Herança escrita por Janus


Capítulo 41
Capítulo 41




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     Até que era estranho o caminho estar deserto. Durante todo o dia ele esteve cheio de alunos indo e vindo, e alguns enamorados se agarrando também. Agora estava completamente vazio. Nem mesmo os atendentes estavam por lá para ao menos verificar se todos os alunos tinham retornado.
     Bom... não era trabalho deles. Isso era responsabilidade da escola. Continuou andando na direção onde sentia que suas amigas estavam, até que de repente sua barriga bateu com força no corrimão que ladeava o caminho. Ficou de olhos arregalados. Ela não podiam ter feito isso. Não podiam mesmo! Não iriam quebrar as regras.
     A quem ela queria enganar? Era óbvio que aquelas duas poderiam aprontar algo do tipo. Foram além dos limites. Não tinha dúvidas a esse respeito. Ficaram curiosas com alguma coisa e resolveram investigar. Felizmente, estavam voltando.
     Olhou em direção de onde vinham e apenas podia ver algumas árvores. Já estava ficando muito escuro para ver com clareza. Ainda havia claridade do crepúsculo, mas era muito fraca agora. Olhou ao redor para ter certeza de que ninguém estava por perto e levou a mão para o seu bracelete para pegar...
     Ué? Onde estava o seu bracelete? Que tonta! Ela o esqueceu no banheiro quando tomou banho de manhã. Ficou muito excitada pela excursão que acabou se esquecendo dele. E agora a única forma de ter uma visão noturna seria usando o visor de sailor Titã.
     Mas teria que se transformar para isso. Droga, bosta, que merda! Por que elas não podiam ficar um único dia comportadas? Por que? Tinham sempre que aprontar alguma. Sempre! E sempre tinha que ser ela a descobrir isso.
     Foram dar uma volta onde não deveriam... resolveram ver coisas que não foram liberadas ao público...
     E não a convidaram para ir junto!
     Espere... lá estão elas saindo daquele grupo de árvores há uns trezentos metros de distância. E estão andando apressadas. Mas onde foi que aquelas duas tinham se metido? Ficou de braços cruzados enquanto esperava elas chegarem mais perto.
     - Anne! – chamaram as duas assim que chegaram perto o bastante para ve-la.
     - Onde foi que vocês se meteram? – gritou ela do alto – esqueceram das instruções? Não podiam ir além dos limites e acabaram indo. E se tivessem se perdido?
     - Anne...
     - Pior ainda! E se tivessem se machucado? A equipe que está estudando este local é que seria responsabilizada. Provavelmente excursões futuras seriam sumariamente negadas...
     - Anne...
     - ... e tudo porque vocês resolveram dar uma voltinha. Isso iria desapontar muitos alunos no futuro, caso tal coisa ocorresse.
     - A GENTE ACHOU UMA COISA!
     - Hã?
     - É isso ai que você ouviu – disse a princesa – achamos uma coisa. Ou alguma coisa nos achou... não sei bem...
     - Que coisa? Esqueçam. Temos que ficar junto dos flutuadores para assistir o evento final. Subam logo, vamos.
     As duas se entreolharam lá embaixo. Aparentemente não estavam muito interessadas em subir no momento. Alias, como foi que elas desceram lá?
     - Achamos algo que gostaríamos que visse.
     - Sem chance – respondeu ela cruzando os braços novamente – se não estava aberto ao público, é porque ainda estão estudando isso, seja lá o que for. Agora...
     - Achamos um templo totalmente intacto, completo e ele é da sailor Terra.
     Ela tinha se preparado para dar um senhor grito para força-las a subir, mas quando Joynah disse aquilo da sailor Terra sua mente despertou para aqueles simbolos que mencionavam algo sobre a guardiã dos quatro elementos.
     - Vocês acharam o que?
     - Um templo da sailor Terra. Intacto.
     - Joynah... não sei se é mesmo da sailor Terra.
