A Domadora - O Fragmento da Profecia escrita por Maria Beatriz


Capítulo 8
Capitulo 7 - Escusa


Notas iniciais do capítulo

Yooooooooooooooo! Dessa vez eu não demorei tanto pra postar o/
Obrigada pelos comentários, Ryan Philips e Dinossaura :3
E, como prometido, aí está mais um capitulo o/ Ficou meio grande, era para ele ser menor, mas acho que o que acontece nele... bem, digamos que compensa :3
Aliás, Tenebriys é um nome legal para colocar no mundo Trevas? A Dinossaura sugeriu Tenebrae (e eu gostei desse nome), mas pesquisei e tinha mais coisas com o mesmo nome, então, pensei na variação Tenebriys para Tenebrae, o que acham? Estou pedindo a opnião de vocês, leitoreres, até por que acham que são as melhores pessoas para isso :)
Lembro quando eu estava nos capítulos finais de Os Quatro Elementos... Já tinha ligeira ideia do que iria escrever NESSE capitulo... mas digamos que, o final dele, bem,era algo inserto até então e.e



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/432409/chapter/8

Encarou a água corrente a sua frente, logo em seguida fechando a torneira ao constatar que a pia estava cheia. Sua cabeça latejava, parecia que a qualquer instante iria explodir. E então, amaldiçoou-se mentalmente por ter se esquecido dos óculos. Os benditos óculos que se não usasse, as insuportáveis dores de cabeça iniciavam-se, primeiramente, eram fracas para em alguns minutos tornarem-se terrivelmente agoniantes.

De fato, havia passado o dia inteiro sem os benditos óculos, somente no fim do dia os efeitos haviam começado. Embora, múltiplas vezes piores do que em outras vezes. Jogou a água que havia dentro da pia no próprio rosto, molhando os cabelos ruivos ao mesmo tempo. Logo em seguida, pegou os óculos que guardava no bolço do casaco marrom e os colocou. Vendo as coisas tornarem-se mais nítidas.

Suspirou e deu as costas, saindo da área que estava e indo para o pátio dos fundos da fortaleza. A única coisa que precisava naquele momento era dormir um pouco. No outro dia não estaria mais com dor de cabeça, iria poder seguir viagem sem problema, como Sora havia lhe avisado durante a tarde daquele dia.

–É Benjamin, não é? – parou de caminhar no meio do pátio, suspirou. Girando os calcanhares olhou a direção de onde viera à voz.

–O que você quer? – Falou, com ligeiro desanimo. Sabia exatamente quem era já haviam se visto durante os treinos e aulas na fortaleza. E não se davam bem, definitivamente.

–Quero apenas fazer um teste... – Tinha a mesma idade que Benjamin, um pouco mais baixo, com os cabelos castanhos avermelhados. Os olhos carmesins indicavam a qual família pertencia e a pele pálida. Vestindo as roupas escuras com a típica blusa de gola alta vermelha. – Você é o elemento fogo, não é? Queria saber o quanto posso ir longe com os poderes de meu youkai.

–Não vou fazer nada agora. – Retrucou. – Talvez você não saiba, pois não deve prestar muita atenção nas coisas, - debochou - mas não é aconselhável usar qualquer tipo de poder nesse horário dentro da fortaleza. Claro, apenas se tiver um motivo honesto e não algo tosco.

–Eu sei muito bem disso, Benjamin – contrapôs. - Mas estaríamos usando nossas habilidades com um bom motivo, não iria haver problema algum. E ao mesmo tempo, estaríamos nos ajudando, pois sei que você também não tem um bom controle.

Sentiu as chamas arderem na mão esquerda, então, colocou-a atrás de seu corpo para evitar que o outro visse. Não iria causar problemas, novamente. Uma de suas proponhas era tentar consertar certas coisas que fizera e dissera. Acalmou-se e novamente sua mão voltou ao estado normal. Deu as costas e voltou a caminhar em direção aos dormitórios. Ignorando completamente o outro.

