Herança escrita por Janus


Capítulo 77
Capítulo 77




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     Tinha de admitir. Agiu feito um amador. Amador e idiota. Não devia ter dado tanta chance para a sailor Terra. Devia ter feito como Prismey. Ela disse que precisou usar toda sua força para pô-la a nocaute. Devia ter feito o mesmo, mas pelo que percebeu o resultado não iria ser diferente.
     Talvez estivesse com a mão quebrada por atingi-la com toda a força, e não com o braço esquerdo quebrado em decorrência de ter tentado bloquear o seu golpe. Seria a mesma coisa. Estaria enfrentando a rainha sem poder usar um dos braços.
     Lançou mais duas bolas de plasma contra ela, apenas para vê-la girar o cetro e dispersa-las como antes. Lutar voando realmente não estava ajudando.
     O plano parecia ser simples... causar uma grande confusão na cidade, manter os defensores ocupados e manter a rainha longe do castelo para pegarem todos os cristais que se acumularam abaixo deste. O fato de a sailor cativa ter utilizado um recurso inesperado para ser localizada antes que estivessem totalmente prontos apenas apressou as coisas. Não era para ser tão difícil.
     Usar o satélite para bloquear as comunicações também tinha sido uma boa idéia. Iria reduzir a velocidade com que defendiam a cidade nos diversos pontos em que estavam fazendo ataques com os zangões. Tudo estava correndo como planejado. Mas então... perderam o satélite, seu braço ficou quebrado e muito dolorido, como descobriu quando a jovem princesa o atingiu enquanto tentava se libertar. Não se importava na hora se ela morresse caso a tivesse realmente usado para atravessar as paredes do castelo.
     Pelo menos até encarar a rainha. Era tão poderosa quanto sua antiga esposa... apertou os lábios com a lembrança. Estranho pensar nisso agora. Mais estranho era ficar tão orgulhoso dela quanto tinha ficado com a sailor Terra. Aquela linhagem realmente tinha gerado bons frutos no fim das contas. Não foi eliminada com a destruição da Cidade Dourada. Não imaginou que teria esses sentimentos afetivos para com elas, mas acabou se surpreendendo. Aparentemente a perda de sua semente estelar não o tornou tão frio quanto acreditava.
     Ela ergueu o cetro acima da cabeça segurando-o com as duas mãos e algo saiu do mesmo. Desta vez ele formou seu escudo a tempo, sendo atingido por um raio multicolorido e o impulsionando para trás.
     Realmente ela era poderosa. Não fisicamente, mas era muito boa em se esquivar ou bloquear, além de ter poderes bem intensos.
     Como todo selenita...
     Com um só braço não poderia realmente derrotá-la. Precisaria de ajuda para isso. De quanto tempo aquele gênio precisava para pegar os cristais? Dez minutos? Melhor tentar por essa mulher na defensiva. Não ia demorar para chegar ajuda.
     Arremeteu contra ela e novamente ela girou o cetro, mas agora ele fez algo diferente. Causou uma explosão de luz na sua mão e esperando que isto a confundisse, em seguida girou ou seu redor e moveu a perna contra suas costas.
     Ela percebeu mas não conseguiu se preparar. Recebeu o chute bem no meio da espinha, indo para o chão. Ele voou para ela e agarrou uma de suas asas, usando toda a sua força nos dedos para tentar feri-la o bastante para que não voasse mais.
     Ela era resistente. Sentiu o frágil osso dentro da asa se curvar, mas este não se partia. Aproveitando a vantagem de que ela não conseguia atingi-lo desta forma, ficou chutando suas costas por diversas vezes usando toda a força possível. E agradeceu por esta daí não ter a mesma densidade da prima, ou estaria com ossos da perna quebrados.
