Diálogos escrita por Bia Lobato


Capítulo 1
Capítulo 1 - Preocupação


Notas iniciais do capítulo

O primeiro capítulo se passa logo após o segundo episódio da sexta temporada da série.



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– Mais pesadelos?

– Não.

– O que então, Lisbon? Vejo que você não dormiu.

– Diante dos recentes acontecimentos é natural que uma pessoa que tenha passado pela situação que eu passei perca o sono, não acha, Jane?

– Mesmo quando se trata da agente mais durona do estado?

Ela o olha parecendo não gostar do sorriso brincalhão estampado no rosto dele, mas tenta encontrar uma resposta:

– Olha Jane, eu sou um ser humano e...

– E se sente desconfortável quando perde o comando das situações. Você gosta do controle.

– É, eu gosto, mas não se trata disso. Trata-se da percepção da vulnerabilidade humana, da consciência de que a vida é, ao mesmo tempo, a coisa que mais importa e algo totalmente frágil...

– É assim que se sente? Frágil?

– Acho que você não vai querer ter essa conversa. E quer saber? Eu também não quero.

Ela termina a frase pegando a grande xícara de café e saindo da cozinha.

– Você está segura agora...

A frase dele sai num tom confuso, de quem não sabe exatamente o que dizer, mas sente que, mesmo assim precisa dizer algo. Ela se volta e o olha à distância. Ele insiste.

– Você está segura agora. Passou... Acabou.

– Não, eu não estou. E você sabe disso.

Ela volta a caminhar em direção à sua sala. Lá, ela se senta, coloca a xícara e os cotovelos sobre a mesa e as mãos sobre a cabeça, respirando profundamente, quando percebe que foi seguida desde a cozinha. Ela sabe o quanto ele se importa, o quanto se preocupa, mesmo sendo o rei da trapaça e enganando a todos tentando demonstrar que está tudo sob controle. Isto não funciona com ela.

– Você tem razão, não está segura. Mas ninguém está. Você precisa superar isso. Red John é apenas mais um caso e estamos perto de pegá-lo.

Ela levanta a cabeça e o observa em silêncio. Pela primeira vez parece que eles trocam de papel: agora não era ele quem a lia, quem sabia seus pensamentos. Ele tenta disfarçar o desconforto.

– Ok, por que me olha assim? Se seus olhos atirassem balas eu estaria morto. Estou apenas tentando acalmá-la...

– Está tudo certo, Jane. Existem coisas que levam tempo para serem superadas, esquecidas. Eu só preciso de tempo. Mas agora estou cansada. Como você mesmo percebeu, não tive uma boa noite de sono. Na verdade eu nem dormi. Então, não estou disposta a ter uma conversa totalmente franca sobre meus medos e meus objetivos. Não com você. Por favor, não banque o analista.

– Análise não resolveria seu problema. Além do mais, os profissionais da saúde por aqui não parecem ser confiáveis. Você deve se lembrar bem do que aconteceu com seu último psiquiatra...

– Sim, eu me lembro. Ele matou um monstro que realmente deveria morrer e tentou me fazer acreditar que a assassina era eu. Mas não precisa me lembrar disso, ok?

– Uau, Teresa Lisbon conseguindo me surpreender. Eu realmente estou muito surpreso agora. Sua mente sempre foi um livro aberto para mim.

Ela o observa sem entender. Ele continua:

– Você disse ‘um monstro que realmente deveria morrer’, isso foi fantástico. Acho que finalmente estamos nos entendendo filosoficamente.

– Eu realmente não estou disposta a ter esse tipo de conversa agora.

– Ok, mas só quero lembrar que... bom, que eu me importo, que você pode contar comigo. Eu já disse isso, mas é bom reforçar, até porque você parece não se lembrar disso...

– É, eu não tenho um palácio das memórias.

Ela usa cinismo em sua frase.

– Quando você precisar, Lisbon, sabe que eu estarei aqui.

Após olhá-la nos olhos por alguns segundos, ele se levanta para sair. Quando ele vira as costas, ela tenta impedi-lo de seguir seu caminho, e prossegue a conversa:

– Sabe o que eu sonhei quando acordei no hospital?