Olhou para o céu por um instante, iriam ter mais chuva naquela noite...

E então, o que sentiu o irritou.

Vendo apenas a bola de fogo passar de raspão em seu rosto, pode sentir a quentura da mesma que caíra sobre a grama. Apagando-se em seguida, pois o chão estava úmido da chuva que cessara há pouco tempo. Era uma espécie de intimidação, o outro queria realmente problemas.

Parou institivamente de caminhar e virou de costas novamente, em suas duas mãos bolas de foto iguais às outras que foram lançadas, agora envolviam as luvas que usava sem as queimar – era uma espécie de truque que aprendera, para que não colocasse fogo no que vestia. Bufou e correu em direção ao outro, enquanto seus olhos mudavam de cor, para um tom de vermelho ligeiramente alaranjado, como se estivessem queimando em chamas. Em um movimento rápido derrubou-o no chão e apontou umas das mãos flamejantes na direção do rosto do outro.

–Por que você não cala a boca, Shildren?! Que merda, eu já estou cheio de problemas até os últimos fios de cabelo e você me vem com essa? Faça o favor, deixe de ser babaca. Não vê que ainda assim sou mais forte? – Benjamin cuspia as palavras, em parte, era verdade. – Posso fazer tudo o que você faz, brincando com essas bolinhas de fogo explosivas, e ainda posso fazer mais.

Shildren riu.

Mas ao invés de rebater as palavras de Benjamin, rapidamente empurrou o outro e levantou-se com as mãos envolvidas pela aura laranja, lançando as “bolinhas de fogo explosivas” na direção do ruivo. Benjamin não se distraiu, apenas defendeu-se enquanto conjurava sua espada e se defendia. As esferas de chama chocavam-se na lâmina enquanto estouravam. Abaixou a espada de lâmina dourada, vendo uma ultima esfera de chama vir na sua direção, segurou-a com as mãos antes que chegasse a si. Se estivesse concentrado, o fogo não lhe atingia a ponto de lhe queimar.

Shildren ficou quase que sem ação, encarando Benjamin que segurava a esfera explosiva na mão. Calmamente levou-a até a boca e a engoliu. Aquele era mais uma habilidade que aprendera. A de engolir fogo sem sequer sentir algo. Não se machucava e nem se queimava.

–Mas que merda você fez?! – Shildren falou, enquanto via Benjamin engolir a bola de fogo.

–Eu estava comendo o fogo, você não consegue? Que engraçado... – Desfazia a espada como se a transformasse em cinzas de algo, após arder em chamas.

–Cara... Isso não é nem um pouco normal...

–Você acha? – Falava enquanto brincava com as chamas que criara nas mãos, logo em seguida as engoliu novamente.

–Pelos deuses...

–E então? Vai ficar apenas observando? Ou quer que eu faça você comer isso também? Sabe, não tem muito gosto...

Shildren bufou e correu até Benjamin, tentando acertar-lhe um soco, contudo o outro desviou enquanto instintivamente acertava-lhe uma rasteira. Derrubou-o e rapidamente Shildren levantou-se, quase que em um salto sem dar tempo para Benjamin se defender. Chutou e quase o derrubou, Benjamin desequilibrou-se e logo em seguida tentou acertar um soco em Shildren, seguidas vezes, enquanto o outro desviava. E então, em suas mãos, chamas formaram-se, Shildren tinha esferas de explosivas em suas mãos, iriam atacar-se ao mesmo tempo.

Contudo, tiveram de parar.

Estavam sendo observados. Olharam na mesma direção, perto do prédio principal da fortaleza havia uma criança. Provavelmente era mais um dos que moravam na fortaleza.

Haviam sido vistos.

–Estamos fodidos – fora a última coisa que Shildren dissera.

