Dulce Antidoto Para Olvidar escrita por Miaesposito


Capítulo 2
Capítulo 2




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Ela já estava há quase um ano presa ali. Na verdade isso era o que pensava, pois mal lembrava havia sido há um ano em que aquela camionete a tinha levado.

Tinha acabado de discutir com sua família. Havia saído enfurecida, sem nada, havia esquecido ate sua bolsa, com pertences, seu celular, chaves, dinheiro...

Seus pais a irritavam tinha 23 anos! Tinha o direito de fazer o que quisesse, mais eles não entendiam, queria controlá-la a seus modos e isso era algo que ela não suportava. Vinham de uma família com uma boa posição econômica, seus pais lhe tinham dado tudo o que queria desde pequena... Mais ao crescer as coisas mudaram. Já não a interessam os brinquedos, as viagens... Não se conforma com o que te possam dar materialmente. Quando cresces precisa de amor, amizade, compreensão... Mais ela não teve nada disso. Típico de família rica pensa que podem te fazer feliz dando tudo o que pede, fazendo seus gostos... Mais não. O que ela precisava era que seus pais se preocupassem com ela, pelo que sentia... Que a aconselhassem nos momentos difíceis. Nada disso aconteceu, teve que se conformar em ter o carinho da babá que praticamente a criou. E agradecia por isso, agradecia por ter tido alguém que se preocupasse com ela, que a compreendia, a escutava e lhe dava conselhos. Mais não era a mesma coisa. Não era o mesmo que te aconselhe sua babá a que te aconselhem seus pais, era o que pensava.

Não foram as discussões constantes que teve com eles que a levou a fugir, anteriormente havia descoberto muitas coisas, entre elas o amante que tinha sua mãe, um rapaz que poderia ser seu irmão. Ela havia descoberto certa vez que apareceu em sua casa sem avisar. Além disso, a revelação sobre sua opção sexual.

Vivia sozinha desde os 21 anos. Era filha única, por esta razão seus pais demoraram a aceitar que saísse de casa. desejava ter ido muito antes dessa casa mais não podia, seus pais tinham poder sobre ela, a controlavam como se fosse uma marionete, mais a medida que foi crescendo abria os olhos e se dava conta de como eram verdadeiramente as coisas. Ia muito poucas vezes a sua casa, geralmente tinha a sua mãe praticamente todos os dias metida em seu apartamento, intrometendo-se em sua vida. Nos últimos dias sua mãe não ia com a mesma frequência de antes, algo que a agradava.

Ao acordar recebeu uma visita de seu pai, não lhe havia dito o que queria, mais a pediu para ir em sua casa pela tarde, quando chegasse do trabalho.

Era cedo, no dia anterior ela havia feito à limpeza, as compras e havia escrito outra parte de sua história em seu computador. Não estava inspirada para seguir com a história, além disso, não ia passar o dia todo trancada ali, quando lá fora parecia ser um dos melhores dias do ano. Estava quente, o sol resplandecente, as pessoas passeando pela cidade, aproveitado o clima depois de dias de chuvas intensas. Suas duas melhores amigas não estavam na cidade e não tinha outra amigas com quem planejasse sair.

As moças haviam viajado juntas em busca de um bom artigo para ser contratadas em algum dos jornais mais importantes do país. Sim, as três cresceram juntas, as três diziam que seriam médicas, depois veterinárias para ajudar aos animais feridos, depois jornalistas para conhecer o mundo e por que não, pessoas famosas. Suas amigas seguiram nessa carreira mais não era para ela. O que ela gostava eram as histórias de amor, as novelas, por isso estudou letras em uma importante universidade de Londres.

Quando se formou voltou a seu país, e agora estava enfocada em seu próximo livro lésbico. Havia escritos vários artigos apesar de não ter seguido com jornalismo mais como conhecia o dono do diário mais importante de seu país, este a havia dado trabalho lá. Alem disso... Era amigo de seu pai! O mais certo era que seu pai havia pedido para que ele a contratasse, mais em fim, tinha um trabalho e isso a fazia sentir independente. Era o que importava. Trabalhava ali redigindo artigos, e quando chegava a sua casa, escrevia sua história. Essa história que logo, logo, chegaria às mãos de muitas pessoas.

Mais esse sonho foi destruído, se desmoronou como um castelo de areia feito em um dia de chuva próximo ao mar.

Havia decidido passar o dia com sua babá que ainda trabalhava para sua família apesar de sua idade. Ela havia criado junto a suas duas filhas, para a governanta ela foi sua terceira filha. Sempre as queria por igual, as consolava por igual, as abraçava e beijava por igual, e isso a fazia se sentir bem. Se seus pais não se preocupavam com ela, havia uma pessoa que o fazia, que o fez como fez com suas filhas e sem fazer distinção. Lupe, a babá, havia chegado quando ela tinha 1 ano de idade... Isso foi o que contaram seus pais. Chegou com uma barriga de quatro meses e uma menina de um ano. Ninguém queria dar-lhe trabalho devido a seu estado mais precisava trabalhar para dar algo a suas filhas. Foi assim que conseguiu trabalho na casa desses senhores, os quais tinham uma preciosa filha de olhos avelã e cabelos loiros, que apenas começava a andar apoiada nas coisas.