     Arremeteu-a contra o pavimento do jardim de entrada do castelo formando uma cratera neste, com ela encravada ali. Voou para o alto e disparou o seu raio de plasma com toda a força. Chegou a atingir suas costas mas ela já estava se levantando e usou novamente o cetro para bloquear o ataque.
     Podia ver alguns arranhões e outras marcas na sua face, mas nada muito além disto. Ele tinha razão. Era tão poderosa quanto sua falecida esposa. Não poderia vencê-la mesmo que quisesse na atual situação em que se encontrava, com o seu braço quebrado. Claro que ela ainda não devia ter imaginado que ele estava com esta limitação.
     Olhou adiante e viu outra sailor se aproximando. Pressionou um ponto de sua cintura e afastou-se um pouco.
     - Já terminou?
     Aguardou a resposta enquanto se afastava da rainha que já estava de pé e fazendo suas mãos brilharem. De repente ela avançou para ele numa velocidade muito parecida com a de um venusiano, dando-lhe golpes e socos contínuos. Isso foi uma surpresa. Nunca esperava que ela fosse boa lutadora corporal. Historicamente pelo que tinham estudado, ela usava muito mais ataques elementais do que físicos.
     E com um braço só não era fácil se defender. Seu escudo de plasma estava tendo de suportar todos os golpes, e a outra sailor já estava bem mais próxima e iria ajudar a bater nele.
     Tomara que Solaris não esteja próximo, pensou quando usou sua perna para quebrar a seqüência de golpes dela e tomar distancia. Logo em seguida concentrou-se e um brilho alaranjado formou-se ao redor de seu corpo.
     - Erupção Solar – gritou ele.
     O brilho alaranjado foi projetado para frente, formando algo parecido com fogo. Mas era plasma. O plasma incandescente que as estrelas podem gerar, O plasma elemental que alguns solarianos dominavam bem.
     A labareda de plasma atingiu a rainha e a sailor que se protegeu atrás desta. Ele aumentou a intensidade, mas apenas conseguia empurrar a rainha e a outra que esta protegia lentamente para trás. Sorrindo, ele parou de lançar o ataque e correu na direção de ambas. Deu um salto e girou o corpo apontando seus dois pés para a sailor recém chegada de saia vermelha. Esta tentou bloquear o golpe e ele utilizou este apoio inesperado para tentar acertar a rainha com um soco. Ela conseguiu se esquivar e ambas saltaram para trás.
     Perfeito.
     Ele fez as asas brilhantes surgirem nas suas costas e alçou vôo, deixando-as no chão. Logo a rainha começou a segui-lo.
     - Vai responder ou não? – gritou ele.
     "- Eu terminei – ouviu pelo comunicador dentro de seu ouvido – mas não pude pegar tudo agora. Aquele hermeniano é muito mais do que pensávamos. Estou com a parte principal do cristal e em algumas horas minhas sondas vão pegar o resto. Mas temos um problema..."
     A rainha estava se aproximando. Ele fez meia volta e voltou para o solo. Olhando a distancia viu ondas de choques e alguns clarões. Só podia ser Prismey e Solaris. Bem,ela iria ficar sozinha para terminar a distração.
     - Qual é o problema?
     "- O deposito está danificado. Acho que o gerador de portal falhou e deve ter acumulado muitos zangões que acabaram destruindo todo o setor nove. Há uma cratera lá que abrange todos os cinco pavimentos."
     Devia ser por isso que a cidade não estava com tantos zangões como esperava. E graças a isso as sailors puderam ficar livres mais cedo para irem para o castelo.
     - Não importa. Já temos o que queremos, certo?
     "- Como eu disse, ainda faltam às sondas pegarem os fragmentos abaixo do castelo."
     - Vamos abrir um portal aqui e lançar um ataque massivo de zangões.
     "- Projete a área"
     Ele fez um looping e avançou velozmente até o solo. Iria criar um grande portal e partir, deixando as sailors cuidarem dos zangões. Apesar de algumas surpresas, o plano estava seguindo conforme o planejado.