***

–Pelos deuses, por que faziam aquilo?! – Arcádio não parecia muito contente. Benjamin e Shildren apenas encaram-se por um instante, logo, ouvindo mais uma vez a voz do domador Alfa. – Entendo que vocês Scarlet são de temperamento forte, - falava com Shildren – sua irmã, Amélia Roxane, também é assim. Mas não creio que você poderia fazer algo pior, estava desrespeitando as regras da fortaleza. Brigar dentro da fortaleza em um local como aquele poderia fazer um estrago maior. Você consegue ser pior, mesmo sendo o mais velho. E você, Benjamin, já não está com problemas o suficiente?

Arcádio levantava-se, pegando alguns papéis que estavam sobre a mesa. Já deveria ter ido para casa, mas não, tinha de ficar ali para resolver mais problemas.

–Yanni disse que você vive brigando com Fallen, o que atrasa de certa forma o crescimento de ambos em relação aos seus elementos. A Hill diz a mesma coisa. E você, Shildren Scarlet, está com quase dezoito anos, foi mandado a apenas três missões nas quais você causou mais problemas do que o desempenho final esperado ao completar elas.

–Espera... – Benjamin falou. – Então você foi mandado pra três missões e fez tudo errado? – Tentava não rir. – E depois vem com essa de querer saber “o quanto pode ir longe com os poderes de seu youkai”? – Ria, quase gargalhava. – Você é muito engraçado, cara! – Secava as lágrimas.

– Silêncio, Benjamin Break! – Arcádio levantava a voz, antes que Shildren retrucasse. – Você não é um exemplo, amanhã deveria receber o início de sua primeira missão, mas não vão ir mais devidos seus últimos atos. – Aquilo bastou para Benjamin se calar imediatamente. – Terá de se entender com a Hill.

–Quem é o outro fracassado agora? – Shildren sussurrava, debochando de Benjamin que apenas fulminou-o com o olhar.

–Claro você também, Shildren. Semana que vem você teria uma nova chance para melhorar, mas a sua missão também acabou de ser cancelada. Nenhum dos dois vai sair de Temesia sem um motivo convincente por um bom tempo.

–Mas amanhã? Sora falou que teríamos que ir para uma tal cidade... Acho que era Eternal o nome... Não vou mesmo poder ir? – Benjamin estava ligeiramente indignado e, trepidante com aquilo.

–Não. Você não vai ir mais. Aliás, esperava o que? – Arcádio estava sério. – Depois dos problemas que você causou nos treinamentos que receberam como elementos, isso é algo simples, pouco talvez.

–Mas... – Falaram ao mesmo tempo.

–Não argumentem. Apenas, Shildren vá para a sua casa, já deveria ter isso há mais tempo e você, Benjamin, dirija-se ao seu dormitório.

Resolveram não protestar, não adiantariam, as ordens de Arcádio eram sempre claras. Seria aquilo e ponto. Por vezes mudava de ideia, mas não seria agora.

Não demorou muito para que se retirassem, logo já estavam no corredor que levavam para o grande salão. Benjamin ajeitava os óculos enquanto analisava o teto de vidro, sabia exatamente que Sora não ficara nada contente, Yanni muito menos. Denzel, se davam bem, e sabia que o outro seria o menos radical em tudo.

–Já repeti isso várias vezes, mas Arcádio é um babaca. – De fato, falar do domador alfa assim não era algo comum, afinal, era espeitado. E não era um “babaca” como gostava de dizer, apenas fazia o que tinha de fazer, era sue trabalho. Mas, Benjamin por vezes parecia não querer compreender.

Ou compreendia, apenas não demonstrava.

–Hã... Bem, tenho que concordar você. – Shildren disse, embora as palavras não fossem direcionadas a si. – E agora parando para pensar, fui um idiota agora a pouco. Não deveria ter feito o que fiz.

–Ainda bem que você sabe disso. E admita, só falou isso por que não queria perder o trabalho que tinha...

–E nem você – retrucou. – Aliás, que droga foi aquela de engolir fogo?

–O que você viu, eu apenas engoli fogo.

–Mas não se queimou...