     - Serena – ela pos as mãos na cintura e a encarou – nós vimos uma estátua da sailor Terra no meio de uma fonte, e vimos quatro portas trancadas. Cada uma com um símbolo de um elemento. Claro que é da sailor Terra, de quem mais poderia ser?
          - De Gaia... – disse Anne do alto.
     - O que? – perguntaram ambas olhando para ela.
     - Nada. Esqueçam. Onde viram isso?
     - Lá atrás – apontaram para as árvores – há uns dez minutos daqui.
     Dez minutos... cerca de um quilômetro a pé... hum.. será que dava tempo de dar uma olhada rápida e voltar?
     Talvez.
     Mas não deveria ir. Era além dos limites. Com certeza havia algum motivo para que o tal templo não estivesse aberto ao público. Haviam muitos monitores e funcionários por lá para garantir que ninguém saísse da linha.
     Só que aquelas duas conseguiram.
     - Você vem?
     - Tá bom. Mas só uma olhada rápida.
     Diante delas, ela apoiou o a sua mão esquerda no corrimão e pulou por cima dele, pousando com certa graciosidade ao lado de Serena. Joynah ficou olhando para a princesa com um sorriso cínico. Hum... por que será?
     E porque tinham trocado de roupa?
     - Vamos – disse Joynah a puxando pela mão.
     As três seguiram correndo pelo meio das árvores. Eram bem cerradas e bloqueavam totalmente a visão do céu. Como foi que conseguiram achar o tal templo por ali?
     - Me expliquem uma coisa... porque vieram nesta direção?
     - Alguma coisa nos chamou – disse Joynah – algo parecido com aquilo que sentimos na Lua, lembra?
     Sim, ela se lembrava. Lembrava de como se sentiu compelida a ir em determinado lugar lá. Interessante... porque só as duas sentiram isso?
     - Você vai babar – disse Serena já começando a ficar ofegante – é uma construção incrível.
     - Tem o símbolo da Terra logo na entrada – completou Joynah. E duas estátuas parecidas com aqueles cavaleiros estelares que vimos na Lua ao lado desta.
     Ela ficou matutando sobre aquilo. O professor Henry chegou a afirmar que não haviam encontrado nada conclusivo sobre alguma relação daquelas ruínas com o Milênio de Prata na Lua. Mas se havia um templo com uma estátua da sailor Terra, porque ele afirmaria isso? E como tal templo em perfeitas condições nunca foi mencionado em qualquer documentário ou apostila sobre àquele lugar?
     - Prepare-se para uma grande...
     As três pararam estáticas assim que saíram da densa folhagem. Serena e Joynah olhavam atônitas a sua frente. Anne olhava na mesma direção que elas, mas não estava surpresa. Não havia nada de excepcional.
     - ...surpresa – terminou a frase com a voz sumindo.
     - Isso ai?
     Tudo o que estava a frente das três era um monte de pedras. Na verdade era mais entulho, como se um caminhão de uma construção tivesse descarregado sua carga de brita por lá. Em nada se parecia com um templo, muito menos restaurado. No entanto, a coluna bem destruída a direita e a esquerda lembravam vagamente uma entrada. Olhou para a princesa e depois para Joynah. Ambas ainda surpresas demais para falarem qualquer coisa.
     - É aqui ou não?
     - Deveria ser aqui – disse a princesa – será que nos enganamos?
     - Claro que se enganaram – ela suspirou – bom gente, foi divertido mas...
     - NÃO – gritou Joynah – era aqui. Tenho certeza. Não perguntem como, mas eu tenho certeza mesmo. Este é o lugar certo.
     - E onde está o templo?
     - Eu juro! Estava aqui! Um templo enorme, lindo, todo feito de mármore de diversas tonalidades, algumas eram até azuladas... tem que acreditar na gente!