 

-x-

 

     Sentia-se tonta e pesada. Moveu a cabeça e olhou diretamente para o rosto de sailor Terra.
     Piscou os olhos para se certificar de que estava acordada. A rainha e o rei... o que tinha ocorrido? Tinha falado para ambos sobre Rita e Maya presas em um complexo perto da China e o rei disse que iria levar uma esquadra para lá. Além de resgatar sua filha, era uma boa chance de causar uma perda grande nesses inimigos. Mas depois disto... o que tinha acontecido?
     Seu corpo estava com cortes e arranhões. Algo acontecera.
     - A senhora está bem?
     - Sim sailor Terra, eu estou... – olhou para o lado e viu sailor Moon com o seu cetro na mão - o que aconteceu?
     - O castelo foi atacado – disse ela – você estava desacordada debaixo dos destroços. Não sei o que houve exatamente contigo.
     Ela também não sabia. Não se lembrava do que tinha acontecido. Seja como for estava desperta agora, e era melhor descobrir como estava a situação.
     - Pode me por no chão, sailor Terra... Depois do ataque ao castelo.. o que aconteceu?
     - Bom, resgatei Joynah do parque do lago...
     - Aquilo que ia cair na cidade – interrompeu ela olhando para a sailor Terra – o que houve?
     - Eu empurrei para o parque do lago, e fiquei esgotada...
     - Você quase morreu! – gritou sailor Moon.
     - Mas eu estou aqui. Depois viemos reanimar você.
     - Certo.. – ela acionou o seu visor e tentou contatar a filha. Não tinha tido tempo antes – filha... – começou ela assim que a mesma atendeu, porém não era exatamente ela quem falava...
     "- Oi mãe, se está recebendo esta mensagem, é porque estou ocupada lutando contra os fantasmas. Se por acaso não estou mais lutando e tudo já passou, então eu esqueci de mudar a mensagem personalizada e devo estar no parque da canção curtindo um pouco. Ou talvez no parque do lago, claro.. se for bem mais tarde, é possível que eu esteja em um pega-pega, então não insista se for esse o caso, ta?"
     Ficou estática de boca aberta. Ela... ela tinha gravado ma mensagem na secretária do visor para ela? Oras..
     "- Oi mãe, desculpa – agora era ela falando de verdade – já está tudo bem aqui, só que eu estava distraída vendo essas maquinas de gerar fantasmas aqui."
     - Rita! Você é uma sailor! Como você me coloca uma mensagem destas no visor? Acha que isso é normal? Deixar uma mensagem avisando que deve estar lutando e não pode atender? E QUE HISTORIA É ESSA DE PEGA-PEGA?
     "- Bom, o pega-pega é exatamente o que a senhora está pensando. Quanto a ser normal... o que seria normal para uma sailor fazer? – questionou ela com uma inocência incrível"
     - Oras.. seria... seria.. – ficou muda na hora. Realmente, porque não seria normal uma sailor ficar ocupada lutando? Só se transformavam para isso mesmo... – esquece. Estando transformada em sailor, você é uma guerreira, e deve responder sempre que possível, sem essa de deixar mensagem. Bom, preste atenção. Nosso rei está indo onde seu visor foi localizado para tentar resgatar vocês. Se vocês escaparem antes, ótimo, se não, ele entrará em contato assim que chegar. Deve ser em mais meia hora. E... – apertou os lábios – tome cuidado filha.
     "- Tudo bem mãe, vou tomar."
     Ela desligou e enquanto tentava descobrir o que mais estava havendo ela percebeu um detalhe. O que foi que ela tinha dito sobre pega-pega?
     Se essa menina não morresse na base inimiga, ela iria ter muitas explicações para dar.
     - Sailor Terra, ajude sua mãe, vou tentar coordenar as coisas com as outras inners e outers.
     - E eu? – perguntou sailor Moon.
     - Serena – ela sorriu – você é uma lunar. Veja se Titã tem algo para você fazer. Ela já deve estar coordenando as coisas com a equipe dela. No status da central ela e Ariel estão vindo para cá. As asteroid estão na cidade destruindo as criaturas e como estão sendo eficientes nisto, podemos dispor das outras agora.
     Ela não parecia ter ficado muito contente, mas era melhor ela aceitar logo sua nova posição. Não era uma inner, e talvez em breve ficasse mais orgulhosa de ser uma lunar.
     Viu-a utilizar-se de seu visor para contatar Titã. Seu rosto não estava nada satisfeito, mas as coisas mudaram. Ou ela aceitava ser uma das líderes das lunares no lugar de Joynah, ou iria ter de seguir ordens.
     Até parecia que a princesa iria aceitar obedecer a ordens assim... seguiu pelo corredor – onde sailor Terra já estava voando para localizar uma saída e sair do castelo – e logo ouviu passas atrás dela. Era a sailor Moon.
     - O que ela disse? – perguntou sem olhar para ela.
     - Ela esta vindo para cá junto com Ariel. Estão seguindo a sailor Urano. Ela está livre!
     Podia-se perceber claramente que a princesa estava contente com a informação, assim como ela própria. Urano estava livre e vindo ajudar.
     Ao chegar em uma sacada ela nem mesmo hesitou, simplesmente saltou por esta em direção ao solo, trinta metros abaixo. Sailor Terra continuou voando para localizar e auxiliar Júpiter e sailor Moon tinha saltado atrás dela. Ao chegarem ao solo, seguiram caminhos separados. Ela foi em direção a sailor Marte que estava lançando flechas de fogo para o alto. A esquerda, saltando por sobre um prédio viu a sailor Netuno. Um brilho mais abaixo lhe chamou a atenção. Era um raio provavelmente de sailor Júpiter.
     Estavam começando a ficar em vantagem numérica agora. Se sua filha e Maya que conseguiram a suprema idiotice – e ato heróico – de ficarem presas na base dos inimigos continuarem a reduzir o envio das criaturas negras, esses generais iriam ter uma surpresa em breve.

