Herança escrita por Janus


Capítulo 33
Capítulo 33




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     Serena chegou bem cedo, esperando poder ser uma das primeiras da fila do flutuador escolar e poder pegar um bom lugar.
     Mas não foi bem assim. Ela, sua irmã e Diana ficaram surpresas ao ver que quase todos os alunos das classes que iriam na excursão já estavam lá. E isso uma hora antes da hora normal em que as aulas começavam. Com isso iria acabar pegando um lugar bem irritante, no corredor ou então sua irmã não ficaria perto dela ou teria de ir em seu colo.
     E a baixinha já estava ficando muito pesada para isso.
     Tudo o que podia fazer agora era simplesmente esperar chegar a hora de partida e tentar fazer o melhor possível quando fosse escolher um lugar para se sentar ou... hum... aquela menina de cabelos brancos no começo da fila era inconfundível.
     Vestindo a sua melhor cara de pau, a princesa herdeira do trono de Cristal Tóquio seguiu tranqüilamente até em direção a Anne - acompanhada de sua irmã e Diana – para de um jeitinho todo especial poder furar a fila usando o velho golpe do "guardou o meu lugar?".
     - Ah não! Mais três? – disse uma menina atrás de Anne.
     Como assim mais três? Súbito ela descobriu o porque disto. Na frente de Anne já estavam Joynah e suas irmãs, que deviam ter usado o mesmo golpe. Mas será que elas não podiam ser originais? Que droga!
     - Eu disse que ia guardar lugar para as minhas amigas, Kátia – disse Anne com o nariz empinado.
     - Não estou surpresa... ficaria surpresa se fosse guardar lugar para os amigos. Mas como são todas garotas eu compreendo muito bem...
     - ARGH!
     Joynah agarrou Anne por trás bem a tempo de evitar que ela começasse uma briga com a Kátia. Aquelas duas não se bicavam mesmo. E a Kátia ajudava muito fazendo a Anne perder o controle. Se bem que era fácil fazer isso. Era só insinuar que era lésbica e pronto! Um olho roxo garantido.
     E uma suspensão imediata para Anne, logicamente... Algum dia não haveria ninguém para segura-la, e a Kátia teria sua dispensa médica de uma semana assegurada.
     - Já chega Anne! – chamou Joynah – controle-se. Puxa vida!
     Joynah estava com dificuldade para segura-la. Lógico! Agora não tinha mais sua força de sailor sempre presente com ela. As suas irmãs já estavam se movendo para ajuda-la a segurar a Anne.
     - Tá bom, eu estou bem agora. Pode me soltar.
     A Kátia estava atrás de outro aluno – este mais alto que ela, mas da mesma altura que Anne – tremendo de medo e com o olhar assustado. Desta vez ela ficou bem perto de levar uma surra. Anne era a única que podia enfrentar as filhas de Lita – as eternas campeãs – em artes marciais. E todos sabiam disto. Puxar briga com ela era um convite certo a uma visita no pronto socorro mais próximo. E mesmo como sailor era a única que podia encarar a sailor Terra com sua força incrível – elas já tinha disputado uma queda de braço e ficaram surpresas ao perceber que tinham praticamente a mesma força – chegando mesmo a ter os níveis de poder de uma inner, em algumas situações.
     - Kátia – disse Joynah para ela - você sabe que a Anne não consegue se controlar quando você começa com estas insinuações. Pode ficar feliz por saber que ela será suspensa por bater em você, mas com certeza essa sua carinha linda vai ficar um bom tempo inchada. E você também Anne – olhou na direção dela - controle-se mais se não quiser que esse dia seja memorável por ser o dia em que perdeu o grande sonho de sua vida.
     A primeira líder das Lunar Senshi sabia mesmo como agir. Anne ainda estava irritada, mas era muito claro que estava bem mais consciente e iria suportar melhor as cutucadas da Kátia.
     Pelo menos por aquele dia.
     - E vocês, podem vir para cá. Diana, fique atrás de mim para ajudar a manter estas duas separadas. A propósito... você está linda!
     - Gostou?
     Serena sorriu. Diana estava com uma blusa que deixava seu umbigo de fora e uma calça justa – mas não super apertada como de praxe – de cintura baixa. Também usava uma corrente com uma pequena gema pendendo bem em cima de seu umbigo.
     - Agora sim você está no mesmo nível que eu – disse Anne a observando também - normalmente você me ultrapassa na ousadia.
