Eu não precisava daquele olhar, não com meu pai ainda vivo. Edward e meu pai, tudo junto, a vida poderia se mostrar melhor para mim em algum momento.

– Bella! – a voz de Alice chamou a atenção de muitas pessoas que estavam no corredor, uma enfermeira que estava passando aponto para a placa que dizia: silêncio. E Jasper se mostrou do lado dela. Eu ainda tinha isso. – Desculpe... como ele está?

– Não sei, acho que mal. Devem estar só mantendo ele estável.

– Estaremos aqui. – Edward estava olhando para nós a um tempo. Eu não sabia o que ele sabia sobre minha vida nem como seria agora que eu estava aqui. Droga, eu não via Edward a tanto tempo e esse reencontro tinha que ser num hospital com Alice e Jasper? – Alice Brandon.

– Prazer Alice, é bom te conhecer.

Ela sorriu.

– Você esse ano não vai nos roubar ela afinal.

– Não...

Pela expressão dele eu não saberia dizer se ele entendia do que ela estava falando.

– Edward... não sabia...

– Oi Jasper como está? Sua família?

Edward o cortou. Jasper conhecia Edward e isso estava ficando pior a cada segundo. Olhei para Edward assustada quando ele se voltou para mim.

– Não sabia que era casada com Edward...

– Bella tem se dedicado a sua carreira por um tempo.

– Claro...

Alice olhava para Edward, para mim e depois para Jasper. E fazia o caminho para Edward novamente.

– Não sabia que ela era casada? – ela jogou para Jasper.

– A faculdade toda sabe que Isabella é casada, eu não sabia com quem. – ele respondeu olhando para Edward e tinha várias perguntas naquilo.

– Ela é casada com ele desde o início. – Alice estava jogando e eu continuei tensa. Um momento e Jasper fez os cálculos. Ele interrogou Edward cruzando os braços e isso não passou por Alice. – Edward no entanto é bastante presente mesmo ela morando no campus. Sempre viajam juntos, ela está com eles nos feriados e alguns recessos, acho que ao longo dos anos conseguiram fazer isso dar certo.

Fechei meus olhos e reprimi um gemido doído. Não, eu sempre estava sozinha. Não havia Edward na casa em que passava meu tempo livre. A montanha de livros que eu tinha veio a minha mente e me controlei para não gritar.

– Estou... posso...

– Está se sentindo bem?

Abri meus olhos e Jasper e Edward pareciam querer me segurar e me levar para outro lugar.

– O que o médico falou? Eu não quero estar de fora de nada Edward.

– Seu pai está morrendo. É inevitável. Algumas horas no máximo, talvez dois dias se o coração resistir.

Então o mundo ruiu em mim. Um grito de dor e tristeza, eu abaixei e chorei. Meu pai. A última lembrança dele era dele e Edward me levando para sua casa. Sua casa. Olhei com ódio para Edward, ele estava abaixado junto comigo.

–CULPA SUA! É CULPA SUA! SEU MALDITO! DESGRAÇADO!

Edward me olhava numa mistura de compaixão e compreensão. Eu não liguei, estava com ódio dele e que se ferrasse se um dia ele estava na mesma posição que eu.

– ESTÁ VINGADO AGORA? ESTÁ SATISFEITO?

– Eu nunca faria algo assim... olha...

– FARIA! FEZ PIOR! EU TE ODEIO!ODEIO!

Um grupo do hospital chegou e eu comecei a bater em Edward mirando nele a raiva e o ódio guardados em mim desde a hora que recebi aquela carta. Ele impediu Jasper de fazer alguma coisa e Jasper então segurou Alice como se aquilo fosse o certo a fazer. Eu batia e Edward recebia cada tapa e soco sem ao menos desviar.

– Você é asqueroso.

– Precisam para com essa cena, existem outros pacientes aqui.

Olhei para cima e um homem de branco e um pouco mais velho nos tirou daquele momento. Levantei me ajeitando como podia.

– Você é o médico de Charlie Swan?

– Sim, eu sou a filha dele. – ele olhou para Edward .

– Eu sei que o senhor me fez fazer uma concessão, mas isso só acontecerá se ela estiver calma.

– Estou calma. Qual... o que...

– Entre e fale com ele. - Edward fez o homem deixar eu entrar? Deus eu não podia lidar com isso naquele momento.

Era o meu momento, meu último momento. Alice tapou a boca horrorizada e um pouco chorosa. Olhei para ela buscando forças e ela me abraçou.

– Vai e ... diga tudo. Não deixe nada em seu coração.

Era o lado psicóloga dela que eu tinha visto várias vezes nesses últimos anos. Assenti e entrei no quarto. Ele estava sereno e tranquilo, fechei as cortinas para nos dar pelo menos isso, privacidade. O mundo lá fora não mais importava. Sentei numa cadeira que estava ao lado e peguei nas suas mãos. Doeu vê-lo daquele jeito, tão doente e frágil.

