Herança escrita por Janus


Capítulo 2
Capítulo 2




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     Sailor Urano chegou com cuidado na fazenda. Era uma plantação de milho, e, pelo visto, a colheita deveria ser feita em poucos dias. Como esperava, não parecia que teria algo para fazer ali, além de olhar ao redor para tentar descobrir o que as criaturas poderiam estar procurando por lá.
     Andou mais um pouco e viu a casa da fazenda. Era simples e de madeira – por um instante, pensou estar pelo menos uns mil e quinhentos anos no passado, não fosse pela colheitadeira robotizada ao lado da construção. Em um tipo de banco rústico ao lado desta, estavam Sohar e Sailor Vênus. Ambos olhavam apáticos para a frente, com as mãos sustentando a cabeça – no queixo – e os cotovelos em cima das pernas.
     - Algum problema? – perguntou ela assim que se aproximou. Vênus nem se moveu, Sohar apenas apontou para a frente, voltando a colocar a mão no queixo logo em seguida. Ela olhou na direção indicada e percebeu o que os estava chateando.
     - ONDA DE CHOQUE!
     Um arco translúcido foi percebido cortando o ar, atingindo umas duas criaturas sombrias, mas não diretamente. Mas o que Nicholas estava fazendo ali?
     - Quem convidou ele?
     - Por incrível que pareça – respondeu Vênus – ele estava de passagem. Tinha seis criaturas aqui, depois de discutirmos bastante, acabamos ficando com duas, para cada um de nós. Já cuidamos das nossas, mas esse teimoso insiste em que pode resolver a parte dele sozinho.
     - Mas... ele está apenas brincando!
     - Pois é – disse Sohar – e já faz meia hora.
     - Por que não acabam logo com essas criaturas?
     - Esteja a vontade – disse Vênus – só que vamos ter de aturar ele depois, quando estivermos investigando os arredores.
     Olhou para Nicholas brincando de atacar as criaturas e depois olhou para os dois, sentados no banco como quem estivesse em uma fila de atendimento de seguro saúde. Pesou bem os prós e os contras, e, após dois minutos, tomou sua decisão.
     - Chega para lá Sohar, você está ocupando muito espaço.
     Sohar se afastou, permitindo que ela se sentasse sem ficar na beira do banco, assumindo a mesma posição que eles. Pelo menos assim, ele acabaria ficando cansado, e não daria aqueles palpites ridículos dele.
     - Quanto tempo acham que vai demorar?
     - A aposta atual é de que ele se cansa em mais dez minutos. Mas eu acho que ele ainda vai agüentar mais. A Ray está viajando, de forma que ele não tem muita pressa para chegar em casa.
     - Que tal irmos embora e investigarmos amanhã?
     - E quem conta para a rainha?
     - Você – ela sorriu – afinal, não é um parente dela?
     - O mais distante parente vivo – disse ele a encarando – não que isto signifique muita coisa. Além disso, não sou propriamente parente dela, mas da família real do antigo Milênio de Prata.
     Urano sorriu com a irritação dele. Ele não gostava quando chamavam a atenção para o fato de que ele tinha um pouco de sangue real nas veias, o que lhe dava, ao menos em teoria, o dever de acatar com algumas responsabilidades. Entre elas, o de participar da defesa do Milênio de Prata e o de treinar as novas aspirantes a sailors.
     Logicamente, esse grau de parentesco deveria ser fraco. Fora a sua grande velocidade – ocasional – e capacidade de lançar bolas de plasma, ele nunca demonstrou nenhuma outra habilidade. Se fosse mais próximo da linhagem, seria bem mais poderoso.
     Nicholas, por sua vez, nascera um ser humano comum, só podendo sobreviver até hoje devido a ter se casado com uma sailor. Mas a sua habilidade de gerar ondas de choque com os punhos fora um treino especial do avô desta. Se ele não fosse tão descuidado e levasse mais a sério o que fazia – como quando treinava os filhos em artes marciais – poderia ser o líder da equipe dos homens.
     - Vocês duas não querem ir embora não? Eu fico vigiando as coisas aqui.
     - E perder a chance de te ver fazer o Nicholas de bobo? – perguntou Vênus – de jeito nenhum. Sei que está impaciente. Não demora muito e vai acabar com essa palhaçada dele, e vai lhe dar um sermão daqueles.
     - Eu digo a mesma coisa – comentou Urano sorrindo.
     - Eu devia ter ficado em casa...
     Sohar se levantou e colocou sua mão direita naquela forma costumeira – três dedos erguidos, o polegar, indicador e miudinho – logo em seguida, pequenos raios saiam destes dedos e se concentravam no centro. Logo, uma bola de plasma surgiu. Ele apontou o braço para uma das criaturas, e disparou.
