What the Room Requires escrita por MyWeepingAngel


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Este até que saiu rápido, mas acho que o próximo não vai sair tão rápido assim, já que minhas aulas começam amanha :/
Enfim, antes do capítulo duas coisas:
1)As músicas dessa fic não serão traduzidas, or whatever, já que a autora tem em seu canal no youtube (Alydia Rackham) um video para cada uma delas, vou postando eles ao longo da historia.
2)Cada vez que aparecer um (*) quer dizer que esse é uma nota do tradutor (eu) pra ajudar vcs na leitura, então fiquem atentos. As notas vão estar nas anotações no final do capítulo.



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DRACO

Eu caí de cara. Aquela garota maldita entrou depois de mim e se chocou com as minhas costas. Minha varinha, que estava solta na minha mão, agora tinha escorregado pelo chão de pedra para longe e para dentro da escuridão. Eu xinguei em francês e então em italiano, esforçando-me para me pôr de pé, estremecendo por causa da dor que abatia meus joelhos e cotovelos. Eu não conseguia ver nada – nem minha mão na frente do rosto.

-Brilhante, Granger! – eu berrei, minha voz ecoando pelas paredes altas – Você me fez largar minha varinha!

-Por que você sacou a varinha? – ela arfou, cambaleando em algum lugar a minha esquerda.

-Para te matar com ela.

-O quê? – ela ganiu – Você ia realmente...

-Ah, cresce. – eu rosnei – Eu achei que ia precisar da droga de uma luz!

-Ah. – ela disse ainda trêmula, então sua voz ficou firme – Lumos!

Nada aconteceu.

-Lumos! – ela repetiu.

-Me dê aqui. – eu estendi a mão na direção que eu achei que ela estava.

-Não! – eu ouvi ela se chocar contra uma parede atrás dela.

Aquilo confirmou tudo: a porta tinha desaparecido.

-Você ao menos sabe como usar essa coisa estúpida? – eu dei três passos na direção dela, amaldiçoando a densa escuridão, e minha mão roçou o ombro dela. Eu agarrei seu braço com força – Me dê sua varinha!

-Draco Malfoy, largue-me...

Ela se debateu contra meu aperto, mas ela também não conseguia ver. Eu lutei contra sua agitação, tentando não ser acertado no rosto, e circulei minha outra mão em seu pulso:

-Não! – ela latiu quando eu a empurrei contra a parede.

-Pare de agir como uma criança e me dê sua varinha! – eu urrei, justo quando arrancava a varinha de sua mão direita.

Virei-me, levantei a varinha e tomei fôlego:

-Lumos!

Nada aconteceu. Absolutamente nada. Nem mesmo uma faísca. Era como se eu estivesse segurando um graveto de uma das árvores do lado de fora. Sacudi a varinha.

-O que há de errado com sua varinha?

-Não há nada de errado com minha varinha! – Hermione arquejou, sua voz falhando de ódio – Devolva para mim!

-Tudo bem. – eu atirei na direção dela.

A varinha bateu em pedra, depois caiu no chão e rolou para longe.

-Para onde ela foi? Draco, para onde ela foi? – ela arfou, tateando furiosamente o chão de pedra.

Eu não respondi. Meus olhos continuaram a se arregalar, tentando capturar algum raio de luz, alguma sombra ou o tremular de uma vela. Mas não havia nada. E, exceto pelas profundezas dos ecos provocados pela nossa competição de gritos, a sala estava completamente vazia.

-Eu não consigo achar! – Hermione exclamou – Não consigo achar!

-Não consigo achar a minha também! – eu lati, as mãos se fechando em punhos.

-Você está pelo menos procurando?

-Procurando? Como eu poderia procurar? Está um breu aqui!

-Eu sei disso! Você está tentando achar?

-E de que adianta achar? – rebati – Elas não funcionam aqui!

-Por que não funcionariam?

-Como eu posso saber?

-No que estava pensando quando vinha para cá? – ela exigiu.

