Marry me, Ib escrita por Larissa A


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo e espero que gostem. Qualquer coisa comentem, até porque só consegui dois finais de Ib (Fendas na Memória e Promessa de Reunião).



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– IB! IB! IB! – Garry, prolongando o último chamado, batia com os punhos forte e desesperadamente no quadro, na esperança de poder tirar Ib de lá.

É claro que não conseguiria. A chance já havia passado, e apenas Garry se agarrou à ela. Ib, por ser nova demais, não pensou direito e deixou-se levar na ingenuidade. Os pais ali, representados, eram uma farsa daquele insano mundo. Garry se arrependia profundamente por não ter pegado Ib na marra. Permitiu-se dar um último chamado.

– IB! – Dessa vez mais prolongado, alto e desesperador.

O toque a despertou. Ib, amarrada em caules de rosas, estava sentada num sofá. Ela parecia uma boneca a ser conduzida. Olhos sem vida. Sem cor. Sem brilho. Pele pálida. A boca semi-aberta, dando mais ainda a aparência teatral de boneca. Ou melhor, de uma marionete. Ib tentava olhar para quem a chamara, mas seus olhos pareciam estar congelados. Mais um chamado. A cada chamado o desespero ia ficando maior. “Quem... Me chama...?” Os pensamentos de Ib também pareciam ter congelado. Estavam turbulentos demais. Então Ib pôde ouvir com clareza:

– IB! EU VOU TE TIRAR DAÍ! PODE TER CERTEZA!

Ib mexeu um dedo lentamente. A dificuldade era enorme. Agora, ela respirava lenta e profundamente, com calma. Mais um dedo se mexia. 2 minutos depois – que pareceram uma eternidade –, Ib já conseguia mover sua mão esquerda. “Não é... O suficiente...” ela pensava. Suspirou em tom de derrota, mesmo sabendo que não iria desistir. “Azul... O que... Essa cor é...?” Ib ia recuperando sua memória aos poucos. “Azul... Amarelo... Vermelho... Fogo... Quadro...”.

Garry, até certo ponto, já não aguentava mais. Lágrimas escorriam de seus olhos sem perceber e o garoto procurava alguma porta pela parede lisa. Apalpava-a loucamente, cada vez mais rápido.

A cada minuto que Garry passava procurando por uma passagem, Ib ia conseguindo se movimentar cada vez mais. Até que Garry deu um grito. Aquele fora o grito mais alto que Ib já havia escutado. Alto, desesperado e raivoso.

Ib ganhou mais força e os caules das rosas iam se arrebentando, um por um. Seu braço esquerdo estava completamente livre. Depois seu braço direito, pernas, e por fim, o corpo inteiro. A garotinha se sentia livre. Acariciou seus pulsos e tornozelos. Pequenas gotas de lágrimas brotavam em seus olhos, mas as limpou. Ib sorriu. “Garry... Disse que iria me tirar daqui... Lembrei...” O sorriso ia aumentando cada vez mais.

– GARRY! – Ib chamou prolongadamente.

Garry paralisou. Ib... Ele havia escutado a voz de Ib. A voz tão fina e doce que escutara raras vezes. Ib não estava mais no quadro que havia na sala onde Garry estava. Mas onde poderia estar? Na parede de trás surgiu um barulho. Garry virou-se. Lá estava.

– Mary...?

Garry não entendia. Ele e Ib haviam queimado seu quadro, deixando-o em cinzas. Então como...? Isso era impossível. Mary estava sentada comportadamente nos degraus de uma longa escada. Em suas mãos estavam três rosas. Uma rosa vermelha, uma rosa azul e uma rosa amarela. Mary fitava a rosa amarela. Por mais tempo que se passasse, Mary não se mexia. Garry tocou a moldura que rodeava o quadro que havia brotado na parede. Nada.

– Garry...? Por que você... Não está olhando para cá...? Eu estou aqui... OLHE PARA CÁ! ME TIRE DAQUI! EU TENHO MEDO DESSE LUGAR, ME TIRA DAQUI, POR FAVOR! – Ib batia com seus punhos na parede onde Garry estava de costas.

Ib engoliu em seco. Talvez ela devesse sair daquele lugar, mas estava com medo demais. E se algo acontecesse? Não teria como se proteger, teria? Ib só pedia para que Garry estivesse com ela.

– É egoísmo pensar desse modo, não é...? EU SEI QUE ESTOU SENDO MIMADA E EGOÍSTA, E NÃO ME IMPORTA O QUE VOCÊ ESTÁ VENDO DESSE LADO, EU ESTOU AQUI E VOCÊ NÃO OLHA PARA CÁ! GARRY!

