“Você estará preso ao que lhe rodeia

Quando a nevoa se dissipa na estação chuvosa

Ele vem do meu interior

Quando os raios caem

Você estará vendo meu verdadeiro 'eu'”

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Julie estava extremamente satisfeita consigo mesma, tudo estava indo como no roteiro que ela havia produzido e agora só faltava o final feliz, quando toda as coortes votariam nela para pretoria já que Josh estava decididamente fora do páreo.

Faz três horas desde que Julie limpou as mãos e a água que desceu da torneira manchou a pia de vermelho, o cheiro estava doce e ela sentiu a água gelando as mãos mornas, nada de novo para ela. Não havia deixado nenhum rastro, disso ela tinha certeza, sempre fora muito cuidadosa e agora contava os segundos para que Paul entrasse pela porta do templo de Belona, sua mãe. O lugar fora miraculosamente escolhido, afinal, ninguém estaria por ali nas próximas horas a morte da Pretora, todos estariam no Fórum, tentando ver algo.

Julie andou de um lado para o outro no templo de sua mãe, Paul estava demorando muito, mas o papel dele era importante demais para que ela o ficasse apressando.

De repente um barulho veio da entrada e Julie correu para trás de um pilar, temendo que fosse alguém a visse sozinha ali, mas era apenas Paul, vermelho por ter vindo correndo até ali para trazer as boas novas a garota.

– Julie?- Paul sussurrou, olhando para os lados procurando por cabelos ruivos.

– Paul!- Julie correu até o garoto e deu um abraço nele, ele retribuiu e beijou com ferocidade a garota. Agora não estava mais nervoso, não tremia e não estava suando. Tudo deu certo, afinal.

– Deu certo! Você conseguiu!

Beijaram-se novamente, corpo contra corpo, mas os pensamentos de ambos estavam longe um do outro. Julie só pensava em como tinha conseguido realizar com maestria todo o plano que arquitetara e estava pensando em quando poderia finalmente ser a nova pretora. Paul pensava em como se sentia aliviado de finalmente tudo ter acabado e de ele não ter sido pego, mas se sentia culpado por ter forjado a adaga que ceifara a vida de Denise.

Pararam de se beijar e olharam-se, Julie sorriu como um louca, revelando parte de sua insanidade interior.

– Nós conseguimos Paul! Nós! Você forjou a melhor adaga que já manuseei, guardei-a para lembrança e também porque não posso deixar ela por ai.

– Você guardou??

– Sim! Nunca vou me desfazer dela!

Julie sorriu, estava tão feliz que não se importava mais com nada.

– Julie, seja sensata, livre-se da arma. Você sabe o que acontece com as armas de semideuses depois que eles matam um igual...

– Amaldiçoadas, eu sei.

– É, livre-se dela!

– Não Paul, não vou. Poxa, não dá pra curtir esse momento?

Ambos se olharam, um não queria ceder a pressão do outro, mas no final, assim como sempre fora, foi Paul quem cedeu. Ele não sabia dizer não a linda garota que estava na sua frente.

– Tudo bem!- Ele abriu um sorriso- Vamos comemorar!

– Ótimo!- Julie deu um selinho no garoto e o puxou pera fora do templo- Mas antes, precisamos prestar nossa condolência a Ulric, pobre coitado e ao Josh... Claro!

Os dois saíram apressados do templo de Belona e imediatamente Julie fez sua melhor cara triste, Paul estava um pouco abalado pela participação que teve então não teve muito a fazer. Ele passou o braço por Julie, como se fosse apoiá-la nesse momento de dor e quando chegaram perto do fórum reparam que o pandemônio continuava.

A maioria dos campistas foi mandada para seus respectivos alojamos e ali ficaram apenas os centuriões, os generais, os mais antigos da Nova Roma e o áugure, Collin. O corpo de Denise estava coberto por um manto branco e outro roxo, cores da pretoria e Ulric estava ajoelhado ali, chorando, as autoridades maiores estavam conversando em voz baixa, já Josh e Alice estavam encolhidos num canto, enquanto Alice acariciava o cabelo de Josh, Julie reparou que o rosto dele estava todo inchado, com cortes e com sangue seco. Ela sentiu pena dele e seu coração apertou um pouco em saber que aquele lindo rosto fora machucado tão brutalmente, por Ulric, imaginou.

– Collin? Ai minha Belona! É verdade mesmo?- Julie chegou perto do áugure e falou num tom engasgado de choro.

– Sim...

– Di Immortales! Quem fez essa atrocidade?

– Foi o Josh, aquele canalha fez isso apenas para conseguir a pretoria!- Ulric disse com o maxilar trancado, numa força enorme para não bater mais em Josh.

– Não!- Julie pareceu boquiaberta e olhou para Josh, o outro nem lhe deu atenção.

– Sim! Eu o vi com sangue nas roupas e na mão e vi-o com a arma do crime! Ele é um assassino!- Ulric continuou gritando, mas Lenobia, centuriã da coorte dele o fez ficar quieto.

– Santa Belona! Eu não acredito! Não pode ser... – Julie começou a chorar e foi até Josh, em passos lentos, sempre fora uma ótima atriz.

Os outros prestavam atenção no corpo de Denise, como se ele pudesse fugir e nos comentários de Ulric, sempre incriminando Josh. Julie não planejara isso, mas fora a melhor surpresa que acontecera a ela, uma testemunha contra Josh.

– Josh... – Julie sussurrou e Alice a olhou com um olhar feroz, ela nunca tinha visto a garota assim.

– Precisamos conversar Julie- Josh disse num tom grave que ele ainda não tinha usado com ela, mas ele ainda devia estar sob efeito do elixir do amor, então não se preocupou.

– Não sei se posso ficar a sós com você, não confio mais- Julie respondeu.

– Cala a boca sua vaca maldita!- Alice falou em palavras baixas, mas claras.

Julie se surpreendeu.

– O que?

– Prefere que eu fale alto que eu sei que foi você?- Josh deu um sorrisinho, abafado pelo inchaço do rosto.

Julie se surpreendeu novamente, aparentemente Josh era mais esperto do que pensara.