     Anne continuou olhando para o monte de pedras sujas e destroçadas que formavam uma pilha no que antes deveria ter sido uma entrada. Podia ver umas cinco ou seis bases de colunas ao redor dos destroços que talvez tenham um dia formado uma fileira de colunas ao lado desta possível entrada. Mas se foi assim isso foi há muito tempo... havia até musgo crescendo nos destroços. Elas não podiam de forma alguma ter entrado em um templo completamente reformado e em perfeitas condições como lhe afirmaram. Se o fizeram, não o foi ali. Deviam estar falando de outro templo, que com a costumeira incrível capacidade que tinham para achar caminhos, não sabiam onde estava.
     - No momento – disse ela ironicamente – só posso acreditar no que vejo. E tudo o que vejo é um monte de pedras bem despedaçadas. Nem dá para dizer o que eram antes. tem certeza de que não erraram o caminho? – sorriu confiante.
     - Claro que temos – disse Joynah agoniada – era aqui. Não é possível... neste lugar ficava a entrada – ela mostrava com as mãos abertas, tentando inutilmente lhe dar uma imagem do que tinha visto – havia um arco triangular em cima de duas colunas azuladas, lindas! O arco parecia até com o teto de uma casa clássica, como a sua. E no centro do arco, estava o símbolo da Terra. O meu símbolo – reafirmou apontando os dois polegares para o peito – em uma tonalidade mais esverdeada. A Serena também viu! Até debochou de mim por causa disto.
     - É... – confirmou ela – eu me lembro.
     - E lá dentro – Joynah subiu nas pedras soltas de onde ela disse que ficava a entrada, mostrando com os braços abertos o local que era o interior da construção – havia uma segunda fileira de colunas, com vários vasos e jardineiras de mármore. No interior, quer dizer, no centro tinha uma fonte, ou um tipo de piscina com uma estátua no centro desta. Uma estátua muito parecida com aquela que vimos na Lua – olhou para os seus olhos implorando para que acreditasse.
     - Joynah... – Anne olhou para ela, apertando os lábios e quase fazendo uma careta – você não espera que eu simplesmente acredite nisto que está dizendo... olhe ao seu redor... Este local está em ruínas há séculos! – fez um movimento largo com o braço direito para indicar com mais clareza – tudo isto estava claramente enterrado, até da para ver algumas ferramentas que os arqueólogos deixaram aqui.
     Joynah observou onde ela tinha indicado e viu umas duas pás, bem como vários pincéis, sem dúvida usados para retirar a terra com cuidado e paciência para não correr o risco de perder nenhum fragmento importante do passado. Como elas podiam esperar que Anne aceitasse aquela história maluca de que tinham entrado em um templo ali?
     - Eu não estou louca! – disse Joynah com uma estranha determinação – não estou!
     Ela começou a descer o monte de pedras do outro lado, e Anne e Serena, preocupadas, foram atrás dela tropeçando nas pedras soltas. Subiram o monte de cascalho com certa dificuldade – Anne quase caiu por duas vezes – e ao chegar ao cimo deste, puderam ver Joynah andando mais adiante – quase correndo – pulando algumas bases sobreviventes de colunas antigas. Estranho... aquelas bases pareciam que formavam mesmo uma segunda fileira de colunas...
     Ela não pensou muito nisto. Estava mais ocupada em descer apressadamente o monte – felizmente auxiliada por Serena – tropeçando e por vezes dando torções doloridas no seus pobres e delicados calcanhares – delicados agora, bem entendido. Até chegar novamente a um solo razoavelmente firme, se desconsiderar como estava escorregadia aquela terra úmida, ambas começaram a correr atrás de Joynah. Cada qual com seus próprios motivos para ficar preocupada com ela.
     - Joynah! – chamou preocupada, mas ela nem se abalou.
     A perseguiram por mais alguns metros até que notaram que ela tinha parado defronte a alguma coisa. Anne e a princesa logo se juntaram a ela. Ela tinha se ajoelhado na terra e estava observando de uma forma um tanto reverente uma... uma... base de estátua?
     Era mesmo uma base de estátua. Carcomida e surrada pelo tempo, mas ainda era possível identificar dois pés provavelmente femininos calçando botas de salto baixo...