– Eu posso imaginar... Pela forma como você acordou... Assustada... Amedrontada.

– Bertram desenhava a marca do Red Jonh aqui... Tinha um enorme sorriso vermelho no chão e ele terminava de fazer o mesmo no vidro... Reede Smith tinha as mãos cobertas de sangue, Bertran dizia que estaria comigo em um minuto e...

– E agora você está mais desconfiada do que nunca do Bertran e do Smith por causa do pesadelo.

– Não... E... E todos estavam mortos. A equipe... Todos caídos, cobertos de sangue. O último para quem eu olhei antes de acordar no hospital foi você, claro, com sua xícara azul ao seu lado.

O relato de Lisbon mistura riso e dor. Jane esboça um sorriso. Ela continua:

– Eu acordei quando Haffner me chamou, me disse que sentia muito e tentou me golpear.

– Eu sinto muito, Lisbon.

Ele abaixa a cabeça.

– Foi o que o Haffner me disse no pesadelo.

Jane a olha perplexo.

– Você está mesmo fazendo essa comparação? Eu realmente sinto muito. Eu me importo e é por isso que estou aqui tentando compreender o que se passa com você.

– O Haffner pode ser inocente e pode sentir realmente que eu tenha estado sob o poder do Red John.

– Não foi isso que pareceu pelo seu pesadelo. Segundo o seu subconsciente ele pareceu bem culpado.

– E você agora acredita que sonhos sejam sinais? Poupe-me, não conheço ninguém mais cético que você.

– Isso não importa. O que estou tentando dizer é que foi difícil para mim ter recebido a ligação dele do seu celular e ter a sensação de que provavelmente você estava morta. Eu realmente senti e sinto muito pelo que aconteceu...

Ele diz isto olhando nos olhos dela, mas logo sente que está prestes a dizer o que não deveria, e se vira de costas, tentando se conter. Ele continua:

– Por mim, ele nunca chegaria perto de você... O Red John. Por mim você não passaria por isso, eu faria o que pudesse para ter evitado isso... mas você não me ouviu sobre não contar a ninguém da equipe. Você foi infantil e caiu na armadilha dele. Então não pude fazer nada.

Jane volta a olhar para Lisbon, tentando recuperar o tom irônico e brincalhão:

– Além do mais, você está aqui, firme e forte, nada aconteceu. Foi uma bobagem, um tropeço, nada demais. Não há razão para pesadelos. Pronto.

– Por que eu sinto que é isso que você diz, mas não é isso o que você pensa? Ah... Deixa eu ver... talvez porque esta não seja a verdade. Lembra do que ele falou sobre apagar suas memórias felizes?

– Ele não falou... Foi só...

– Quer saber? Dane-se! Se ele me enganou, poderia ter me matado, ou a qualquer um da equipe. Como no pesadelo. Eu sei que o forte e frio Patrick Jane diria que está na CBI apenas com o intuito de cumprir seu propósito de vingança pessoal, mas querendo ou não, se você tem alguma boa memória dos últimos dez anos, ela definitivamente está relacionada com esta equipe. Sua nova pseudofamília. A família postiça de um sujeito obcecado por vingança, que já não cultiva afeição por ninguém e perdeu sua sensibilidade... Não consegue mais compreender o que se passa com as pessoas ao seu redor e...

Ela demonstra revolta e impaciência, mas é interrompida por ele.

– Não é verdade, Lisbon. Eu compreendo muito bem. Eu sei tudo o que se passa com a equipe e principalmente com você!

Ele diz isto quase gritando, mas se detém e continua num tom quase sussurrado: - E você sabe disso.

– Eu não quero continuar essa conversa, Jane.

– Você tem razão. Todos correm riscos. Foi o que eu te disse a alguns anos quando você reclamou que eu estava me afastando da equipe... Coisas ruins acontecem com as pessoas que se aproximam de mim. E infelizmente, você tem mesmo razão. Vocês são uma espécie de nova família e, acredite, eu não quero perder minha família de novo. Não quero e não vou. Você sabe que eu não sou de entregar os pontos. Quer a verdade? Eu me preocupo tanto quanto você, mas não vou demonstrar insegurança. Você sabe que eu não sou assim. E esta conversa não deveria ter tomado esse rumo.