–Sou o elemento fogo, digamos que chamas não me atingem. – Em parte, para não se queimar, era preciso estar concentrado, e se não fizesse isso, era o mesmo que com uma pessoa comum. No entanto, poderia se dizer que Benjamin tinha certo controle, embora não soubesse administra-lo.

Shildren ponderou em responder, contudo, em seguida separam-se. Benjamin entrando na porta que havia em frente às escadas do grande salão.

Ajeitou novamente os óculos, seguindo no corredor de salas. Eram salas usadas para darem aulas. O que era de fato, algo que não teria se tivesse seguido o que era enquanto estava em seu mundo. Em parte, agradecia por o que tinha.

Não demorou muito, desceu mais um lance de escadas e se dirigiu para a porta que dava entrada para o pátio dos fundos da Fortaleza, seguiu novamente caminhando pelo pátio ermo. Logo mais a sua frente ficava os tão falados “dormitórios”. Era algo emprestado, afinal, tinham certo tempo determinado para ficar ali, logo, após o prazo acabar, deviam se virar. E de fato, apesar de tudo, uma das coisas que queria era poder se virar sozinho o mais rápido possível. Sem depender de fortaleza nenhuma.

Seu quarto ficava do segundo andar do prédio que havia a sua esquerda. Eram duas construções, uma ala feminina e outra masculina, cada quarto contendo espaço apenas para suas pessoas. Benjamin dirigiu-se rapidamente para seu destino, atravessou o tablado que havia em frente a uma das construções – os prédios ficavam um em frente ao outro, com um corredor formado por pedras e algumas arvores, havia um tablado de maneira em cada enquanto as construções eram de tijolos de pedra. Seguiu i corredor à frente e subiu as escadas em direção ao segundo piso, estava tudo silencioso, o que indicava que estavam todos dormindo.

Sorrateiramente para não fazer barulho, abriu a porta de seu quarto, seu colega era Yume. Que, no momento dormia, roncava. Fechou a porta e sentou-se em sua cama.

Não tinha sono e não fazia a menor ideia do que fazer no momento.

O quarto estava ligeiramente escuro, a única luz que tinha no momento era a que vinha de fora dos vidros da janela e então encarou a mesma. Lembrando-se de que o quarto que dividia com o mais novo ficava em frente ao de Fallen e Yoru. E, lembrar-se de Fallen, fazia-o pensar que ainda tinha algo para fazer... Afinal, iria dar um jeito em suas ultimas disparates.

Levantou-se, não fez baralho, contudo viu Yume mexer-se na cama, deixando um braço cair para fora dos cobertores, o rosto estava amassado nos travesseiros. Ignorou aquilo e voltou sua atenção novamente à janela, agora, em frente à mesma.

Observou o céu e então notou a figura parada mais a frente, sentada no parapeito da janela do outro quarto, viu que Fallen ainda estava acordada. Embora, a outra, no momento, parecia distante enquanto a notava algo em um caderno.

De fato, não era o único que tinha o problema de passar as noites em claro. Havia perdido completamente a vontade de dormir.

–É mais estranha do que pensei... – Comentou baixo, enquanto a observava, de longe, por sorte não era notado.

E mais uma vez, lembrou-se de que tinha algo a fazer. Então, rapidamente abriu a janela, com cuidado para que não fizesse barulho, com facilidade saindo do quarto e pisando sobre o telhado da área do tablado, fechou a janela por fora sem fazer nenhum ruído alto. Mais a sua frente havia um arvore que ligava ao telhado da outra construção. Rapidamente usou a arvore como uma espécie de ponte, atravessando com cuidado para não cair no chão, ligeiramente estava em frente a janela do outro quarto. Estava ileso, por sorte.

Fallen ainda não notara a sua presença e nem a movimentação do outro lado da janela.

Resolveu, então, bater no vidro, apenas para chamar a atenção da outra.

Subitamente Fallen olhou na rua direção, arregalando os olhos de cor azul escura, imediatamente guardou o caderno que estava consigo abriu a janela, com uma expressão não muito amigável.