Eu me virei por puro reflexo, mas ainda não conseguia vê-la:

-Escute, se está tentando me chamar de burro...

-Não estou. – ela disparou de volta – Estou tentando descobrir onde estamos!

-Na Sala Precisa. – eu bufei.

-Eu sei!

-Pare de gritar!

-Você pare de gritar!

-Granger, se você não calar a boca, eu vou...

-Shi. – ela me silenciou.

-O que você disse? – eu comecei, ofendido.

-Shiiiiiiiiii.

-Ei! Eu não gosto muito de ser...

A mão dela agarrou meu pulso. Eu puxei, tentando fazê-la largar.

-Escute! – ela sibilou.

Eu fiquei imóvel. Por um momento, eu não escutei nada, e estava prestes a atirá-la para o outro lado da sala...

Quando um brilho laranja resplandeceu ao longe, do outro lado do aposento - uma sala que era aparentemente três vezes mais comprida que qualquer corredor na minha casa. Eu mantive os olhos semicerrados, uma vez que eles haviam tentado se acostumar ao escuro. Hermione não soltou meu braço.

-O que é aquilo? – ela sussurrou, de repente quieta.

Eu não disse nada. Podia ouvir sons brotando do brilho – sons de luta, de algo arranhando o chão. E então, um agudo, sibilante uivo se elevou até o teto.

Todo o meu sangue congelou. Um tremor profundo percorreu meu corpo inteiro. Eu tentei me controlar, mas eu podia somente engolir em seco convulsivamente e dar um passo para trás.

-Draco, o que é aquilo?

-Goblins da montanha. – eu disse, entredentes.

Então, todos os meus músculos travaram e eu fiquei rígido como uma tábua.

-Goblins da montanha? – Hermione repetiu, estupefata – O quê? No castelo?

Eu literalmente não conseguia responder. Eu não conseguia nem me mover.

-Deveríamos correr?

Ambas as mãos dela agora agarravam meu pulso. O brilho cresceu, espalhando-se para mostrar as paredes do aposento – que não eram paredes de jeito nenhum, mas a rocha entalhada de uma caverna. E então, sombras nítidas de cambaleantes, rastejantes figuras dançaram na parede de rocha; e guturais, gorgolejantes risadas e rosnados arrastaram-se em nossa direção.

-Draco, deveríamos correr?

O rosnado cresceu até um guincho primitivo.

Eles tinham nos visto.

Mas, por mais que eu tentasse, meus músculos pareciam feitos de chumbo – meu coração batia tão rápido que as veias no meu pescoço doíam.

-Draco?

-Aham. – eu consegui soltar, mas não conseguia me mover.

-Então vamos! – Hermione puxou meu braço com força, girou-me, e me arrastou em frente.

No instante seguinte, os goblins dispararam em uma corrida frenética, bem em nossos calcanhares, deslizando, rosnando, batendo e rangendo os dentes. Eu forcei minhas pernas congeladas a funcionarem, mesmo quando eu cambaleava em frente para dentro da total escuridão, guiado por mais nada a não ser os dedos daquela sangue ruim.

-Anda logo! – ela insistiu, e eu obriguei minhas pernas a irem mais rápido.

Os goblins agarraram subitamente a parte de trás de minha camisa folgada – senti uma garra golpear minhas costas – e minha respiração se tornou entrecortada, como se eu estivesse sugando facas.

Fechei meus olhos com força, já que não fazia diferença, e corri o mais rápido que podia.

E então, atrás de mim, um cantar macabro e ressonante rosnou e borbulhou das fileiras agitadas:

Musica aqui:http://www.youtube.com/watch?v=GTmGHI4vtKE

“Clap! Snap! the black crack!

Grip, grab! Pinch, nab!

And down, down to Goblin-town

You go, my lad!

Clash, crash! Crunch, smash!

Hammer and tongs! Knocker and gongs!

Pound, pound, far underground!

Ho, ho, my lad!”

-Draco! – Hermione arfou, bem quando eu quase tropeçava.

Eu sentia a respiração dos goblins atrás de mim – inalava o seu mau cheiro.

