Redenção escrita por Srta Snow, Tahy S Snow
Não importava o quanto o refeitório fosse barulhento, Melanie nunca se importou, pelo menos não antes daquele dia. Ao adentrar percebeu o silencio tomar conta do local e logo olhares serem direcionados para ela. Ela sabia que não seria fácil, mas optou por seguir em frente e ao chegar a lanchonete, sorriu ao fazer o seu pedido para a atendente.
-Veja o que encontrei por aqui – uma voz irônica disse logo atrás de Melanie. A mesma não precisava virar-se para identificar a dona daquela voz – Diga-me, Melanie como consegue comer sabendo que matou alguém? – perguntou escutando risos atrás de si – estou realmente curiosa.
-Lhe responder isso seria equivalente a lhe perguntar: como é ser tão incapaz na vida? – Melanie disse sem encará-la demonstrando o desprezo que sentia pela sua colega de sala – Bianca, deveria parar de me seguir e resolver a sua vida.
-Como se atreve? – Bianca disse enfurecida ao segurar no braço de Melanie – não é ninguém para falar assim comigo.
-E você é alguém? – indagou séria – acredite em mim, ninguém nesta vida é nada. Somos apenas um brinquedo na mão das demais pessoas. – puxou o seu braço soltando-se – e confie em mim, posso ser uma assassina, mas você, Bianca, não passa de uma megera que não possui personalidade. – sem olhar para trás, Melanie continuou a caminhar para fora do refeitório, pois sabia que todos iriam a encarar do mesmo modo que fizeram quando a viram sendo levada pelos policiais. –Nada como mais um dia no colegial – murmurou ao ir em direção ao pátio do colégio. Sentou-se no gramado, o mais distante e tranquilo, iniciando o seu almoço. Cada aluno que passava por ela, ela fingiu não enxergá-los, pois seu orgulho começava a desintegrar-se. – Quando me tornei desta forma? – se perguntou ao morder a comida sem sabor. Após longos minutos se deu conta de algo, ela havia perdido o seu celular – Preciso falar com Chris – murmurou ao levantar-se e ir ate a direção. Assim que entrou viu o olhar da secretária – Preciso... telefonar para o meu irmão. Pode me ajudar? – perguntou demonstrando a fragilidade que sentia, pois aquela seria a única forma de conseguir o que desejava.
-Imaginei que o diretor te chamou desta vez.
-Não, hoje vim por vontade própria – sorriu e ao vê-la esboçar um, pequeno, sorriso percebeu ter conseguido o que queria.
-Tudo bem, mas seja rápida.
-Obrigada – murmurou ao pegar o aparelho e discar os números que havia decorado. O único numero que precisou decorar toda a sua vida. Escutou o barulho do celular toca uma, duas e na terceira vez escutou a voz dele. A voz de seu irmão – Chris? – murmurou emocionada – sou eu..
-Mells, onde está? Está no colégio? Passarei ai para te pegar, não sei o que esta acontecendo, mas irei lhe salvar. Eu prometo.
-Eu estou bem – disse sorrindo – não precisa me salvar. Eu estou bem.
-Mas.. o homem que atendeu o seu celular.. ele..
-Não se preocupe. Maria não fez uma loucura tão grande assim – mentiu – Ele.. é um tipo de amigo. Estamos bem.
-Mas.. eu estou indo, preciso vê-la de qualquer forma.
-Sempre protetor – murmurou – está bem, mas venha antes das aulas acabarem.
-Porque?
-Porque ele vem me buscar. Preciso desligar agora, mas se não nos vermos, não se preocupe, pois estou bem. Eu te amo – disse antes de desligar. Olhou para a secretária com gratidão e murmurou um agradecimento antes de sair da sala com a sua força de vontade cambaleante – Não seja boba, é apenas um pingo de uma tempestade que está para chegar – falou a si mesma ao seguir para a sala de aula.
No interior da sala de Nikko, um homem sorria ao ver a expressão incrédula no relatório a sua frente. Nikko ergueu o olhar para o homem sentado a sua frente sem conseguir distinguir ate onde a verdade estava impressa.
-Tem certeza do que está aqui? – perguntou determinado – isso não pode estar certo.
-Tenho – o secretario de Nikko confirmou ao conter o sorriso que ia em sua face.
-Está me dizendo que faltei dois dias..
-Duas semanas, senhor – corrigiu sério.
-Duas semanas – disse sério – e as ações tiveram um reflexo pela minha ausência? Isso é loucura.
-Me perdoe falar isso, mas a morte de sua esposa o afetou. Os acionistas andam espalhando boatos com o objetivo de outro, de sua família, assumir a posição de presidente.
