, inteiramente preta e com fechaduras em prateado vívido, trazendo uma parca luz ao local.

– É aqui - diz Hades logo após um longo período de silêncio.

– Como você sabe? Essa é igual a todas as outras - realmente era.

– Você realmente acha que eu ia me perder na minha própria casa? - dou de ombros tentando conter a adrenalina repentina que senti subindo sobre meus ossos.

– Então acho que é isso. - digo, não ia agradecer, mas também não ia criticar. Sem saber o que fazer cruzei os braços tentado parecer indiferente.

– Adeus.

– Adeus.

"E esse foi o último diálogo com meu pai.” Pensei assim que o vi sumindo em meio a escuridão. Não sabia o que de fato encontraria do outro lado dessa porta, mas tenho certeza que não é nada comparado a nada do que já me ocorreu.

– Deuses, a hora é agora. Não me deixem na mão. - Rezo silenciosamente, toda a ajuda seria bem vinda.

Em meus piores pesadelos eu nunca me imaginaria enfrentando esse tipo de desafio sozinha, até por piores que tenham sido os obstáculos que me levaram até esse momento, eu nunca tive que suportar nenhum deles sozinha. Primeiro tive Annabeth e depois Lucas, a primeira me abandonou sem avisar, já o segundo fui eu que abandonei em um conflito interno que presenciei e ainda presencio.

Eu não podia correr, caso o fizesse me perderia e provavelmente acabaria em um lugar pior do que o que eu estava prestes a entrar. E como você vai voltar caso sobreviva? Hades virá me buscar. Agarrei-me a essa esperança, que no final foi o que me forçou a continuar. Toquei com cautela a fechadura da porta e senti um calafrio percorrendo meu corpo e uma leve sensação eletrizante percorreu meus dedos em contato com a superfície prateada.

Eu gostaria de descobrir o que afinal era a felicidade. Quando estava no acampamento me sentia infeliz devido a rejeição obvia. Quando descobri quais eram meus pais me senti infeliz pelo ódio que sentiam de mim a princípio. Quando entrei na missão me senti infeliz por tudo. Não fui capaz de interromper Annabeth que por fim se juntou a mim, não fui capaz de descobrir tudo sobre o estranho irmão filho de Júpiter que encontrei, não fui capaz de matar todos os monstros de Nova Orleans lutando como qualquer semideus normal faria, não fui capaz de alterar a realidade daqueles semideuses de NO, não impedi Tiépo de ferir Lucas, não encontrei Annabeth quando ela sumiu, não salvei Lucas de meu pai, nem me opus a sua morte iminente. Eu era um fracasso e me sentia infeliz por isso.

Talvez eu devesse mesmo acabar sozinha, morrer sozinha, fiz por merecer. A verdade é que nesse busca ridícula pela felicidade nós deixamos de lado os momentos em que um sorriso nos escapa ou uma risada nos atinge. Ignoramos a felicidade, enterramos ela bem fundo onde é esquecida e vamos a procura de algo que tenha o mesmo nome. O que seria esse algo? Acho que no final é alguma coisa mais duradoura que uma risada, mais sólido que um sorriso. Algo que tenhamos certeza que não se esvai com tanta facilidade, talvez um escudo sirva para esse propósito, assim acabo de escondendo do resto do mundo também.

Já encontrei a felicidade e o que me falta para ser plenamente feliz pode estar do outro lado dessa porta. Me concentro nisso para não recuar.

Um, dois, três. Conto mentalmente e então abro a maçaneta.


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Notas finais do capítulo

Não ainda não é o fim, tem muita coisa para acontecer, acalme-se KKK
AIAIA
E para você, o que é ser feliz?
Espero que tenham gostado, e não esqueçam de deixar seu comentário, seja ele positivo ou negativo, o importante é deixar sua opinião, xoxo :D
Sarah