Lupe, assim que começou a trabalhar ali percebeu como era essa família, os patrões não prestavam tempo suficiente à pequena. Ela passava o tempo todo na casa, mais os patrões haviam entregado a ela uma pequena casa para que pudesse viver com as meninas e que ficava depois do grande jardim da residência. A senhora criou a suas filhas junto à pequena Quinn e assim foi por vários anos. Apesar de seus patrões não serem bons pais, não demonstrarem afetividade a sua filha, e passarem muito pouco tempo na casa, estes pagavam tudo o que as meninas precisavam e seu colégio. A mais velha tinha a mesma idade da menina que cuidava, e a segunda tinha um ano a menos. Assim se criaram as três juntas, sendo amigas inseparáveis.

A jovem havia decidido passar o dia com sua babá enquanto esperava seus pais chegarem. Tinha pensado em ajuda-la a preparar o almoço enquanto conversavam, para que sua Lupe não se sentisse só já que suas filhas estavam de viagem.

Ao chegar a sua casa, procurou as chaves que estariam em alguma parte de sua bolsa, ao encontrá-las abriu a porta e encontrou a casa muito silenciosa. Para dizer a verdade sempre era assim, silenciosa, mais se chegavam a escutar os ruídos que Lupe fazia na cozinha, ou quando limpava e movia os móveis, ou passava o aspirador. Mais desta vez não era assim, então ela estranhou.

Procurou na cozinha, na sala, na sala de jantar, no jardim... Mais nem rastros de Lupe. Pensou e sentou uns minutos no sofá. Não havia nada de interessante para fazer, a casa estava vazia, nem sequer um animal ali... Seus pais nunca a deixaram ter nem sequer um cachorro.

Levantou-se e se dirigiu a seu antigo quarto, mais antes de chegar escutou uns gemidos que vinham do quarto. A porta estava entreaberta. Ai entrar, os gemidos de sua mãe eram cada vez mais frequentes e isso a assustava. Caminhou sigilosamente e tomou a fechadura em sua mão e somente em apoiar seu rosto na porta pôde ver uns movimentos na cama, não era seu pai! Esse não era o corpo de seu pai! Sua cara empalideceu e seus olhos se encheram de lágrimas. Em um movimento sua mãe a viu e tentou se cobrir com os lençóis, mais não podia se esconder, ela já tinha visto.

E já havia visto o rosto daquele homem, ninguém mais que o jardineiro. Não disse nada, somente saiu daquele quarto chorando e se trancou em outro quarto. Chorou de raiva, de impotência. A família perfeita que seus pais haviam construído desmoronou em segundos. Bem, para ela sua família não era perfeita, mais seus pais sempre se haviam mostrado como uma família decente... Que agora sua mãe havia vulgarizado em algo patético. Transando com o jardineiro, 30 anos mais novo que ela! Era demais!

Sua mãe sempre a tinha controlado. Desde pequena enchia sua cabeça, dizendo que tinha de ser uma mulher decente, que não se envolvesse em escândalos que fizessem cair à imagem da família. E o que estava fazendo ela agora?

Momentos depois escutou a porta da sala se fechar e desceu correndo ao imaginar que era seu pai. Ao chegar se encontrou com sua mãe já vestida, recebendo a seu marido que acabava de chegar de seu trabalho como sempre. Não iria se calar! Então contou tudo a seu pai. Mais o que lhe chamou a atenção era que seu pai não demonstrava surpresa. Por acaso isso não o interessava? Não, não o interessava porque já sabia. Mais para não fazer um escândalo com o divórcio, ele a havia perdoado. , mais sua mãe continuou fazendo apesar de seu marido já havia a perdoado e pedido que não voltasse a fazer. Ou quem sabe nem sequer havia pedido com o intuito de não armar um escândalo e seguir como um casamento exemplar, sem conflitos?

Estava cansada! Havia vivido uma mentira? Desde quando acontecia isso e ela não sabia? Gritou, discutiu, chorou e reprimiu seus pais... Não podia seguir escutando essas coisas. Para eles era mais importante a imagem pública do que a família! Como sempre.

- Fingi ser o que não sou todos esses anos por vocês, porque me encheram a cabeça de que não podíamos estar na mira de imprensa por algum escândalo porque devíamos manter a imagem da família. Proibi a mim mesma de estar com quem realmente queria estar; mulheres. Por vocês, só por vocês que me deixavam louca com seus pensamentos de decência. E agora fazem isso? Porque então eu tive que me reprimir, quando vocês fazem o que querem?- não pode conter o choro enquanto falava. As lágrimas caiam sem secar.