-E qual é o mais votado? – indagou friamente.
-O mais velho – respondeu sério – os acionistas e os diretores parecem otimistas em trazê-lo como presidente.
-Mas para isso pretendem me demitir, imagino. Já há planos de reuniões entre eles? Alguma reunião em que eu não esteja presente.
-Ainda não há, senhor – afirmou sério.
-Muito bem. Quero que agende uma coletiva de imprensa, alguns convites para festas importantes e acima de tudo mantenha-me informado sobre tudo que acontece – Nikko disse ao olhar para o seu secretario – Parece que a guerra pela presidência se iniciou.
-O seu irmão..
-Eu sei que ele não está envolvido – garantiu sério – entretanto não perdoarei ninguém que ousa ir contra mim. Pode ir – assim que o seu secretario saiu, Nikko rasgou o relatório que tinha em mãos – Me parece que terei que manter a minha insanidade aprisionada assim como mantenho Melanie – percebeu ao levantar-se de sua cadeira e ir ate o sofá, onde deitou-se fechando os olhos em seguida. Por mais que conseguisse dormir não conseguia, não sem estar sob efeito de alguma bebida. Abriu os olhos minutos depois, se levantou e retornou ao trabalho ate ser interrompido, horas depois, pelo seu secretario.
-Sinto interrompê-lo senhor, mas vim lhe avisar sobre o horário.
-Horário?
-Sim, pediu-me para avisá-lo que deveria sair as 11 da manhã.
-Obrigado – agradeceu ao levantar-se e ir para a porta – retornarei mais tarde, se não voltar marque meus compromissos para o horário da manhã.
-Todos? – perguntou surpreso.
-A maioria, apenas os inadiáveis marque para a tarde.
-Sim, e a conferencia?
-O mais rápido possível.
-Há um coquetel para a próxima semana, devo confirmar a presença do senhor?
-Sim, confirme.
-Levará alguma acompanhante?
-Acompanhante?
-Sim.
Nikko o encarou sem saber o que responder. Ele não conseguia imaginar suportar a presença de nenhuma mulher ao seu lado.
-Diga-me, acha que devo levar alguém comigo?
-Acredito que seja o mais sensato. Iria mostrar que o senhor esta seguro de si mesmo e não.. incapacitado devido as suas emoções.
-Então diga que levarei – disse por fim ainda incerto.
-Sim – assentiu ao retirar-se da sala deixando Nikko sozinho pensativo sobre o que faria a seguir.
Todos os alunos mantinham sua atenção presa ao professor, o qual lecionava sua aula sobre matemática financeira. Dentre os alunos do ultimo ano, uma delas se destacava por encontrar-se desenhando em seu caderno.
-Senhorita Fells? – uma voz despertou Melanie de sua imaginação – Ela está aqui? – continuou a perguntar ate ver uma jovem levantar-se de sua cadeira. –Venha comigo, por favor, alguém a espera – tornou educada. Melanie arrumou as suas coisas o mais rápido que conseguiu e seguiu animada ao lado da mulher que foi lhe buscar, assim que abriu a porta da direção encontrou o seu irmão sentado, a esperando nervosamente.
-Chris – Melanie murmurou emocionada ao abraçá-lo assim que ele se levantou –Senti a sua falta.
-Eu estava tão preocupado – confessou ao se afastar e olhar em seus olhos – esta realmente bem?
-Estou – assentiu ao tocar em sua face – como pode ser um irmão tão bom?
-Porque você me libertou de tudo – murmurou cabisbaixo. – Lhe devo a minha vida.
-Não seja tonto, somos irmãos, é para isso que servimos. Um apoiar o outro – sorriu levemente ao olhar em volta – podemos sair daqui? – o viu assentir e conduzi-la para fora da sala do diretor. Caminharam de mãos dadas ate o pátio, onde ela o forçou a parar – Não posso ir com você.
-Mells, eu não sei o que esta acontecendo, mas não a deixarei lidar com tudo sozinha.
-Não estou sozinha – mentiu de forma calma – além do mais, não posso ficar me apoiando sempre em você.
-Eu que estou me apoiando, não entende?
-Eu entendo, e entendo muito bem, mas já chega, não? Vamos seguir em frente.
-Mells como pode dizer isso? Sabe tão bem quanto eu que.. se não fosse por minha causa.. se eu não tivesse sido tão.. covarde...eu..
-Não diga nada – o advertiu, interrompendo-o. – Cansei disso, eu fui a culpada e acabou.
-Mas..
-CALE-SE –gritou alterada – eu fui a culpada, você.. esta sendo louco, esta bem? Vamos esquecer isso e ir em frente.
-Não é tão fácil.