     A explosão desta na criatura assustou Nicholas, que caiu sentado. A Outra criatura decidiu ataca-lo por trás, e sailor Vênus não se fez de rogada e a destruiu com o seu raio crescente.
     - Mas... que história é essa? Eu estava cuidando muito bem das coisas! – reclamou ele.
     - Como espera que seus filhos levem esses combates a sério se nem você leva? – disse Sohar com uma expressão não muito amiga.
     - Bem...
     - Chega de conversa! Vamos ver se tem mais dessas criaturas por ai – em seguida, cochichou para as duas ao seu lado – vou enrola-lo por meia hora, vejam se andaram escavando algo, como das outras vezes.
     - Certo! – cochichou Urano de volta.
     Sohar foi com o Nicholas investigar os arredores, e, devia estar muito paciente para agüentar ele reclamando de como tinham tirado a sua grande chance de treinar um melhor controle de suas habilidades. Elas só estavam imaginando quando ele iria aparecer correndo, com Sohar disparando bolas de plasma nele, assim que perdesse a paciência de vez.
     Urano tinha se separado de Vênus. Ela preferia assim, pois ainda tinha o hábito de fazer as coisas sozinha. Entrou no meio da plantação, e começou a tentar procurar algo. Mas era difícil. As plantas estavam bem altas, quase na altura de seus olhos, impedindo que pudesse ver além de cinco metros de distância.
     Mas ela sabia o que procurar. Um buraco um pouco grande, escavado no chão. Como em todos os outros lugares em que tinham enfrentado as criaturas. Tudo indicava que estavam procurando por algo, e, pior! Os eventos também estavam indicando que estavam encontrando o que quer que procurassem, pois nunca apareciam de volta no mesmo local, e nunca houve mais um buraco nestes. Ou seja: cavavam, achavam o que queriam e iam embora.
     Somente em menos de dez por cento dos casos, elas puderam fraga-los, e, em nenhum destes, conseguiram a menor pista do que procuravam.
     - Achei! – gritou sailor Vênus.
     Urano correu rapidamente na direção de sua voz. Logo, estava ao seu lado, olhando o buraco escavado.
     - Este é bem maior que os outros – comentou.
     - E bem mais fundo. Deve ter quase quatro metros. E, como nos outros, há marca de garras nas bordas, e esses sombrios não tem garras.
     - Será que é Rodler?
     - Rodler? – Vênus olhou para ela intrigada – mas já derrotamos ele há anos. Por que pensou nisto?
     - Por causa de algo que Anne disse. Parece que elas enfrentaram ele e o derrotaram naquela viagem ao passado.
     - Talvez seja alguém da mesma raça – comentou ela pensativa – Amy identificou seis raças que poderiam ter feito estas marcas. Mas todas são amistosas, e nenhuma delas informou nada sobre qualquer criminoso deles que pudesse ter vindo até a Terra, com exceção de Rodler, mas ele foi destruído.
     - Com licença?
     - Sohar! Onde está Nicholas?
     - Foi para casa.
     - E como conseguiu convence-lo a ir?
     - Bem, eu disse que já que a Ray não está por aqui, é ele quem deve cuidar que os filhos não façam arte. E como ele viu os dois comprando flores a tarde...
     Vênus sorriu. Ray e Nicholas já desconfiavam que eles deviam estar namorando, embora ainda não tivessem idéia de com quem. Se Nicholas não ficasse no pé deles...
     Sohar pulou para dentro do buraco e ficou observando a parte em que claramente havia sinais de que uma mão havia pegado algo. Aquilo confirmava que não havia mais nada a fazer ali, exceto registrar o evento e conferir no mapa se podia ajudar a descobrir onde seria o próximo alvo.
     - Sohar – chamou Urano muito séria – Anne me disse que vocês enfrentaram uma criatura com orelhas de gato no passado...
     - Era Rodler – respondeu ele ainda observando as marcas – elas quase o derrotaram.
     - Ele sobreviveu?
     - Sim. Eu não o destruí, apenas o exilei por algum tempo. Mas vocês o venceram definitivamente há alguns anos, portanto, se esta pensando que ele pode ter algo com isso, pode esquecer.
     - Bom, foi apenas uma idéia...
     - Vamos embora – disse ele saltando para o lado delas – não há mais nada a fazer aqui, e eu ainda tenho mais uma hora de trabalho no restaurante.
     Eles começaram a andar para fora da plantação. Urano olhou para o céu sem nuvens e viu uma estrela cadente. Fazia tempo que não via uma. Aproveitou e fez um pedido.