–O que está fazendo aqui, Benjamin? – Falava séria, era interessante o fato de que, embora sua expressão meiga, Fallen conseguia ser assustadora às vezes. Bem, isso era ao ver de Benjamin.

–Quero falar com você, apenas isso. – Disse simplesmente.

Ela não respondeu, deu de ombros se preparando para fechar a janela, contudo, Benjamin impediu-a.

–Quero pedir desculpas, pelo o que falei hoje.

E aquilo, bastou para que Fallen mudasse sua expressão.

–Obrigada. – E mais uma vez preparou-se para fechar a janela na cara de Benjamin.

Mas uma vez ele impediu.

–Também gostaria de conversar, - suas palavras eram estranhamente fleumas, o que fez Fallen hesitar, não era algo costumeiro, ainda mais vindo de Benjamin - claro, se não fosse muito incomodo pra “Senhora”. – Ironizou a última parte, não conseguia se conter, as palavras fluíam daquela maneira quase sempre, era inevitável.

–Está bem, então fale.

–Apenas se você sair daí. – Disse, enquanto sentava sobre o telhado do tablado.

Fallen suspirou. Benjamin iria se redimir? Não que simpatizasse muito com ele, mas fez o que lhe fora pedido. Com cuidado saiu do quarto que dividia com Yoru, fechou parte da janela e juntou-se a Benjamin, sentado ao seu lado no telhado. Ajeitou o vestido comprido que usava para dormir.

–Então a senhora Fallen Angel vai falar comigo? Espero não ser espancado.

–As pessoas pedem chances, Benjamin, deve-se dar uma, e se não for aproveitada. Jogamos fora a possibilidade de lhe dar outras. – Disse circunspecta.

–Então, quer dizer que você não sente raiva pelo que eu falei?

–Você debocha de tudo Benjamin, se alguém faz algo errado, você sempre tem que fazer um comentário totalmente desnecessário e eu não gosto disso. É, acho que detesto o que você faz, mas sentir raiva é algo muito extremo.

–Então você não sente raiva de mim?

–Isso não significa que gosto de sua presença.

–Mas está falando comigo...

–Educação é algo que aprendi a ter ao longo de minha vida.

–Falando em sua vida... – Fez uma pausa, estava pensativo. – Por que chamam você de “Fallen Angel”? Sério... Isso não é um nome nada comum... Quer dizer... Significa Anjo Caído, o que é meio estranho... – Naquele momento, amaldiçoou-se mentalmente pela pergunta que fez. Não deveria ter falado aquilo, embora a expressão de Falle não demonstrasse nada.

–Realmente? – Encarou-o - Não sei. As pessoas passaram a me chamar assim, acho que é por causa de meu dom, sabe? Poder controlar a água e materializa-la em um local desértico como onde eu vivia, poderia ser considerado um milagre. E a história de profecia ainda não havia sido pronunciada.

–Então quer dizer que as pessoas apelidaram você? Fallen, o que você era antes da Sora te encontrar? – Fazia um careta, Fallen ponderou a ideia de rir, mas se manteve séria.

–Bem... – Desatava as ataduras que tinha em seu braço esquerdo. Sempre as usava, mas, que problema teria retirara-las naquele momento? – Está vendo essa marca, em espiral? – Apontava para a cicatriz que tinha. – É isso que acontece com aqueles que não têm família, que se tornam escravos. Eles marcam isso com ferro quente, além de usar outros produtos juntos para que a marca fique pior e garanta que a cicatriz permaneça.

Ben estava em silencio. Não tinha tantos outros detalhes, mas, aquelas poucas palavras haviam servido para que ele ficasse quase que sem reação. Então, passara todo aquele tempo implicando com alguém que tinha uma história tão desventurada quando a dele?

–Mas... E como é, bem, dói muito?

