Redenção escrita por Srta Snow, Tahy S Snow


Capítulo 8
Capítulo 7 - Apoio




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Não importava o quanto o refeitório fosse barulhento, Melanie nunca se importou, pelo menos não antes daquele dia. Ao adentrar percebeu o silencio tomar conta do local e logo olhares serem direcionados para ela. Ela sabia que não seria fácil, mas optou por seguir em frente e ao chegar a lanchonete, sorriu ao fazer o seu pedido para a atendente.

-Veja o que encontrei por aqui – uma voz irônica disse logo atrás de Melanie. A mesma não precisava virar-se para identificar a dona daquela voz – Diga-me, Melanie como consegue comer sabendo que matou alguém? – perguntou escutando risos atrás de si – estou realmente curiosa.

-Lhe responder isso seria equivalente a lhe perguntar: como é ser tão incapaz na vida? – Melanie disse sem encará-la demonstrando o desprezo que sentia pela sua colega de sala – Bianca, deveria parar de me seguir e resolver a sua vida.

-Como se atreve? – Bianca disse enfurecida ao segurar no braço de Melanie – não é ninguém para falar assim comigo.

-E você é alguém? – indagou séria – acredite em mim, ninguém nesta vida é nada. Somos apenas um brinquedo na mão das demais pessoas. – puxou o seu braço soltando-se – e confie em mim, posso ser uma assassina, mas você, Bianca, não passa de uma megera que não possui personalidade. – sem olhar para trás, Melanie continuou a caminhar para fora do refeitório, pois sabia que todos iriam a encarar do mesmo modo que fizeram quando a viram sendo levada pelos policiais. –Nada como mais um dia no colegial – murmurou ao ir em direção ao pátio do colégio. Sentou-se no gramado, o mais distante e tranquilo, iniciando o seu almoço. Cada aluno que passava por ela, ela fingiu não enxergá-los, pois seu orgulho começava a desintegrar-se. – Quando me tornei desta forma? – se perguntou ao morder a comida sem sabor. Após longos minutos se deu conta de algo, ela havia perdido o seu celular – Preciso falar com Chris – murmurou ao levantar-se e ir ate a direção. Assim que entrou viu o olhar da secretária – Preciso... telefonar para o meu irmão. Pode me ajudar? – perguntou demonstrando a fragilidade que sentia, pois aquela seria a única forma de conseguir o que desejava.

-Imaginei que o diretor te chamou desta vez.

-Não, hoje vim por vontade própria – sorriu e ao vê-la esboçar um, pequeno, sorriso percebeu ter conseguido o que queria.

-Tudo bem, mas seja rápida.

-Obrigada – murmurou ao pegar o aparelho e discar os números que havia decorado. O único numero que precisou decorar toda a sua vida. Escutou o barulho do celular toca uma, duas e na terceira vez escutou a voz dele. A voz de seu irmão – Chris? – murmurou emocionada – sou eu..

-Mells, onde está? Está no colégio? Passarei ai para te pegar, não sei o que esta acontecendo, mas irei lhe salvar. Eu prometo.

-Eu estou bem – disse sorrindo – não precisa me salvar. Eu estou bem.

-Mas.. o homem que atendeu o seu celular.. ele..

-Não se preocupe. Maria não fez uma loucura tão grande assim – mentiu – Ele.. é um tipo de amigo. Estamos bem.

-Mas.. eu estou indo, preciso vê-la de qualquer forma.

-Sempre protetor – murmurou – está bem, mas venha antes das aulas acabarem.

-Porque?

-Porque ele vem me buscar. Preciso desligar agora, mas se não nos vermos, não se preocupe, pois estou bem. Eu te amo – disse antes de desligar. Olhou para a secretária com gratidão e murmurou um agradecimento antes de sair da sala com a sua força de vontade cambaleante – Não seja boba, é apenas um pingo de uma tempestade que está para chegar – falou a si mesma ao seguir para a sala de aula.

No interior da sala de Nikko, um homem sorria ao ver a expressão incrédula no relatório a sua frente. Nikko ergueu o olhar para o homem sentado a sua frente sem conseguir distinguir ate onde a verdade estava impressa.

-Tem certeza do que está aqui? – perguntou determinado – isso não pode estar certo.

-Tenho – o secretario de Nikko confirmou ao conter o sorriso que ia em sua face.

-Está me dizendo que faltei dois dias..

-Duas semanas, senhor – corrigiu sério.

-Duas semanas – disse sério – e as ações tiveram um reflexo pela minha ausência? Isso é loucura.

-Me perdoe falar isso, mas a morte de sua esposa o afetou. Os acionistas andam espalhando boatos com o objetivo de outro, de sua família, assumir a posição de presidente.