-Draco, estou vendo algo!

-Onde! – eu gani, abrindo os olhos novamente.

-Ali! – ela disse - e bem, bem distante a nossa frente eu vislumbrei um pouco de luz.

Naquele momento, meus pés colidiram com algo que não era pedra. Parecia terra, e agulhas de pinheiro. Então, árvores passavam rápido de cada lado de nós. Estávamos em uma mata.

Os goblins continuavam a vir:

“Swish, smack! Whip crack!

Batter and beat! Yammer and bleat!

Work, work! Nor dare to shirk,

While Goblins quaff, and Goblins laugh,

Round and round far underground,

Below, my lad!”

-Quase… lá… - Hermione exalou, estreitando o aperto em mim.

Agora eu podia ver o caminho a nossa frente – era largo, coberto por agulhas de pinheiro. O brilho era diferente, não era como o do covil dos goblins. Era de alguma forma mais brilhante, mais aberto...

Mandíbulas bateram bem na minha orelha. Eu engoli um lamento estrangulado e joguei minha mão para trás, golpeando carne encouraçada de goblin. Então, um deles afundou os dentes na parte de trás da minha perna.

Eu uivei. Uma dor ardente se lançando por minha perna e costas. Hermione me jogou na direção da abertura...

Eu atravessei, para fora da mata. Voei de encontro a uma luz dourada e brilhante. A dor em minha perna desapareceu. Por um instante, eu vi o céu azul e grama amarela. Então fui de encontro ao chão.

Silêncio. Um vento incessante farfalhava através da grama alta acima de minha cabeça. Eu fiquei deitado por um momento, paralisado, meu batimento cardíaco martelando em minhas orelhas. O vento sussurrou. Abri os olhos.

Eu deitava de bruços sobre hastes esmagadas de cevada. Os fios dourados se levantavam espessos ao redor do meu rosto e mãos. Eu respirei fundo, e fechei meus dedos sobre a grama quebradiça. O cheiro doce e terroso de feno preencheu meus pulmões. Eu franzi as sobrancelhas, depois lentamente me sentei.

Uma brisa cálida capturou meus cabelos. Fechei meus olhos com força por um momento, quando a brilhante, livre luz do sol os atingiu. Eu levantei as mãos e esfreguei meu rosto, então olhei ao redor.

Eu estava sentado em um dourado campo de cevada*, um céu sem nuvens acima, talos ondulantes até onde eu conseguia ver. Exceto por uma coisa.

Ao longe havia uma árvore. Belo, mas fora do lugar, um salgueiro** inclinava-se para um lado do topo de uma colina, seus longos galhos pendendo até o chão. Meus olhos se estreitaram. Eu já estivera aqui antes...?

Eu olhei para trás. Às minhas costas se encontrava uma floresta negra – como uma parede de ferro. Havia o caminho que tínhamos acabado de tomar, assemelhando-se a um túnel cortando uma montanha. Além dele, escuridão e quietude aguardavam. Os goblins não estavam nos seguindo.

Eu fiquei de pé, então encarei aquele salgueiro. O vento agitou minha camisa, mas nenhum pássaro cantou. O único som era o do sussurrar do campo de cevada. Eu abaixei o olhar para a parte de trás da minha perna, esperando ver tecido rasgado e uma ferida. Mas não havia nada de errado com minha perna, e minhas calças estavam intactas.

Algo colidiu contra a cevada em algum lugar à minha direita. Eu me virei...

Para ver Granger sentar-se rapidamente, feno no cabelo, seu suéter e gravata desarrumados. Ela olhou ao redor, então para trás, na direção da floresta, então de volta ao salgueiro distante. Ela franziu as sobrancelhas:

-Onde estamos?

-Por que que você acha que eu saberia disso? – exigi, caminhando em frente.

-Para onde está indo? – eu a ouvi se levantar e pisar duro atrás de mim.

-Para longe de você.

-Até o quê? Você encontrar a porta? – ela contrapôs – E como você acha que vai fazer isso, sem ter nem mesmo uma varinha?