 

-x-

 

     O pequeno caça entrou na atmosfera em grande angulo, fazendo com que suas placas metálicas ficassem vermelhas com a fricção do ar. Os sistemas de defesa do planeta observaram sua trajetória com grande interesse. Queriam saber se atingiria uma área habitada ou se mudaria sua trajetória. Se mudasse, então era possível ser uma nave espacial, e caças da força Terra, já de prontidão, seriam lançados para interceptar. No entanto – e felizmente – ele não mudou de trajetória enquanto estava sob vigilância.
     Apesar de ferido, o piloto do caça sabia como proceder para evitar ser atacado. Assim que chegou a menos de um quilômetro da superfície do mar, evitou que esta atingisse o oceano, e a dirigiu rumo a Cristal Tóquio.
     A nave, já bem danificada com o combate do qual fugira, tinha ficado em pior estado com a entrada meteórica na atmosfera. Era difícil controla-la, e o piloto só podia faze-lo com um braço. Se ao menos o seu comunicador estivesse funcionando, poderia entrar em contado e avisar quem era. Evitaria de ter de ir na surdina até lá.
     Quando divisou a linha costeira, reduziu a velocidade e começou a voar ainda mais baixo. Continuou voando terra adentro, com uma crescente dificuldade de controlar a nave. Por vezes, ela teimava em ir para baixo, para colidir com o solo, como se estivesse cansada e esgotada de sua longa viagem, mas o seu piloto não dava folga para esta.
     Quando estava há uma velocidade de duzentos quilômetros por hora, o grande palácio de cristal podia ser visto. Faltava pouco, muito pouco. Finalmente, sua longa ausência dos seus amigos e entes queridos chegaria ao fim. Ele só lamentava que a causa de sua volta era para avisar do novo oponente que teriam pela frente, talvez o mais mortal de todos.
     Quando faltavam cerca de vinte minutos para chegar em uma área em que poderia pousar com razoável segurança, o motor da nave falhou. Os controles ficaram ainda mais pesados e o piloto, praticamente sem forças, não podia fazer mais nada. A nave atingiu o solo pouco antes de sair da densa floresta – o parque nacional de Cristal Tóquio – perdendo suas asas e parte de sua fuselagem nesta.
     Ela saiu da orla da floresta como uma bala disparada por uma arma, atingindo o solo e parte de uma auto estrada que circundava o parque, danificando a pista. Ela continuou se arrastando por mais duzentos metros, até, finalmente, parar.
     Não havia ninguém para ver o desastre, muito menos ver o piloto sair da nave, cambaleando. Ele olhou para o Palácio de Cristal e começou a andar, mancando e emitindo ocasionais sons de dor a cada passo – devia estar com alguns ossos quebrados, além dos seus ferimentos na batalha que teve para conseguir fugir com aquela nave.
     Dentro do capacete, uma luz vermelha se acendeu, indicando que os sistemas de suporte de vida estavam danificados. Ele soltou as travas do pescoço e, com grande dificuldade, retirou o capacete, revelando os seus cabelos negros curtos, bem como o fato do piloto ser, na verdade, uma mulher.
     Ela conseguiu dar mais alguns passos antes de cair de joelhos, exausta com a sua viagem e com os seus ferimentos. Conseguiu dar uma última olhada em seu destino antes de desmaiar.
     Cerca de três horas depois, uma patrulha de trânsito foi averiguar os relatos de que alguma coisa tinha caído no parque nacional. Esta parou quando viu a trilha de destruição que ia da estrada até os destroços da nave espacial.
     Os dois guardas foram até a nave com cuidado, tentando imaginar de quem seria e o que estava fazendo ali. Um deles chamou a central, informando o ocorrido, o outro, após alguns momentos olhando ao redor, percebeu o corpo caído mais a frente e foi correndo até ele.
     Quando este chegou ao seu lado, não podia acreditar. A jovem mulher ali estava claramente muito ferida, mas ainda respirava. Mas não era isso que o impressionava. O que o impressionava, era que a mulher tinha uma tiara na testa, uma tiara de sailor.
     Ele não perdeu tempo. Colocando em prática o seu treinamento, começou a verificar o estado dela e se poderia ser removida. Percebeu que seus sinais vitais estavam muito irregulares e que, por duas vezes, ela tinha parado de respirar. Um transporte médico já estava a caminho, mas iria demorar um pouco ainda.
     Quando ela parou de respirar pela terceira vez, e parecia que não iria voltar, os dois começaram a fazer o trabalho de reanimação. Para eles, não fazia diferença ela ser uma sailor ou apenas alguém usando uma tiara parecida. Era um ser humano que precisava de ajuda, e rápido.
     Dois dias depois, eles iriam receber uma medalha de agradecimento das mãos de sailor Vênus, a capitã da guarda de Cristal Tóquio. O motivo? Eles simplesmente tinham salvo a vida de sailor Saturno, que estava desaparecida há mais de oitenta anos.