     - Mamãe me ajudou a escolher roupas ontem. Ficamos no shopping quase até a hora dele fechar...
     - É – interveio Serena na conversa – Ela conseguiu vencer a mãe pelo cansaço. Mas acabou cedendo para algo mais condizente com uma adolescente um tanto exibida.
     - Como assim exibida? – Diana olhou interrogativamente para ela – Não posso realçar os meus atrativos naturais?
     Na frente da Kátia não! Por favor... não na frente dessa fofoqueira distorcedora de fatos.
     - Diana – Joynah pos uma das mãos em seu ombro – agora não é hora de discutirmos isso.
     - Mas..
     - Diana – chamou Serena – nós somos seres humanos, lembra?
     - Hum... – ela fez um bico com os lábios – entendi.
     Ela ficou um pouco chateada mas não havia outro jeito. Enquanto Luna não considerasse prudente revelar ao mundo a verdadeira natureza dela própria e de sua filha, Diana teria que viver de uma forma para a qual seus instintos não estavam voltados para apreciar. Mas uma coisa a incomodava... como ela conseguiu esconder a sua cauda com aquela calça? Foi então que percebeu. A cauda dela estava enrolada na cintura como se fosse um cinto da calça. Que solução inteligente! E como a camisa era mais comprida atrás não dava para perceber que aquele "cinto" na verdade começava bem no fim de sua coluna dorsal. Devia estar bem mais confortável do que colocar a cauda por dentro da roupa.
     - E então Anne? – perguntou ela pondo-se a frente da amiga na fila – está muito ansiosa?
     - Claro que estou! - seus olhos faiscavam de antecipação – É a primeira vez que vou ver uma escavação sendo feita. Todos os outros locais que vi eram de ruínas já escavadas e limpas. Essa é a primeira que vou ver os arqueólogos trabalhando.
     - Me falaram que trabalham tão devagar que não vai ter muita graça – disse Allete – acho que vai valer mais a pena ver as ruínas já desenterradas. Especialmente a simulação com hologramas de como deveriam ter sido quando foram construídas.
     - Vai ser só a noite – disse a Sereninha – eu quero ver os jardins. Achei eles lindos na holofoto.
     Joynah sorriu e pos a sua mão na cabeça de sua irmã, dando-lhe um tipo de cafuné.
     - Como convenceu sua mãe a deixa-la vir? – perguntou Anne sorrindo para a baixinha.
     - Ela a convenceu. Eu nem imaginava que ela gostaria de ir. Falei com o professor dela e ele a dispensou, mas vai ter de fazer uma redação da viagem, não é mesmo, baixinha?
     Sua irmã abriu a boca para dar a resposta padrão, mas ficou encabulada quando Anne, Joynah e suas irmãs, Diana e ela própria responderam por ela.
     - Eu não sou baixinha! – disseram todas juntas.
     - É... - ela as olhou um tanto assustada – é isso mesmo.
     - Cadê os seus amores? – perguntou Anne para ela e Joynah – eles não vem?
     - Você está perguntando onde eles estão? – Joynah ficou impressionada – você não sabe?
     - Eu... – ela olhou com o canto dos olhos para Kátia que parecia estar prestando muita atenção na conversa – não os "vi" em parte alguma.
     - Eles vão chegar – respondeu - não se preocupe. E você Joynah? Esta contente agora por ter um namorado oficial? Como foi com sua mãe?
     - Foi ótimo! – ela riu – devia ter visto a cara dela. Ela não acreditou que a enganamos por todo esse tempo. Mas acho que meu pai foi quem levou a pior...
     - Ele dormiu na sala esta noite – disse Marina – mas não sei se foi por causa disso não, Joynah.
     - Pode apostar que foi... – disse Serena imaginando como teria sido a "briga" deles.
     - No sábado eu dou um pedaço extra de bolo para ele. E bem na frente da mamãe – disse Joynah.
     Com certeza não devem ter realmente brigado. Não com o significado exato desta palavra. Mas devem ter conversado um pouco a respeito, e Lita sem dúvida ficou irritada com a notícia. Ficou de cara fechada ao pensar que sua mãe iria fazer o mesmo quando soubesse. E talvez não demorasse muito para isso. Agora que a Ray já devia saber quem era a namorada do Herochi, iria apertar o Yokuto para que ele também falasse. Era melhor resolver aquilo logo. Naquela noite mesmo iria contar tudo para a sua mãe.
     - Eles estão vindo – disse Anne sorrindo – devem chegar em dez minutos.