-E qual é o mais votado? – indagou friamente.

-O mais velho – respondeu sério – os acionistas e os diretores parecem otimistas em trazê-lo como presidente.

-Mas para isso pretendem me demitir, imagino. Já há planos de reuniões entre eles? Alguma reunião em que eu não esteja presente.

-Ainda não há, senhor – afirmou sério.

-Muito bem. Quero que agende uma coletiva de imprensa, alguns convites para festas importantes e acima de tudo mantenha-me informado sobre tudo que acontece – Nikko disse ao olhar para o seu secretario – Parece que a guerra pela presidência se iniciou.

-O seu irmão..

-Eu sei que ele não está envolvido – garantiu sério – entretanto não perdoarei ninguém que ousa ir contra mim. Pode ir – assim que o seu secretario saiu, Nikko rasgou o relatório que tinha em mãos – Me parece que terei que manter a minha insanidade aprisionada assim como mantenho Melanie – percebeu ao levantar-se de sua cadeira e ir ate o sofá, onde deitou-se fechando os olhos em seguida. Por mais que conseguisse dormir não conseguia, não sem estar sob efeito de alguma bebida. Abriu os olhos minutos depois, se levantou e retornou ao trabalho ate ser interrompido, horas depois, pelo seu secretario.

-Sinto interrompê-lo senhor, mas vim lhe avisar sobre o horário.

-Horário?

-Sim, pediu-me para avisá-lo que deveria sair as 11 da manhã.

-Obrigado – agradeceu ao levantar-se e ir para a porta – retornarei mais tarde, se não voltar marque meus compromissos para o horário da manhã.

-Todos? – perguntou surpreso.

-A maioria, apenas os inadiáveis marque para a tarde.

-Sim, e a conferencia?

-O mais rápido possível.

-Há um coquetel para a próxima semana, devo confirmar a presença do senhor?

-Sim, confirme.

-Levará alguma acompanhante?

-Acompanhante?

-Sim.

Nikko o encarou sem saber o que responder. Ele não conseguia imaginar suportar a presença de nenhuma mulher ao seu lado.

-Diga-me, acha que devo levar alguém comigo?

-Acredito que seja o mais sensato. Iria mostrar que o senhor esta seguro de si mesmo e não.. incapacitado devido as suas emoções.

-Então diga que levarei – disse por fim ainda incerto.

-Sim – assentiu ao retirar-se da sala deixando Nikko sozinho pensativo sobre o que faria a seguir.

Todos os alunos mantinham sua atenção presa ao professor, o qual lecionava sua aula sobre matemática financeira. Dentre os alunos do ultimo ano, uma delas se destacava por encontrar-se desenhando em seu caderno.

-Senhorita Fells? – uma voz despertou Melanie de sua imaginação – Ela está aqui? – continuou a perguntar ate ver uma jovem levantar-se de sua cadeira. –Venha comigo, por favor, alguém a espera – tornou educada. Melanie arrumou as suas coisas o mais rápido que conseguiu e seguiu animada ao lado da mulher que foi lhe buscar, assim que abriu a porta da direção encontrou o seu irmão sentado, a esperando nervosamente.

-Chris – Melanie murmurou emocionada ao abraçá-lo assim que ele se levantou –Senti a sua falta.

-Eu estava tão preocupado – confessou ao se afastar e olhar em seus olhos – esta realmente bem?

-Estou – assentiu ao tocar em sua face – como pode ser um irmão tão bom?

-Porque você me libertou de tudo – murmurou cabisbaixo. – Lhe devo a minha vida.

-Não seja tonto, somos irmãos, é para isso que servimos. Um apoiar o outro – sorriu levemente ao olhar em volta – podemos sair daqui? – o viu assentir e conduzi-la para fora da sala do diretor. Caminharam de mãos dadas ate o pátio, onde ela o forçou a parar – Não posso ir com você.

-Mells, eu não sei o que esta acontecendo, mas não a deixarei lidar com tudo sozinha.

-Não estou sozinha – mentiu de forma calma – além do mais, não posso ficar me apoiando sempre em você.

-Eu que estou me apoiando, não entende?

-Eu entendo, e entendo muito bem, mas já chega, não? Vamos seguir em frente.

-Mells como pode dizer isso? Sabe tão bem quanto eu que.. se não fosse por minha causa.. se eu não tivesse sido tão.. covarde...eu..

-Não diga nada – o advertiu, interrompendo-o. – Cansei disso, eu fui a culpada e acabou.

-Mas..

-CALE-SE –gritou alterada – eu fui a culpada, você.. esta sendo louco, esta bem? Vamos esquecer isso e ir em frente.