– Eu te amo. Eu nunca o culpei por nada. Eu... foi complicado. Ficamos indefesos diante daquela situação... eu entendo as suas escolhas, não concordo. – era preciso sinceridade eu não iria fazer isso de outra forma. – Eu não concordo com anda do que aconteceu, mas no final você fez suas escolhas.

Como se ele pudesse responder eu lembrei das palavras da carta.

– Eu sei que você tinha medo, eu também teria. Ficaria sem saber. Eu odeio Edward papai, odeio ele ter esses anos todos me escondido que você não estava bem e odeio ele e você se preocuparem com meus estudos.

Chorei alto e pesarosamente.

– Não vou te ver na minha formatura... papai eu queria dar o diploma a você... ele é tão seu quanto meu... o que eu vou ser sem você papai? Não sei...

E chorei mais e mais. Uma enfermeira entrou e avisou que não poderia ficar mais.

– Não vai fazer diferença se fico ou saio. Ele não vai melhorar. – disse com raiva.

– Eu sei, mas isso não mudará porque está aqui. Precisa sair senhora Cullen.

Me levantei. Dei um beijo na testa de meu pai, sussurrei que o amava, sempre o amaria e que ele foi o homem mais importante da minha vida. O exemplo que queria que meus filhos seguissem e agradeci a mulher que eu era. Toquei seu rostos tentando gravar as feições dele e então o cheiro de Kate invadiu o lugar, há tempos não sentia aquele cheiro cítrico.

– Cuide dele Kate.

Disse e a enfermeira não entendeu muito bem. Saí e vi Edward, Alice e Jasper encostados na parede em frente. Eu estava esgotada em muitos níveis para dizer alguma coisa.

– Vamos. – Edward disse e eu dei um passo para trás. A casa e as lembranças me vieram a mente e eu me aproximei de Alice e Jasper.

– Vem Bella, eu tenho um apartamento aqui e acho que será melhor...

– Isabella... - Edward interrompeu Jasper.

– CALA A BOCA! NÃO TE ACOMPANHO!

E Alice olhou para mim e para Edward, ela e Jasper ficaram do meu lado e fui levada por eles para algum lugar desconhecido. Eu fiquei todo o caminho relembrando do meu último momento com meu pai até perceber onde eu estava. Era um apartamento luxuoso e bonito.

– Sintam-se a vontade, uma empregada de confiança está vindo nos ajudar e tem quartos suficientes.

Jasper ficou sem graça uma hora.

– Você vai ficar não vai? – Alice perguntou sem jeito e ele sorriu para ela. Era bom saber que mesmo em jardins sem flores a esperança poderia estar ali conosco.

– Claro. Tenho um quarto e vou providenciar para que nossas coisas sejam arrumadas aqui.

– Obrigada Jasper. – disse gentilmente.

– Vamos nos sentar. – ele ofereceu.

O sofá grande e branco ocupava a sala de maneira perfeita, o tapete vermelho e a TV com aparelhos de som de ultima geração nos dava o ar masculino esperado. Eu sentei, mas os dois ficaram eu em pé me olhando. Meu coração gelou quando Alice cruzou os braços. Ela não era mulher de rodeios eu sabia que se algo estava incomodando ela, algo deveria ser resolvido. Seria agora.

– Bom, obviamente esse casamento não é...hum... o que está errado Isabella?

Eu abaixei a cabeça com vergonha. Droga, Edward estava errado, mas eu matei a esposa dele. Isso.

– Matei a esposa de Edward.

– Foi... Deus! – Jasper exclamou.

– Como? Tem alguma coisa que eu não entendi o perdi Isabella. – ela disse firme. – Do início.

– Esse é o início. Eu matei a esposa dele, ele casou comigo e me torturou um tempo. Depois que passei mal ele me expulsou de casa, me mandou para a faculdade e disse que tinha nojo de mim. Me odiava.

Eles ficaram em silêncio me olhando um tempo. Sim, eu era um monstro e ele também. Completei contando da noite em que matei Kate, da conversa que ele ouviu e de outros detalhes.

– Ele casou com você por isso? – Jasper perguntou incrédulo.

– Sim.

– E o que exatamente ele fez?

Bom, eu contei um resumo para Alice que ouviu não com o horror inicial, mas pensativa.

– Por que você usa a aliança?

– Ele não me queria com mais ninguém.

Alice olhou para Jasper.

– A quanto tempo conhece Edward?

– Muitos anos, eu o vi com Kate...isso não faz o menor sentido, é como se eu estivesse ouvindo falar de uma outra pessoa.

– Ele nunca usou aliança perto de você? Depois que Kate morreu?

– Ele usa, não é a mesma, mas ele usa.

Alice andou pelo apartamento.

– Não faz sentido.

– Não. – Jasper reforçou.

– Faz sim, ele me odeia.

– Ele não te ideia. Não foi isso que vi naquele hospital, ele gosta de você.

Olhei incrédula para ela.

– Ele te ama. Tenho certeza.

Merda. Alice não poderia estar mais maluco e eu sem cabeça para aquilo.