     - Quem? – perguntou Diana.
     - Os irmãos "quentes" – disse Anne com um sorriso malicioso.
     Serena notou que Kátia olhou de uma forma estranha para Anne. Mas isso não importava. Yokuto estava vindo! Só este pensamento a deixava ansiosa para ser abraçada por ele.
     - Olha o flutuador! – exclamou Diana saltando no mesmo lugar e apontando para cima.
     Todos olharam para onde ela apontava e viram seis flutuadores em fila fazendo a aproximação para pousarem no pátio da escola. Isso significava que Yokuto não ficaria junto com ela. Que droga! Até ele chegar ela já teria entrado no primeiro flutuador, e ele não iria poder furar a fila junto com ela.
     Bom, ele levaria uma bela bronca depois por chegar tarde. Ah se levaria...
     - Eu avisei ao Herochi para ele chegar bem cedo – comentou Joynah com os braços cruzados e olhando para baixo. Devia estar tão chateada quanto ela.
     Paciência! Os flutuadores pousaram e alguns minutos depois as portas foram abertas para que as crianças entrassem. Serena pegou uma das primeiras fileiras de bancos para poder ter uma boa visão da vista da frente do flutuador. Sua irmã sentou-se ao seu lado, no assento da janela – iria ouvir um monte se sequer lhe perguntasse se queria trocar de lugar consigo. As outras sentaram-se próximas para continuarem conversando. Para alegria de todas a Kátia se sentou no fundo do flutuador.
     Pela janela viu os dois rapazes chegando e pegando o último lugar da fila que já devia ter coisa de duzentos metros. Muita gente queria ver as ruínas...
     - Ele vai ouvir um monte quando chegarmos lá – comentou Joynah que estava sentada atrás dela.
     Serena apenas sorriu de uma forma meio amarela. Tudo bem que com sua irmã do lado não ia poder ficar muito agarrada no Yokuto, mas só o prazer de sua companhia seria o bastante. Diana estava no banco do outro lado do flutuador com a cara colada na janela. Anne estava no banco ao seu lado.
     - Olha a Suzette e a Rita lá – disse Allete apontando pela janela.
     Serena olhou na direção indicada e viu que elas iriam pegar o segundo flutuador – o que ela tinha entrado já estava cheio – tanto de alunos quanto de barulho alto de conversa. Alguns gritavam e outros já faziam algumas brincadeiras. Aquilo a lembrou da época em que ainda era uma criança e estudava no passado. Lembrava-se de seus amiguinhos de então. Hoje a maioria já estava bem adulta e provavelmente não se lembravam mais dela. Uma pena... mas a parte boa era que graças ao poder do cristal de Prata podiam viver bastante! Quase tanto quanto as sailors ou seus maridos. Mas não tinham o detalhe de terem a idade física correspondente a idade mental. Enquanto elas cresceram ela permaneceu como criança. Só agora é que estava amadurecendo.
     Ainda bem! Era uma delícia poder namorar. Gostaria de poder manter essa sua idade para sempre...
     - Sua mãe lhe contou o porque de terem feito uma reunião ontem?
     Serena olhou para trás e viu Joynah esperando a resposta com uma certa ansiedade.
     - Não. Tudo o que disse foi que tinham conversado um pouco sobre o torneio, mas tenho certeza de que não foi só isso.
     - Gente – reclamou Anne – vamos deixar isso para depois. Hoje é dia de passeio e não quero que me estraguem isso não. Já estou livre de minhas mães até sábado e estou até pensando em aproveitar que estão fora para usar a nossa central e fazer umas pesquisas...
     - Aonde elas foram?
     - Ora Allete... esqueceu que são embaixadoras de Cristal Tóquio? Foram como representantes na cerimônia de posse do novo presidente da Índia. Vai ser esta noite.
     - Eu vi no noticiário ontem – comentou Marina – mas nem me toquei de que elas é que estavam indo.
     - Nem se tocou? Mana... elas são as únicas embaixadoras que temos.
     - Ah Allete.. e eu sou obrigada a saber disto? O repórter só disse que o governo da cidade enviou os seus representantes para a cerimônia. Só isso.
     - Por que a Diana está tão quieta? – perguntou Joynah em voz baixa no seu ouvido.
     Serena olhou para sua amiga observando as coisas do lado de fora pela janela. Ela estava se esforçando, mas já estava ficando evidente que não conseguia ser a mesma Diana de sempre. Estava ficando menos expontânea e acatando mais as sugestões de comportamento das suas amigas. Até Joynah estava percebendo a mudança.
