Ainda me recordo de meus tempos de criança, quando pensei que pela primeira vez eu teria um lar. Meus pais adotivos – antes de me levarem de novo ao orfanato – liam contos de fadas pra mim, como Branca de Neve e os sete anões, A pequena sereia e Peter Pan, mas nunca imaginei que um dia faria parte delas, muito menos que fossem reais.

Tudo continua confuso, ainda acho estranho meus pais serem Branca de Neve e o “Príncipe Encantado”, tento ao máximo me acostumar com isso mas é praticamente impossível, principalmente agora que Henry foi levado por Tamara e Greg e não faço ideia de onde ele esteja. É irônico pensar que durante 11 anos fiquei longe dele, achando que nunca o veria novamente, e agora estou no Jolly Roger em Neverland a procura dele. A coisa que mais temo é que meu filho acabe como eu, pensando que não há mais esperança, que foi abandonado e que ninguém chegará atrás dele.

Era estranho pensar em como a magica funcionava. Passamos por um imenso portal no mar para chegarmos aqui e não sofremos o menor dano, mas isso não me surpreende mais, muito menos depois que tive que trabalhar junto com Regina para salvar StoryBrooke, o primeiro lugar que finalmente considero como um “lar”.

Eu estava apenas debruçada na beirada do navio, pensando em como salvaríamos Henry, se ele estaria bem e o que Tamara e Greg poderiam ter feito a ele. De longe, no mastro, Hook parecia determinado a chegar em Neverland, porém não conseguia deixar de lado um pouco de preocupação, não consigo parar de pensar no que Hook possa ter feito em seu tempo em Neverland que o aflige tanto.

-Não se preocupem, logo estaremos em Neverland e salvaremos o garoto, não precisam ficar tão deprimidos desse jeito, parecem um bando de cães abandonados.

Disse Hook.

-O que você esperava “pirata” ? – Disse Regina que estava próxima a ele – Meu filho esta lá nas mãos de dois vigaristas sozinho, me surpreendo que esteja reduzindo a velocidade numa situação como essa.

- Você é um pirata! Não deveria ter medo do mar – Disse David – Trate de acelerar esse navio para salvarmos Henry.

Eles pensavam que eu não percebia, mas eu via que David e Mary Margaret olhavam para mim pensando em uma forma de me consolar, mas a única coisa que quero agora é ficar sozinha.

- Bem “colega”, a não ser que você queira que o navio se parta ao meio antes de chegarmos em Neverland, sugiro mantermos a velocidade.

Era evidente que David e Hook não se dariam bem durante a viagem, aliás, eu não imagino como qualquer um de nós possa se dar bem durante toda essa operação para salvar o Henry, somos praticamente todos inimigos nesse navio.

- Bem acho que não chegaremos a lugar algum com essa discussão infantil sobre a velocidade desse navio velho queridos.

Disse Mr. Gold subindo ao convés do navio, se juntando a nós.

- Navio velho? – Disse Hook dando uma pequena risada – É um pouco irônico justamente você falar isso “crocodilo”.

Hook e Mr. Gold deram uma pequena troca de olhares, mas ambos controlaram a raiva para não começarem uma briga no meio de uma situação tão frustrante como essa.

- Ótimo manter o bom humor durante a viagem para seu maior pesadelo não é “Pirata”? – Disse Mr. Gold - Creio que ninguém parece muito entusiasmado.

- Me surpreenda que você anda gastando seu tempo trocando de roupa – Disse Regina – Aliás, me surpreenda que você tenha uma muda de roupas.

- Para salvarmos Henry aqui em Neverland, nossa arma será a mente aberta, a capacidade de cada um em crer em si mesmo. – Disse Mr. Gold – Nada melhor do que voltar aos velhos tempos não acha majestade?

Regina permaneceu calada. Quando Mr. Gold mencionou “velhos tempos” não pude deixar de pensar em Neal, em todos os momentos que passamos juntos desde que roubei aquele carro. Me culpo desde o dia em que ele passou por aquele portal, me culpo por não ter dito que o amava antes de perde-lo, esse é o meu maior erro.

- Parem com essa discussão, isso não nos levará a nada, precisamos de um plano para salvar Henry – Disse Mary Margaret – Esse é o nosso foco no momento.

- Ah, claro que a princesinha não suportaria ver uma confusão – Disse Regina – Você podia parar com essa fantasia de mundo perfeito sabia?

- Não estou falando de um mundo perfeito Regina, estou falando que precisamos no momento trabalhar em equipe para salva-lo – Revidou Mary Margaret – Ou você prefere gastar seu tempo discutindo com Rumplestiltskin?

- Quem é você para me julgar agora? Como se você fosse a madame perfeição.

