Alec’s POV

Meses haviam se passado desde que eu ficara doente. Eu havia voltado a lutar, estava me alimentando direito e tudo parecia normal.

Quando acordei meses atrás, não acreditei quando Izzy me disse que o Magnus Bane que conheci não existia, mas com o passar do tempo isso foi ficando lógico. De tanto que insisti sobre isso, me apresentaram o verdadeiro “Magnus Bane”. O warlock era, na verdade, uma garota, uma animada warlock que atendia por pseudônimos, mas tinha como verdadeiro o nome Mystia. Ela era simpática e agia como se fôssemos amigos de longa data, e tratava todos com a maior naturalidade. Realmente, nada parecia estranho.

Mas eu não estava conformado.

Eu sentia que parte da história não se encaixava. Parecia tudo tão... errado. Mystia comentava que eu era tão belo quanto haviam lhe contado, mas ninguém – imagino – diria que eu era tão belo assim. Parecia estranhar as atitudes de Izzy, Jace, Clary e Simon no começo, apesar de dizer que ela mesma havia nos ajudado tantas vezes. Ela não parecia se encaixar.

- Alec? – Ouvi Izzy me chamar por detrás da porta. – Está tudo bem?

Ela, Jace e Clary andavam preocupados comigo desde que fiquei doente, como se eu fosse enlouquecer novamente. Até Simon me parava de vez em quando e perguntava como eu estava ou como me sentia.

- Estou bem Izzy – falei, sorrindo. – Pode entrar.

Ela abriu a porta, espiando rapidamente antes de entrar e se sentar ao meu lado. Observou meu quarto e viu uma pequena caixa bem cuidada no canto .Ela se esticou, pegou a caixa e me olhou, sorrindo.

- Isso é...

- Sim – concordei, também sorrindo. – Algumas coisas do Max.

Ela abriu a caixa, vendo roupas, mangás e fotos que havíamos tirado antigamente.

- Às vezes – começou ela -, imagino que Max vai abrir aquela porta e entrar correndo. Que vai nos contar alguma novidade ou simplesmente sentar no sofá e ficar lendo algo, e que tudo que passamos foi apenas um sonho.

- Também acredito nisso às vezes – comentei -, mas esses dias, não sei mais o que é realidade e o que é sonho.

Ela suspirou, me abraçando de lado.

- Ainda acha que tudo isso aqui é um sonho? – Perguntou ela. Neguei com a cabeça.

- Não sei. Isso tudo só parece... errado. Como se faltasse uma parte da história.

Izzy riu, me beijando na bochecha como fazia quando éramos crianças.

- Talvez realmente falte – comentou ela, olhando pela janela. – Talvez você deva apenas sair e procurar o restante da história.

Pensei bem no que ela falou, enquanto a via sair pela porta. Izzy estava certa. Eu precisava encontrar a peça que faltava naquele quebra-cabeça.

Então abri o armário e peguei uma mala.

Isabelle’s POV

Sai do quarto de Alec com um misto de culpa e felicidade. Sabia que Magnus queria uma vida onde Alec fosse feliz. Onde meu irmão não se prendesse a alguém que, de acordo com Magnus, não o faria bem.

Havia recebido a notícia de Mystia alguns dias depois de Alec ter finalmente saído da cama. Magnus havia simplesmente ido embora, sem dizer para onde iria. Chairman Meow também não estava na casa e, portanto, foi fácil concluir que foi levado junto. Mystia deixou-o ir e disse que cobriria suas atividades por aqui, mas eu sabia que ela ficara apenas para Alec não desconfiar. Cada dia ele ficava mais nervoso por não ter notícias, e Alec não parecia nunca conformado em tê-la por perto. Talvez o indignasse ver uma mentira tão boa quando sabia que era mentira.

- Tudo bem? – Perguntou Jace, quando entrei na cozinha. Ele e Clary estavam conversando –Clary aparentemente desenhava– enquanto minha mãe fazia algo para comermos.

- Acho que sim – falei, me sentando ao lado dele. – Ele ainda parece desconfiado, mas está aceitando...

Nos entreolhamos, todos cientes do sentimento de Alec por Magnus, quando meu irmão surgiu na porta da cozinha.

- Vou viajar – falou ele decidido, sem olhar para mim ou para Jace. Ele olhava para Maryse. – Vou sair de casa, mãe.

Ela nem se virou para nós. Não se virou para Alec e nem mudou de expressão.