Garry escuta seu nome ser chamado. Se vira para o quadro onde antes não havia mais Ib. Mas ela estava lá, os olhos brilhando de desespero, prestes a chorar.

– I... IB! – Garry novamente batia no quadro. – Você pode me ouvir?! – Ib assentiu. – Ótimo! Eu vou te tirar daí! Fique aí e não fale com ninguém! Se esconda, se possível!

– Uma saída... Uma saída... Uma saída...

O lugar onde antes estava o quadro de Mary começou a abrir lentamente. Havia um extenso, frio e escuro corredor. Garry, sem pensar duas vezes, decidiu ir. Quando seu pé pisou no chão, o passo ecoou e tochas acenderam-se. “Bem melhor” pensou.

Garry andava e andava e o corredor parecia não ter fim. Quando decidiu voltar, uma porta apareceu à sua frente. Uma porta simples de madeira, lisa, apenas com a maçaneta esculpida num formato de flor. Garry respirou e girou-a, agarrando com mais força que o habitual. A porta não emitiu um único barulho. Um passo. Dois passos. E Garry viu que estava na sala em que Ib anteriormente estava.

– Ib?! – Chamou. Nada. – IB! Está aqui?! – Nada.

Uma risada. Uma risada aguda e amedrontadora. Os pêlos de sua nuca e braços estavam arrepiados. “Não olhe para trás, não olhe para trás, não olhe para trás” o garoto repetia para si mesmo inúmeras vezes. Como de fato, não olhou para trás. “Só preciso procurar por Ib e sair daqui de algum modo” era só o que pensava. Garry só depois percebeu o quão grande aquela sala era. Procurou no sofá, mas Ib não estava lá. Na sala só havia o sofá, nada mais. O garoto começou a tatear pelas paredes na esperança de achar qualquer coisa, mas a única coisa que achou foi uma coisa gosmenta e verde. Ela estava em forma de frase: “Agora tenho com quem brincar de novo! Vamos ser amigos para sempre!”

Garry soltou um grito e caiu no chão. As paredes começaram a se mover e dentro delas se estendia outro longo corredor. “Tsc, mais um. Espere... São... Passos ecoando por ele?” Na esperança de ser Ib, não pensou duas vezes e foi para dentro do corredor. As paredes se fecharam e desta vez nenhuma tocha acendeu. Ele continuava a correr.

– IB?! – Chamou.

– Ah... Garry? CA-CADÊ VOCÊ? EU NÃO ENXERGO NADA!

“Ib... Finalmente achei você...”

– O-onde estás?!

– Um pouco na frente.

Garry topa com Ib de leve.

– Opa! Desculpe-me. Eu finalmente te achei, Ib – o garoto abraça a pequena.

Ib não consegue se conter e deixa algumas lágrimas escaparem.

– Esse lugar é horrível... – Diz baixinho. – Quero sair logo daqui.

– As paredes que abriram caminho se fecharam. Talvez se seguirmos um pouco em frente... – A pequena assente.

– Achei um botão.

– E-espere Ib! Temos que tomar muito cuida... – Ib aperta o botão. – IB!!!

Luzes acendem e Ib avista uma coisa rastejante. Ela aponta.

– Olha, Garry.

– U-UMA DA-DAMA DE VERMELHO! CORRA, IB!

As duas crianças saem correndo sem rumo pelo extenso corredor que agora estava iluminado, facilitando a vista. Há varias rachaduras no chão, de modo que Ib e Garry têm de desviar.

– ESSE CORREDOR NÃO ACABA NUNCA?! – Garry berra desesperado. Ib continuava a manter a calma.

“Ela é uma criança muito calma e madura... Isso é raro...”

– Uma passagem.

– O que foi, Ib? Uma passagem? Onde?!

– Aqui.

Ib entra na parede à esquerda e Garry a segue.

– Ufa... Acho que aqui... Estamos à salvo... – Garry está ofegante.

– Tem um caminho. Vamos seguir.

– Ah, c-certo!

“Paramos numa sala maior e mais esquisita ainda...” pensava o garoto.

– IB! SÃO NOSSAS ROSAS! Será seguro pegá-las...?

– Não toque – Ib tira as mãos de Garry das rosas.

– Por quê?

“Por que Mary está viva” Ib abaixa a cabeça, olhando para o lado.

– Certo – Garry sai de perto das rosas. – Como saíremos daqui?

– Não saem.

– O-o quê...?

– Mary... – Ib sussurra.

– Vejo que voltaram... – A voz de Mary estava tenra porém assustadora, e seu sorriso ia de orelha a orelha, brilhando na escuridão.


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Notas finais do capítulo

E então? Mereço comentários, sim ou sim?