-Eu sei, e por isso estou ao seu lado como está ao meu. Temos uma hora para conversar, vamos aproveitar.
-Por que uma hora?
-O..meu amigo virá me buscar as doze, eu acho.
-Diga-me, quem é ele? – perguntou sério – estou lhe perguntando como irmão, como amigo preocupado com você.
-Não precisa se preocupar, é verdade.
-Por que está com ele? São coisas que não entendo.
-Maria já havia cansado de mim, e ele.. me ofereceu um lugar para morar, portanto que..seguisse algumas regras.
-Que tipo de regras?
-Nada excêntrico, apenas.. regras sociais normais.
-Melanie não esta falando nada com nada.
-Eu sei – sorriu – mas eu estou bem e saudável, não?
-Aparentemente – concordou incerto e contra a sua vontade.
-Então conte-me como esta indo a faculdade – falou entusiasmada ao escutar a voz do seu irmão feliz e animada – “Fico feliz que tudo tenha dado certo para você” pensou aliviada.
O carro de Nikko estacionou em frente ao colégio de Melanie dez minutos antes do previsto. Ele olhou para seu reflexo no retrovisor ficando surpreso por perceber as olheiras, e o cansaço em sua face. Fechou os olhos mantendo a atenção no barulho do lado de fora. Já estava ficando impaciente quando escutou vozes de adolescentes próximo de si, abriu os olhos e se deparou com diversos alunos saindo do colégio. Sua atenção focalizou em uma jovem abraçada com um homem.
-Isso é interessante – murmurou com um sorriso na face. Observou cada reação que tinham um com o outro e ao vê-lo se afastar continuou observando as reações de Melanie – Será interessante ver o quanto se sucumbiu a mim.
Melanie acenou para o seu irmão ao vê-lo entrar no carro e seguir em frente sem olhar para trás uma vez sequer.
-É isso o que desejo, mas porque me senti só? – se perguntou ao olhar em volta procurando os eu carrasco. Demorou alguns segundos ate avistá-lo observando-a de dentro do carro – a cada instante ele me parece ainda mais louco – murmurou ao caminhar em direção ao carro. Parou ao lado do carro e ao erguer a mão para abrir a porta do carro, se perguntou o motivo de não ter fugido. Hesitou por alguns segundos ate menear a cabeça, abrir a porta e sentar-se ao lado de Nikko – Onde esta meu celular? – perguntou séria.
-Não acho que esta pergunta...
-O aparelho é meu – disse autoritária ao encará-lo surpresa pelo seu controle – Porque atendeu o meu telefone? Qual o seu problema?
-O meu problema eu já falei qual foi. Devo relembrá-la? – indagou frio ao ligar o carro – a partir de amanhã estarei ocupado para vir lhe buscar.
-Fala como se tivesse me fazendo um favor – tornou sarcástica – deveria implorar para reconsiderar a ideia ou cansou de seu jogo doentio?
-Jogo doentio? É interessante a forma como optou por nomear o que há entre nós, entretanto sou a favor de citar o código de Hamurabi: Olho por olho e dente por dente.
-Então.. está dizendo que..
-Não matarei ninguém de sua família, mas se fosse escolher seria o seu irmão, me parecem apegados, excessivamente.
-Todos os irmãos são assim.
-Nem todos – murmurou sombrio sentindo o olhar de Melanie sobre si.
-Então não possui uma.. relação agradável com um irmão seu? – indagou e logo avistou um sorriso irônico na face de Nikko.
-Não somos amigos compartilhando segredos ou falando sobre o quão fácil ou difícil nossas vidas foram. Espero que entenda isso, e se ponha em seu lugar.
-E qual deveria ser o meu lugar? – perguntou séria.
-Ainda não descobriu apesar de tudo o que falo?
-É difícil já que fala muita coisa desnecessária – sorriu diante da expressão impaciente na face dele – então a partir de amanhã serei livre para ir aonde desejar, certo? Estou livre?
-És demasiada tola ou burra – Nikko disse ao dirigir com prudência – Eu, Nikko Nicolai, não irei lhe buscar, mas enviarei alguém para isso.
-Serei uma prisioneira escoltada por um segurança. Soa poético.
-Pense da forma que desejar, mas já lhe avisei.
-E o segurança, imagino que seja alguém de sua confiança.
-Obviamente.
-Entendi – murmurou ao fechar os olhos – não se importa se eu dormir, não é? – perguntou retoricamente ao virar o seu rosto para a janela, onde conseguiu ver o seu reflexo. Um rosto entristecido pelo caminho que havia escolhido – Não há mais volta – balbuciou para si mesma antes de fechar os olhos.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!