-Pelo modo tradicional. – eu respondi – Procurando por ela.

-Estamos no meio de um campo! – ela gritou. Seus passos pararam – Draco, pare.

-Não.

-Draco, você tem que me dizer onde estamos!

-Não, eu não tenho. – eu retorqui, girando e olhando-a de modo repulsivo – Isso é sua culpa, afinal – se não estivesse me seguindo e confundido a sala, não teríamos acabado nesse pesadelo.

Eu girei mais uma vez e caminhei rapidamente na direção do salgueiro, não me permitindo considerar o porquê de eu estar indo para lá.

-Espere.

Meus passos diminuíram o ritmo e eu franzi o cenho. Olhei por cima do ombro e levantei uma sobrancelha. Hermione encarava o chão.

-O quê? – eu questionei.

Ela encontrou meu olhar:

-Eu já escutei essa música antes.

Eu olhei ao redor, perplexo:

-Que música?

-A canção dos goblins. – ela disse.

-Faz muita companhia pros goblins, não é, Granger? – eu zombei.

-Não seja ridículo. Eu escutei em outro lugar! – ela insistiu. Então ela me lançou um olhar aturdido – Acho que isso é de... um livro?

Aquilo me parou. Eu engoli em seco.

-Isso é, não é? – ela deu um passo na minha direção – Tolkien?

Meus olhos cintilaram:

-Ele era um bruxo. – eu retruquei – Como você saberia alguma coisa sobre...?

-O Hobbit? – ela terminou.

Eu a encarei. Seu rosto se iluminou.

-Sim! Isso é do Hobbit! Quando todos eles menos o Gandalf são capturados pelos goblins, quando eles estavam se abrigando em uma caverna por causa da tempestade!

Eu tentei lançá-la um olhar intimidador, mas não funcionou. Então eu apenas dei as costas para ela e voltei a marchar através da cevada até o salgueiro.

-Você não entende? – ela persistiu – A Sala Precisa tem acesso ao nossos pensamentos – é parte do seu encantamento! Ela sabe que você leu O Hobbit. – ela me alcançou, e eu podia sentir o olhar estranho dela sobre mim – Por que você estava pensando em goblins?

-Eu não estava! – eu insisti.

-Bom, eu certamente não estava. – ela disse. Sua voz ficou mais baixa – É como se a sala soubesse o que assustaria você...

-Eu não estava assustado. – eu bufei. Ela não estava ouvindo.

-A pergunta é... – ela meditou – Por que ela ia querer te assustar?

-É uma sala, Granger. – eu disse – Ela não quer nada. – eu sacudi a cabeça e ri para o céu claro. – Típico trouxa. Parece não conseguir entender o conceito de que magia simplesmente tem regras.

-O que quer dizer? – ela trotou bem ao meu lado, espiando meu rosto.

-Você é insuportável, sabia disso? – eu a fitei zangado.

-O que. Quer. Dizer?

Eu parei de caminhar. Parecia mesmo que eu não estava chegando nem perto daquele salgueiro.

-Escuta, garotinha. – grunhi – A Sala Precisa pega os seus pensamentos e os transforma em realidade, certo?

Ela me observava atentamente, seus olhos castanhos brilhantes, suas sobrancelhas franzidas. Eu cerrei os dentes:

-Geralmente, quando pessoas a encontram, elas estão pensando em uma única coisa. – eu expliquei, sentindo-me como o Professor Snape tentando enfiar um conceito no crânio estúpido do Potter – Mas se você começa pensando em uma coisa particular, então milhares de outras coisas passam por sua cabeça enquanto você atravessa a porta, você vai acabar tropeçando em algo como na droga de “Alice no País das Maravilhas”.

Eu empurrei um dedo na cabeça dela:

-E isso se estiver lidando com a cabeça sem foco de uma única pessoa, não duas pessoas se esmagando aqui dentro sem tempo se ter uma ideia clara do que elas realmente querem.

-País das Maravilhas. – ela repetiu, como se deixando aquilo penetrar na mente.