     E havia também uns símbolos – ou melhor ranhuras que se pareciam com símbolos – na base quadrada que sustentava aqueles pés. Se era uma escrita estava indecifrável.
     Intrigada, Anne olhou ao redor com muito mais critério. As bases de colunas que tinha visto antes formavam um quadrado ao redor da estátua. Mas havia algo mais. Uma linha delineada internamente as supostas colunas. Uma linha que poderia muito bem ser a borda de uma antiga fonte...
     Olhou para a princesa e esta a estava encarando com os olhos cheios de dúvidas e uma clara confusão. Pelo que tinha percebido, era bem possível que antes aquele local fosse uma fonte cercada por fileiras de colunas. Aquelas pedras que tinha pulado antes podiam ser o que tinha sobrado de uma entrada, e aquela base de estátua diante dela bem poderia ser uma estátua que ficava no meio de uma fonte antes.
     Pensou nisso por alguns instantes. Qual seria a chance daquelas duas terem inventado aquilo? Bom, eram razoáveis. E qual a chance de terem visto o mesmo que ela, tirarem tal conclusão e decidirem brincar um pouco? Baixas.
     E a chance das duas terem tido uma visão do passado? Considerando que uma era a princesa de um reino quase mítico e a outra a defensora do planeta Terra, era algo a ser levado em consideração.
     Olhou para Joynah e esta estava com uma profunda amargura nos olhos. Era como se tivessem lhe dado um vislumbre de um presente e ela o tivesse perdido totalmente. Condoída por sua amiga, ela fez o que achou mais correto para o momento. Pousou a sua mão em seu ombro e o apertou suavemente.
     - Eu não sei o que vocês viram – começou – mas agora tenho quase certeza de que foi alguma coisa. Infelizmente, o que quer que tenha sido não está mais aqui. Joynah... vamos embora. Perguntamos aos nossos pais sobre isso amanhã.
     Demorou um pouco para ela esboçar uma reação. Mas felizmente não muito. Ela se levantou e a olhou de frente, com um fraco sorriso nos lábios.
     - Tem razão – murmurou ela – o que quer que tenha sido, já desapareceu. Obrigada por acreditar em mim.
     - Tive evidências suficientes para isso – respondeu olhando novamente ao redor.
     - Que som é esse?
     - Começou – disse Anne – estão exibindo os hologramas.
     - Olhem aquilo – murmurou Joynah lentamente.
     Não estavam no melhor angulo para poder apreciar direito, mas, mesmo na distância em que estavam puderam ver as ruínas subitamente se modificarem e sofrer uma reestruturação total. As paredes rachadas, parcialmente caídas ou desmontadas ficaram intactas. Aquela trilha que tanto usaram para ir de um lado para outro se tornou um tipo de túnel encoberto por lajes de mármore e cercado de colunas brancas. Não dava para ver muito mais que isso de onde estavam.
     - Desculpe Anne. Eu estraguei o que você mais queria assistir...
     - O que eu mais quero assistir é meus amigos sorrindo – retrucou ela com os braços cruzados – e você é minha amiga. Vale muito mais do que qualquer evento.
     Ela a olhou de volta com uma expressão um tanto desconfiada... porque será?
     - O que aconteceu com vocês hoje? Primeiro foi a princesa, agora você?
     - Agora eu o que?
     - Que joga na minha cara de como é bom eu ser sua amiga.
     - Já chega – disse Serena empurrando Joynah pelas costas – se você for começar a remoer isso não vamos sair daqui.
     Anne observou as duas se afastarem. Fez menção de acompanha-las quando subitamente sentiu alguma coisa. Olhou para trás e não viu nada, apenas aquela base de estátua.
     Estranho... por uns momentos sentiu que Joynah estava atrás dela... ou melhor, que Joynah estava a sua frente e nas suas costas ao mesmo tempo.
     - Você vem?
     - Estou indo – respondeu dando uma última olhada ao redor.
     Mas não percebeu nada de anormal.


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