 

-x-

 

     - Eu quero entrar!
     - Eu também! Sou parente dela!
     - Me desculpem – disse o guarda em frente a porta do quarto da paciente – mas tenho ordens expressas. Mesmo você sendo a princesa e você sendo parente, ninguém pode entrar.
     - E como que a Sailor Urano entrou? – perguntou Serena indignada.
     - Ela está autorizada – respondeu ele.
     - Qualquer sailor pode entrar? – perguntou Anne com um quase sorriso.
     - Bem... que eu saiba, sim.
     - Obrigada – disse a princesa se afastando.
     Assim que fizeram a curva no corredor, as duas correram até o banheiro e se transformaram, retornando calmamente em seguida. O guarda ficou surpreso ao vê-las. Tinham dito que provavelmente apenas a sailor Urano iria aparecer para conversar e ficar com a paciente, mas que era possível que outras sailors viessem também, mais tarde.
     - Eu – começou ele – não esperava vocês.
     - Isso quer dizer que não podemos entrar? – perguntou sailor Titã, indignada.
     - Eu... bom, sim.
     Ele saiu da frente e elas entraram pela porta aberta.
     - Sabia que a rainha ia falar antes da hora - comentou Urano quando as viu correr para o lado da cama de sailor Saturno.
     - HOTARU! – disseram ambas tentando abraça-la.
     - Esperem! – disse Urano agarrando elas e as afastando – ela ainda está muito ferida, vão com calma.
     - É? Puxa, desculpa. A gente se empolgou.
     - Tudo... tudo bem – disse Saturno com um sussurro – que bom ver você de novo Serena. Senti saudades.
     - Eu também – disse sailor Moon pegando na sua mão com gentileza – foram tantos anos... o que aconteceu com você?
     - É uma longa história – disse Urano incisiva – vocês serão informadas mais tarde. Alias, vocês nem deviam saber que ela tinha retornado. Como descobriram?
     - Eu ouvi a mamãe falando com você pelo comunicador – disse sailor Titã.
     - E usaram isso como desculpa para faltar na escola hoje, certo?
     - A escola pode esperar – disse sailor Moon – nossa amiga vale muito mais que isso.
     - Sua amiga, minha "irmã mais velha".
     - Ir-irmã? – perguntou a paciente, ainda muito fraca – quem... quem é você?
     - Não pode imaginar? – disse ela sorrindo – você me chamava de chibi Amy, lembra?
     - A-anne? É você? É... é uma sailor... agora? Que legal...
     Ela se contorceu de dor e começou a se remexer na cama. Os sinais vitais monitorados pelo aparelho ao lado desta começaram a mostrar algumas luzes vermelhas, o que deixou as três visitantes bastante preocupadas. Eles voltaram ao nível de "atenção" logo em seguida.
     - Acho melhor deixarmos ela descansar – disse Titã para sailor Moon – vamos ter bem mais tempo para colocarmos a conversa em dia.
     - É... eu concordo. Mas você não vai sumir de novo, não é?
     - Não – ela sorriu – eu voltei para ficar. Terminei minha missão...
     - Missão?
     - Sua mãe explicará isso depois – disse Urano – agora, é melhor deixarem ela descansar. Titã, vá para a escola, e você também, princesa. Podem visita-la a noite, mas apenas por alguns minutos. Ela precisa descansar bastante ainda.
     As duas se despediram e deixaram o quarto. Nenhuma delas estava interessada em ir na escola. Por outro lado, precisavam contar a novidade para suas amigas. Assim, elas voltaram ao normal e foram estudar.
     Urano ficou no quarto observando sailor Saturno com muito zelo, como uma verdadeira guarda costas dedicada. Ninguém ira chegar perto dela sem permissão, e ela não iria deixa-la sozinha em hipótese alguma. Quem quer que tivesse feito estes ferimentos nela era muito perigoso, e de muitas formas. O motivo principal dela ainda estar tão ferida e sua recuperação ser tão lenta para uma sailor era devido a ter um tipo de veneno biológico em seus ferimentos.
     Felizmente, seu corpo estava conseguindo combater isto. Mas se os cortes tivessem sido mais profundos, suas chances seriam praticamente nulas.


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