- Se Robert chegar, você não sai dessa casa. Te aconselho a arrumar suas coisas logo.

Foi apenas o que ela disse.

Todos olhamos espantados para ela. Mas o espanto de Alec logo se transformou em alegria, indo correndo abraçar nossa mãe. Ela deu risada e retribuiu o abraço, sorrindo.

- Obrigado – disse Alec, com um grande sorriso estampado no rosto.

- Você merece ter a vida que quer – disse ela -, e Robert não entende isso. Então vá atrás do seu futuro, Alec.

Ele a abraçou mais uma vez e saiu da cozinha. Eu, Jace e Clary nos entreolhamos, porém Jace foi mais rápido.

- Você tem certeza? – Perguntou ele. Minha mãe riu e se virou para nós.

Seus olhos traziam esperança.

- Eu não vejo como Alec pode ser feliz vivendo aqui, preso a uma mentira. Lá fora ele pode ter a verdade que deseja, e deve encontrá-la por conta própria. Ou acha que Magnus Bane está escondendo seu paradeiro de todos apenas para fazer suspense? – ela deu risada. – Os dois são orgulhosos, mas o caso é que Magnus sabe a verdade. E vai esperar que Alec o encontre, e vai fazer disso uma tarefa difícil. Mas Alec sabe que tem algo errado, e só vai parar de desconfiar quando encontrar o warlock. Ou eu o deixo ir ou verei meu filho triste pelo resto da vida.

Ela agora exibia um sorriso triste – não queria ver Alec partir, mas sabia que era necessário e estava agindo como uma mãe. Me levantei e abracei-a.

- Ele vai voltar – falei sorrindo.

- Eu sei – ela respondeu -, e quando voltar, Magnus Bane estará com ele.

Ficamos em silêncio, e eu não sabia se minha mãe estava triste ou não.

Na verdade, nem eu sabia como eu estava.

Magnus’ POV

- Sabe Bane – começou a garota ao meu lado -, acho que você definitivamente está fazendo a todos de idiotas.

Dei risada, tomando mais um gole de minha bebida.

- Se não o fizesse – respondi, sorrindo – não seria eu, querida Tessa.

Estava com a adorável Theresa Gray nos arredores de nada mais nada menos que o Brooklyn. Eu definitivamente havia ido viajar, claro, porém já faziam semanas que eu havia voltado.

Eu e Tessa estávamos em um pequeno pub mundano, onde eu esperava que ninguém do submundo aparecesse. Estava recebendo sempre notícias de um certo Irmão do Silêncio, que me atualizava sobre os shadowhunters e Mystia. Os mesmo pareciam bem e sãos, e até Alexander parecia estar me esquecendo.

E foi então que o Irmão Zachariah entrou na sala. Tessa se levantou e foi até ele, e foi estranho não ver rostos se virando para vê-los. Havia passado os últimos meses convivendo demais com mundanos.

Eles voltaram para a mesa, e o Irmão Zachariah apenas acenou com a cabeça e se virou para Tessa. Ele provavelmente tem uma leve noção de que não gosto que falem na minha cabeça.

Já fazia alguns dias que ele vinha nos visitando e dando notícias sobre os shadowhunters e o Instituto. Tive uma leve impressão de que Mystia havia pedido aquilo e, portanto, eu ouvia Tessa repetir tudo que ouvia – e eu sabia que era pedido de Mystia.

- Obrigada Jem – disse ela. O Irmão do Silêncio apenas assentiu, um traço de tristeza e saudade em seu rosto, e então foi embora. Tessa se virou para mim, sorrindo.

- Pode falar – respondi, suspirando. Ela riu.

- Desculpe. Enfim, Alec vai viajar. Jem disse que, de acordo com Maryse, ele ainda duvida de você não ser real e o chute de Isabelle é que ele vai atrás de você.

Revirei os olhos, mas não pude evitar soltar um pequeno sorriso.

- Alexander é inteligente – comentei -, mas dessa vez, ele poderia ter sido um pouco mais lento. Não durou nem um ano!

Theresa riu, tomando mais um gole de seu chocolate quente – ela recusara as bebidas.

- E o que você vai fazer acima disso, senhor Bane?

Tomei um gole de minha bebida e sorri maliciosamente.

- Eu vou brincar um pouco com meu querido Alexander. E se ele acha que vai ser fácil me encontrar, espero que esteja preparado para se decepcionar.