- Já chega Regina – Disse David – Não precisamos de mais discussões.

- Tudo bem – Disse Regina – Se você precisa de um príncipe para se defender.

-Prefiro um príncipe do que magia negra Regina – Disse Mary Margaret – Pelo menos eu tenho um amor verdadeiro.

- Você esta me falando de amor verdadeiro? Depois do que fez com Daniel?

-Eu era apenas uma criança Regina, eu pensei que sua mãe a entenderia.

-Ah, certamente ela entendeu, arrancando o coração da pessoa que eu mais amava fora e esmagando em minha frente.

Eu não conseguia entender praticamente nada do que elas falavam, quem era Daniel? E o que Mary Margaret teria feito que causou tudo isso?

- Vocês precisam parar com isso – Disse eu – Não sei o que aconteceu com vocês no passado mas isso não irá nos ajudar agora.

- Claro que você não sabe de nosso passado, tudo que sabe leu em um livro de histórias – Disse Regina – Então sugiro que fique fora disso.

- Pelo menos com o que sei eu quebrei a maldição, se não ainda estaríamos presos em Storybrooke. E pelo que sei, eu que deveria estar reclamando por aqui já que Neal esta morto, meu filho sequestrado e é claro, fui afastada de toda a minha família por 28 anos.

- Então não seria melhor deixar as coisas do jeito que estavam? – Disse Regina – Se não fosse por aquele maldito dia em que você chegou com aquele fusca amarelo e sua jaqueta vermelha, tudo estaria perfeito, e Henry não estaria nessa situação.

Fiquei sem argumentos, no fundo eu sabia que Regina estava certa. Se eu nunca tivesse quebrado a maldição, Henry estaria a salvo, Neal estaria vivo e eu não precisaria estar passando por toda essa situação.

Desci até minha cabine para fazer algo que finalmente ajudasse alguém, iria me preparar para uma verdadeira luta, e tentar não parecer uma criança indefesa, que precisa de ajuda a cada 5 minutos. Achei uma barra e comecei a fazer alguns exercícios, eu não imaginava que tipo de inimigo estaríamos enfrentando, mas se é um do tipo que assusta “Rumplestiltskin”, acho que eu deveria tomar uma atitude.

Depois de um tempo, Hook entrou na cabine.

- Você esta bem? Parecia chateada lá em cima querida.

Eu não sabia se ficava com raiva por eu querer ficar sozinha, ou se eu ficava feliz por ver que alguém além de David e Mary Margaret se importava comigo.

- Estou bem Hook, se veio aqui para me consolar pode poupar seu tempo.

Ele deu uma leve risada que realmente conseguiu me fazer esquecer do que aconteceu por alguns instantes.

- Cá entre nós Swan – Disse ele – Você não é uma pessoa fácil de ser consolada.

Continuei em silencio, não conseguia esconder um leve sorriso.

- Bem, o que você pensa que esta fazendo?

Parei com os exercícios, me sentei em um banco próximo e continuei a conversa.

- Me preparando pra uma luta, não sabemos que tipo de inimigo vamos enfrentar.

- Bem... Devo admitir que esse inimigo não é do tipo que se combata fisicamente amor.

Hook chegou próximo a um armário, de lá, ele tirou uma espada embainhada.

- Sei que sabe muito bem como usar uma espada Swan, e essa deve ser especialmente de um grande valor sentimental...

- Valor sentimental?

- Bem, essa espada pertenceu a Baelfire nos tempos em que ele esteve em meu navio. A mantive guardada durante esse tempo, mas creio que ela ficará em boas mãos.

Eu não conseguia imaginar o por que Neal esteve no navio do Hook, ou o que ele fez durante esse tempo, mas eu conseguia ver em seus olhos que ele também sentia uma pontada de tristeza e arrependimento quando falava sobre Neal.

- Ele sempre será Neal pra mim...

Peguei a espada e a guardei comigo. Não pude deixar de observa-la por um momento, pensando nele.

Hook tirou sua pequena garrafa de Rum do bolso e me ofereceu um pouco.

- Ao Neal.

- Ao Neal.

Bebi um gole e pela primeira vez vi que Hook não era apenas um pirata egoísta. Ele tinha um passado com Neal, ele sentia falta dele. Ele definitivamente não era como eu pensava, tinha mais bondade em seu coração.

Ficamos em silêncio por algum tempo. Hook não sabia como continuar uma conversa em relação ao Neal, ele sabia que era um assunto delicado e ele não queria me magoar, certamente ele mudaria de assunto.

- No que esta pensando? – Disse Hook – Em relação ao garoto.

- Henry? Ainda não pensei em nada, só sei que vou enfrentar quem eu tiver que enfrentar para chegar até ele.