–A marca com o ferro? Digamos que são sortudos os que sobrevivem a ela, pois como disse, é utilizado outros tipos de produtos, uma espécie de planta, não lembro o nome. Isso torna mais propicio a infeccionar e ir para o sangue, com à maioria dos escravos não tem nenhum tipo de ajuda disposta... E, dói bastante sim... – Ainda podia sentir o ferro marcar sua pele, e a dor da queimadura era algo quase que infernal. – Acho que foi a coisa mais dolorosa fisicamente que senti em toda a minha vida.

–E é a única marca que tem?

–Na verdade, havia correntes que usávamos nos pés, tenho cicatrizes acima de meus calcanhares, mas são quase invisíveis. E em meus pulsos – ergueu ligeiramente os braços mostrando as pequenas cicatrizes. – Mas essas também não pouco notadas. Acho de certa forma, agradeço muito a Sora por ter me salvado naquele dia e um pouco também, agradeço a você por ter retirado as correntes de minhas mãos.

Não se sentiu totalmente digno de ser agradecido, lembrava-se claramente que havia sido mandado derreter as correntes e, fizera as coisas com ligeira má vontade. Pensar naquilo no momento era algo vergonhoso.

–Acho que nós dois devemos algo a Sora. Ela também meio que me salvou de grandes problemas...

–Tipo...?

–Eu havia fugido de casa. – Falou, talvez, Fallen pudesse ser compreensiva. – Digamos que ser um elemento, sem sequer saber disso, e morar com uma família que bem... Não aceita essa condição, não é algo muito legal. Lembro-me de que desde pequeno tivera “acidentes”. Sabe colocar fogo nas coisas sem querer, ou, acabar machucando alguém sem ter a intenção. Isso não foi algo muito tranquilizador para a minha família... Eles não gostavam disso. Não, acho que talvez, parando para pensar, eu é quem via as coisas erradas. Talvez eles gostassem de mim, mas não do que eu fazia.

–E, o que aconteceu com eles? Depois que veio pra Terra, não terão notícias suas facilmente...

–Pois é ai que está, eles não tinham mais notícias minhas há algum tempo, por que eu havia fugido de casa. Quando trombei com vocês pela primeira vez, estava fugindo dos alquimistas por causa de meu estado. Digamos que, na minha mente, me tornando um alquimista poderia voltar a ser aceito novamente, mas, fui babaca o suficiente para falar com as pessoas erradas...

–Eram aqueles alquimistas que estavam atrás de você.

–Sim, não lembro o nome, acho que era Renê, Raynê... Foi terrível, eles me perseguiam. E, suspeito de que a fera que estava atrás de mim, deveria ser deles. A criação das feras foi um erro, então, a alquimia foi proibida na Terra e na Luz. Só que a criação de animais como aqueles também foi proibida em qualquer lugar, já que as que existiam se multiplicaram muito rápido.

–Então eles eram traidores?

–Talvez. Poderia ser errado pensar assim... – Ficou em silêncio por um instante, não sabia exatamente como seguir um dialogo. – Ei, você me lembra uma pessoa.

Fallen arqueou uma sobrancelha e encarou Benjamin.

–É, quem?

–Minha irmã. O nome dela é Robin Break. E deve ter a sua idade agora.

–E como ela era? – Nunca tivera uma família, falar com alguém que já tivera uma, lhe dava certa curiosidade.

–Bem, provavelmente, ela deveria ser um pouco mais alta do que você, o cabelo dela não era um vermelho que nem o meu, era alaranjado e ela tinha os olhos azuis. Digamos que ela batia em mim quando éramos criança... Era a única pessoa que não se importava tanto com a minha situação...

–Você não precisava ter fugido, poderia ter ficado por ela. – Comentou.

–Mas eu simplesmente não consegui. Penso nisso às vezes e quase me arrependo.

Fallen dobrou os joelhos e os abraçou, estava frio. Mas aprendera a conviver com ele, passara a gostar das temperaturas amenas de Temesia.