– Foi você quem insistiu nesta coversa.

– Ok, me desculpe. Eu só quis ajudar.

– Eu acredito que você tenha tantas chances de pegá-lo quantas ele tem de pegar você, ou melhor, de nos pegar. Isso contando que ele não seja mesmo um vidente. Concordo que não devemos nos render ou demonstrar medo... Este maldito medo que sinto todas as noites em que acordo assustada desde aquele dia. Mas e então? Se você pegá-lo? Se ele estiver a caminho da injeção letal, condenado, rendido... Teremos cumprido um objetivo... O seu objetivo, porque você está aqui até hoje só para pegá-lo. Depois disso o que acontece? Você volta a ser um charlatão, engana as pessoas e esquece essa droga de pseudofamília?

– Primeiro, ele não é um vidente. Segundo, ele não será preso e condenado à pena de morte. Mesmo que fosse, os cúmplices dele dariam um jeito de livrá-lo disso e o deixariam seguro bem longe daqui. E você sabe disso. Sabe também que meu objetivo não é que ele seja preso e condenado.

– Você não respondeu à minha pergunta.

– Lisbon, se eu cumprir meu objetivo... digo, este “se” não existe, porque eu vou cumpri-lo. Quando eu cumprir meu objetivo, não tenho certeza do que vai acontecer, mas provavelmente serei condenado, poderá ser à pena de morte ou prisão perpétua... Na melhor das hipóteses, ficarei muitos anos da prisão. E minha pseudofamília não vai me livrar disso. Creio que talvez eu receba uma visita sua, de vez em quando, para reclamar da minha atitude e dizer que não deveria ter sido assim, bla, bla, bla. Simplesmente isso. Não sei se haverá mais pseudofamília, porque, ao contrário dele, se eu for preso, não terei cúmplices que me livrem disso.

– Agora você está sugerindo que nós te apoiemos nisso? Que tentemos te livrar da prisão depois de cometer uma estupidez? Quer saber? Isso não vai acontecer. Eu farei tudo o que puder para que este verme seja preso e condenado à morte. Quero estar presente no dia em que ele for executado. Mas não será pelas suas mãos, mesmo que você me odeie para sempre por te impedir de fazer essa loucura. Eu vou fazer meu trabalho.

– Agora deixou de ser a garotinha frágil e voltou a ser a Lisbon de sempre. Mandona, acha que está no comando. Gostei de ver.

– Eu sou sua chefe.

– É bom que você pense que é. Eu gosto quando você é autoritária comigo. Mas, no fundo, você sabe o que tem que ser feito... Você sabe o que eu vou fazer e conhece a minha determinação. Mas está ótimo você assim, seja autoritária. É sinal de que você está superando o que aconteceu recentemente.

– Você é um idiota.

– Ótimo. Agora acho que você precisa realmente descansar. Todo está voltando ao normal. Você está no comando, teremos um novo caso hoje, teremos muito o que fazer.

À medida em que ele vai falando, sua voz se torna mais suave, mais baixa, e ele vai se aproximando de Lisbon e a olhando fixamente, fazendo com que ela também o olhe. Ele continua:

– Mas antes você precisa descansar, porque o sono está preenchendo todos os seus pensamentos. Um sono tranquilo, pesado, profundo e restaurador. É o seu descanso, Lisbon, você o merece e ele está prestes a te dominar...

Ao terminar estas palavras, Lisbon cai deitada no ombro dele, dormindo profundamente. Estava tão cansada que não percebeu a hipnose. Jane sussurra segurando-a:

– É para o seu bem, mesmo que você fique brava depois. Eu me importo... Eu me importo tanto com você...

Em seguida, ele passa uma das mãos sobre os cabelos de Lisbon, a segura em seus braços e a leva até o sofá.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Será que alguém vai ler? Espero que sim. Teremos próximos capítulos logo logo.



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