- o que está dizendo? - perguntou sua mãe com um gesto... Nojo? Repugnância? Era algo parecido.

-você disse mulheres?- perguntou seu pai com o mesmo gesto da senhora a seu lado.

- sim papai, disse mulheres. Sou lésbica, entenderam? Lésbica- explicou enfatizando a ultima palavra como se querendo que a entendessem bem.

- por acaso me viram com algum garoto alguma vez?- a resposta não veio. Seus pais estavam assombrados, e o assombro não os deixava falar. - a resposta é NÃO. Nunca me viram com um, jamais lhes apresentei um namorado porque eles não me interessavam e jamais me interessarei por homens - esperou alguma queixa algo, mais nada vinha de seus pais. Estavam paralisados. Então continuou

- sai com garotas mais jamais contei a vocês sobre minha opção sexual por que... Sabia que me julgariam, não só vocês mais também a sociedade. E também sabia que isso, para vocês, ia ser uma mancha no nome da família perfeita. Então me reprimi. Desfrutei meus gostos às escondidas. Nunca pude sair com uma garota de mãos dadas, sabendo que os paparazzi estavam a todo o momento atrás de mim. Jamais pude beijar uma garota na rua, porque sabia que no dia seguinte estaria em todos os meios tachando como a vergonha da família. Eu vejo assim. Não é uma vergonha gostar de mulheres, mais para vocês seria, e eu os amo... Então... o que eu estava fazendo? Queria ser a menina perfeita como vocês me criaram porque não podia fazê-los passar vergonha, mais vocês se encarregaram de “manchar” por assim dizer, a família. Então, porque seguir me escondendo? Vocês, melhor dizendo, você mamãe, fez algo pior... Eu não acho que tenha razão para me julgar - secou as lágrimas que haviam caído de seu rosto antes, já não chorava mais.

- chegou a hora de começar a viver minha vida sem me importar que caralho dizem, ou pensam. É minha vida, ninguém tem o direito de se meter, nem sequer vocês. Me dei conta tarde, infelizmente teve que acontecer isso... Mais acabou, chega de viver na escuridão, esconde meus sentimentos e meus gostos. Começa uma nova vida para mim- sua mãe se aproximou com fúria e a esbofeteou.

- Você é nojenta! - a jovem tocou a bochecha, com dor, não física e sim emocional.

- você também é nojenta mamãe- respondeu calmamente

- não pode ser... Lesbica!- Disse a ultima palavra com repulsa. Sim, com esse tom - te dei tudo! Não pode me pagar assim- acrescentou.

- não. Não me deram tudo. Materialmente sim, mais emocionalmente? Por acaso me deram amor? Carinho? Compreensão? NÃO!-respondeu retoricamente.

- alem do mais isso não tem na a a ver com minha opção- respondeu com o queixo erguido.

- pois eu não quero uma filha lésbica- exclamou seu pai.

Ela olhou para sua mãe e com o olhar disse tudo.

- pois eu não quero pais assim.

Saiu dali correndo. A residência de seus pais era fora da cidade, tinha que enfrentar uma pequena estrada para chegar à luxuosa casa. Passavam poucos carros por ali, ela tinha ido de taxi porque seu carro estava na oficina e esperava que o chofer de seus pais a levassem de volta mais depois do que aconteceu, como voltaria? Correu como nunca havia feito, ate que não pode mais. Descansou apoiada em uma arvore e suspirou. Não havia ninguém ali, não passava sequer um maldito carro que a desse uma carona. Esperou por mais uns minutos quando finalmente parou um carro aonde ia um casal de aparentemente a idade de seus pais. Não percebeu nada de estranho neles, pareciam boas pessoas, alem do mais havia aceitado levá-la a cidade.

- temos que parar em um lugar para pegar nossa filha, se importa?- falou a senhora, ela não poderia negar-se, ia demorar horas para que outro carro passasse por ali, então aceitou.

Poucos minutos depois haviam chegado a uma casa muito maior que a sua, e que não ficava tão distante de sua residência. Somente tinha que entrar em alguns atalhos, que sinceramente a confundiram. O grande portão preto abriu passagem para o carro, encontrando-se com muitos homens de segurança com armas nas mãos. Isso a confundiu ainda mais. Perguntou a um dos senhores onde estavam mais eles só a disseram que não se preocupasse que buscariam sua filha e que sairiam dali rápido. Os três desceram e os recebeu um homem, rodeado por vários seguranças também armados. Sentiu calafrios que fizeram sua pele se arrepiasse, algo estava errado. O homem a olho e a puxou com força.

- que? O que estão fazendo?- perguntou com medo. O homem a empurrou para os homens armados, que a pegaram com força e a levaram. A partir desse momento nada foi o mesmo.


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Notas finais do capítulo

espero que estejam gostando comentem...



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