–Nunca conheci minha família, nunca poderia dizer que tive uma, a não ser por... Ouve uma época, em que eu vivia sendo pega pelos vátores, porque sempre fugia. E, em uma dessas vezes, me encontrei com Wynna e Goda. Eles eram irmãos, Wynna era mais velha, tinha um ano a mais do que eu e Goda, deveria ter uns quatro anos na época. Lembro-me que foram umas das poucas pessoas que me deixei “socializar”, nosso plano era fugir dos vátores e ir para o reino de Edésia.

–E o que aconteceu?

–Obviamente não consegui, pois logo fui pega novamente, mas acho que Wynna e Goda conseguiram...

Benjamin se calou por um instante. Pela primeira vez, pudera constatar que ele e Fallen estavam tendo um dialogo descente.

–Ei... Você notou que, não discutimos ainda? Você nem tentou me bater ou eu por fogo em seus cabelos... Aliás, falando nisso, eles estão bem compridos. – Analisava-a, Fallen era baixa e, seus cabelos pretos, estavam no comprimento de sua cintura. A Franja agora mais curta amoldava-lhe o rosto, que, contrastava com a pele pálida e os olhos de tom azul escuro.

–É, não discutimos ainda e você está usando os óculos.

–Tenho dor de cabeça se não usar.

Fallen riu e silenciaram-se. Era estranho, estavam tratando-se como gente pela primeira após bastante tempo. E enquanto a de olhos azuis observava o que havia a sua frente, Benjamin tinha sua atenção direcionada a ela. O quão tosco fora de só naquele momento tocar-se de que, Fallen não era o monstro que pensava ser, não era aquela estranha que não conseguia controlar direito seus poderes assim como ele, era uma pessoa. Que passara por situações piores do que ele...

–Angel... – Chamou, instintivamente Fallen encarou-o.

–O que-

Não a deixou terminar a frase e selou seus lábios ao dela. Não tinha certeza se o que fazia era o certo, apenas sentiu vontade. Provavelmente após aquilo iria ter um tridente atravessado em seu pescoço. Mas ignorou tais pensamentos. Fallen iria empurra-lo, pensou seriamente em fazer aquilo, mas desistiu, e retribuiu intensificando o beijo. Sentiu Benjamin envolver sua cintura, trazendo-a para mais perto de si. Sentia calor humano, era algo que nunca soube ao certo o que era.

Desfizeram o beijo, enquanto Benjamin abraçava-a com força.

–Arcádio disse que não poderei ir com vocês, amanhã. – Falou com o rosto apoiado no ombro de Fallen, estranhamente a ideia que lhe veio em mente era a de mudar de assunto.

–Da próxima vez, você poderia tirar os óculos? – Não, aquela não era a resposta que esperava.

–Hã... Er... Como assim? Você disse, da próxima vez?

–...Sim – disse ligeiramente envergonhada.

Benjamin ficou quase monocrômico.

–Então, quer dizer que, você não quer me matar e nem vai tentar fazer isso?

–...Não – Tinha seu rosto afundado no ombro de Benjamin, sentia a textura de seu casaco com seu cheiro impregnado.

Benjamin afastou-a, por um instante segurando-a nos ombros, Fallen tinha as bochechas rosadas, o que não era muito comum para ela. E novamente selou seus lábios ao da mais nova, desta vez, eufórico rapidamente soltou-a. Encostando suas testas.

–É bom saber disso.

–Que eu não vou lhe matar?

–Sim.

–Sabe, Benjamin, acho que seria uma boa ideia você ir... Amanhã será um dia complicado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

A imagem ao final é da Sora, estou fazendo uma do Benjamin, do Denzel eu fiz, do Yume, da Yoru e da Fallen, também tem a do outro elemento, mas ainda nem comecei e.e
E ai? O que esperavam? :3 Ficou bom a cena da Fallen o Ben? Eu meio que não sou muito boa em escrever romances e tal... e.e
E sim, eles são o primeiro casal oficial dessa bagaça o/
Mas nao espere que eu vá focar muito no romance não... e.e Sem pressa para as coisas, né?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Domadora - O Fragmento da Profecia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.