 

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     - Era Venus?
     - Sim – respondeu para Maya – o rei está vindo para cá, e se não conseguirmos escapar antes, ele vai destruir tudo.
     - O que?
     - Depois de nos resgatar – continuou ela sorrindo – agora... – ela olhou novamente para o corredor sem fim – tem certeza que não quer que eu corra na frente para explorar mais rápido?
     - E nos separar? – Maya a olhava com uma expressão de reprimenda – De jeito nenhum. Além disso, já andamos quase um quilometro por este corredor e só vimos milhares de prateleiras.
     - Na verdade foram só quatrocentas – disse ela olhando na direção em que vieram – de cada lado.
     O youma que estava extremamente próximo a Maya desde o evento em que a sailor quase matou todos a olhou arregalando os olhos.
     - Agora você vai me dizer que venusianos são ótimos matemáticos – comentou Maya.
     - Não... só ia dizer que eles sempre nos surpreendem.
     - Concordo – disse ela.
     Miranda continuava tentando utilizar seu visor para obter um mapa do local em que estavam, mas o pouco que este tinha conseguido analisar indicava um área com extensos corredores rodeados de prateleiras com centenas daquelas pequenas esferas que viravam aquelas criaturas. A única opção era seguir em frente pelo corredor para saber onde ele iria parar.
     - Quanto tempo demoraram para construir isso? – comentou Maya não esperando propriamente uma resposta.
     Continuaram a andar, tentando localizar algo diferente, mas o caminho era monotonamente igual. Apenas prateleiras e prateleiras. Em cada uma delas havia vinte painéis com as esferas acondicionadas como se fossem ovos. Em cada painel havia trezentas esferas. Estranhamente o youma parecia mais calmo agora, andando ao lado delas, apenas mantendo uma distancia da sailor.
     - Demetrio – começou sailor Miranda – porque você atacou as criaturas?
     - Meu instinto – murmurou ele – eu queria atacar... não conseguia parar.
     - Autodefesa – disse Maya atenta a todos os seus sentidos para não ser surpreendida – sua classe de youmas é do tipo clã fera. Defendem com unhas e dentes o território ou... – ela olhou para ele e sorriu – os amigos.
     - Mamãe disse isso. Disse que ia mudar quando eu fosse mais velho.
     - Mudar não, apenas vai pensar melhor em como agir e não só seguir os instintos. Mas agora Demetrio, você vai ter que se controlar, ou não vamos conseguir sair daqui.
     Ele anuiu com a cabeça. Mas depois de mais alguns passos, ele parou de andar e ficou com os olhos bem abertos e suas orelhas tremendo. Após darem mais cinco passos as duas notaram que ele tinha ficado para trás.
     - O que foi? – perguntou a sailor.
     - Luta – disse ele – em frente – suas orelhas continuavam tremendo, e agora viram seu nariz – ou focinho? – mover-se também – fumaça... e neve... sinto vibrações fortes – ele moveu a mão e tocou o piso metálico – grande luta...
     Elas se entreolharam. Não ouviam nada. Maya tocou sua mão no piso e após um tempo prestando atenção percebeu que este estava com algumas vibrações, mas não eram rítmicas. Isso descartava algum equipamento daquele local.
     - Vamos – disse ela começando a correr rapidamente agora. Se havia uma luta em frente, só podia ser uma coisa: Tinha mais alguém por ali destruindo as criaturas, portando, eram aliados.
     Não demorou muito para a sailor estar na frente deles, se afastando cada vez mais. Ela era rápida, na verdade, mais rápida que muitos atletas. Conforme foram avançando, começaram a ouvir sons ocos ecoando pelo longo corredor. Deviam estar na direção certa.

