“Algumas coisas deslizam, mas isso é um dever

Como eu te disse, há um tempo para descobertas

As pessoas tentam me dizer

O que não fazer

Você não deveria fazer isso”

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Alice estava transtornada, descobrira o que Julie andava fazendo com Josh e se sentia furiosa, ela não sabia o que faria primeiro, se denunciaria Julie para o conselho e para o centurião de sua coorte, ou se colocava juízo na cabeça de Josh.

Ela andava louca pelo acampamento, como uma fúria, sem prestar atenção a nada em especial e quase trombou com Mica e enquanto passava marchando pelos dormitórios, ela estava sem rumo, mas seus pés pareciam a levar até o templo do áugure.

Acabou encontrando Josh falando com Collin, o áugure do acampamento que lê o futuro e toma decisões importantes através das tripas de ursinhos de pelúcia, prática que foi tomada a um bom tempo e que até hoje apenas o áugures sabem interpretar. O que alguém vê nas entranhas de ursinhos de pelúcia?

Josh avistou Alice se aproximando e fez uma careta, Collin notou e se solidarizou pelo garoto, afinal, ele lembrava bem de ver Josh chegando ao acampamento e como um meteoro fazer sua fama, se tornando uma pessoa muito querida, em que todos queriam estar perto.

- Mais uma fã?- Perguntou enquanto Alice ainda subia as longas escadarias para chegar até o templo do áugure.

- Não, ela é minha amiga, mas tenho ficado longe dela porque é o certo a fazer.

- Como assim é o certo a fazer?- Collin perguntou, preocupado com o modo automático que ele falou.

- Alice não é tão boa assim, Julie é.

Collin ficou realmente assustado, Josh nunca fora tão frio com as palavras e nunca falara de modo tão mecânico, é como se ele tivesse se tornado um autômato de Dédalo (aquelas invenções de Dédalo, o mais célebre filho de Athena, que são estátuas colocadas estrategicamente pelo mundo para o caso de um apocalipse).

- Di Immortales Josh! O que há de errado com você? Há tempos que anda estranho!

- Nada, é apenas o certo a se fazer tudo bem?- Josh olhou de modo significativo para Collin e ele fez cara tipo “vou deixar quieto por enquanto, mas você terá que se explicar mocinho”, Collin com a cara redonda pelo excesso de peso ensaiou um sorriso para Alice, mas não deu muito certo.

- Olá Collin, Josh- Ela se virou para o filho de Apollo- Precisamos conversar, agora, urgente.

O garoto hesitou, mas Collin o empurrou delicadamente para dentro do templo e ele acabou entrando, Alice foi logo atrás e ela ficava pensando em como abordar o assunto sem que ele a chamasse de louca.

- Descobri uma coisa hoje- Ela começou.

- Sim...

Josh sentou num divã e apontou o outro para Alice que se recusou a sentar, continuou andando pela sala bem iluminada. Estavam onde Collin dorme, o templo especial para o áugure, o ponto mais alto do acampamento. De lá ele conseguia ver todo o movimento dos semideuses e ficou encantado ao ver Hannibal, o elefante de estimação do acampamento dando um banho de água nos semideuses mais jovens.

- ... E ela conseguiu pegar uma poção com um filho de Trívia, o que é fácil e então você está assim!- Alice apontou para Josh, exasperada e o garoto reparou que perdera metade do discurso dela, a mente dele tendia a viajar com frequência.

- Desculpe, eu não entendi.

- Poxa Josh! Você tomou algumas doses dela, você tomou um elixir do amor com a essência dela! Julie está te controlando!

Josh olhou para Alice, ela estava vestida com a roupa normal do acampamento e o cabelo negro estava em um rabo de cavalo, ela gesticulava muito e reparou que a garota estava realmente muito preocupada, mas ele só conseguia pensar que Alice estava tentando estragar a relação relâmpago dele e de Julie.

- Você só pode estar brincando comigo!- Josh falou, não mais do que um sussurro, ele odiava brigas.

- Não! É verdade, ela está te controlando e é por isso que você anda tão diferente e não sou só eu que penso isso, Gui e Caius disseram que você anda muito distante com eles e Henry disse que você não tem treinado mais tanto como antes e ainda por cima você nem sequer olha nos meus olhos mais!

Josh suspirou, aquilo estava passando dos limites.

- Não.

- Sim Josh!

- Não. Não quero discutir com você. Isso não é verdade e já estamos falados. Volte a falar comigo quando você não tiver louca de ciúme pelo nosso namoro!- Assim que Josh falou tais palavras, se arrependeu profundamente, mas não há como retirar o que já foi dito, então levantou e saiu do templo do áugure deixando Alice totalmente transtornada com o que acontecera.

Josh desceu toda a escadaria e mal ouviu quando Collin o chamou loucamente, ainda querendo explicações, passou reto por todos que olhavam para ele e apenas parou quando sentiu umas mãos fortes segurarem seu braço, era Paul, filho de Vulcano- Deus do fogo- e muito amigo de Julie. O garoto puxou Josh junto com ele para longe dos olhares curiosos e se abrigaram atrás da Casa do Senado, onde ninguém os incomodava.

- Preciso falar com você Josh, é sobre Julie- Começou Paul que estava inquieto, olhando para todos os lados, passando a mão no cabelo e totalmente tenso, parecia que sabia que algo poderia acontecer a qualquer instante, algo trágico.

- Sim?