-Ou Terra do Nunca. – eu murmurei, caminhando rápido na direção do salgueiro mais uma vez, através da grama alta e quebradiça – Ou Terra-do-nunca-vamos-encontrar-a-maldita-porta.

-Por que continua caminhando naquela direção? – Hermione reclamou – A porta está lá para trás.

-Aquele caminho parece melhor para você? – eu gesticulei largamente para trás, na direção do caminho negro e profundo para dentro da mata – Fique à vontade. Não estou te impedindo.

Ela ficou calada por um momento, então gritou para mim:

-Tudo bem! É lá aonde está minha varinha, mesmo. – ela pausou, então tentou novamente – Malfoy, não faz sentido ir para onde você está indo.

-Escute, Granger. – eu declarei, virando-me para encará-la – Você pode fazer o que quiser, mas nada vai me atrair a voltar por aquele caminho através de tudo... aquilo. – eu apontei. Eu a enxotei com a mão – Vai, vai.

Ela me olhou fixamente por um momento, de pé até a cintura nos talos de cevada ondulante. Então, ela girou nos calcanhares e caminhou de volta na direção da floresta, seus longos cachos saltando e balançando atrás. Eu rolei os olhos, agradecido por finalmente me livrar dela.

Eu continuei a pisar duro na direção da árvore solitária, a cevada sussurrando ao meu redor. Minha carranca se aprofundou enquanto eu estudava a paisagem brilhante e os ondulantes e caídos galhos do salgueiro. Teria eu estado aqui antes? Ou eu tinha eu apenas imaginado um lugar como este?

Finalmente, eu me aproximei do salgueiro – que acabou se tornando maior do que qualquer um que eu já tinha visto. Parecia ter o dobro da altura do Salgueiro Lutador do lado de fora do terreno da escola. Mas este não mostrava nenhum sinal de que ia me golpear. Seus verdes e encantadores galhos desciam até o chão, formando uma cortina ao redor do tronco. Minha memória se avivou novamente. Eu hesitei, então estendi a mão para empurrar alguns dos galhos para o lado e entrar em sua quietude e sombra.

Um grito cortou o ar. Eu girei, meu coração saltando. O grito veio mais uma vez, despedaçando o silêncio, e saltando para fora das árvores cinza e desfolhadas daquela floresta negra. Um guincho desesperado, primitivo e aterrorizado – como se alguém estivesse sendo morto.

Granger.

Eu agarrei os galhos que pendiam baixo e encarei o anel em minha mão direita. O sol fez reluzir o prateado do ornamento. Eu fechei os olhos, cerrei os dentes e apertei os galhos com força.

Ela gritou novamente.

HERMIONE

-Isso é ridículo. Absolutamente absurdo. – murmurei, estapeando um galho para longe do meu rosto enquanto andava rapidamente para dentro das sombras da mata – A porta é para este lado. Por que ele não iria...?

Algo se moveu nas profundezas das sombras a minha frente. Diminuí o ritmo até parar. Eu escutei.

Um arrastar baixo, como um longo, liso e pesado corpo se movendo abaixo dos arbustos, preencheu o silêncio da floresta. Tremores percorreram minha pele. E então, eu avistei uma forma.

Era comprida – talvez dez metros – e se movia como um estável rio negro em minha direção. Engoli em seco.

-Olá. – eu tentei.

Meus pais pensariam que eu estava completamente louca por falar com coisas que se arrastavam pelo chão, mas, baseado na minha experiência, elas respondiam na metade do tempo:

-Olá, tem alguém aí?

Hssssssssss...

-Ah, não... – eu exalei, dando um passo para trás.

Eu pisei em algo mole. Pulei e saltei para a frente, virando-me...

Para ver que todo o chão ao meu redor estava coberto por víboras negras. Elas pululavam para dentro e para fora, por cima e por entre umas às outras – montes delas, arrastando-se, escorregando e sibilando.