 

-x-

 

     Terminou de limpar o sangue da boca enquanto observava seus sinais vitais. Ficou com várias costelas quebradas. Efetuou alguns comandos e o sistema de intervenção cirúrgica que estava envolto em seu tórax começou a trabalhar. Parecia-se mais com um espartilho, mas era essa a única semelhança. Dentro dele vários pequenos robôs abriam pequenas fendas no seu corpo para alcançar os ossos danificados e repará-los.
     Realmente o cientista oficial das sailors era bem mais do que tinha imaginado. Mais até do que todos imaginaram. Ele era um guerreiro, e dos bons. Um usuário da couraça de gelo, como a irmã do mesmo.
     Irmã... Interessante o planeta Hermes possuir uma senshi agora. Sabia que muitas coisas teriam mudado nos milênios em que esteve afastado. Quem diria que ele, Jother, pertencente a segunda geração dos que nasceram na colônia de Mercúrio estaria, milênios depois, utilizando velhos equipamentos médicos alterados, reparados e recuperados para curar um corpo que na verdade era algo virtual?
     Mais interessante que isso... como sete seres que dominaram e esgotaram os recursos de mais de uma dúzia de planetas começaram a fraquejar justamente no sistema estelar onde de uma forma indireta tudo começou?
     Simples... este sistema estelar possuía aquilo que acabou se espalhando por muitos outros mundos...
     As sailors!
     Assim elas eram conhecidas neste sistema, mas tinham outros nomes em outros mundos. Claro que a tradução era basicamente a mesma. Alguém que podia representar um planeta... que podia se unir aos elementos do mesmo. Curioso que cada mundo começou a ter uma ou mais representantes depois que as primeiras surgiram ali. Em uns poucos eram os machos da espécie, mas a maioria eram de fêmeas.
     Em outra época isso seria uma mera curiosidade. Ele era um médico. Cuidava da saúde das pessoas. Sorriu com ironia... cuidava. Sim... antes ele cuidava. Engenharia não era sua especialidade, mas não era leigo no assunto. Suas criações apesar de não terem o máximo de eficiência eram úteis. Agora ele usava as habilidades que tinha para unicamente ir atrás dos fragmentos de cristal. Se estivessem certos, a maldição que se abateu sobre eles iria terminar.
     Mas... e depois?
     Recuperando sua semente estelar, ficando livre daqueles braceletes... como seria? O que iria sentir? Iria se arrepender do que fez antes? Talvez... talvez todos eles se arrependessem tanto que iriam querer a destruição.
     Mas estariam com suas sementes de volta.
     Imaginava como seria caso simplesmente tivessem pedido ajuda. Claro que iriam negar, especialmente depois do que fizeram com a sailor Saturno.
     Ele olhou para a mesa de comandos da sua sala circular. O tempo previsto para reparar as áreas danificadas pela provável superlotação de zangões seria de alguns meses. Isso se as quatro unidades restantes ainda pudessem operar até lá. Teve de desmontar várias delas e muito do sistema de defesa do deposito para construir o bloqueador de sinais. E tudo para vê-lo ser destruído em poucos minutos. Sim, tinha cumprido o seu propósito de aumentar a distração e atrasar a capacidade de reação dos seus oponentes. Mas o custo não tinha sido baixo. O deposito estava vulnerável, restando basicamente apenas os zangões como defesa. E contra as sailors, só as venceriam pelo cansaço.
     Bom, com mais de cem bilhões de zangões... Talvez fosse melhor usar o plano original de Djogor. Simplesmente soltar um bilhão deles em um lugar para atrair as sailors e deixá-las se divertirem os destruindo enquanto coletavam o que queriam.
     Prismey achou um grande desperdício fazer isso. Bem, qual o desperdício de agora com todo um setor perdido?