- Cuidado Emma, Pan pode parecer um garoto mas ele brinca com nossas emoções.

- Pan? Você esta falando de Peter Pan? O garoto que levou Wendy pra Neverland e seus irmãos...?

-Acredite em mim querida, a história não tem um final tão feliz assim.

Ficamos em silencio por mais um tempo, tudo estava ficando ainda mais confuso. O inimigo que todos deveriam temer era Peter Pan? O garoto adorado pelas crianças?

Sentimos um grande impacto no navio, provavelmente o mar estava agitado. David chegou correndo na cabine.

- O que esta fazendo ai “Capitão” ? Não deveria estar cuidando do navio? Esta um caos lá fora.

Hook saiu as pressas da cabine, eu e David fomos logo atrás. Mary Margaret e Regina tentavam se equilibrar como podiam, mas estava difícil ficar imóvel durante todo aquele transtorno.

- O que vocês fizeram? – Disse Hook indo apressadamente ao mastro – Essa tempestade irá nos afastar!

- Nós? Não fizemos nada “pirata” – Disse Regina – A não ser que queira nos culpar por uma tempestade!

Tinha água por toda parte, Hook tentava fugir da tempestade controlando o navio mas parecia que ela estava direcionada em nós.

- Hook! – Gritou Mary Margaret – Algo esta tentando nos atacar!

Hook olhou em torno do navio, logo, ele percebeu o que estava acontecendo.

- Hook? – Eu disse – O que esta tentando nos naufragar?

- Sereias! – Disse ele – O pior tipo delas...

- Pensei que sereias fossem boas...

- Se você acha que ser naufragado ou afogado é bom – Disse Regina ironicamente – Então certamente elas são anjos.

- Não é hora disso Regina!

Todos caímos no convés, ficar em pé era um grande desafio em meio aquela tempestade, mas tínhamos que proteger o navio para chegar até Henry.

David conseguiu se manter de pé, e com uma baliste tentou espantar as sereias. Eu me levantei e junto com Mary Margaret tentamos captura-las, mas parecia impossível.

- Já chega desses métodos inúteis! – Disse Regina – Não precisamos disso.

Regina com magia jogou algumas sereias para longe, mas isso só atraiu mais delas. Elas foram forçando mais o navio e o chacoalhando enquanto eu e Mary Margaret estávamos na borda, tentando captura-las, mas uma hora elas conseguiram chacoalhar tanto o navio a ponto de me fazer cair ao mar.

A ultima coisa que ouvi foram os gritos de Mary Margaret e David, e só vi todos se aproximando da borda. Não conseguia parar de pensar que novamente, eu estava sendo a garota indefesa que precisava de ajuda novamente.

Algumas sereias tentavam me puxar para o fundo mas eu estava conseguindo permanecer no lugar, se eu fosse mais fundo eu não sabia o que poderia acontecer, eu estava perdendo a consciência mas eu ainda lutava pra tentar voltar a superfície, não seriam algumas sereias que iriam me matar afogada enquanto eu tento salvar a vida do meu filho.

Eu estava perdendo ar demais e meus olhos estavam se fechando lentamente, eu não sabia se conseguiria ficar mais tempo lutando contra as sereias, mas então eu vi alguém se aproximando me puxando pelo braço, mas antes que eu pudesse reconhecer quem é, eu perdi a consciência.

Tudo permanecia escuro, e eu escutava poucas coisas. Eu conseguia escutar a Mary Margaret me chamando, ou o David e então eu abri os olhos, eu estava deitada em uma cama na cabine aonde eu estava conversando com Hook, e ele estava no outro canto da cabine me observando, parecia aliviado.

- Veja só quem acordou.

Eu me sentei e olhei para meus braços, estavam com diversas manchas vermelhas.

- O que... O que aconteceu?

- Você caiu no mar... As sereias tentavam te puxar pro fundo mas você resistiu por tempo o suficiente para que eu pudesse salva-la.

Fiquei em silencio por um tempo. Hook? Me salvar? Isso era uma das coisas que eu pensei que seriam raras de serem vistas. Pensei que provavelmente David me salvaria, mas creio que Hook se atirou no mar antes que David tivesse chance.

-Obrigado.

- Não há de que.

Hook deu um leve sorriso, antes que pudesse dizer mais alguma coisa, David e Mary Margaret entraram na cabine.

- Emma! – Disse Mary Margaret – Você esta bem?

Mary Margaret e David se sentaram ao meu lado, eu ainda estava com uma leve dor de cabeça.

- Sim... – Respondi olhando para Hook – Estou ótima.

Dei um leve sorriso e Mary Margaret me deu um abraço junto com David.