O rosto grande e peludo do homem que os dois garotos conheceriam mais tarde, Rúbeo Hagrid sorria por cima de um mar de cabeças.

James havia ido espionar Lily Evans, a garota dos cabelos acaju por quem estava caidinho, “ela que se prepare!”, pensou Sirius. Enquanto isso, aos escorregões e tropeços, os alunos novos procuravam se juntar ao homem barbudo. O Black resolveu esperar o amigo em um canto mais afastado.

Agora os alunos mais velhos saíam do trem aos montes, e entre eles um garoto magro com cabelos claros saía apressado do trem, atrasado segurando uma enorme pilha de livros. Ao que parecia, ele era do mesmo ano que Sirius, pois seu uniforme ainda não continha o símbolo de alguma casa. Ele desceu os degraus, e, ao pisar na plataforma pequena e escura, tropeçou, caiu e derrubou todos os livros no chão.

Rapidamente Sirius foi ajudar o colega, puxou os livros para fora da multidão, e o amigo o seguiu, confuso.

– Qual o seu nome?

– Remus Lupin, muito obrigado, mas eu já vou indo... – respondeu Lupin, e começou a puxar os livros para si e ir embora.

– Ei, ei! Calma aí! Eu te ajudo. Sou Sirius Black.

Logo Sirius esvaziou uma de suas luxuosas bolsas de couro negro e colocou os livros do amigo dentro dela, depois, deu-a a ele.

Remus ficara eternamente grato.

– Muito obrigado, Sirius, você me ajudou mesmo...

– Não foi nada! Hey, você quer um doce? – Sirius estendeu uma caixinha de Feijõezinhos de Todos os Sabores.

Remus pegou uma bala, mastigou e fez uma cara de aprovação.

– Morango! Humm... Que delícia. – disse o amigo alto com um sorriso.

– Agora, minha vez!

O dos cabelos escuros mastigou um feijãozinho calmamente, fez uma cara desgosto e o engoliu.

– Argh! Fralda suja!

E os dois amigos gargalharam gostosamente.

Ao longe, o homem gigante gritou:

– Ei, vocês dois aí atrás! Sou Rúbeo Hagrid! Vamos, venham comigo. Mais alguém do primeiro ano?

Sirius e Remus pegaram suas coisas e correram ao encontro dos colegas.

– Sirius, você não estava com um amigo? – perguntou Remus.

– Ah, se ele não chegou até agora, não iremos esperar. James se vira, e quero que você o conheça.

Remus sorri. Os dois seguiram Hagrid com os outros alunos por um caminho de aparência íngreme e estreita. Estava tão escuro em volta que Sirius achou que devia haver grandes árvores ali. Ninguém falou muito.

– Vocês vão ter a primeira visão de Hogwarts em um segundo – Hagrid gritou por cima do ombro -, logo depois dessa curva.

Ouviu-se um Aoooooooh muito alto.

O caminho estreito se abrira de repente até a margem de um grande lago escuro. Encarrapitado no alto de um penhasco na margem oposta, as janelinhas cintilando no céu estrelado, havia um imenso castelo com muitas torres e torrinhas, simplesmente maravilhoso.

– Remus, olhe para isso! – diz Sirius ao amigo.

– É... É absolutamente... Maravilhoso. – responde Remus, abismado e com os olhos brilhando.

– Só quatro em cada barco! – gritou Hagrid, apontando para uma flotilha de barquinhos parados na água junto à margem. Sirius e Remus foram seguidos até o barco por uma loirinha de nariz arrebitado que usava um pequeno laço cor de rosa preso aos cabelos ondulados (que Sirius logo já ficou interessado) e um garoto de cabelos pretos e olhos azuis, que os dois meninos descobriram ser Frank Longbottom.

– Todos acomodados? – gritou Hagrid, que tinha um barco só para si. – Então... Vamos!

E a flotilha de barquinhos largou toda ao mesmo tempo, deslizando pelo lago que era liso como um vidro. Todos estavam silenciosos, os olhos fixos no grande castelo no alto. A construção se agigantava à medida que se aproximavam do penhasco em que estava situado.

– Abaixem as cabeças! – berrou Hagrid quando os primeiros barcos chegaram ao penhasco; todos abaixaram as cabeças e os barquinhos atravessaram uma cortina de hera que ocultava uma larga abertura na face do penhasco. Foram impedidos por um túnel escuro, que parecia levá-los para debaixo do castelo, até uma espécie de cais subterrâneo, onde desembarcaram subindo e pisando em pedras e seixos.

Hagrid verificava os barcos a medida que as pessoas desembarcavam. Então eles subiram por uma passagem aberta na rocha, acompanhando a lanterna do homem enorme, e desembocaram finalmente em um gramado fofo e úmido à sombra do castelo.

Galgaram uma escada de pedra e se aglomeraram em torno da enorme porta de carvalho.

– Estão todos aí? – Hagrid perguntou.

E sem resposta alguma vinda dos alunos, ele ergueu um punho gigantesco e bateu três vezes na porta do castelo. Ela se abriu em chofre.

E Sirius pela primeira vez entrou por aquela porta, e ele nunca a esqueceu.