-Não é tão fácil.

-Eu sei, e por isso estou ao seu lado como está ao meu. Temos uma hora para conversar, vamos aproveitar.

-Por que uma hora?

-O..meu amigo virá me buscar as doze, eu acho.

-Diga-me, quem é ele? – perguntou sério – estou lhe perguntando como irmão, como amigo preocupado com você.

-Não precisa se preocupar, é verdade.

-Por que está com ele? São coisas que não entendo.

-Maria já havia cansado de mim, e ele.. me ofereceu um lugar para morar, portanto que..seguisse algumas regras.

-Que tipo de regras?

-Nada excêntrico, apenas.. regras sociais normais.

-Melanie não esta falando nada com nada.

-Eu sei – sorriu – mas eu estou bem e saudável, não?

-Aparentemente – concordou incerto e contra a sua vontade.

-Então conte-me como esta indo a faculdade – falou entusiasmada ao escutar a voz do seu irmão feliz e animada – “Fico feliz que tudo tenha dado certo para você” pensou aliviada.

O carro de Nikko estacionou em frente ao colégio de Melanie dez minutos antes do previsto. Ele olhou para seu reflexo no retrovisor ficando surpreso por perceber as olheiras, e o cansaço em sua face. Fechou os olhos mantendo a atenção no barulho do lado de fora. Já estava ficando impaciente quando escutou vozes de adolescentes próximo de si, abriu os olhos e se deparou com diversos alunos saindo do colégio. Sua atenção focalizou em uma jovem abraçada com um homem.

-Isso é interessante – murmurou com um sorriso na face. Observou cada reação que tinham um com o outro e ao vê-lo se afastar continuou observando as reações de Melanie – Será interessante ver o quanto se sucumbiu a mim.

Melanie acenou para o seu irmão ao vê-lo entrar no carro e seguir em frente sem olhar para trás uma vez sequer.

-É isso o que desejo, mas porque me senti só? – se perguntou ao olhar em volta procurando os eu carrasco. Demorou alguns segundos ate avistá-lo observando-a de dentro do carro – a cada instante ele me parece ainda mais louco – murmurou ao caminhar em direção ao carro. Parou ao lado do carro e ao erguer a mão para abrir a porta do carro, se perguntou o motivo de não ter fugido. Hesitou por alguns segundos ate menear a cabeça, abrir a porta e sentar-se ao lado de Nikko – Onde esta meu celular? – perguntou séria.

-Não acho que esta pergunta...

-O aparelho é meu – disse autoritária ao encará-lo surpresa pelo seu controle – Porque atendeu o meu telefone? Qual o seu problema?

-O meu problema eu já falei qual foi. Devo relembrá-la? – indagou frio ao ligar o carro – a partir de amanhã estarei ocupado para vir lhe buscar.

-Fala como se tivesse me fazendo um favor – tornou sarcástica – deveria implorar para reconsiderar a ideia ou cansou de seu jogo doentio?

-Jogo doentio? É interessante a forma como optou por nomear o que há entre nós, entretanto sou a favor de citar o código de Hamurabi: Olho por olho e dente por dente.

-Então.. está dizendo que..

-Não matarei ninguém de sua família, mas se fosse escolher seria o seu irmão, me parecem apegados, excessivamente.

-Todos os irmãos são assim.

-Nem todos – murmurou sombrio sentindo o olhar de Melanie sobre si.

-Então não possui uma.. relação agradável com um irmão seu? – indagou e logo avistou um sorriso irônico na face de Nikko.

-Não somos amigos compartilhando segredos ou falando sobre o quão fácil ou difícil nossas vidas foram. Espero que entenda isso, e se ponha em seu lugar.

-E qual deveria ser o meu lugar? – perguntou séria.

-Ainda não descobriu apesar de tudo o que falo?

-É difícil já que fala muita coisa desnecessária – sorriu diante da expressão impaciente na face dele – então a partir de amanhã serei livre para ir aonde desejar, certo? Estou livre?

-És demasiada tola ou burra – Nikko disse ao dirigir com prudência – Eu, Nikko Nicolai, não irei lhe buscar, mas enviarei alguém para isso.

-Serei uma prisioneira escoltada por um segurança. Soa poético.

-Pense da forma que desejar, mas já lhe avisei.

-E o segurança, imagino que seja alguém de sua confiança.

-Obviamente.

-Entendi – murmurou ao fechar os olhos – não se importa se eu dormir, não é? – perguntou retoricamente ao virar o seu rosto para a janela, onde conseguiu ver o seu reflexo. Um rosto entristecido pelo caminho que havia escolhido – Não há mais volta – balbuciou para si mesma antes de fechar os olhos.


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