Eu não podia me mover, não podia pisar em nenhum lugar, já que elas cercavam meus pés como se eu estivesse de pé sobre uma poça de breu fervilhante. Dúzias delas passavam lentamente e viravam as cabeças, encarando-me com negros e cintilantes olhos. Eu fiquei rígida como uma tábua, apertando os braços contra os lados do corpo e me forçando a olhar para cima. Minha boca se apertou enquanto meus braços, mãos e joelhos começaram a tremer. Meu estômago revirou, e meu sangue congelou. Eu não tinha medo de cobras quando era pequena. O basilisco tinha mudado isso.

-Isso não pode ser real. – eu disse entredentes – Não pode ser. Os goblins do Draco não eram reais. Eles eram de um livro. Isso não é real, não é real, não é... aaaaah!

Minhas palavras se transformaram em um choramingo quando uma cobra, uma bem grande, começou a enrolar seu corpo liso e frio ao redor e para cima do meu tornozelo, e depois minha panturrilha. Eu queria chutá-la para longe e sair correndo gritando, mas mordi minha língua e me obriguei a ficar parada. Se eu me movesse, ela me morderia.

-Ah, saia, saia, saia! – eu implorei para ela, minha garganta convulsionando – Por favor, saia. Por favor... – seu corpo grosso se estreitou ao redor da minha perna. Eu guinchei e a estapeei.

Ela afundou os dentes na minha pele, bem na parte de trás do meu joelho.

Eu gritei como nunca antes. Uma dor ardente, lancinante e em fúria incendiou-se através de minha perna inteira. Eu abaixei o braço e arranquei a cobra de mim. Sangue se espalhou por todas as minhas mãos. O fervilhar das cobras cresceu até uma ebulição, e seu sibilar tornou-se um rugido – como ferozes vespas. Eu tentei pular por cima delas, correr de volta ao campo de cevada, mas elas saltaram nas minhas pernas, amarrando-se como cordas, enrolando-se ao redor dos meus tornozelos. Eu caí de joelhos. Minhas mãos aterrissaram em outra cobra. Ela atacou e mordeu meu pulso. Eu gritei novamente, minha garganta rasgando e tentei derrubá-la. Ela resistiu e me bombeou mais veneno. Então outra mordeu meu cotovelo. Outra minha coxa. Lágrimas escorriam por minhas bochechas e eu me debatia no chão, chutando e estapeando com todas as minhas forças. O enxame de cobras começou a me puxar para baixo.

-Socorro! – eu gemi – Ah, alguém me ajuda, por favor!

Meu corpo inteiro pegava fogo. Centenas de cobras me mordiam de um só vez, então voltavam para me morder novamente. Eu podia sentir meu corpo se enchendo de veneno. Eu ia morrer.

-Levante! Granger, levante!

As palavras chegaram até mim através de uma névoa, e, embora eu tentasse obedecer, meus músculos não se moviam. Então, uma mão forte agarrou meu braço e me puxou para cima.

Cobras caíram para longe de mim. Eu cambaleei para frente. Alguém me segurou com o braço ao redor da minha cintura. Então, pancadas agudas, cada uma ressoando com um estalo quebradiço, sacudiram-me – mas eu não estava sendo atingida. O braço que me segurava se movia com cada estalo, como se o outro braço estivesse ocupado produzindo aquele som.

-Malditas. Cobras. – a mesma voz latia em sincronia com cada estalo – E maldita você por perder. Minha. Varinha!

O braço me puxou para trás, fora do alcance do enxame de cobras. Então, duas mãos me jogaram contra a casca dura de uma árvore.

-De todos os... brilhante. Simplesmente brilhante. – a voz murmurou, e eu senti algo sendo arrancado de minha bochecha. Eu gani.

-Você quer que eu continue a deixar isso te morder? – ele retrucou.

Eu forcei meus olhos abertos para ver Draco Malfoy de pé bem na minha frente. Ele jogou uma cobra no chão – a que aparentemente tinha se cravado em meu rosto – e então rapidamente entendeu o braço e arrancou uma da minha cabeça, outra ao redor do meu pescoço, depois se curvou e torceu a primeira cobra comprida da minha perna – aparentemente eu não tinha conseguido tirá-la da primeira vez.