- Ela descobriu uma coisa muito importante sobre Denise, você sabe, a pretora do acampamento...

- Sim- Josh o interrompeu, impaciente com a enrolação do garoto.

- Ela corta os pulsos, como uma forma de se punir por ter deixado Diggerory morrer e agora está ficando cada vez pior, ela tem tomado muitos remédios e tem vezes que nem acorda durante um dia inteiro.

- Ela está se dopando?

- Sim e também está se enchendo de umas besteiras mortais, ela vai se matar Josh e vai matar todo o acampamento Júpiter com ela. Daqui uns dias temos nossa festa de agradecimento aos deuses pela última estação do ano que nos deu uma bela colheita do campo e ela não está nem ai, não arrumou nada, não planejou nada. Ela está nos levando para o buraco com ela.

- Eu não acredito! Ela está se drogando! Eu posso curá-la Paul, eu sei que posso e vou até lá agora- Josh já estava se afastando, mas Paul o segurou novamente e ele reparou que o garoto estava suando muito e com a mão levemente trêmula.

Estaria se drogando também?

- Paul, eu preciso ir... Agora!

- Não. Espere.

- O que foi? Tem mais?

- Sim.

- O que é então?

- Não foi um grego que matou Diggerory, foi Denise. Ela o mandou sozinho para lá, sabendo que poderia acontecer algo e ele foi, pois era o cargo dele, sem escolta, sem nada. Ele morreu e Denise sabe que foi ela, agora está se punindo. Mas o que adianta isso? Ela está nos levando junto, não é apenas a festa que ela nem planejou, é também um conjunto de coisas, muitas pessoas não têm treinado mais, nossas fronteiras estão mais fracas, pois Término não consegue mais proteger tudo sozinho, sem a legião de guarda. Muitos dos meus irmãos pararam de fabricar armas, por falta de material ou porque não tem mais fiscalização disso. Os faunos estão mais bêbedos e inúteis do que nunca e muitos Lares estão se revoltando, parece que um dia eles sabotaram todo o prédio da faculdade da Nova Roma, ela está nos destruindo.

Josh parou estupefato, nos últimos dias ele não andava muito atento as questões do acampamento e não havia reparado em nada disso, mas Paul estava muito nervoso, suando e tendo tremeliques e então Josh chegou a conclusão de que ele estava certo, de que tudo isso estava sendo causado por Denise e ele quis acabar com o sofrimento.

- Você tem razão Paul, vou até lá, obrigado.

- Espere!

- O que foi? Tem mais ainda?

Paul abriu a boca, mas tornou a fecha-la, não tinha mais nada a ser dito, olhou em volta e deixou Josh ir apressado até o Fórum, onde certamente encontraria Denise se mutilando. Mas antes que pudesse entrar no Fórum Alice parou em frente ao garoto, com a cara séria e muito disposta a fazê-lo ouvir suas palavras.

Mas ele não tinha tempo. Era agora.

- Não posso falar com você, mais tarde tudo bem?- Josh começou.

- Não. Agora.

- Rápido! Dois minutos.

- É tudo verdade o que eu te disse. Olhe aqui- Alice retirou um frasquinho pequeno e transparente de vidro de um bolço e sacudiu-o na frente do garoto- Cheire- Ela abriu o vidrinho e deu para ele sentir o cheiro de Julie, doce e forte, assim como ela- Agora cheire aqui- Alice destampou um frasco e Josh cheirou, primeiro tinha o cheiro normal de morango e depois veio aquele mesmo cheiro, doce e forte, de Julie.

- O que foi? Colocou o perfume da Julie num frasco de suco de morango? Nossa! Isso prova tudo Alice.

- Não! Este frasco é de um filho de Trívia, é a essência dela e esse frasco de suco é aquele que ela sempre dá para você beber, o suco de morango contém o elixir e você sempre o bebe, por isso é que está sendo tão controlado.

- Ah! Por favor, Alice...

Josh olhou para os lados, ninguém entrava nem saía do Fórum e ele queria correr até lá e curar Denise, fazer algo por ela, o que quer que fosse, mas Alice estava ali, falando um monte de mentiras para estragar a relação dele com Julie.

- Josh não encontre mais com ela. Não tome mais isso, ela quer algo de você e acho que é a pretoria, você é o eleito da legião e ela dos figurões do Fórum e também de Denise, mas você tem mais influência se todos estão ao seu lado e é isso que ela quer, o seu cargo, o seu poder.

- As pessoas sempre tentam me dizer o que não fazer, mas você não deveria ter feito isso. Não você Alice. Agora me deixe.

Josh saiu pisando firme em direção ao Fórum.

- Como eu disse quando éramos crianças, há um tempo para descobertas.

Josh nem parou ao ouvir as mesmas palavras que já haviam sido lançadas há muito tempo e continuou andando para o Fórum, com ideias fixas na mente. Já Alice ficou ali parada até que jogou ambos os frascos no chão, fazendo a grama que tinha ali ficar escura, então secar e morrer, como se fosse veneno.

Josh entrou no Fórum e não encontrou ninguém pela porta, como de costume, não achou estranho, já que Paul o tinha atualizado sobre o que vinha acontecendo no acampamento. Andou mais um pouco e não encontrou ninguém na grande mesa que servia para as reuniões importantes do Senado e continuou procurando. Na sala dos livros não havia ninguém, no trono do pretor também não havia ninguém então Josh tentou a sorte na última sala, aquela que ficava guardada especialmente para reuniões particularmente importantes, como agora.