     - Medo – respondeu ainda mantendo o olhar na direção de Diana – ela ficou muito abalada com o que aconteceu. Está tentando agir como sempre, mas ontem a noite eu notei que ela estava um pouco diferente. Geralmente ela dorme perto dos meus pés na cama, mas desta vez ela fez questão de ficar em cima de meu peito. Quando disse que eu costumava me mexer muito a noite e que poderia machuca-la, ela acabou ficando do meu lado.
     - Talvez ela deva dormir com os pais por enquanto.
     - Eu sugeri isto, mas ela me disse que não quer incomoda-los. Ela fez isso na primeira noite depois que a resgatamos. Disse que foi para "dividir o calor com eles", mas eu duvido. Acho que foi medo mesmo. Medo de ficar isolada e indefesa. Vai demorar um pouco para ela superar isso. Até lá... acho que vou colocar uma cesta de gatos na cabeceira da minha cama para ela ter um pouco mais de conforto e ficar mais perto de minha cabeça. Ela deve se sentir um pouco mais segura assim.
     - Eu acho que isso não é uma boa solução. Pode lhe dar uma dependência que pode ser até pior. É melhor deixar as coisas seguirem normalmente. Ela vai acabar superando isso. Vamos dar um voto de confiança para a nossa conselheira.
     Talvez Joynah estivesse certa. Diana era bem mais forte do que parecia, mas também era um pouco frágil. Ela descobriu da pior maneira possível o resultado de não seguir as regras. Nunca deveria ter seguido aquela criatura sozinha sem avisar ninguém. Mas também era muito cedo para avaliar as conseqüências de sua ação. Por algum motivo ele não lhe fez mal, e talvez fosse justamente isso o que a estava começando a perturbar. Teria uma conversa com ela sobre aquilo mais tarde.
     - É... pode ser. Escuta... a sabe se a Ray andou pressionando o Yokuto depois que vocês contaram a ela que estavam namorando?
     - A gente não contou para ela ainda...
     - O que? – ela ficou surpresa – porque não?
     - Minha mãe disse para ficarmos quietos. Ela mesma quer contar. Mas não entendi bem o motivo.
     Ela entendia. Lita iria querer fazer uma surpresa para a Ray. Provavelmente começaria a chamando de comadre, ou de uma outra forma sutil. Tudo para ter o prazer besta de ve-la com a boca aberta e com cara de tacho. Isso significava que logo em seguida o Yokuto seria obrigado a fazer o mesmo... ai, ai...
     - O que foi? Porque ficou tão séria?
     - Nada não.. apenas que assim que ela souber, vai descontar tudo no Yokuto para não ter outra surpresa tão grande...
     - Eu acho que vai ter uma surpresa maior ainda!
     - Pior que vai... – concordou – pior que vai mesmo! Se bem que ela e minha mãe sempre foram boas amigas. Embora com uma relação um tanto conturbada.
     - Eu lembro delas discutindo lá no passado... incrível como não se pegavam a tapas.
     - Ah... – sorriu – elas se pegavam sim. Quase sempre! Ray sempre achava o fim da picada minha mãe ser tão aérea e desligada.
     - Além de tonta, melosa e...
     - EI! Tome cuidado com o que fala da minha mãe!
     - Mas é verdade – Joynah a olhou de forma desafiadora – era uma tonta. E as vezes ainda é. Como foi que a Haruka a chamou mesmo? Cabeça oca?
     - Cabecinha de vento – corrigiu – o que é que estou dizendo? Vamos mudar de assunto.
     As irmãs de Joynah que estavam ouvindo a conversa começaram a rir.
     - E vocês duas! Parem com isso!
     - Chamada! - todos olharam assustados para a frente. Um dos professores das classes estava lá com uma prancheta eletrônica na mão – eu vou passar pelos assentos e vocês por favor falem seus nomes para o registro. Começando – olhou para ela – pelas princesas.
     Serena olhou para ele e este estava esperando. Olhou para a sua irmã que estava distraída vendo o movimento pela janela. Apertou os lábios e deu uma cotovelada nela.
     - O que foi?
     - Responda a chamada!
     - Ah é... Sereninha! Minha irmã está como minha babá.
     - Babá não, sou sua responsável, sua baixinha.
     - EU...
     Desta vez, todos aos alunos do flutuador entraram no coro.
     - ...NÃO SOU BAIXINHA!
     Coitada... ela ficou vermelha feito um pimentão.


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