-Para trás! – ele rugiu para as criaturas, levantando um longo graveto e avançando para o enxame.

Elas sibilaram para ele, e a comprida abriu a boca e soltou um rosnado mordaz. Draco balançou o graveto e quebrou o crânio da cobra. Ela se contorceu por um momento, então ficou rígida. As cobras, como uma onda retrocedente, recuaram para a escuridão. Draco, sem fôlego, observou-as ir.

O veneno desapareceu dos meus braços e pernas. Eu toquei meu rosto para sentir a ferida...

Mas não havia nada lá. Minha pele estava macia. Eu olhei para as minhas mãos, antes cobertas de sangue. Pelo que podia ver, estavam limpas.

Draco jogou o graveto no chão, então se virou para me encarar:

-Está feliz agora? – ele cuspiu – Satisfeita que é tão esperta? O que foi que eu te disse?

-Que nada o atrairia a voltar por este caminho. – eu sussurrei, tentando parar os tremores.

Ele me olhou furiosamente. Eu enxuguei meu rosto, mas lágrimas ainda vinham nos meus dedos.

-Eu não entendo. – eu sacudi a cabeça – Eu nunca pensei que a Sala Precisa pudesse ser ...

-Você é realmente tão ignorante assim? – Draco jogou os braços para cima, então bateu nas coxas – Número um da classe e, mesmo assim, não consegue compreender o princípio mais básico. – ele me olhou de cima a baixo, como se estivesse avaliando um cavalo que não gostasse – Pobre Sangue Ruim. Eu temo que algumas coisas simplesmente não podem ser consertadas.

-Bem, então por que não me ilumina? – eu berrei, minha voz carregada com o medo que eu tentava engolir.

Draco deu um passo determinado na minha direção, seus olhos brilhantes prendendo-me onde eu estava:

-Magia não é boa ou . É uma ferramenta. – ele disse – Se eu brandisse minha varinha... – ele gesticulou no ar – Se eu tivesse uma varinha, isto é, – seu lábio se curvou – e dissesse accio cicuta e te matasse com isso, – ele apontou para mim – isso faria do feitiço Accio algo mau?

Eu o encarei, depois sacudi a cabeça. Ele sacudiu a cabeça também:

-Não é a magia. É o que você faz com ela.

-Então, ... – eu murmurei, abraçando-me – o que fizemos com ela?

Ele olhou para mim, depois ao redor da mata. Por um longo momento, ele nada disse. Então, respirou fundo:

-Eu não sei.

Minhas sobrancelhas se levantaram:

-Você falava como se soubesse.

-Eu não sei, tudo bem? – ele revidou, olhando-me fixamente – Isto nunca aconteceu comigo antes.

-Espere – você vem aqui com frequência? – eu dei um passo na direção dele.

-Tanto quando qualquer um. – rebateu, mas ele estava mentindo. Ele não conseguia olhar para mim.

-Malfoy...

-Shi.

Eu parei no meio de um passo, então espiei para dentro da mata, fora da trilha, na direção que Draco olhava. Quase fora da minha linha de visão, eu podia ver os contornos de uma porta. Uma porta que parecia um tanto quanto familiar...

-Parece promissor. – Draco decidiu, e caminhou para fora da trilha, direcionando-se para a porta.

-Tem certeza de que é uma boa ideia? – eu estremeci.

-Estou tentando encontrar a saída. – Draco retorquiu – Mas, de todo jeito, você pode ficar e tomar chá com as cobras.

Eu mordi o lábio, comecei a caminhar, parei, então corri atrás dele floresta negra adentro, deixando o caminho para trás.


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Notas finais do capítulo

*Campo de cevada: http://ih0.redbubble.net/image.6490456.5312/flat,550x550,075,f.jpg
**Salgueiro:
http://macaulay.cuny.edu/eportfolios/munshisouth10/files/2010/09/weeping-willow-tree.jpg

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