     Ele colocou a mão no bolso de sua calça metálica e retirou vários cristais de lá. Não eram os que estavam procurando, os que pegavam escondidos e que os motivou a executar este plano arriscado de agora. Eram outros que ele tranquilamente pegou do chamado museu das sailors. Cristais de youmas destruídos. Acreditava que seria muito interessante combiná-los com seus zangões. Claro que era o pesquisador médico dentro dele que pensava nisto, mas seria realmente interessante avaliar os resultados.
     Uma luz chamou a sua atenção no painel. Perplexo ele executou alguns comandos e um visor surgiu na frente dele flutuando. Era na verdade um holograma. Mostrava o mapa completo do deposito e um ponto neste estava vermelho. Um dos ejetores de zangões tinha parado de funcionar. Moveu o corpo devagar avaliando como estavam As suas costelas e ficou satisfeito que sentir que estavam muito bem. Logo poderia remover aquilo de seu tórax.
     Executou alguns comandos para avaliar o que estava acontecendo. Não tinha quase nada de vigilância agora por precisar usar tudo no bloqueador. Nem podia ver como estava a câmara de transporte nemesiana. Analisou quantos zangões tinham passado pelo portal e buffou.
     Nos últimos minutos apenas algumas dezenas atravessaram. Pelo jeito ia ocorrer outra superlotação de zangões e iriam perder mais um setor. Se a sala já estava com zangões o bastante para fazer um dos ejetores falharem, não ia demorar para danificar o resto. E se fizessem isso sobraria apenas mais uma sala com gerador de portal. Não podia se arriscar. Era melhor ir lá e destruir os zangões que estavam na sala. Acionou alguns comandos para lacrar o local e ativou a contenção magnética. Isso iria impedir que eles saíssem até que chegasse.
     A última sala poderia enviar os zangões que iriam dar a Prismey e Hefesto a distração necessária para partirem. Se ocorresse uma falha ali também... bom... azar deles.
     - Estou indo ver o que houve com o portal da sala três – disse ele para o nada enquanto removia o "espartilho" do corpo – só um portal está funcionando, portanto não abusem.
     Andou um pouco quando ouviu uma resposta gutural, obviamente vinda de um dos klartianos.
     "- Já temos o que queremos?"
     - Sim - respondeu enquanto abria a porta de contenção da sala de controle e saia por um vasto corredor – Minhas sondas vão pegar o que falta. Não há como o hermeniano detê-las agora. É melhor pararem com a distração.
     "- Onde está Lorehei?- disse outra voz. A de Hefesto"
     Ele tinha medo deste. Já tinha sido seu soberano e após perder a sua semente estelar, foi um mero peão junto com ele nas mãos de Kaos. Estranha forma de serem igualados. No entanto, mesmo Kaos parecia ter um certo temor dele. Era melhor não se arriscar.
     - Uma boa pergunta... – ele voltou ao painel de controle e efetuou uma série de comandos, acionando muitas telas holográficas que apresentavam muitos dados em forma de texto – vou mandar uma sonda no ultimo local que eu sei em que ela estava – disse ele por fim – agora vou ver o portal. E antes que tentem me apressar, sou biólogo, não mecânico.
     Não ouviu resposta enquanto saia da sala e a trancava novamente. A frente dele estava uma área em forma de abóboda, onde o centro de comando ficava no centro. Ele correu para um dos muitos corredores que começavam ali e seguiu por ele, mais uma vez se maldizendo por não terem tido a oportunidade de receber todos os suprimentos que aguardavam. Djogor tinha que ser idiota para atacar aqueles que estavam na Lua, e com isso a passagem que tinham para sua linha de suprimentos foi cortada definitivamente.
     Considerando que a sailor Saturno tinha chegado também, era de se supor que Miber estava morto. Não que fosse importante agora, mas ele era mais aceitável que Djogor.
     Parou de maldizer a falta de sorte e seguiu correndo pelo corredor. Iria demorar cerca de dez minutos para chegar ao destino.


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